sexta-feira, 18 de maio de 2007

Uma boa noticia!


Ministra impede investigação a ossadas
A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, impediu a investigação às ossadas de D. Afonso Henriques, proposta por um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra. A investigadora Eugénia Cunha aceita a decisão, mas vai rebater os argumentos contra a investigação. TSF, Sexta, 18 de Maio de 2007


... e a Universidade de Coimbra contesta!
A antropóloga forense Eugénia Cunha anunciou hoje que a Universidade de Coimbra (UC) vai contestar o despacho da ministra da Cultura que rejeita a abertura do túmulo de D. Afonso Henriques para fins científicos. Publico 18 Maio 2007

terça-feira, 8 de maio de 2007

Universidades podem ser fundações

Antes... (...)Bloco de Esquerda, PCP e PS estao de acordo quanto ‘a necessidade de clarificar se houve favorecimento ou nao da Universidade Lusiada por parte do Governo. Lino de Carvalho, deputado do PCP, exigiu de Durao Barroso o esclarecimento das dúvidas em torno do possível favorecimento da Universidade Lusíada. O mesmo fez Augusto Santos Silva, deputado do PS, que também já exigiu esclarecimentos de Durao Barroso. O BE, por seu turno, exigiu a criação de uma comissão parlamentar de inquérito. Em suma, aparentemente a unica forca politica que nao pediu que fossem esclarecidas todas as duvidas foi a Nova Democracia de Manuel Monteiro. Refira-se que Manuel Monteiro e’ sub-director do curso de Relações Internacionais da Universidade Lusiada no Porto. (...) O PS exigiu esclarecimentos a Durao Barroso sobre o possível favorecimento da Universidade Lusíada ao promulgar uma lei feita ‘a medida para esta instituicao de ensino superior privado. O dirigente do PS, Augusto Santos Silva, salientou o facto de o Primeiro-Ministro ter estado ligado à Universidade Lusíada e de vários membros do actual governo terem ou terem tido relações pessoais com a Universidade Lusíada”. Seria util que o PS tivesse cuidado com eventuais insinuacoes que podera’ vir a fazer. Isto porque a Universidade Lusíada pediu a aprovação de um projecto de diploma para o reconhecimento do interesse público da Fundação Minerva em Julho de 2000 ao então ministro da Educação, do PS, Guilherme de Oliveira Martins. Acontece que um irmao de Guilherme d’Oliveira Martins e’ (ou era na altura se a memoria nao me falha) assessor da administracao da Universidade Lusíada… Acresce que existem outros dirigentes e/ou deputados do PS que tambem têm ou tiveram relações pessoais com a Universidade Lusíada. Estou a pensar, por exemplo, em Jorge Lacão que da’ ou deu aulas no curso de Direito. Em suma, e repetindo, o PS devera’ ter cuidado com eventuais insinuacoes que possa fazer porque muito provavelmente irao fazer ricochete… P.S. -- Saliente-se por uma questao de clareza que entre 1994 e 1998 fui assistente estagiario na Universidade Lusiada, no curso de Relacoes Internacionais do qual Durao Barroso foi director em determinada fase. Entre 1998 e 2003 estive com licenca e preparo-me eventualmente para voltar a leccionar na Universidade Lusiada no segundo semestre academico, que comecara' em Fevereiro de 2004. Paulo Gorjão http://bloguitica.blogspot.com/2003_12_01_archive.html Agora... Ministro com poder para passar universidades a fundações Contra todas expectativas, Mariano Gago avança mesmo para a hipótese de as universidades ou politécnicos públicos serem transformados em fundações de direito privado. As instituições podem manifestar essa vontade ou, em nome da defesa do interesse público, o próprio ministro do Ensino Superior terá a liberdade de avançar unilateralmente para esse tipo de regime jurídico, previsto no projecto-lei aprovado no Conselho de Ministros extraordinário de sábado.Segundo o diploma, a que o JN teve acesso, os actuais funcionários públicos ao serviço nessas universidades ou politécnicos manterão os seus direitos, aplicando-se de futuro o contrato de trabalho da Administração Pública. As instituições públicas poderão delegar a realização de cursos (sem grau académico) em fundações, associações ou sociedades privadas com que tenham acordos. As futuras e eventuais fundações serão administradas por um conselho de curadores (3 a 5) nomeados por cinco anos pelo Governo entre personalidades de reconhecido mérito e não poderão ter vínculo laboral com a instituição. As fundações terão órgãos semelhantes às universidades públicas tradicionais, exceptuando os curadores, e poderão aprovar quadros de pessoal ou, por exemplo, autorizar operações sobre imóveis, aprovar as propinas ou permitir a criação ou participação de empresas privadas. O conselho de curadores terá também o poder de designar o reitor e o conselho de gestão.O Governo das universidades "tradicionais" será composto pelo conselho geral que elege o reitor e este terá, entre outras funções, a obrigação de presidir a um conselho de gestão. O conselho geral elege o reitor por quatro anos a partir de um conjunto de candidatos que sejam professores ou investigadores internos ou externos à instituição, de universidades portuguesas ou estrangeiras.Ao lado do reitor (ou presidente no caso dos politécnicos) surge a figura do administrador, isto é, um gestor profissional que integrará o conselho de gestão. Este administrador terá competências equivalentes a um director-geral da Administração Pública. A gestão financeira e patrimonial estará nas suas mãos e controlará até as transferências do OE para a instituição.Apesar da sua tónica privatizadora, o diploma guarda para o ministro poderes essenciais, como seja a determinação do número máximo de docentes, investigadores e outro pessoal remunerados pelo Orçamento de Estado. Ainda assim, as instituições não terão limitações na contratação de pessoal em regime de contrato de trabalho.Não menos importante é a possibilidade de o Governo ter a iniciativa (ou dar o seu aval) de criar consórcios de instituições de ensino superior públicas, visando a coordenação mais racional da oferta de cursos. Mecânica da passagem a fundações "privadas"
As universidades públicas poderão passar a fundações mediante proposta fundamentada do reitor ou do presidente, aprovada pelo conselho geral por maioria absoluta. O Governo terá de aprovar, mas todo o processo pode ser da iniciativa da tutela.Governo pode fazer donativos às fundaçõesO património da fundação de direito privado resultará do já existente na universidade ou politécnico públicos. No entanto, o Governo poderá contribuir para o património da fundação com recursos suplementares, patrimoniais ou outros. JN Terça-feira, 8 de Maio de 2007

