quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Carlos I Portugal

produção descentralizada de energia

A microgeração, produção descentralizada de energia em pequenas potências, constitui actualmente uma oportunidade de negócio para os que estiverem interessados em produzir energia eléctrica através dos recursos naturais. O decreto-lei 363/2007 de 2 de Novembro, que estabelece o regime jurídico aplicável à produção de electricidade, veio abrir as portas a todos os particulares interessados em investir neste sistema, possibilitando rendimentos bastante proveitosos aos produtores, para além de permitir que Portugal dê cumprimento aos objectivos do Protocolo de Quioto, entre os quais a promoção do uso de fontes energéticas renováveis para reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito de estufa e, consequentemente, o aquecimento global. Sendo a microgeração uma área ainda pouco desenvolvida no nosso País, a EnerArea – Agência Regional de Energia e Ambiente do Interior está disponível para ajudar todos os interessados em investir neste sistema, fazendo o acompanhamento do processo, desde elucidar o investidor às potências que pretende instalar e respectiva rentabilidade à formalização da candidatura do investidor no Sistema de Registo de Microgeração (SRM). Este SRM é uma plataforma que vai ser criada na Internet no final deste mês, e que regista todos os produtores independentes interessados em produzir electricidade através das fontes renováveis para depois a vender à rede. Trata-se de um portal electrónico e o único meio disponível para formalizar a candidatura à microgeração e para a qual o Estado prevê o pagamento de uma taxa de registo de 250 euros. O Governo disponibiliza ao produtor independente dois regimes remuneratórios: o Regime Geral, no qual a tarifa de venda de electricidade é igual ao custo da energia do tarifário da EDP; e o Regime Bonificado, onde é definida uma tarifa única de referência aplicável à energia produzida no ano de instalação e nos cinco anos civis seguintes. Esta tarifa assume mais rentabilidade para o produtor, visto que aos primeiros 10 MW de potência de ligação registados a nível nacional, a tarifa de referência é de 650 euros/MWh, isto é, a energia será paga a 0,65 cêntimos por Kwh ao produtor independente. No entanto, para se ter acesso a este regime bonificado, é necessário atender a algumas condicionantes: - É preciso que a habitação esteja equipada com um painel solar térmico (para a produção de águas quentes sanitárias), no mínimo com dois metros quadrados; - Espaço disponível para a instalação do equipamento nas diversas variantes tecnológicas: (painéis solares fotovoltaicos; microturbina para aproveitamento hidroeléctrico; eólica e cogeração a biomassa) - Ter uma potência contratada à EDP de pelo menos o dobro da potência que se pretende instalar, sendo que a potência máxima que se pode instalar num sistema de microgeração para a tarifa bonificada é de 3.68 Kw. Todas as questões relacionadas com a microgeração poderão ser esclarecidas pelos técnicos da EnerArea e da Associação de Municípios da Cova da Beira, que aconselharão o investidor sobre o melhor equipamento a instalar e a fonte de energia renovável a apostar de acordo com o espaço e as condições da habitação. AMCB 11-03-2008

domingo, 27 de janeiro de 2008

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Inovação, incentivos, investimento e... QREN (ah! ah! ah!)

