quarta-feira, 30 de agosto de 2023

o que é que está a fazer a Lucília Gago?

1É uma das perguntas para a qual ainda não consegui resposta nos últimos cinco anos: por que razão Lucília Gago aceitou ser procuradora-geral da República em outubro de 2018? O que a levou a aceitar porventura o cargo na área judicial com maior exposição pública — exposição essa superior à do presidente do Supremo Tribunal de Justiça?
As perguntas nascem de uma premissa muito simples: Lucília Gago não gosta da exposição pública que o cargo de líder do Ministério Público (MP) acarreta. Pior: lida muito mal com a ideia de ser fotografada, filmada e até mesmo com o simples ato de discursar em público.
Se dependesse de Lucília Gago, um gigantesco pano de palco desceria sobre o Palácio Palmela para que a Opinião Pública não desse pela existência da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Daí a pergunta: o que leva uma senhora com este perfil ultra-discreto a aceitar um convite para um cargo que tem competências de direção hierárquica muito significativas, se não pretende liderar, comunicar ou até mesmo prestar contas aos cidadãos?
2Veja-se o caso Tutti Fruti — que tem dado muito que falar, após a TVI/CNN Portugal ter recuperado o caso com a revelação de escutas telefónicas e de despachos do MP que descrevem as suspeitas que recaem sobre Fernando Medina enquanto presidente da Câmara de Lisboa.
Estamos perante um inquérito do Departamento de Investigação e Ação (DIAP) de Lisboa, aberto entre 2016 e 2017 mas que se arrasta no tempo, alegadamente sem arguidos constituídos e que apenas teve um impulso processual relevante em 2018 com buscas alargadas a dezenas locais em Lisboa e noutros locais.
Além das suspeitas graves de corrupção nas juntas de freguesia dominadas pelo PSD, os autos descrevem com grande grau de pormenor a promiscuidade entre política e negócios, a contratação cruzada de boys e girls entre PSD e PS e até indícios de financiamento partidário ilícito, como revelou a TVI/CNN.
E como se tudo isso não bastasse, ainda há a suspeita de um pacto de estabelecido entre o PS e o PSD para a manipulação de eleições autárquicas em diversas juntas de freguesia em Lisboa e, pasme-se, a “emissão de faturas falsas e acordos com responsáveis do PS para adjudicação de contratos públicos a empresas violando a transparência, integridade, zelo e boa gestão dos dinheiros públicos”.
Tudo isto está reunido em 11 mil páginas e 500 volumes de anexos que compõem os autos.
Chegados aqui, temos de fazer perguntas bastante simples:
  • · Como é possível que um inquérito com indícios tão graves em termos de saude do regime democrático se arraste no tempo?· O que fez a hierarquia do DIAP de Lisboa, na pessoa da diretora Fernanda Pêgo, para que os autos fossem tramitados com a celeridade que se impunha desde 2016/2017? Pêgo é diretora do DIAP de Lisboa desde setembro de 2017.
  • · A mesma pergunta para os procuradores regionais de Lisboa, a quem a diretora do DIAP de Lisboa responde diretamente.
  • · E o que fez a procuradora-geral Lucília Gago? Inteirou-se do caso, pediu satisfações à Procuradoria-Geral Regional de Lisboa ou chamou a diretora do DIAP de Lisboa para perceber em pormenor o que está a atrasar a investigação?
  • para que não existam dúvidas:
  • a procuradora adjunta Andreia Marques, uma magistrada de total confiança da procuradora-geral adjunta Fernanda Pêgo, considera que existem indícios de manipulação das eleições para as juntas de freguesia da Estrela, Santo António e Areeiro.
Haverá suspeita mais grave em democracia do que a manipulação dos atos eleitorais? É isso que diferencia uma verdadeira democracia de um regime autoritário.
É por isso que, numa primeira análise, não é minimamente aceitável que o DIAP de Lisboa ainda não tenha chegado a uma simples conclusão ao fim de mais de sete anos de investigação.
3Muito menos é defensável que a procuradora-geral Lucília Gago fique de braços cruzados à espera que os seus subordinados façam o óbvio que é constituírem os suspeitos contra quem têm indícios e deduzirem a respetiva acusação. Ou, pelo contrário, arquivarem o caso por falta de indícios.
E não se pense que estamos perante qualquer espécie de controlo político da investigação. Pela simples razão de que a procuradora-geral da República é autónoma do poder político e lidera uma magistratura que faz parte do poder judicial.
O que está em causa são os poderes hierárquicos bastante generosos que a lei confere a quem lidera a PGR. Sendo o MP uma magistratura hierarquizada, Lucília Gago tem o dever (eu diria mesmo a obrigação) de pedir informações sobre qualquer inquérito que possa por em causa a paz pública — muito mais um com as características do Tutti Fruti —, seguindo os canais hierárquicos que existem para essa ocasiões.
Mais: qualquer magistrado titular dos autos é obrigado a explicar tudo aos seus superiores hierárquicos, nomeadamente à procuradora-geral.
Em última instância, Lucília Gago pode legitimamente avocar os autos do inquérito e distribuir a um magistrado que considere mais competente do que aquele que leva sete anos a investigar um caso e não chega a nenhuma conclusão. É exatamente assim, sem tirar nem por.