quarta-feira, 18 de abril de 2007

acabar com o mito


Historiadores querem acabar com o mito e
pretendem abrir o túmulo nos Jerónimos.
Dois investigadores, um português e um espanhol, defendem a abertura do túmulo de D. Sebastião, no Mosteiro dos Jerónimos, e a realização de análises às ossadas ali depositadas, para "acabar de vez com o mito sebastiânico".
Os dois investigadores dizem ter tido acesso a documentos que provam que o rei D. Sebastião tombou no campo da batalha de Alcácer Quibir (Marrocos) e que o seu corpo foi resgatado e transferido para Ceuta, onde permaneceu até ser trasladado para Portugal.
O resultado da investigação, que será publicado em Maio na Revista Cultural Praça Velha, editada pela Câmara Municipal da Guarda, leva os historiadores Carlos d'Abreu (Guarda) e Emílio Rivas Calvo (Salamanca, Espanha) a defenderem a abertura do túmulo de D. Sebastião e a análise das ossadas.
A batalha de Alcácer Quibir foi travada a 4 de Agosto de 1578, em Marrocos, tendo o exército português sofrido uma grande derrota frente aos mouros, que culminou com a morte do rei D. Sebastião.
Carlos d'Abreu recorda que a História refere, pelos relatos de Jerónimo de Mendonça (cronista de A Jornada de África), que "ninguém viu morrer o rei", do que resultou ter sido criado em Portugal um mito em torno do monarca.
"A historiografia criou o mito sebastiânico, em como ele não terá morrido no campo de batalha, mas antes, desonrado pela derrota, terá partido e andado a vaguear por aí", disse.Com a sua investigação, iniciada em 2003, quando estava de férias em Ceuta, o historiador garante que deita o mito "por terra", porque afinal D. Sebastião "morreu e o seu corpo foi resgatado do local da batalha".
Carlos d'Abreu conta que, durante o processo de investigação, realizada em colaboração com o investigador espanhol, encontrou no Archivo General de Simancas (Espanha) documentos relacionados com a entrega do corpo do monarca português.
"A primeira reacção que tive - assinalou - foi que, eventualmente, os documentos não fossem verdadeiros", mas a sua autenticidade foi garantida pelos serviços do arquivo.
Documentos provam trasladação do corpo do monarca
Os historiadores tiveram acesso a vários documentos relacionados com o processo pós-morte do monarca na Batalha de Alcácer Quibir, destacando três deles.
Um dos documentos é a acta da entrega do corpo do monarca em Ceuta (Praça que foi portuguesa até 1640), datada de 10 de Dezembro de 1578, que relata a recepção do corpo e a sua deposição na igreja do Mosteiro da Santíssima Trindade.
O segundo documento, emitido no dia seguinte, transcreve uma comunicação do embaixador do Rei Filipe II de Espanha a confirmar a chegada do cadáver a Ceuta e o terceiro, datado de 8 de Janeiro de 1579, é uma carta do cardeal-rei D. Henrique a Filipe II a agradecer "tudo o que Filipe II fez em relação à recuperação do corpo".
Carlos d'Abreu refere ainda que o corpo do monarca esteve em Ceuta até 1582, quando o rei Filipe I de Portugal "o fez trasladar para Portugal e tumulou-o, bem como à sua família, no Mosteiro dos Jerónimos".
Os dois investigadores defendem agora, à semelhança de outros, que o túmulo de D. Sebastião "seja aberto e se realizem análises de ADN do corpo do rei e dos seus antepassados que também ali se encontram sepultados".
"Comungamos desta opinião, porque achamos que a ciência deve ser posta ao serviço da verdade", argumenta o investigador residente na Guarda.
"Sendo eu um visitante do Mosteiro dos Jerónimos, sabia que existia lá um túmulo de D. Sebastião, mas não lhe dava importância porque a ideia que a historiografia transmitia era que o túmulo estava vazio, que era simbólico", observou.
Por isso, defende a abertura do túmulo do monarca "para que se esclareça se os ossos pertencem ou não ao rei".
"Acho que isso deve ser feito. (...) Se hoje a ciência nos dá essa possibilidade, por que razão havemos de continuar a alimentar o mito?", questiona.
Segundo Carlos d'Abreu, os historiadores que se têm debruçado sobre o estudo de D. Sebastião têm sido "negligentes, porque não se esforçaram por dissipar essas dúvidas que ainda hoje persistem".
"Dá a sensação que houve uma estratégia, montada por parte não sei de quem, no sentido de sonegar a informação contida nestes documentos que, por serem conhecidos por alguns historiadores, mesmo que poucos, não são por isso inéditos", conclui.
Publico 11.04.2007 - 13h12 Lusa

ps: imaginem que "os documentos" são os do Filipe I... por onde é que andam estas históricas cabeças!!!

sexta-feira, 13 de abril de 2007

terça-feira, 27 de março de 2007

OS GRANDES PORTUGUESES


(Um texto de Isabel Lago. Notável !!! )

Desvendou-se o mistério que nos vinha apoquentando nos últimos meses. Já podemos dormir descansados. Foi escolhido o grande português, o maior de todos os tempos, segundo os objectivos da RTP. Feito isto, acabaram-se as apostas de café ou familiares, os debates televisivos, os artigos na imprensa à volta dessa figura que passaria a ser uma espécie de herói nacional. Aliás como se pode comprovar, de nada adiantaram. Num concurso em que se punham em comparação figuras actuais e vivas, dos mais variados quadrantes e, na sua quase totalidade, sem valor intemporal, com outras que vinham do início da portugalidade e de cuja actuação se tem uma perspectiva temporal vasta, tudo seria de esperar. Foi uma espécie de sopa de pedra de que só restaram mesmo os calhaus. A escolha, porque não foi uma eleição, de Salazar e Cunhal, é o retrato fiel da sociedade que temos: sem sentido histórico e de memória curta. Ah, e que pelos vistos gosta de chicote. Só assim se explica a escolha de dois ditadores, se bem que de facções opostas. Politicamente o que se passou revela a clivagem da sociedade portuguesa, dividida entre a esquerda e a direita desde que entrámos na chamada era democrática. Mas enquanto Salazar foi uma realidade, com uma actuação governativa completa de princípio, meio e fim (concordemos ou não com ela) reconhecida internacionalmente, Cunhal não passou de uma intenção: nunca governou a não ser o seu próprio partido. A maioria do próprio povo português o impediu de subir ao poder porque adivinhava nele a chegada de uma forma de governar mais ditatorial do que a de Salazar e de que a célebre “Cortina de Ferro” era a imagem. Salazar foi um grande português. Mas não o MAIOR. Teve uma actuação nacional e o que se pedia era uma dimensão universal.
O que revela pois esta opção? Que os portugueses estão em crise de valores económico-sociais, mas também descrentes na política deste país. Em todos os momentos semelhantes, ao longo da nossa história, têm surgido fenómenos de messianismo, ou seja, da criação de figuras que desejamos nos venham salvar. Continuamos à espera de um qualquer D. Sebastião que venha arrancar-nos do fosso em que estamos. Esse redentor do séc. XXI provavelmente já não virá numa manhã de nevoeiro, mas de avião. E se demorar um pouco arrisca-se a aterrar na Ota. A escolha destes dois nomes é prova do que acabo de afirmar. Um é um mito da direita. O outro da esquerda. Na divulgação de ambos e no apelo ao voto foram utilizadas manobras “subterrâneas” e silenciosas, como que temendo represálias de uma qualquer inquisição: sms que circularam entre amigos e conhecidos, envelopes abertos que, em vez de endereço tinham, escrita a lápis a frase: “lê, vota e passa a outro” e que dentro tinham fotocópias de propaganda de uma ou outra figura. Foram acções que desvirtuaram o jogo.

Só faltou mesmo aparecer novamente um Bandarra com as suas trovas

Faço Trovas muito inteiras
Versos mui bem medidos,
Que hão de vir a ser cumpridos
Lá nas eras derradeiras.

Crise na UnI continua




Luís Arouca poderá ter sido detido
Luís Arouca, reitor da Universidade Independente (UnI), terá sido detido esta terça-feira pela Polícia Judiciária para interrogatório. Mais dois dirigentes terão sido igualmente detidos.
As informações são contraditórias. A Polícia Judiciária já saiu das instalações da UnI, mas não esclareceu quais as diligências que tomou naquela instituição.Entretanto, Lúcio Pimentel negou ter sido detido e até contactado pela Polícia Judiciária. O representante da Sociedade Independente para o Desenvolvimento do Ensino Superior (SIDES), esteve reunido com o Conselho Reitoral e com a Inspecção-Geral do Ensino Superior, com o objectivo de resolver o impasse em que a universidade se encontra e evitar o seu encerramento, como foi anunciado pelo ministro do Ensino Superior, Mariano Gago.
CM 2007-03-27 - 17:28:00

Crise na UnI continua
Luís Arouca substituído no cargo de reitor da Independente
As duas facções em litígio na Universidade Independente (UnI) chegaram hoje a acordo quanto à substituição do reitor Luís Arouca e à composição do corpo docente. A UnI garante que vai ser retomada a normalidade na instituição ainda hoje, numa altura em que alguns alunos começaram a tentar a transferência para outro estabelecimento.
"A Universidade Independente informa que as actividades académicas retomam a normalidade hoje ainda, após ambas as partes terem chegado a um consenso quando ao corpo docente em funcionamento", refere um comunicado da UnI.
O documento adianta que "o acordo passa também pela substituição de Luís Arouca no cargo de reitor, acelerando o processo de designação do novo reitor".

Do novo corpo docente, hoje formado, fazem parte professores das listas escolhidas pelas equipas das facções lideradas por Luís Arouca e Rui Verde, encontrando-se este último em prisão preventiva. "No âmbito da reunião de hoje foi criada uma lista única de professores que faziam parte dos dois corpos docentes anteriores", explicou Pedro Silva.


O presidente da APESP, João Redondo, afirmou que "uma ou duas centenas de alunos da Universidade Independente estão a contactar várias instituições [de ensino superior] públicas e privadas para pedir transferência", o que não é possível, já que os prazos estão esgotados.
Por isso, o responsável da APESP considera que "é preciso haver abertura do Ministério do Ensino Superior para resolver a situação", permitindo aos alunos prosseguir os estudos noutras universidades. "Acho que o Ministério devia criar condições para que os alunos pudessem optar por mudar já de instituição, com um mecanismo de equivalências, se assim entendessem. É preciso que se garanta a mobilidade destes estudantes e isso só é possível com a actuação do ministro", afirmou.Para João Redondo, o regime especial de transferências devia ser criado de imediato, mesmo que a UnI não seja encerrada compulsivamente, na sequência das averiguações desencadeadas pela Inspecção-Geral do Ensino Superior
. Publico 27.03.2007 - 18h52 Lusa

Licenciatura sem valor



Marcelo Rebelo de Sousa não tem dúvidas: o escândalo que envolve a Universidade Independente, nas pessoas do seu reitor e vice-reitor, não só descredibiliza a licenciatura do primeiro-ministro, José Sócrates, como todas as licenciaturas dos milhares de estudantes que ali realizam os seus estudos superiores.