Nao é habito reproduzir ou divulgar empresas... mas o texto que se segue é notável! Um escrito académico, simples, conciso, brilhante!
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Newsletter nº 4 - 08 Incentivos à Inovação O Regulamento de Sistema de Incentivos à Inovação estabeleceu as directrizes de apoio à inovação, no tecido empresarial nacional, bem como ao estímulo ao empreendorismo qualificado e ao investimento estruturante em novas áreas com potencial crescimento. Para garantir estes objectivos e estabelecer critérios de avaliação e hierarquização do mérito dos projectos apresentados, foram aprovados pela Comissão de Acompanhamento dos Programas Operacionais Regionais do Continente e do Programa Operacional Factores de Competitividade, os seguintes factores: A. A qualidade do Projecto; B. O Impacto do projecto na competitividade da empresa; C. O contributo do projecto para a competitividade nacional; D. O contributo do projecto para a competitividade regional e para a coesão económica territorial. O Mérito do Projecto é calculado com a atribuição de uma escala (de 1 a 5) e sua ponderação de por pontuações, previamente definidas. Na perspectiva da EUREQUIPA, estes factores, independentemente da sua interpretação específica para cada incentivo, estão relacionados com um conjunto de que conceitos e metodologias que desenvolve nas suas acções de consultoria, incluindo as auditorias, os estudos de mercado e de avaliação do índice de satisfação do cliente/consumidor, e de desenvolvimento estratégico, com os quais pode contribuir para a apresentação e execução dos seus projectos. A qualidade do projecto, na perspectiva da inovação ou dos actuais conceitos sobre gestão, está relacionada com a missão e cultura da empresa que desenvolve as suas actividades, – aquisição de matérias primas, meios de produção, recursos humanos, meios financeiros, tecnologias da informação e comunicação, e distribuição - de modo a responder às necessidades e satisfação dos seus clientes. Esta concepção de qualidade integra os conceitos de excelência, de conformidade com as especificações e de valor. A qualidade é, nas acções de consultoria da EUREQUIPA, a base da competitividade e da rendibilidade das empresas e outras organizações. Nos mercados abertos à competitividade global ganham as empresas que responderem, just in time, às necessidades, em constante mudança e objecto de novas ofertas, dos consumidores individuais e colectivos. O impacto do projecto na competitividade da empresa, resulta da avaliação das forças e fraquezas dos meios internos – equipamentos, tecnologias, recursos humanos, meios financeiros, organização …-, e das forças e fraquezas dos meios externos, – mercado, produtos ou serviços, preços, distribuição, nível de satisfação das necessidades dos clientes e posição perante os concorrentes. Isto é, o impacto do projecto na competitividade da empresa está relacionado: com a sua missão e os valores dominantes na cultura da empresa que orientam a sua estratégia, a sua organização e as sua relações internas e externas com os fornecedores e com o mercado, para o conhecimento das necessidades e a satisfação dos seus clientes; A definição e desenvolvimento da cultura da missão da empresa é um dos principais serviços que a EUREQUIPA desenvolve, apoiando os seus Clientes, de modo a que todos os seus recursos e meios técnicos e estratégia de gestão estejam envolvidos na sua competitividade. com a sua orientação para segmentos específicos do mercado, Há muitas técnicas para segmentar o mercado e centenas de variáveis que são a base dessa segmentação. A EUREQUIPA desenvolve as suas actividades de segmentação de modo a que os seus Clientes encontrem entre a grande variedade de opções aquela que permite identificar melhor os segmentos de consumidores e aumentar a sua rendibilidade. com o posicionamento dos seus produtos e serviços, com base no conhecimento das