A questão é: Lucília Gago exerceu algum destes poderes hierárquicos que, repito, a lei lhe confere? Tendo em conta o que sei sobre a forma como a PGR é gerida, duvido muito que a procuradora-geral tenha feito isso. Porventura, após a emissão da primeira reportagem da CNN/TVI, alguém terá acordado na PGR e começou a disparar perguntas para o DIAP de Lisboa.
4A verdade é que nada sabemos sobre o que Lucília Gago fez ou deixou de fazer. Lembra-se, caro leitor, da metáfora da cortina de teatro que deveria cobrir a PGR — um pouco à luz da obra do artista búlgaro Christo, que ficou conhecido por cobrir edifícios públicos um por todo o mundo?
Se analisarmos a política de comunicação da procuradora-geral desde que tomou posse, é precisamente com essa ideia com que ficamos. Muitas das perguntas que a comunicação social envia para a PGR costumam ficar sem resposta ou com respostas com a menor informação possível.
O silêncio, que uma vez mais se fez sentir sobre a Operação Tutti-Fruti, é a regra. A exceção são respostas claras e minimamente esclarecedoras — e, mesmo assim, sem um padrão e uma lógica de comunicação.
Isto acontece porque, uma vez mais, a procuradora-geral Lucília Gago não quer liderar e deixa que os procuradores titulares de cada um dos processos (e respetivos diretores) decidam se a comunicação social merece ter alguma resposta. É, portanto, o grau zero de liderança quando é a PGR quem presta contas aos media e à opinião pública em geral.
O que nos leva a outra questão: a própria Lucília Gago também deve pensar que não tem o dever de prestar contas publicamente sobre o trabalho que faz.
Isto é, uma titular de um alto cargo público que depende de uma nomeação do Presidente do República por indicação do Governo e que tem como principal missão zelar pelo principio da legalidade e do respeito das regras do Estado de Direito Democrático — tudo em nome da comunidade —, considera que não tem de comunicar com essa mesma comunidade.
5Se Lucília Gago deve ser escrutinada por estas falhas graves, não é menos verdade que aqui também há uma responsabilidade do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e do primeiro-ministro.
António Costa porque inventou a teoria do mandato único para não ter que propor a renovação do mandato de Joana Marques Vidal em 2018. E Marcelo porque foi cúmplice de algo que só pode ser visto como uma desculpa de tão mau pagador que praticamente ninguém acreditou na tese do mandato único.
O PS queria ver Joana Marques Vidal pelas costas devido à Operação Marquês e à detenção de José Sócrates mas também devido ao processo Face Oculta (que foi liderado pelo seu irmão João Marques Vidal). Os socialistas não brincam em serviço com essas matérias e não levam desaforos para casa.
E não, não vale a pena argumentarem com a tese da birra entre Costa e Sócrates devido à Operação Marquês. Costa não estava preocupado com Sócrates quando não quis renovar o mandato a Marques Vidal. Estava, como é óbvio, preocupado consigo e com a sobrevivência política do seu Governo.
6É que não tenhamos dúvidas, Joana Marques Vidal estaria — como sempre esteve — a par dos processos mais relevantes para precisamente exercer os seus poderes hierárquicos quando as regras ou a celeridade não fosse a ser respeitada.
Foi assim que a então procuradora-geral emitiu um despacho para os autos da Operação Marquês a dizer ao procurador Rosário Teixeira para que se apressasse com a acusação, sob pena da respetiva participação disciplinar ao Conselho Superior do MP.
Tal como foi assim que acompanhou sempre de perto todos os processos relevantes na criminalidade económico-financeira porque era essa a sua obrigação como primeiro responsável pelos atos do MP.
Percebe agora o caro leitor por que razão António Costa queria afastar Joana Marques Vidal da Procuradoria-Geral da República e substitui-la por uma pessoa com o perfil de Lucília Gago? É que com Marques Vidal havia eficácia e resultados concretos.
7Veja-se o caso Galamba, nomeadamente a sua vertente relacionada com os serviços de informações. Tendo em conta o péssimo historial do DIAP de Lisboa — uma sombra do seu passado quando já foi liderado por magistradas como a procuradora-geral adjunta Maria José Morgado — faz sentido que uma investigação dessa importância seja distribuída ao DIAP de Lisboa.
Não tenho grandes dúvidas de que Joana Marques Vidal distribuiria os autos do inquérito ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), não só porque o DCIAP está na direta dependência da procuradora-geral, como também porque é o departamento do MP que está melhor apetrechado em termos de magistrados e know how para uma investigação daquelas.
Se tivesse de avocar (chamar a si) os autos, para os redistribuir de seguida ao magistrado que fosse mais competente para o caso no DCIAP, Joana Marques Vidal também o faria.
Refira-se, por último, que ainda falta fazer a história do afastamento de Joana Marques Vidal, nomeadamente o papel alegadamente cúmplice do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa no afastamento da procuradora-geral. Veremos se será possível descobrir no futuro o que aconteceu realmente.
Já sabemos que, no que depender de Marcelo e Costa, a política de segredo imperará, como imperou até agora.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Batalha do Vimeiro