No programa da RTP 1 ‘As Escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa’, o professor disse ainda que, em sua opinião, nenhum primeiro-ministro precisa de uma licenciatura para exercer o cargo. “Só num País de provincianos, como este, é que se julga que o canudo é preciso para tudo”, afirmou, lembrando os casos de John Major e Jacques Delors: nenhum deles era licenciado mas nem por isso deixaram de exercer convenientemente as suas funções.
CM 2007-03-26 - 00:00:00

Universidade Independente


Ministro admite encerrar UnI
A advertência foi feita formalmente à empresa SIDES, detentora da UnI, segundo um comunicado da tutela: “A reapreciação em curso do processo de reconhecimento” da faculdade e “a inspecção às condições de funcionamento académico poderão, nos termos da Lei, conduzir à caducidade do seu reconhecimento e encerramento.”O Ministério assegura, contudo, que recorrrá primeiro "a todos os meios legais ao seu alcance, e no interesse dos estudantes" para o regresso normalidade e “não hesitará em promover o rigoroso apuramento das responsabilidades pela situação criada, que além do mais, revela uma manifesta falta de respeito pelos alunos e pelas suas legítimas expectativas”. CM 2007-03-26 - 20:28:00

Independente fica a partir de hoje em vazio de poder
A Independente mergulha hoje num vazio de poder. O Conselho Reitoral escolhido há menos de uma semana vai demitir-se e pôr o seu cargo à disposição do ministro Mariano Gago. Mas as baixas não ficam por aí. De saída estará também Conceição Cardoso, membro da Direcção da SIDES, sociedade que gere a universidade. Facto que cria uma ruptura irreparável na direcção, uma vez que o seu presidente, Rui Verde, se encontra em prisão preventiva e o terceiro elemento é Frederico Arouca, filho do reitor, com quem esta diz não encontrar consenso possível.
A reviravolta que marca o início da terceira semana de polémicas, confusões e detenções agravará ainda mais a instabilidade da universidade e a vida académica de alunos e professores. Mas a bola fica agora do lado do Governo, uma vez que os membros do Conselho Reitoral vão pedir ao Ministério do Ensino Superior que ajude a arranjar uma solução para a crise.
O Conselho Reitoral composto por Silva Pereira, Pamplona Corte Real, Horácio Carvalho e Eurico Calado foi escolhido pela direcção da SIDES quando Rui Verde reassumiu o controlo da universidade, há menos de uma semana. Mas a instabilidade e o mal-estar criado entre professores, gestores e alunos chegou a um ponto em que os membros do Conselho admitem não ter condições para trabalhar. Por isso, segundo disse ao DN Pamplona Corte Real, hoje vai ser entregue uma carta ao ministro Mariano Gago, onde os membros do Conselho admitem, contudo, estar disponíveis para colaborar numa solução definida pelo Governo. Pamplona Corte Real ressalva, contudo, que o Conselho não está de saída devido à prisão preventiva de Rui Verde, mas na sequência das polémicas que impedem os responsáveis académicos de traçar um rumo científico para a instituição.
Quem bate também hoje com a porta é Conceição Cardoso, que integrava a direcção da SIDES com Rui Verde e Frederico Arouca. Ao DN, afirmou não estar em condições de assegurar o mínimo de consenso com o filho de Luiz Arouca, a quem já comunicou a sua intenção de abandonar o cargo. "A situação tem vindo a deteriorar-se. Não há acordo em nada. Começa a ser difícil. Estamos num empate técnico", disse. Conceição Cardoso considera ainda que a solução devia passar por Mariano Gago e pela nomeação de uma comissão de acompanhamento.

Quem manda?
Tentar perceber quem manda na UnI é uma charada de resolução impossível. Luiz Arouca diz que é ele e que o Conselho Reitoral não tem legitimidade. O CR defende que é o único a mandar na vertente académica e argumenta que o reitor deveria ter sido substituído há muito. Sexta-feira, reitor e CR deram ordens e contra-ordens, chegando a prever-se que haveria cadeiras em que se apresentariam dois professores ao mesmo tempo, os de Luiz Arouca e os antigos.
E isso só não aconteceu devido a uma sessão de esclarecimento convocada pelo reitor e seus apoiantes, na qual compareceu também o CR. Entretanto, a Associação Académica mandou chamar a PSP, com o argumento de que se passeavam pela UnI "indivíduos estranhos e perigosos". Hermínio Brioso, presidente da associação académica, esteve na mesa na referida sessão.
Na reunião, Luiz Arouca começou por denunciar "os roubos descarados de Rui Verde". Arouca falou num défice directo à SIDES de 800 mil euros e noutro de 500/600 mil em nome de Rui Verde. Os alunos interromperam o discurso. "Não queremos saber disso. Já o disse há três semanas. O dr. Rui Verde disse-o na terça- -feira. Se não são capazes de gerir a universidade, entreguem isto a quem vos deu o alvará [Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior] para se acabar o ano", sintetizou um aluno, exaltado.
O reitor também foi interrompido por professores que abandonaram o cargo por solidariedade com os professores dispensados, como Pamplona Corte-Real e Rita Garcia Pereira, que desmentiram algumas afirmações. O clima lembrava as piores assembleias gerais de clubes desportivos, com protestos, acusações e gritaria. Alheios à confusão, alguns professores deram aula perante uma assistência reduzida. "Estive dois dias fora do País e não sei o que se passou", justificava Pedro Simões Dias, enquanto se preparava para leccionar.

Arouca acumula reforma e salário...
No meio do caos, surgem novos dados. Segundo afirmou ao DN Conceição Cardoso, Luiz Arouca está aposentado da função de reitor e recebe uma reforma que acumula com um salário para a mesma função. Arouca está aposentado desde 2000, recebendo uma reforma de 3636,60 euros mensais. Aliás, esta foi a informação dada pela Caixa Geral de Aposentações (CGA) a 12 de Fevereiro à Administração da UnI. "O interessado [Luís Arouca] foi aposentado, por despacho de 2000-02-06, tendo a pensão sido revista em 2006-10-22, com produção de efeitos a 2005-12-01", responde o chefe de serviço da CGA ao pedido de Rui Verde. Conceição Cardoso, da direcção da SIDES, garante que Luiz Arouca acumula esta reforma com o salário de reitor de 3900 euros mensais.
O segundo argumento para o Conselho Reitoral contestar a legitimidade de Luiz Arouca no cargo de reitor deve-se ao facto de o mandato de três anos já ter acabado há um ano e a SIDES não ter feito outra nomeação. Ou seja, "o lugar está vago", dizem.
Luiz Arouca não responde àquela acusação e anunciou uma conferência de imprensa para amanhã. "A situação é muito complicada. Esteve aqui uma série de gente que andou durante anos a roubar isto e nós temos que analisar as coisas a fundo", disse ao DN, quando confrontado com a acusação da direcção da SIDES
. DN Segunda, 26 de Março de 2007 Céu Neves e Rita Carvalho

domingo, 25 de março de 2007

Portuguese discovered Australia


Map proves Portuguese discovered Australia: new book

"There was something familiar about them but they were not quite right -- that was the puzzle. How did they come to have all these Portuguese place names?," Trickett said.

Trickett believed the cartographers who drew the Vallard maps had wrongly aligned two Portuguese charts they were copying from.

It is commonly accepted that the French cartographers used maps and "portolan" charts acquired illegally from Portugal and Portuguese vessels that had been captured, Trickett said.

"The original portolan maps would have been drawn on animal hide parchments, usually sheep or goat skin, of limited size," he explained. "For a coastline the length of eastern Australia, some 3,500 kms, they would have been 3 to 4 charts."

"The Vallard cartographer has put these individual charts together like a jigsaw puzzle. Without clear compass markings its possible to join the southern chart in two different ways. My theory is it had been wrongly joined."

Using a computer Trickett rotated the southern part of the Vallard map 90 degrees to produce a map which accurately depicts Australia's east coast.

"They provided stunning proof that Portuguese ships made these daring voyages of discovery in the early 1520s, just a few years after they had sailed north of Australia to reach the Spice Islands -- the Moluccas. This was a century before the Dutch and 250 years before Captain Cook," he said.

Trickett believes the original charts were made by Mendonca who set sail from the Portuguese base at Malacca with four ships on a secret mission to discover Marco Polo's "Island of Gold" south of Java.