preferências e motivações de cada segmento do mercado, A identificação do produto ou serviço pelos consumidores dos segmentos do mercado que constituem o seu Mercado alvo, são a chave do seu êxito. A EUREQUIPA identifica os meios e os processos para aumentar a identificação dos produtos e serviços dos seus clientes, pelos consumidores dos segmentos alvo. com o desenvolvimento de novos produtos/serviços e preços que respondem às necessidades dos clientes em constante mutação, just in time e com o apoio da novas tecnologias da comunicação e da informação, Todos os dias as empresas se encontram perante novas necessidades dos consumidores e novas ofertas dos concorrentes. A EUREQUIPA responde a este desafio dos seus Clientes colaborando na definição de novos produtos e no desenvolvimento de novos serviços ao cliente, para que a sua competitividade e rendibilidade aumentem. com a utilização optimizada dos meios de publicidade e comunicação, O apoio às acções de publicidade e comunicação e à avaliação da sua eficácia, junto dos consumidores e dos pontos de venda são uma das componentes das acções de consultoria da EUREQUIPA. com o desenvolvimento do serviço ao cliente, contribuindo para o aumento da sua satisfação e a sua cadeia de valor, Os serviços ao cliente são umas das principais componentes da qualidade e da satisfação dos Clientes. A EUREQUIPA apoia o desenvolvimento de serviços ao cliente, como principal factor de criação de valor. Alguns destes serviços ao Cliente são suportados pelo estabelecimento de redes de informação e comunicação que permite a optimização deste serviço, on line e interactivo. com os diferentes canais e estratégias de vendas. As novas tecnologias de comunicação e informação permitem a utilização de diferentes canais e de processos para as empresas levarem os seus produtos e serviços, just in time, aos seus Clientes. A EUREQUIPA apoia os seus Clientes na selecção e desenvolvimento dos canais de vendas mais adequados (localização de pontos de venda, utilização de centros de apoio ao consumidos, vendas online, redes comuns de acesso às necessidades dos clientes e outros). O contributo do projecto para a competitividade nacional resulta da capacidade da empresa em responder à concorrência, com os seus meios técnicos e humanos e a sua organização, apoiada em novas tecnologias da comunicação e informação, satisfazendo as necessidades dos clientes, em constante mudança, just in time, e a preços competitivos. A perda de competitividade dos produtos e serviços nacionais está relacionada com a incapacidade das empresas oferecerem, no mercado nacional e internacional produtos que respondam às necessidades dos consumidores, considerando a matérias primas, a competência dos recursos humanos, os meios tecnológicos de produção, a distribuição, a comercialização, os preços e os meios tecnológicos de informação e comunicação. Estes meios de informação e comunicação assumem cada vez mais um papel relevante na competitividade por serem o suporte de CRM / ERP, que estabelecem ligações, em tempo real, entre o consumidor com as suas preferências e o produtor. As tecnologias da informação e da comunicação permitem competir no mercado global e internacional, com os novos produtos/serviços que o cliente procura, e just in time. O contributo dos projectos para a competitividade regional e para a coesão económica nacional, está relacionada com os investimentos em novas tecnologias, a utilização das matérias primas ou dos recursos naturais e a utilização ou com a importação de recursos humanos qualificados que contribuam para o aumento da produtividade e da competitividade. O desenvolvimento sustentável de cada região assenta na utilização dos recursos endógenos, que mediante a utilização de novas tecnologias da produção e da comunicação e informação aumenta a produtividade e os meios económicos do desenvolvimento sustentável da população residente. "
notável...

