Mais especificamente, ser professor de matemática do ensino básico (8º e 9º anos) é essencialmente:
1. Deparar com alunos com imensas dificuldades e com uma enorme falta de bases matemáticas. Só para se ter uma noção, poucos são aqueles que sabem calcular a área de um rectângulo, quanto é “quatro ao cubo”, somar duas fracções, dizer inequivocamente quanto é 5 – 12, resolver um problema simples que envolva apenas uma subtracção ou a tabuada (o resultado das pedagogias científicas que dizem que nada pode ser decorado e que tudo tem de ser aprendido de forma lúdica é perguntar quanto é 8×4 e dificilmente obter a resposta certa). No entanto, fruto das medidas educativas que evitam os chumbos a todo o custo e de um facilitismo avaliativo de muitos professores que autenticamente oferecem notas para não se chatear, estes alunos vão passando de ano, mesmo que dotados de uma ignorância profunda (só mais tarde, estes alunos irão perceber que são eles as principais vítimas deste sistema educativo facilitista e perverso). Isto está de tal forma que há exemplos na minha escola de alunos que chegam ao 5º ano sem praticamente saberem ler nem escrever (!!!).
2. Gerir uma multiplicidade de conflitos no seio da turma, com uma quantidade grande de alunos desmotivados, desinteressados e que não percepcionam na escola uma verdadeira utilidade prática.
3. Sempre que necessário, agir disciplinarmente, sabendo (professores e alunos) que a consequência prática e correctiva destas medidas é praticamente nula. ...
4. Preparar provas de recuperação para um aluno que falte permanentemente, sabendo que, mesmo que ele reprove uma ou duas vezes, a possibilidade de, nestas circunstâncias, chumbar por faltas está sujeita a um longo processo burocrático...
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8. Participar em múltiplas reuniões, muitas vezes inócuas, mas obrigatórias perante a lei, onde se analisam mil e um aspectos de natureza burocrática referidos anteriormente.
P.S. Escrevo este texto numa altura em que acabo de corrigir 74 testes, tendo havido 8 positivas. Tenho perfeita noção que, à luz do sistema e independentemente da falta de bases e métodos de estudo dos alunos e da sua falta de atenção, esforço e empenho, a responsabilidade destes resultados é minha e só minha, por não os ter motivado convenientemente. Mas, claro, é fácil obter a redenção. Basta que assuma o meu pecado e premeie o fraco desempenho com óptimas notas, contribuindo para o “sucesso” educativo português . Nesse instante, tudo me será perdoado e passarei de imediato a ser… um “bom professor”. Ser Professor por João Torgal in a mesa do café
Os excertos que publiquei apelam á leitura de um notável post que reflecte o estado do nosso ensino.
Muitos alunos, exemplares idênticos aos referidos no texto de João Torgal, irão para as Universidades e completarão licenciaturas. Entrarão no mercado de trabalho. O Português nunca foi uma disciplina de eleição mas serão juristas que irão debitar leis. A Matemática nunca lhes fez sentido, mas serão engenheiros que irão lançar pontes ou projectar edifícios.
Mas nós, tugas, sempre fomos bafejados pela sorte e “eles” talvez acabem a trabalhar como políticos, quiçá ministros ou, porque não, primeiros...