A Batalha do Vimeiro foi travada no dia 21 de agosto de 1808, durante a primeira invasão francesa de Portugal, no âmbito da Guerra Peninsular (1807 – 1814). Nesta batalha defrontaram-se as forças anglo-lusas comandadas pelo tenente-general Sir Arthur Wellesley e as forças francesas comandadas pelo general Jean-Andoche Junot. A batalha resultou numa vitória para as forças anglo-lusas e determinou o fim da primeira invasão francesa de Portugal

sábado, 19 de agosto de 2023

Ódio anti-português à rédea solta na Gulbenkian

Entre Junho e Setembro, quem visitar o jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, pode visualizar um contentor marítimo que encerra por trás de uma vitrina aquilo que é definido como sendo uma “obra de arte participativa e colectiva” e que tem em Márcio Carvalho o seu coordenador, um “artista” cuja apresentação numa página de “internet” diz ser oriundo “de uma família multirracial composta por angolanos e portugueses” e que se propõe a “desenhar um mapa dos monumentos, memoriais e nomes de ruas de Lisboa relacionados com o colonialismo português (…) para romper com a hierarquia subjacente…”. Esta linguagem aparentemente intrincada e inócua, esconde, porém, um intuito obsessivo e militante, materializado num ajuste de contas com o passado histórico português.
Assim que acedemos ao sítio “web” de Márcio Carvalho é sugerido um outro sítio intitulado “Who do We Come to H(a)unt”, ou traduzindo para a língua de Camões, um jogo de palavras que significa “Quem viemos caçar/assombrar”. No dito sítio também surge o nome de Márcio Carvalho como autor do projecto, onde este afirma que “Querendo ou não, herdamos estátuas, monumentos e memoriais que ainda hoje existem nas nossas cidades, comemorando governantes coloniais e imperiais, traficantes de escravos e outros homens responsáveis ​​pela repressão de povos e comunidades ao redor do globo. O derrube de estátuas de hoje está a criar um grande movimento contra o racismo e outras injustiças, empoderando minorias e remodelando o pensamento colectivo”.