domingo, 6 de janeiro de 2008

Lei antitabaco em Espanha

Proibições nem sempre são cumpridas e aplicação desigual da lei leva a que haja regras diferentes nas várias comunidades autónomas O balanço do primeiro ano da lei antitabaco em Espanha esteve aquém das expectativas do legislador e dos desejos das associações médicas: só 95 mil espanhóis abandonaram o tabaco em 2006, um valor que corresponde apenas a oito por cento dos fumadores. E as proibições não são cumpridas nos restaurantes, bares e espaços de ócio. "Este resultado é francamente insuficiente", desabafou José António Riesgo, da Sociedade Espanhola de Pneumologia e Cirurgia do Tórax (Separ), entidade que coordenou o estudo de hábitos de fumo. As estatísticas revelam que os fumadores que deixaram o vício devido às campanhas de sensibilização promovidas ao abrigo da legislação em vigor desde 1 de Janeiro de 2006 são uma "gota de água". Comparando com os 1,2 milhões que, no ano passado, abandonaram o tabaco por motivos imponderáveis de saúde, o número dos convertidos é mesmo ridículo. O estudo do Separ revelou outros dados preocupantes. O impacto da proibição de fumar nos centros de trabalho e de educação foi bem menor do esperado, quando estes dois ambientes eram fulcrais para a aplicação da lei. É bem verdade que se tornou corriqueira a imagem de trabalhadores ou estudantes a fumarem às portas de empresas e escolas. No entanto, nos locais de trabalho a redução foi de 50 por cento e no sector da educação roçou os 40 pontos. Quando o objectivo era a eliminação total. Redução a nível doméstico No âmbito familiar, a redução da exposição ao fumo foi de 38 por cento, embora em quase quatro de cada dez domicílios haja pelo menos um fumador. Em sentido contrário estão as estatísticas do grupo de trabalho de tabagismo da região sanitária de Barcelona, que registou, em 2006, uma descida de 11 por cento dos enfartes. Uma diminuição atribuída ao menor consumo de tabaco. O Grande Fracasso Mas o grande fracasso da legislação que, entre outras metas, pretendia salvaguardar os fumadores passivos, aconteceu nos locais de ócio e hotelaria, nos quais a redução foi apenas de 16 por cento. Nos bares e restaurantes, a lei espanhola contempla duas situações: espaços com menos e mais de 100 metros quadrados. Nos primeiros, os proprietários podem decidir se é permitido ou não fumar. Nos segundos deve existir uma barreira física entre zonas de fumadores e não fumadores, com os inerentes sistemas de extracção de ar. Neste último caso, em 350 mil estabelecimentos recenseados por toda a Espanha, apenas 40 mil criaram áreas de separação. A peculiar divisão administrativa espanhola, com autarquias, comunidades autónomas e poder central, propiciou outra confusão. As leis do Governo de Espanha aprovadas pelo Parlamento são aplicadas pelos executivos autonómicos. Às autoridades regionais cumpre, também, a aplicação das sanções, que vão dos 30 euros para quem se-ja apanhado a fumar em local não autorizado, ao máximo de dez mil euros para os estabelecimentos que não cumpram os regulamentos. Desta teoria à prática vai um abismo de realidades. Cinco comunidades - Madrid, Castela e Leão, La Rioja, Valência e Baleares - introduziram matizes na aplicação da legislação, permitindo excepções que anulam a lei. Só um exemplo: na comunidade madrilena pode-se fumar nos bares e refeitórios das empresas e em actos sociais, como casamentos e baptizados. O que levou Bernat Soria, ministro da Saúde, a retirar a estes territórios as ajudas previstas na lei de prevenção ao tabagismo. No pólo oposto está a Generalitat - o executivo da Catalunha -, que, através de Marina Geli, responsável pela área da Saúde, anunciou que vai endurecer a aplicação da lei antitabaco. "Queremos que durante 2008 seja proibido fumar em todos os locais de ócio, mesmo com menos de 100 metros quadrados", explicou Geli. Situações díspares que asseguram um enquadramento diferente do fumador, segundo o território que habita ou frequenta. 40 mil dos 350 mil bares e restaurantes com mais de cem metros quadrados têm áreas de separação Nuno Ribeiro, Madrid Publico 06.01.2008

Proibição de fumar: França, Alemanha e Turquia

O Sociólogo Henri--Pierre Jeudy responsabiliza economia da saúde pelo controlo crescente da vida privada. A França, Alemanha e Turquia foram os três países da Europa, além de Portugal, a proibir o tabaco em locais públicos no início deste ano. A legislação é vista como uma limitação das liberdades individuais.Este ano, em França, a proibição alargou-se a todas as discotecas, bares, restaurantes e casinos, depois de em 2007 ter sido aplicada atransportes, empresas, escolas e hospitais. A legislação francesa é a mais radical das três e a mais sujeita a críticas. "Cada vez há mais leis por todo o lado: nas estradas os radares, agora o controlo do tabaco, em breve não será possível fumar nas nossas casas", disse Jacques Vervaeke, num café francês, citado pelo Le Monde. O sociólogo Henri-Pierre Jeudy considerou ser "o fim de uma época", acrescentando, ao diário Libération, que a "economia da saúde pública justifica um controlo cada vez mais coercitivo da vida privada". Oito estados alemães mudaram a legislação. Com excepção da Baviera, foi dada a possibilidade a bares e restaurantes de ter um espaço para fumadores - embora seja obrigatório banir o tabaco se existir apenas uma sala. Também há quem se oponha à imposição. "Não somos crianças a quem se diz o que tem que ser feito", disse o dono de um restaurante em Berlim, ao jornal Die Welt. Algumas soluções originais surgem. O diário Tagesspiegel revela que um restaurante italiano colocou em frente ao estabelecimento uma camioneta para fumadores, aquecida e ventilada. Já na Turquia, onde um terço da população fuma, foi aprovada na quinta-feira a proibição de fumar em bares e restaurantes. "Esta proibição é detestável, pois está contra a liberdade individual", comentou um cidadão turco, Mustafa Puskullu, citado pela Reuters. "Não vou, de certeza, cumpri-la", acrescentou. Raquel Albuquerque Publico 06.01.2008