If Trickett is right, Mendonca's map shows he sailed past Fraser Island off Australia's northeast coast, into Botany Bay in Sydney, and south to Kangaroo Island off southern Australia, before returning to Malacca via New Zealand's north island.

Mendonca's discovery was kept secret to prevent other European powers reaching the new land, said Trickett, who believes his theory is supported by discoveries of 16th century Portuguese artifacts on the Australian and New Zealand coasts.
http://today.reuters.com/news/articlenews.aspx?type=topNews&storyID=2007-03-21T102554Z_01_SYD34497_RTRUKOC_0_US-AUSTRALIA-MAP.xml&pageNumber=1&imageid=&cap=&sz=13&WTModLoc=NewsArt-C1-ArticlePage1

ps: pf, não digam nada aos franceses e, ainda menos, aos ingleses!!!

Maputo, vítimas do paiol !

Paiol de Malhazine explode duas vezes em três meses
Elevado número de vítimas e enormes prejuízos materiais. Com indignação geral os moçambicanos pedem a demissão imediata do ministro da Defesa, Tobias Dai, cunhado do presidente da República

Cerca das 16:15 horas de ontem a capital moçambicana foi surpreendida por violentas explosões no paiol militar de Malhazine, no distrito urbano n.º 5, que acabariam por se saldar, num número ainda não especificado de mortos, mais de uma centena de feridos graves, confirmados, e pânico generalizado dada a intensidade das explosões que se prolongaram por mais de 5 horas e prosseguiram com rebentamentos esporádicos noite adentro. Contudo, repórteres do «Canal de Moçambique» posicionados no principal hospital do país, cerca da meia noite davam conta que as autoridades estavam a esconder a verdade sobre o número de vítimas, alegadamente para tentarem reduzir a indignação que tomou conta da população de Maputo e do país em geral, por mais um caso que atribuem ao desleixo a que o governo votou matérias de responsabilidade.
Noticias Lusofonas - 23-Mar-2007 - 11:35
Luto em Maputo pelas vítimas do paiol
Os moçambicanos viviam ontem um dia de luto após a morte confirmada de cem pessoas na explosão, em Maputo, do principal paiol do país, que provocou ainda 450 feridos, num balanço que pode ainda tornar-se mais pesado.
"Há ainda corpos nos destroços. Quando tivermos encontrado esses corpos, o número de mortos vai ultrapassar os cem", declarou à AFP um dirigente municipal de Maputo.
O mais recente balanço divulgado pela rádio pública, que cita o ministro da Saúde, Ivo Garrido, indicava cem mortos, tendo falecido 19 no hospital e os restantes 81 devido às explosões em série de armas e munições, que destruíram na quinta-feira as habitações populares perto do paiol edificado pelos soviéticos nos anos 80.

... tinha armazenado cerca de 20 toneladas de material militar datando do período da guerra civil, entre 1976-92.
Este equipamento aguardava vez para ser destruído.

Segundo um elemento do Governo, a explosão pode ter-se devido às elevadas temperaturas que se fazem sentir neste momento na capital moçambicana.
Segundo um porta-voz presidencial, os militares prosseguiam ontem a recolha das munições que não explodiram e que se encontram ainda espalhadas um pouco por todo o bairro onde está situado o paiol.
DN Domingo, 25 de Março de 2007




Explosões do paiol em Maputo atingiram também a cidade da Matola
As explosões ocorridas quinta-feira num paiol em Maputo fizeram 96 mortos e mais de 400 feridos, segundo um balanço feito hoje pela Associação de Imprensa sul-africana. A cidade da Matola, a 12 quilómetros de Maputo, também foi atingida, registando-se oito mortos u dezenas de casas destruídas. Noticias Lusofonas 25 de Março

... + Salazar


Estatuto de Salazar na mão dos portugueses
Um ditador que não deixou saudades ou um grande português?

A pergunta será respondida hoje à noite, em directo na RTP 1, durante a final do programa Grandes Portugueses, uma operação da televisão pública iniciada a 15 de Outubro do ano passado.
De lá para cá a polémica marcou o formato da RTP. Primeiro, porque a lista inicial de candidatos ignorava o homem que governou Portugal durante 36 anos. Depois, porque Salazar passou a ser apontado como um dos favoritos, liderando mesmo as votações até ao final da semana.
Ainda na quinta-feira passada, o DN revelava que António Oliveira Salazar dispunha de uma vantagem de 22 mil votos sobre o segundo classificado, o fundador da Nação, Afonso Henriques.
Um dos outros favoritos à vitória final, o antigo líder comunista Álvaro Cunhal, que durante semanas ocupou o segundo lugar e ombreou com Salazar o lugar mais alto do pódio, estava na quinta-feira passada na terceira posição.
A decisão popular será conhecida hoje durante a final do concurso, que será tudo menos uma gala. "É evidente que um programa que tem em estúdio personalidades como José Miguel Júdice, Jaime Nogueira Pinto, Rosado Fernandes ou Clara Ferreira Alves não é uma gala, não terá bailarinos nem momentos musicais", explica ao DN o director de programas da estação. Nuno Santos esclareceu ainda que "não há qualquer incómodo da RTP por uma hipotética vitória de quem quer que seja e, obviamente, não houve mudanças no figurino da final do programa, que há muito que estava estipulado", disse, contrariando a notícia de ontem do jornal Sol, que afirmava que "a liderança de Salazar estragou a festa à RTP".
Maria Elisa estará, como habitualmente, na condução do programa, mas terá a colaboração de Daniel Oliveira, que irá revelando ao longo da emissão a posição relativa dos dez finalistas, embora sem avançar com as percentagens de votos.
Em estúdio estarão também os dez defensores dos "grandes portugueses", que esgrimirão os últimos argumentos para merecerem os votos dos espectadores, que estarão abertos quase até ao fim da emissão.
DN Domingo, 25 de Março de 2007 Nuno Azinheira

sexta-feira, 16 de março de 2007

agressões nas escolas


Todas as agressões nas escolas vão ser crime público de investigação prioritária
Duas orientações com uma mensagem comum: tolerância zero à violência nas escolas. As ofensas à integridade física de qualquer elemento da comunidade escolar passam a ser consideradas crime público (não dependente de queixa) agravado, punível até quatro anos de prisão. E as autoridades policiais e judiciais terão de passar a tratar estes casos como "prioritários".

A primeira mudança, já aprovada no Parlamento, vem alargar o âmbito do que o artigo 146 do Código Penal já previa apenas em relação aos professores. A segunda, parte integrante do projecto-lei sobre política criminal, que o Governo vai apresentar à Assembleia da República até 15 de Abril, visa garantir que a lei é efectivamente aplicada.

Sentenças são uma raridade

Dados do Observatório de Segurança Escolar do Ministério da Educação indicam que, em 2005/06, só em relação aos docentes, foram contabilizadas 360 agressões (físicas ou verbais). Mas os casos que chegam aos tribunais são poucos. E sentenças, como a pena de cinco anos que o Tribunal da Relação do Porto recentemente confirmou à mulher que agrediu uma professora primária de Bragança, podem ser consideradas uma verdadeira raridade.

Numa ronda pelos dois principais sindicatos de professores, o DN confirmou isso mesmo. Em processos recentes a cargo do gabinete jurídico da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação (FNE) apenas foi possível confirmar sete casos resolvidos a favor dos docentes, dos quais só um respeitava a agressões físicas. Na Federação Nacional dos Professores (Fenprof), apesar de "mais de 30 casos seguramente" sinalizados, também se contavam pelos dedos de uma mão as sentenças conhecidas.
DN Sexta, 16 de Março de 2007 Pedro Sousa Tavares e Nuno Fox - ilustração –

Violência: Educadora agredida à bofetada


Enervei-me e bati-lhe
A mãe da aluna que anteontem agrediu à bofetada a educadora da sua filha, de seis anos, no jardim de infância de Santa Luzia, em Celorico da Beira, está “arrependida” do acto – mas não perdoa à professora o ter chamado “porca” à menina. A docente nega esta versão, diz que não chamou nenhum nome à criança e que apenas se limitou a elaborar um relatório pedido pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPMJ)
A agressão verificou-se às 09h00 de quarta-feira. Na véspera, os pais da menina – que têm mais três filhos de tenra idade – foram chamados pela CPMJ e ficaram “revoltados” por a educadora ter referido, num relatório, que a menina “chegava algumas vezes à escola pouco cuidada higienicamente e mal vestida”.