O percurso desconstrucionista deste “artista” politicamente envolvido é extenso e voltamos a encontrá-lo no “ReMapping Memories Lisboa – Hamburg: Lugares de Memória (Pós)Coloniais”, um projecto do Goethe-Institut Portugal, apoiado pela EGEAC, Museu de Lisboa e a associação Buala, dedicada esta à “reflexão, crítica e documentação das culturas africanas”, por sua vez apoiada pela Câmara Municipal de Lisboa. Este projecto tem por alvo diversos locais da capital, entre os quais se encontram a estátua do Padre António Vieira, o Padrão dos Descobrimentos ou o Monumento aos Combatentes do Ultramar, património que é definido como sendo “lugares da memória colonialista” e, face aos quais, os autores do mencionado projecto exigem a “descolonização do espaço público”.

Já em 2018 Márcio Carvalho havia encabeçado o projecto “Demythologize that History and Put it to Rest” (Desmitificar essa história e colocá-la a jazer), tendo nessa ocasião profanado a estátua do rei D. Carlos, frente ao Palácio da Ajuda, tapando a cabeça da estátua com uma caixa preta, enquanto mulheres africanas tocavam batuques, intitulando tal acção como o “segundo regicídio”.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

PONTE TRANCÃO: ANATOMIA DE UM ESCÂNDALO

Um dia após a Câmara Municipal de Lisboa ter anunciado que a nova ponte sobre o Trancão receberia o nome de Dom Manuel Clemente, o ciclo noticioso foi dominado por uma petição da “sociedade civil” contra o nome da ponte. Essa petição foi seguida quase desde o primeiro instante por quase toda a comunicação social. O aumento do número de assinaturas ia sendo assinalado nos media com evidente regozijo. A TSF chegou a anunciar a ressurreição do "activismo cívico".

Confesso que fiquei bastante curioso com toda esta atenção. Já promovi bastantes petições, por assuntos de maior relevância que uma ponte pedonal, com um número bastante superior de assinaturas, e nunca tinha visto qualquer reacção por parte da comunicação social. Por isso fui tentar perceber o que poderia ter de tão especial esta petição, para com mil assinaturas ter direito a cobertura televisiva.

A primeira coisa que descobri, sem grande esforço, é que quando falavam em activismo cívico estavam de facto a falar de activismo partidário. Os promotores da tal petição (que já tinham promovido uns cartazes durante a JMJ), eram militantes do Bloco (assim como as estruturas usadas nos tais cartazes, diga-se de passagem). Estes dados já ajudavam a explicar parte do interesse da Comunicação Social (que passou o dia seguinte a ignorar uma petição em sentido contrário, que crescia ao mesmo ritmo que a do “activismo cívico”). Mesmo assim, mesmo para uma petição do Bloco, a cobertura mediática estava mais forte do que habitual.

O mistério resolveu-se ao perceber quem era Tiago Rolino, que deu a cara corajosamente por esta petição. Tiago passou o dia a explicar que a petição não era contra a Igreja, era pelo respeito às vítimas. Mesmo sabendo que tinha escrito uma petição onde mentia descaradamente sobre o Patriarca de Lisboa. O nosso corajoso activista é um investigador do CES, ou seja, um discípulo de Boaventura Sousa Santos. Ou seja, a personagem que difamou o Patriarca de Lisboa, em nome das vítimas, é discípulo do homem que durante anos abusou sexualmente de alunas, com a cobertura da mesma instituição onde Tiago Rolino trabalha. Pelos vistos a ele só lhe interessam algumas vítimas, as do seu mestre não o parecem preocupar.