sábado, 5 de janeiro de 2008

Quem se lembra do Banco Ambrosiano-IOR ?

A incrível história do BCP Miguel Sousa Tavares Em países onde o capitalismo, as leis da concorrência e a seriedade do negócio bancário são levados a sério, a inacreditável história do BCP já teria levado a prisões e a um escândalo público de todo o tamanho. Em Portugal, como tudo vai acabar sem responsáveis e sem responsabilidades, convém recordar os principais momentos deste "case study", para que ao menos a falta de vergonha não passe impune. 1 Até ao 25 de Abril, o negócio bancário em Portugal obedecia a regras simples: cada grande família, intimamente ligada ao regime, tinha o seu banco. Os bancos tinham um só dono ou uma só família como dono e sustentavam os demais negócios do respectivo grupo. Com o 25 de Abril e a nacionalização sumária de toda a banca, entrámos num período 'revolucionário' em que "a banca ao serviço do povo" se traduzia, aos olhos do povo, por uns camaradas mal vestidos e mal encarados que nos atendiam aos balcões como se nos estivessem a fazer um grande favor. Jardim Gonçalves veio revolucionar isso, com a criação do BCP e, mais tarde, da Nova Rede, onde as pessoas passaram a ser tratadas como clientes e recebidas por profissionais do ofício. Mas, mais: ele conseguiu criar um banco através de um MBO informal que, na prática, assentava na ideia de valorizar a competência sobre o capital. O BCP reuniu uma série de accionistas fundadores, mas quem de facto mandava eram os administradores - que não tinham capital, mas tinham "know-how". Todos os fundadores aceitaram o contrato proposto pelo "engenheiro" - à excepção de Américo Amorim, que tratou de sair, com grandes lucros, assim que achou que os gestores não respeitavam o estatuto a que se achava com direito (e dinheiro). 2 Com essa imagem, aliás merecida, de profissionalismo e competência, o BCP foi crescendo, crescendo, até se tornar o maior banco privado português, apenas atrás do único banco público, a Caixa Geral de Depósitos. E, de cada vez que crescia, era necessário um aumento de capital. E, em cada aumento de capital, era necessário evitar que algum accionista individual ganhasse tanta dimensão que pudesse passar a interferir na gestão do banco. Para tal, o BCP começou a fazer coisas pouco recomendáveis: aos pequenos depositantes, que lhe tinham confiado as suas poupanças para gestão, o BCP tratava de lhes comprar, sem os consultar, acções do próprio banco nos aumentos de capital, deixando-os depois desamparados perante as perdas em bolsa; aos grandes depositantes e amigos dos gestores, abria-lhes créditos de milhões em "off-shores" para comprarem acções do banco, cobrindo-lhes, em caso de necessidade, os prejuízos do investimento. Desta forma exemplar, o banco financiou o seu crescimento com o pêlo do próprio cão - aliás, com o dinheiro dos depositantes - e subtraiu ao Estado uma fortuna em lucros não declarados para impostos. Ano após ano, também o próprio BCP declarava lucros astronómicos, pelos quais pagava menos de impostos do que os porteiros do banco pagavam de IRS em percentagem. E, enquanto isso, aqueles que lhe tinham confiado as suas pequenas ou médias poupanças viam-nas sistematicamente estagnadas ou até diminuídas e, de seis em seis meses, recebiam uma carta-circular do engenheiro a explicar que os mercados estavam muito mal. 3 Depois, e seguindo a velha profecia marxista, o BCP quis crescer ainda mais e engolir o BPI. Não conseguiu, mas, no processo, o engenheiro trucidou o sucessor que ele próprio havia