No dia seguinte, Olga Inocêncio Ferreira, de 33 anos, foi levar a filha ao jardim de infância e “aproveitou para pedir satisfações” à educadora. “Estava muito nervosa porque ela tinha dito coisas feias da minha filha. Ela disse que ela é porca e andava mal vestida, o que não é verdade”, contou ontem ao CM a encarregada de educação, acrescentando: “A certa altura, passei-me com a conversa e encostei-lhe a mão à cara. Como mãe, senti-me ofendida e não aguentei, dei-lhe uma pequena chapada.”
CM 2007-03-16 - 00:00:00

Traficantes levam lancha à Marinha


Uma rede internacional de tráfico de droga, presumivelmente com ligações a Espanha e Marrocos, levou a cabo uma operação inédita, no Algarve: roubou uma lancha rápida da Polícia Marítima, anteontem à noite, em Faro. Ao mesmo tempo, levou um barco de recolha de lixo na ria Formosa que estava atracado no porto de Olhão.
As embarcações seriam utilizadas para efectuar o transbordo em alto-mar e posterior transporte para terra de um carregamento de droga – cocaína vinda da América do Sul, ou de haxixe originário de Marrocos.

Mas o plano da rede de tráfico foi abortado devido à operação desencadeada pelas autoridades marítimas em toda a costa algarvia – de Vila Real de Santo António a Sagres. Os traficantes abandonaram os barcos furtados, mas conseguiram fugir numa lancha voadora que lhes pertencia.

As embarcações seriam utilizadas para efectuar o transbordo em alto-mar e posterior transporte para terra de um carregamento de droga – cocaína vinda da América do Sul, ou de haxixe originário de Marrocos.

Mas o plano da rede de tráfico foi abortado devido à operação desencadeada pelas autoridades marítimas em toda a costa algarvia – de Vila Real de Santo António a Sagres. Os traficantes abandonaram os barcos furtados, mas conseguiram fugir numa lancha voadora que lhes pertencia.
CM 2007-03-16 - 13:00:00

Marinha e Guarda disputam posições


Marinha e GNR esgrimiram ontem argumentos para defender as suas posições em matéria de liderança no exercício das competências no mar associadas ao novo sistema de segurança interna.

"Num país que dispõe de recursos escassos, e onde existe um imperativo constitucional de optimização e racionalização de funcionamento da Administração e seus meios, a Autoridade Marítima" (dirigida pela Armada) "assume-se, actualmente, como a Guarda Costeira de Portugal", declarou o almirante Medeiros Alves, director-geral da Autoridade Marítima (DGAM), no seminário sobre "Uma Marinha de duplo uso".

Pela GNR, e no terreno do "rival", o tenente-coronel Timóteo Pedroso afirmou que "o comando da Guarda aposta na cooperação institucional com todas as outras forças e serviços do sistema alargado de segurança, protecção e defesa, como um vector estratégico da valorização do seu produto operacional". "A Guarda, talvez como nenhuma outra instituição, dispõe de capacidades e competências para o exercício de responsabilidades próprias" naqueles três subsistemas (segurança, protecção, defesa), adiantou.
DN 15Mar07 Manuel Carlos Freire

soberania estatal e Estado nação!


Paz de Westfália

A chamada Paz de Vestfália (Paz de Westfália), também conhecida como os Tratados de Münster e Osnabrück (ambas as cidades se encontram actualmente na Alemanha
[i]), designa uma série de tratados que encerrou a Guerra dos Trinta Anos[ii] e também reconheceu oficialmente as Províncias Unidas[iii] e a Confederação Suíça[iv]. O Tratado Hispano-Holandês, que pôs fim à Guerra dos Oitenta Anos[v], foi assinado no dia 30 de janeiro de 1648 (em Münster). Já o tratado assinado em 24 de outubro de 1648, em Osnabrück, entre Fernando III, Sacro Imperador Romano-Germânico, os demais príncipes alemães, França e Suécia, pôs fim ao conflito entre estas duas últimas potências e o Sacro Império. O Tratado dos Pirinéus[vi], de 1659, o qual deu fim à guerra entre França e Espanha, também costuma ser considerado parte da Paz de Westfália.
A Paz de Vestfália inaugurou o moderno sistema internacional, ao acatar noções e princípios tais como o de soberania estatal e o de Estado nação.
Por essa razão, costuma ser o capítulo inicial nos currículos dos estudos de Relações Internacionais.
[vii] [viii]
Principal Origem: Wikipédia



[i] O termo "Alemanha" deriva do francês Allemagne (ou terra dos alamanos), em referência a um povo bárbaro que vivia na atual. região fronteiriça entre França e Alemanha, o qual cruzou o Rio Reno e invadiram a Gália Romana durante o século V.
Durante a maior parte da sua história, a Alemanha foi um termo geográfico utilizado para designar uma área ocupada por vários reinos. Tornou-se um Estado unificado durante apenas por 74 anos (1871 – 1945), porém foi dividida ao término da Segunda Guerra Mundial em Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental.
A 3 de outubro de 1990, a Alemanha Oriental passou a fazer parte da Alemanha Ocidental, e assim a Alemanha tornou-se, em 1990, novamente uma nação unida. Actualmente a Alemanha carrega o título de nação mais poderosa da Europa graças à sua grande economia e desenvolvimento tecnológico.

[ii] A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) foi uma série de conflitos religiosos e políticos ocorridos especialmente na Alemanha, nos quais rivalidades entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais germânicos foram gradualmente transformados em uma luta europeia. Apesar de os conflitos religiosos serem a causa directa do conflito, ele envolveu um grande esforço político da Suécia e da França para procurar diminuir a força da dinastia dos Habsburgos, que governavam a Áustria. A guerra causou sérios problemas económicos e demográficos na Europa Central.
Foi o início da hegemonia e da soberba francesa na Europa e do declínio do poder dos Habsburgos. A Alemanha foi a única que saiu derrotada, arruinada e devastada desses trinta anos de guerra. Os principais campos de batalhas dos intermitentes conflitos foram as cidades e principados da Alemanha, que sofreram danos muito graves. Muitos dos combatentes eram mercenários que tinham na pilhagem sua principal forma de pagamento. Assim, tomavam à força, onde paravam ou por onde passavam, os suprimentos necessários a sua manutenção e lucro, numa estratégia predatória que levou à destruição completa de inúmeras comunidades. Hoje estima-se que a população da Alemanha caiu 20% durante a guerra; em algumas regiões esse declínio chegou a 50% pois vilas inteiras sumiram.
Consequências de longo prazo da guerra foram, além da emergência da França como o poder terrestre dominante na Europa, a formação das Repúblicas da Holanda e Suíça e a contínua fragmentação da Alemanha, pois torna 350 Estados alemães quase que independentes do Imperador, atrasando a sua unificação em um único Estado.

[iii] Os Países Baixos (em neerlandês: Nederland) são a parte europeia do Reino dos Países Baixos, uma monarquia constitucional membro da União Europeia. Localizados no noroeste da Europa, limitam a norte e a oeste com o Mar do Norte, a leste com a Alemanha e a sul com a Bélgica.
Os Países Baixos são frequentemente, mas erroneamente, chamados Holanda, que na verdade são duas de suas doze províncias, a Holanda do Norte e a Holanda do Sul .

[iv] Em 1291, representantes dos cantões florestais de Uri, Schwyz e Unterwalden assinaram a Carta de Aliança. Isso os uniu na luta contra o domínio "estrangeiro" dos Habsburgo, então detentores do trono do Sacro Império Romano-Germânico. Na Batalha de Morgarten em 1315, os suíços derrotaram o exército Habsburgo e garantiram sua independência de facto como a Confederação suíça.
Na Paz de Westfália de 1648, os países europeus reconheceram a independência helvética do Sacro Império e sua neutralidade. Em 1798, os exércitos da Revolução francesa conquistaram a Suíça. O Congresso de Viena de 1815 restabeleceu a independência do país e as potências europeias concordaram em reconhecer sua neutralidade de forma permanente.
A Suíça adoptou uma constituição federal em 1848, que sofreu extensas emendas em 1874 e que estabelecia responsabilidade federal para defesa, comércio e assuntos legais. Desde então, melhorias contínuas nos campos político, económico e social têm caracterizado a história do país.
Historicamente neutros, os suíços não participaram oficialmente em nenhuma das guerras mundiais, embora tenham beneficiado economicamente durante a Segunda Guerra Mundial através do branqueamento de ouro nazi. Durante a guerra, o Banco Nacional Suíço recebe US$440m em ouro, dos quais $316m terão sido saqueados.