Também por total coincidência, a publicação da petição do investigador do CES, que ocupou todo o ciclo noticioso, abafou a notícia de que o livro que acusava Boaventura Sousa Santos de ter abusado, com a conivência do CES, de várias mulheres, tinha sido suspenso por ameaças legais do profeta de Coimbra. Ou seja, no dia em que se sabe que as vítimas de Boaventura e do CES estão a ser silenciadas, temos um dos seus investigadores a falar das vitimas de outros todo o dia na televisão. E assim se contruiu uma “movimentação cívica”, que permitiu abafar mais um escândalo do CES.


Pelo caminho, a comunicação social foi ignorando a petição “JMJ: saudação e apelo aos presidentes da Câmara de Lisboa e Loures” que em menos de 24 horas, e sem qualquer apoio da CS, recolheu quase 8 mil assinaturas. O silenciamento chegou ao ponto de a TSF ter falado comigo sobre a petição e depois não ter publicado qualquer das declarações que recolheu. Entretanto, de forma misteriosa, quando esta petição começava a ganhar tracção o site da Petição Pública esteve quase um dia inteiro em baixo. E a petição que estava a avançar a ritmo galopante, estagnou.

Por tudo isto é essencial continuar a assinar e a difundir a petição “JMJ: saudação e apelo aos presidentes da Câmara de Lisboa e Loures”. Porque é importante demonstrar que há realmente uma sociedade civil, que não está refém dos interesses do Bloco nem do Profeta do CES. Aquilo a que assistimos foi a um linchamento público do Senhor Patriarca, baseado em falsidades e promovido por quem quer esconder os seus próprios esqueletos. Temos o dever de deixar claro que não ficaremos reféns de tal gente. José Maria Seabra Duque

terça-feira, 15 de agosto de 2023

com o realejo encravado...

Para um negro woke os meus argumentos estão errados e não interessam porque… sou branco.
Para um woke branco e de esquerda não são de considerar porque… sou burguês e de direita. (in “O realejo encravado” de João Pedro Marques)
Para mim, lamento ambos, porque a isso o exige a minha família africana…

Em Abril de 2017 a esquerda woke veio exigir um grande debate público sobre a escravatura. O debate tem-se feito, mas completamente de esguelha e por portas travessas. Durante estes seis anos e quatro meses interpelei frontalmente as opiniões e escritos de várias pessoas que gostam de se definir como racializadas: Mamadou Ba, Grada Kilomba, Luísa Semedo, Joacine Katar Moreira, Beatriz Gomes Dias, Cristina Roldão (muitas vezes) e várias outras.