escolhido, mostrando que a tímida "renovação" anunciada não passava de uma farsa. E descobriu-se ainda uma outra coisa extraordinária e que se diria impossível: que o BCP e o BPI tinham participações cruzadas, ao ponto de hoje o BPI deter 8% do capital do BCP e, como maior accionista individual, ter-se tornado determinante no processo de escolha da nova administração... do concorrente! Como se fosse a coisa mais natural do mundo, o presidente do BPI dá uma conferência de imprensa a explicar quem deve integrar a nova administração do banco que o quis opar e com o qual é suposto concorrer no mercado, todos os dias... 4 Instalada entretanto a guerra interna, entra em cena o notável comendador Berardo - o homem que mais riqueza acumula e menos produz no país - protegido de Sócrates, que lhe deu um museu do Estado para ele armazenar a sua colecção de arte privada. Mas, verdade se diga, as brasas espalhadas por Berardo tiveram o mérito de revelar segredos ocultos e inconfessáveis daquela casa. E assim ficámos a saber que o filho do engenheiro fora financiado em milhões para um negócio de vão de escada, e perdoado em milhões quando o negócio inevitavelmente foi por água abaixo. E que havia também amigos do engenheiro e da administração, gente que se prestara ao esquema das "off-shores", que igualmente viam os seus créditos malparados serem perdoados e esquecidos por acto de favor pessoal. 5 E foi quando, lá do fundo do sono dos justos onde dormia tranquilo, acorda inesperadamente o governador do Banco de Portugal e resolve dizer que já bastava: aquela gente não podia continuar a dirigir o banco, sob pena de acontecer alguma coisa de mais grave - como, por exemplo, a própria falência, a prazo. 6 Reúnem-se, então, as seguintes personalidades de eleição: o comendador Berardo, o presidente de uma empresa pública com participação no BCP e ele próprio ex-ministro de um governo PSD e da confiança pessoal de Sócrates, mais, ao que consta, alguém em representação do doutor "honoris causa" Stanley Ho - a quem tantos socialistas tanto devem e vice-versa. E, entre todos, congeminam um "take over" sobre a administração do BCP, com o "agréement" do dr. Fernando Ulrich, do BPI. E olhando para o panorama perturbante a que se tinha chegado, a juntar ao súbito despertar do dr. Vítor Constâncio, acharam todos avisado entregar o BCP ao PS. Para que não restassem dúvidas das suas boas intenções, até concordaram em que a vice-presidência fosse entregue ao sr. Armando Vara (que também usa 'dr.') - esse expoente político e bancário que o país inteiro conhece e respeita. 7 E eis como um banco, que era tão independente que fazia tremer os governos, desagua nos braços cândidos de um partido político - e logo o do Governo. E eis como um banco, que era tão cristão, tão "opus dei", tão boas famílias, acaba na esfera dessa curiosa seita do avental, a que chamam maçonaria. 8 E, revelada a trama em todo o seu esplendor, que faz o líder da oposição? Pede em troca, para o seu partido, a Caixa Geral de Depósitos, o banco público. Pede e vai receber, porque há 'matérias de regime' que mesmo um governo com maioria absoluta no parlamento não se atreve a pôr em causa. Um governo inteligente, em Portugal, sabe que nunca pode abocanhar o bolo todo. Sob pena de os escândalos começarem a rolar na praça pública, não pode haver durante muito tempo um pequeno exército de desempregados da Grande Família do Bloco Central. Se alguém me tivesse contado esta história, eu não teria acreditado. Mas vemos, ouvimos e lemos. E foi tal e qual.