[v] A Guerra dos 80 anos ou Revolta Holandesa de 1568 a 1648, foi a guerra de secessão na qual o território englobando aquilo que é hoje os Países Baixos se tornou um país independente frente à Espanha.
Durante esta guerra, a República Holandesa tornou-se uma potência mundial por um curto período histórico, com grande poder naval, e beneficiou de um crescimento económico, científico e cultural sem precedentes, no qual a comunidade Portuguesa desempenhou um papel de relevo.
Os Países Baixos pertenciam ao império espanhol, mas o Conselho de Regência de Filipe II rompeu com os nobres locais, que foram excluídos do governo. Altos impostos, desemprego e temores da perseguição católica contra os calvinistas criaram uma perigosa oposição, esmagada pelo duque de Alba em 1567 com um reino de terror e pesada tributação. Seguiu-se uma revolta liberal iniciada por Guilherme, o Taciturno, que evitou batalhas campais com as forças espanholas, explorando estrategicamente seu conhecimento da região, salvando cidades sitiadas como Leiden (1573-1574) e abrindo diques que inundaram a zona rural. O saque de Antuérpia (1576) levou a uma união temporária de todos os Países Baixos na pacificação de Ghent. Os excessos calvinistas logo levaram as províncias do sul a formarem a União de Arras (1579) e a fazer as pazes com a Espanha. As províncias do norte formaram a União de Utrecht e a guerra tornou-se uma luta religiosa pela independência. Guilherme defendeu-se com ajuda estrangeira, até ser assassinado em 1584, quando a liderança passou para Maurício de Nassau e o político Oldenbarnveldt. As Províncias Unidas salvaram-se pelo compromisso de guerra da Espanha com a França, Inglaterra e Turquia. Um armistício (1609) foi seguido pelo reconhecimento da plena independência no Tratado de Westfália (1648).

[vi] O Tratado dos Pirinéus foi assinado em 1659 entre a França e a Espanha no âmbito da guerra dos trinta anos.
Quando após a morte de Luís XIII de França, o cardeal Júlio Mazarino foi chamado pela rainha viúva às funções de ministro, para o lugar de Richelieu, a Guerra da Restauração em Portugal limitava-se a pequenas escaramuças de fronteira, a que a batalha do Montijo, ganha por Matias de Albuquerque, veio dar novo movimento. Com a subida de Mazarino este queria acabar com a guerra entre a Espanha e a França, e aquela impunha como condição o abandono do auxílio que Portugal recebia indirectamente de França, em voluntários. De resto, não tendo havido qualquer batalha decisiva, logo que as tropas espanholas se voltassem contra Portugal, o assunto ficaria resolvido.
A vitória portuguesa em Linhas de Elvas animou D. Luísa de Gusmão a enviar o conde de Soure a França para pedir auxílio, embora à custa da coroa portuguesa, e, ao mesmo tempo, solicitar a formação da Liga Formal, porque tanto se empenhara D. João IV. Quando o embaixador chegou teve conhecimento das conversações com a Espanha e procurou mesmo assim avistar-se com o cardeal, mostrando-lhe como Portugal não deveria ser excluído do tratado de paz, apoiado pelo marechal Turenne. De nada valeram as promessas de D. Luísa de conceder-lhe o arcebispado de Évora e seus rendimentos e ainda a oferta de um milhão de cruzados.
Na ilha dos Faisões, no rio Bidassoa, começaram os preliminares do tratado de paz, representado o rei de Espanha por D. Luís de Haro, o vencido das Linhas de Elvas, sendo o tratado assinado e ficando Portugal excluído por se considerar que teria de voltar à obediência de Filipe IV de Espanha.
Pelo artigo LX, o rei de Espanha declara consentir a reposição das relações com a França, com a finalidade de evitar a continuação da guerra. Luís XIV concordaria que se lhe fossem concedidos 3 meses para poder mandar a Portugal um emissário que iria acertar as relações com o monarca e, no caso das suas diligências não darem resultado, comprometia-se o rei de França a não dar auxílio a Portugal directa ou indirectamente, não permitindo o recrutamento de voluntários nos seus estados, nem a consentir a passagem dos que pudessem vir de outros países em socorro de Portugal.
Mazarino, em cumprimento do tratado, enviou a Lisboa o marquês de Chouppes, a fim de obter que Portugal se reduzisse ao estado do ano 40, não tendo conseguido absolutamente nada, apesar dos seus esforços em convencer a rainha regente a aceitar as propostas da Espanha com o engodo de os duques de Bragança passarem a desempenhar as funções de «Governadores» e vice-reis perpétuos de Portugal, sob a fiança de Luís XIV.

[vii] História da Áustria

Por volta de 400 a.C., os celtas chegaram às regiões central e oriental da Áustria. Por volta de 15 a.C., os romanos dominaram a parte ao sul do Danúbio e tornaram esse território parte de seu Império. No final do séc. II d.C., tribos do norte começaram a invadir a Áustria romana. Em 476 d.C., o Império Romano ruiu. Durante o período de declínio, grupos asiáticos, germânicos e eslavos se estabeleceram na Áustria. Do final do séc. VIII a 814, a região foi dominada por Carlos Magno. O rei da Germânia, Oto I, passou a reinar sobre a Áustria em 955, sendo coroado imperador em 962. Até 1806, o território governado por reis germânicos constituiu o Sacro Império Romano-Germânico, tendo a Áustria se tornado o Estado mais importante. Em 976, o imperador Oto II passou o controle do nordeste da Áustria a Leopoldo I, da família Babenberg. Em 1156, Frederico I declarou a região um ducado.
Em 1246, o rei Ottokar da Boémia assumiu o controle dos ducados dos Babenberg. Os príncipes da Germânia elegeram, em 1273, Rodolfo I, da família Habsburgo, imperador do Sacro Império. Rodolfo derrotou Ottokar. No séc. XIV, os Habsburgo perderam a coroa do Sacro Império. Um dos maiores Habsburgo foi Maximiliano I. Em 1496, ele casou seu filho Filipe com a filha do rei da Espanha. Filipe foi pai do rei Carlos I da Espanha, em 1516, e imperador Carlos V do Sacro Império, em 1519. Em 1556, Carlos renunciou a seus tronos, e Fernando I, seu irmão, tornou-se imperador do Sacro Império.
A Áustria perdeu muitos territórios nas Guerras Napoleónicas do final do séc. XVIII e início do XIX. Napoleão conquistou grande parte do Sacro Império Romano-Germânico e, em 1806, aboliu o Império. O imperador Francisco II mudou seu título de arquiduque para imperador da Áustria e governou como Francisco I. Napoleão foi finalmente derrotado em 1815. Confederação Germânica. O Congresso de Viena, que produziu o tratado de paz que se seguiu às Guerras Napoleónicas, restituiu à Áustria seus territórios, com excepção da Bélgica. Organizou a Confederação Germânica, uma união de Estados independentes. A Áustria e a Prússia iniciaram uma luta pela liderança da confederação. Em 1866, ocorreu a Guerra Austro-Prussiana, na qual a Itália e a Prússia em pouco tempo derrotaram a Áustria. A Confederação Germânica foi dissolvida. A Prússia formou uma nova confederação sem a Áustria.
Em 1867, os húngaros forçaram o imperador Francisco José a dar à Hungria o mesmo status do da Áustria, criando a dupla monarquia da Áustria-Hungria. Logo, os eslavos e outros grupos minoritários da Áustria-Hungria passaram a exigir o direito de se autogovernar. A Sérvia liderou o movimento nacionalista eslavo. Em 1914, os nacionalistas sérvios assassinaram o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono austrohúngaro. A Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia, dando início à Primeira Guerra. A Alemanha e outros países se uniram à Áustria-Hungria contra os Aliados, que compreendiam a Grã-Bretanha, a França, a Rússia e os EUA
A Áustria–Hungria derrotada assinou o armistício em novembro de 1918, que entre outras coisas exigia sua dissolução. O Imperador Carlos I renunciou ao governo e partiu para o exílio e a Áustria tornou-se uma República, terminando assim o multissecular domínio dos Habsburgo. Em 1920, o país adoptou uma Constituição democrática. Em 1938, as tropas alemãs se apoderaram do país. Adolfo Hitler anunciou, então, a união da Áustria e da Alemanha.
A Áustria foi dividida em zonas de ocupação americana, britânica, francesa e russa, que, no entanto, lhe permitiriam estabelecer um único governo provisório. Após as eleições de novembro de 1945, formou-se um governo nacional. Em 1955, os Aliados suspenderam sua ocupação do país. Para obter a independência, a Áustria concordou em permanecer neutra na Guerra Fria. Por ser uma nação neutra e ocupar uma posição estratégica, Viena tornou-se a sede de algumas conferências sobre a Limitação de Armas Estratégicas (Salt), iniciadas em 1969 entre a URSS e os EUA No princípio da década de 1970, foi iniciada a construção de uma sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Viena.