Se exceptuarmos o sociólogo Elísio Macamo, nenhuma dessas pessoas procurou uma vez que fosse contraditar os argumentos de João Pedro Marques ou apresentar factos que tentassem provar eventuais lapsos. Nenhuma dessas pessoas replicou para tentar demonstrar que eu não teria, eventualmente, razão. Ao longo destes seis anos e quatro meses repetiram o mesmo discurso e os mesmos erros factuais como um realejo encravado, e nunca foram capazes de sair daí para um confronto de ideias, provas, documentos, teorias ou explicações históricas devidamente fundamentadas. Limitam-se a reproduzir uma cartilha e partes do caderno de reivindicações que recentemente deixaram bem explícito na por elas designada “Declaração do Porto”. Pior. As pessoas de que falo repetem há cerca de seis anos e meio a mesma propaganda sabendo que é falsa. A sua mensagem não tem variações nem correcções, como seria normal acontecer com gente inteligente e bem formada que se apercebesse do erro. Mas não, nada disso. Por isso repetem desde Abril de 2017 que Portugal enviou seis milhões de escravos para as Américas, quando esse número — e eles sabem-no — corresponde à soma aritmética do transporte efectuado por dois países diferentes, Portugal e o Brasil independente, isto é, o Brasil pós 1822 já autónomo de Portugal. Por isso afirmam que Portugal foi o último país da Europa a abolir a escravidão quando, na verdade, foi a Espanha, etc.
Diga-se que, com duas ou três excepções, o mesmo se passa com os potenciais contraditores brancos. Os Miguel Vale de Almeida, Daniel Oliveira, Luís Trindade, Miguel Cardina e vários outros vultos da esquerda académica ou jornalística tapam os olhos e os ouvidos e fazem de conta que não ouvem o que digo nem lêem o que escrevo acerca das suas prédicas. Não o fazem por ter medo de mim, claro está, mas por terem medo de si próprios. Não querem expor a sua ignorância sobre a matéria. Por isso agarram-se a uma boia estereotipada da qual não se desviam nem um milímetro que seja porque sabem que ficariam imediatamente fora de pé.
Este comportamento de brancos e negros woke que querem descolonizar o conhecimento e que exigem debates, mas não debatem explica-se, em parte, por ignorância, mas vai mais fundo do que isso. Patrícia Fernandes mostrou com grande perspicácia e profundidade, aqui no Observador, por que razão não é possível debater estes assuntos com estas pessoas e é útil seguir as suas ideias principais.
Essas pessoas acreditam que “a Razão, a Ciência e o Conhecimento são fruto, não de conquistas humanas universais, mas do Ocidente e da branquitude”. Buscam, por isso, caminhos para escapar a esse tridente ocidental — chamemos-lhe assim — e, em conformidade, valorizam a subjectividade. Uma das decorrências dessa posição é a errada convicção de que só os negros podem saber o que é ser negro, ou, citando Patrícia Fernandes, “só aqueles que são alvo de violência podem compreender verdadeiramente essa violência e por isso apenas estes podem decidir que actos são necessários para terminar/corrigir essa violência. E tratando-se de uma experiência subjectiva, as emoções assumem um lugar central na discussão pública: raiva e dor substituem as obsoletas ferramentas racionais centradas em argumentos e factos.”
Abro aqui um parêntese para dizer que essa teoria woke é completamente trôpega e, se aplicada à generalidade da vida social, tornaria impossível a comunicação e o entendimento entre as pessoas. Um psiquiatra mentalmente são não poderia compreender um esquizofrénico, um progenitor do sexo masculino não poderia pôr-se no lugar da sua filha, um pacífico juiz seria incompetente para julgar um violento homicida, um obstetra não poderia entender os sintomas e as apreensões de uma grávida, etc. Os exemplos podiam multiplicar-se até ao infinito, mas o que importa sublinhar — como, aliás, Patrícia Fernandes sublinha —, é que se tudo é subjectivo e depende da experiência pessoal, então o diálogo e o debate tornam-se impossíveis. E, por esse caminho, a destruição dos fundamentos e da consistência do saber universitário — ou do saber, puro e simples — está mesmo ali ao virar da esquina.
Patrícia Fernandes dá-nos dois exemplos disso, um dos quais o de Vanusa Vera-Cruz Lima, a doutoranda que apontou uma série de passagens racistas — Oh, que espanto! — em Os Maias, um romance de Eça de Queirós passado num tempo em que o racismo era uma ideologia acreditada e difundida e em que muitas pessoas tinham ideias racistas. Indiferente a esse facto, ou desconhecendo-o, Vanusa Lima recomendou que editoras e professores fizessem “notas pedagógicas” nessas passagens quando publicassem ou leccionassem a obra. Essas suas posições e sugestões foram alvo de críticas e objecções, como é natural, razoável e saudável. Mas Vanusa Lima desvalorizou todas elas não por serem fracas, erradas ou mal fundamentadas, mas porque, como ela própria disse, “as pessoas que me Ou seja, não valorizou a força dos argumentos que lhe contrapunham, mas a sua autoria. Dito de outra forma, para um negro woke os meus argumentos, por mais fortes e acertados que sejam, estão errados e não interessam porque… sou branco. Para um woke branco e de esquerda que quer descolonizar o conhecimento, não são de considerar porque sou burguês e de direita. Aqui chegados, apetece-me abrir um novo parêntese para perguntar o seguinte: onde estão os responsáveis universitários que produziram esta seita de irracionais? Podem limpar as mãos à parede porque fizeram um óptimo trabalho lectivo e humano.
Fechado o parêntese, vamos ao que importa, que é o debate e o conhecimento. Neste estado de coisas o que há, então, a fazer? Como é que se dialoga com os realejos encravados da esquerda e com a sua campanha de mitos? Não se dialoga. O que há a fazer é prosseguir a argumentação e a explicitação dos factos, não para que da discussão nasça a luz — com os woke hermeticamente fechados na caixa estanque das suas teorias auto-justificativas qualquer discussão é impossível —, mas para que a parte racional da sociedade possa ter a informação que lhe permita formar as suas próprias opiniões e conclusões.

aos meus 78!

 

...time goes!

 

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Cardeal Patriarca

Rui Manuel Sousa Valério

O agora nomeado patriarca de Lisboa — um nome anunciado apenas quatro dias após a passagem do Papa Francisco por Portugal, a propósito da Jornada Mundial da Juventude — entrou, em 1976, no seminário Monfortino, em Fátima, onde prosseguiu os estudos. Mais tarde, em 1984, ingressou no noviciado, em Santermo-in-Colle, em Bari (Itália).

Na Diocese de Beja, nas paróquias de Castro Verde, foi coadjutor, entre 1993 e 1995, e pároco, entre 2001 e 2007. No Patriarcado de Lisboa, foi coadjutor na Paróquia da Póvoa de Santo Adrião, entre 1996 e 2001, e foi nomeado, em 2011, pároco da mesma paróquia.
Dom Rui Valério trabalhou ainda, durante alguns anos, na Formação dos Postulantes dos Missionário Monfortinos. Em 2016, foi nomeado pelo Papa Francisco como “Missionário da Misericórdia”, durante o Ano Jubilar.
Professou os votos perpétuos em outubro de 1990 e foi ordenado sacerdote no ano seguinte, em março, em Fátima. Rui Valério tem formação académica nas áreas da Filosofia e da Teologia. Em Roma, entre 1985 e 1987, estudou Filosofia, na Pontifícia Universidade Lateranense, e frequentou Teologia, na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde concluiu a licenciatura, em 1992, com a especialização em Teologia Dogmática.
Na Bélgica, em Leuven, frequentou, entre 1995 e 1996, o curso de Espiritualidade Missionária, no Centre International Montfortain. Na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, em 1997, iniciou o Doutoramento em Teologia. Entre 1992 e 1993, foi capelão no Hospital da Marinha e, entre 2008 e 2011, capelão na Escola Naval.

terça-feira, 8 de agosto de 2023

António Barreto traça os contornos de um momento de viragem

O PS está “numa seríssima encruzilhada histórica e política”, mas não advoga a dissolução do Parlamento. “Correr com este governo por má governação”, explica, é prerrogativa dos eleitores.
Vendo um PSD em crise e antecipando o fim do PCP “em breve”, desejaria que a política atraísse mais valor.
"A elite pública está a minguar e isso é perigoso".

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Jornadas Mundiais da Juventude

Repare-se na segunda linha 4.2 milhões para a Mota Engil construir um altar. 
Também já anda aí a circular a maquete do altar. Isto desmente a questão da “requalificação” da zona, a menos que o altar acabe convertido noutra coisa. Isto insulta a Cruz. 
Por outro lado, a seis meses do evento, e sendo a choldra o que é, sabemos que tudo irá derrapar. Não por acaso a CML veio dar explicações que devem evidentemente estender-se ao governo que, sendo ainda Medina edil em Lisboa, ia “libertar” 32 m. para as “jornadas”. 
Como são ateus e vingativos, sacudiram a água do capote, passem os abraços que P. Nuno Santos e Moedas trocaram efusivamente junto ao Trancão. Novo insulto à Cruz. 
A igreja nasce de um pequeno grão, e nasce todos os dias desse pequeno grão lançado à terra. Não brota de quaisquer primeiras pedras lançadas pela Mota Engil. Isto é uma blasfémia em forma de espectáculo que, a mim, pessoal e espiritualmente repugna. 
Ao menos que saiam de lá mais convertidos. Porque, como lembra a Palavra, ou vos converteis ou perecereis todos. A Mota Engil pagará certamente um valente dízimo para ficar dispensada. (João Gonçalves no FeiceBook)

Há Pressa no Ar -Hino da JMJ Lisboa 2023 -

...e o vencedor foi há um ano!

o caminho do Observador para o gramscismo para conferir um ano depois!