[viii] Batalha das Linhas de Elvas
A Batalha das Linhas de Elvas, foi travada em 14 de Janeiro de 1659, em Elvas, entre Espanha e Portugal.
Em 1658 um exército Filipino, comandado por D. Luís de Haro, acampava na fronteira do Caia, com 14 000 homens de infantaria, 5 000 de cavalaria, artilharia, munições, etc. Alguns dias decorreram em preparativos dos castelhanos para o cerco de Elvas, e nas diligências dos portugueses para defenderem a cidade. D. Luís de Haro distribuiu as suas tropas ao longo de entrincheiramentos, dando ordens para que fosse exercida apertada vigilância a fim de impedir que Elvas recebesse mantimentos ou qualquer outra espécie de auxílio vindo do exterior, de tal modo que só a chegada de um verdadeiro exército poderia evitar mais cedo ou mais tarde, a capitulação da praça. A rainha D. Luísa resolveu chamar D. António Luís de Meneses, conde de Cantanhede, para lhe entregar o comando geral das tropas portuguesas no Alentejo, e transferir para o mesmo teatro de operações D. Sancho Manuel, que foi assumir as funções de mestre-de-campo-general. As tropas Filipinas instalados nas duas colinas mais próximas começaram a bombardear a cidade de Elvas, causando pânico e grandes baixas na população. Mas o maior perigo era a peste que causava cerca de 300 mortes por dia.
Mediante tal situação, o conde de Cantanhede, D. António Luís de Meneses reuniu em Estremoz um exército de socorro. Apesar de grandes dificuldades, que o obrigaram a organizar recrutamentos em Viseu e na ilha da Madeira, e reunir as guarnições de Borba, Juromenha
, Campo Maior, Vila Viçosa, Monforte e Arronches, o conde de Cantanhede conseguiu formar um exército de oito mil infantes, dois mil e novecentos cavaleiros e sete canhões. Tendo ficado acordado, entre o conde de Cantanhede e D. Sancho Manuel, que o ataque às linhas de Elvas se faria pelo sítio conhecido por Murtais, o exército português saiu de Estremoz e marchou sobre a praça cercada.
Os Brigantinos ocuparam as colinas da Assomada, de onde se avistava a cidade de Elvas e as linhas inimigas, estas num majestoso arraial. No dia 14 de Janeiro, cerca das oito horas da manhã, os portugueses desencadearam o ataque, como estava previsto pelo sítio dos Murtais. Manteve-se a vitória indecisa durante algum tempo, pois ao ataque correspondia uma vigorosa defesa do lado Filipino, mas a certa altura as tropas do conde de Cantanhede conseguiram romper irresistivelmente as linhas dos Filipinos, que começaram por ceder terreno e não tardaram a debandar.
As perdas sofridas pelos Filipinos nas linhas de Elvas foram enormes. Dos dezoito mil homens comandados por D. Luís de Haro, apenas cerca de cinco mil infantes e trezentos cavaleiros conseguiram alcançar Badajoz.
Nesta batalha distinguiu-se o conde de Cantanhede, que recebeu, entre outras mercês, o título de marquês de Marialva, por carta de lei de 11 de Junho de 1661.

A História de quem?



A recente ideia proposta e acarinhada por membros do Governo alemão, incluindo a chanceler Merkel, de redigir um livro único de História para o continente europeu merece mais do que simples comentários circunstanciais. É uma ideia reminiscente da segunda metade do século XIX e dos princípios do século XX, quando se andavam a inventar "nações", "raças" e "países" por essa Europa fora. Ao contrário do que muita gente talvez julgue, o Estado-nação hoje típico da Europa é uma realidade recente. Ainda em 1918, uma parte grande da Europa ocidental era dominada por impérios (o alemão e o austro- húngaro) e a Europa central e do Leste inteiramente dominada por eles (os mesmos, mais o russo e o otomano). São muito raras as unidades territoriais historicamente homogéneas ou perto disso: Portugal e a França talvez sejam os exemplos mais claros; a Espanha ou o Reino Unido (que só existe desde o século XVIII) podem ser vistos como pequenos impérios locais. Foi no século XIX que se inventaram países como a Bélgica, a Grécia, a Itália ou a Alemanha. No século XIX e nos princípios do século XX, de repente apareceram pela Europa "nações" de que nunca se tinha ouvido falar: a basca, a catalã, a austríaca, a húngara, a checa, a polaca, a sérvia, a búlgara, a turca, etc., etc. Não quer isto dizer que não existisse uma certa continuidade cultural, territorial e até étnica nalguns desses sítios, mas raramente ela tinha coincidido com a ideia de "nação" e menos ainda com a de um Estado independente.

Por toda a Europa nasceram então mitos, acontecimentos e heróis nacionais. A moda foi tão vasta que nem sequer poupou as unidades políticas mais consolidadas, como Portugal. O panteão de heróis "nacionais" foi fixado nessa altura (coincidindo mais ou menos com os "Grandes Portugueses" do programa). A prática atingiu mesmo muitas vezes proporções de delírio. Em Portugal, chegou a inventar-se uma fauna "nacional" (lobos, ursos e linces) que, como por milagre, desaparecia para lá do Guadiana e do Douro. O nacionalismo checo anterior à criação, em 1919, da Checoslováquia (um país, entretanto, já desaparecido) chegou a forjar documentos medievais para fundar a sua "realidade" histórica. As "raças" mediam-se pela dimensão e configuração dos crânios. A História (e a sua manipulação) sempre foi, portanto, um privilegiado instrumento político.

As consequências deste fervilhar nacionalista não foram bonitas. O século XX europeu das duas guerras mundiais e da guerra dita fria são testemunhos disso mesmo. Ao contrário do que se poderia julgar, ainda hoje vivemos sob o impacto desse mundo aparentemente longínquo. É por isso que na Europa se encontram unidades territoriais cuja continuidade pode ser datada do século XII (como Portugal) até àquelas criadas, literalmente, o ano passado (o Montenegro), passando por outras criadas em vários momentos do século XX (por exemplo, a Áustria, em 1919, ou a Ucrânia, em 1991). Muitas vezes pensa-se nas guerras mundiais como grandes conflitos ideológicos, mas elas foram na realidade sobretudo conflitos territoriais, tendo na origem motivações "nacionais" ou "étnicas". A ideologia esteve presente, é verdade, mas ou serviu para recobrir outros problemas ou então foi usada quando reivindicações territoriais ou nacionais coincidiram com palavras como "liberdade" e "democracia". Nessas guerras, tratou-se sobretudo de saber quais as "nações" que seriam "independentes" e quais as que seriam administradas por outras "nações", ou então que direitos teriam estas dentro de Estados plurinacionais.

O livro único de História europeia insere-se nesta tradição infeliz e reflecte a tensão no continente entre a manutenção das unidades políticas que tão penosamente adquiriram a sua existência e essa ideia (que vem ganhando um crescente número de partidários) segundo a qual elas deveriam integrar-se numa única grande entidade europeia. Só que esta ideia, na qual se inclui evidentemente também a da tão decantada "Constituição", contradiz completamente as razões do êxito da integração da Europa. A Europa viveu em paz nestes últimos 50 anos precisamente porque os mecanismos da sua integração evitaram mais um movimento de reconfiguração territorial. Pelo contrário, usaram-se as melhores energias das nações existentes para construir um objecto político sui generis, que não é nem a sua reunião sob a forma federal nem a sua existência estritamente separada. O federalismo europeu devolve-nos às piores razões dos brutais conflitos europeus. A União Europeia que existe, descentralizada, casuística, sem uniformidade, é um grande êxito político e económico, tendo trazido paz e prosperidade. A ideia federal é o contrário disso. É e será sempre fonte de conflitos graves. Não vale a pena estragar o que está bem.
DN Luciano Amaral

domingo, 11 de março de 2007

… então, e as portuguesas!!!

Por fim percebi o porquê de o Engº 1º repetir tantas vezes "os portugueses sabem bem". Temos um Primeiro Ministro antropófago! in http://revista-atlantico.blogspot.com/

Se fosse uma marca seria 'Sandeman' …

… mas chamam-lhe 'o man'
Que é feito do bocejo do Mário Soares, da irritação de Cavaco Silva, das tempestades de alma de Sá Carneiro? Procura-se o defeito mas o que se encontra em José Sócrates é "o esforço pela perfeição", refere o jornalista Vicente Jorge Silva, que o define como o mais profissional dos políticos portugueses no sentido americano do termo. Pela disciplina, pela contenção. "Tão disciplinado que "soa a postiço", não fosse o descontrolo que às vezes lhe escapa e acaba por fazer sentido às pessoas", conclui, referindo essa "falha" como o efeito humanizador da personagem.
A americanização de que fala o jornalista nunca foi dissimulada, antes assumida na colagem a John Kennedy, lembra o psiquiatra Carlos Amaral Dias. Sócrates não terá o lado trágico, sublinha, mas tem Kennedy presente. Sobretudo numa frase nunca dita mas é sempre sugerida nas suas intervenções, adaptada à realidade portuguesa. "Não perguntes o que a América pode fazer por ti, mas o que podes fazer pela América".


"Em Sócrates", diz Amaral Dias, "a proximidade é um after-efect. Efeito secundário de quem cultiva a distância e a tempera com uma boa dose de segurança. Isso faz um estilo que não é o do sedutor, "qualidade mais aplicada aos populistas", mas o de alguém "capaz de pôr o país nos eixos, poderoso organizador" que mostra a crise mas "aponta a luz ao fundo do túnel, diferente discurso da tanga de Durão Barroso". O diagnóstico continua a ser de Amaral Dias e não tem por base o guarda-roupa do primeiro-ministro, onde Vicente Jorge Silva nota evolução. "É um homem Boss. Veste uns fatos bem cortados e corrigiu alguns erros. Antes não abotoava os casacos. Agora só usa fatos de dois botões e faz questão de apertar um. Usa-os sempre com gravatas lisas." Tudo encaixa na personagem que o jornalista traduz num livro: Sociedade pós--capitalista, do guru da gestão Peter Drucker. "Uma coisa que parece marxista mas com teorias da sociedade do conhecimento."

Não se constrói uma marca assim. "Para construir uma marca tenho de ter 30 fatos e 30 gravatas diferentes. É o que distingue a música pimba de uma sinfonia. Ou, em branding, o shrink do stretch, ou seja, as marcas comuns e as que fazem a diferença, inovadoras. Sócrates será um caso de shrink" muito bem construído, com identificadores, mas pouca flexibilidade." Será mesmo assim?, interroga-se, "Será que quando chega a casa arruma o pijama? Se não é, um dia isso vem acima."
Mas para o jornalista, o político tem a lição estudada. Bom aluno, ao contrário do errático Santana, prepara tudo, incluindo o gesto. Até o sorriso é figè, congelado. "Essa imagem tão articulada explica-se pela necessidade de transmitir segurança e resulta de grande disciplina. É quase japonês no domínio do corpo e da mente."

Vale a pena ler a versão completa em :
http://dn.sapo.pt/2007/03/11/tema/se_fosse_marca_seria_sandeman_chamam.html
DN 11Mar07

Um homem tão programado



…que até parece um robô
Sócrates gosta de se vestir e comportar como o Cary Grant dos anos 50, um actor que nunca sabemos muito bem o que pensa e que Hitchcock colocou sempre em situações de grande ambiguidade. Pode ser um assassino como na Suspeita; pode ser o homem que vende a noiva em Notorious; pode ser o zé- -ninguém eternamente perseguido, como em Intriga Internacional. Tudo, debaixo de uma grande placidez e de um guarda-roupa que seria Armani se estivéssemos nos anos 90."
O autor da comparação é o encenador e realizador Jorge Silva Melo. Que associação existirá entre o actor dos mil e um papéis de suspense e o primeiro-ministro português? Não é física. Semelhanças desse tipo, entre o galã do risco ao lado sem um cabelo em desalinho, houve quem as encontrasse em Cavaco Silva durante a campanha para as presidenciais do ano passado. Muito menos será uma associação temporal. É uma associação que tem a ver com a personagem e o que ela representa. Imagens. Um e outro, actor e governante, terão em comum "o fato e o comportamento".

"Para Hitchcock, Cary Grant era uma espécie de máscara do nada. Sócrates é uma máscara produzida com todo o rigor. E pode ser a máscara do genro ideal, aquele que nenhuma mãe de 80 anos desdenharia, mas que afinal poderia ser sempre o homem que envenena a noiva em Notorious." Esta ambiguidade, segundo Silva Melo, resulta do facto de ele não deixar nunca transparecer a sua imagem além do superficial e disso poder "soar a postiço", como salienta depois o jornalista.

Será, então, este filme uma história sem sombra de pecado, tendo como banda sonora uma música que fez sucesso nos anos 80, Olhó Robô, e Lena d'Água cantou na fugaz banda Salada de Frutas. É a história contada a partir da imagem. A de um homem que é primeiro-ministro de Portugal há dois anos e se chama José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.
Vale a pena ler a versão completa em :
http://dn.sapo.pt/2007/03/11/tema/um_homem_programado_ate_parece_robo.html Isabel Lucas DN 11Mar07

… então, e as portuguesas!!!

" Por fim percebi o porquê de o Engº 1º repetir tantas vezes "os portugueses sabem bem...". Temos um Primeiro Ministro antropófago! " in http://revista-atlantico.blogspot.com/

sábado, 10 de março de 2007

Guiné... para não esquecer

CCGuiné RepInf 1970
Legenda da Esquerda.para a Direita e de cima para Baixo:
Cap Portugal; Cap Mota; Maj Almeida e Brito: Maj Freire; Maj Pereira da Costa “asterix” ; Maj Vicente; Alf Braga Dias.
Cap Lima; Cap Bernardino Godinho; Alf M. Rego; Alf Costa-Deitado; Alf Marujo; Alf B. Costa.

domingo, 4 de março de 2007

Confrontos em Copenhaga

Três noites de violência na capital dinamarquesa Na origem da revolta está a venda de um edifício ocupado ilegitimamente desde 1982. Embora tenham chegado mais anarquistas de países vizinhos para se juntarem aos protestos, a noite foi a menos violenta desde sexta-feira. A polícia de Copenhaga prendeu dezenas de pessoas na madrugada de domingo, naquela que foi a terceira noite consecutiva de protestos contra a expulsão de um grupo de anarquistas, que ocupava um edifício, transformado em centro da juventude, no centro da capital dinamarquesa. A madrugada começou com pequenos grupos de protestantes a atirarem pedras à polícia e a pegarem fogo a alguns caixotes do lixo. Embora os manifestantes tenham ainda incendiado alguns carros, nunca se atingiu o nível de violência de sexta-feira e sábado, onde 25 pessoas ficaram feridas. ...A Dinamarca mais habituada à paz e à tolerância, não via nada assim desde 1993 e isso reflectiu-se nos seus moradores. “A ideia de uma sociedade alternativa é boa. E precisamos de ter espaço para todos, mas a violência dos últimos dias não é aquilo que acredito ser uma sociedade alternativa”, referiu Berit Larsen enquanto assistia à manifestação. Expresso domingo, 04 MAR 0713:47

Universidade Independente

20 milhões desaparecem da SIDES Uma queixa-crime apresentada hoje no DCIAP acusa oito pessoas, entre as quais o ex-vice-reitor Rui Verde e o sócio Amadeu Lima Carvalho, de falsificação de documentos e de lavagem de dinheiro. Uma queixa-crime produzida por Rodrigo Santiago e entregue hoje no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) acusa Rui Verde e Amadeu Lima Carvalho, ambos sócios fundadores da SIDES (dona da Independente), de se terem aproriado de mais de 20 milhões de euros durante 2000 e 2006. A queixa – subscrita à cabeça pelo reitor Luíz Arouca, que esta semana destituíu Rui Verde do cargo de vice-reitor e de presidente da SIDES – acusa os dois accionistas fundadores da Independente de branqueamento de capitais, falsificação de documentos (desde acções da empresa a títulos académicos), gestão e insolvência danosa e burla. Além da SIDES, a acusação menciona outras alegadas vítimas como uma irmã do próprio Amadeu Lima Carvalho e a ex-mulher e uma filha de Luís Arouca. O ministro da Educação de Angola surge também como um dos lesados dos negócios de Rui Verde e Lima Carvalho. Este último admitu ao Expresso ter sugerido a amigos e familiares que entregassem quantias elevadas a Rui Verde, quem como contrapartida "remunerava" os clientes com uma taxa de 20% ao ano. No processo judicial interposto pela irmã de Amadeu Lima Carvalho contra Rui Verde e a que o Expresso teve também acesso, surge claramente o esquema da pirâmide, usado pela famosa Dona Branca. Rui Verde desmente tudo e diz que os processos que entregou nos tribunais tratarão de clarificar tudo. Expresso sexta-feira, 02 MAR 0718:00 Monica Contreras

sábado, 3 de março de 2007

Estratégia e Intervenção Organizacional


http://psicologia.organizacoes.googlepages.com/eio_apontamentos.pdf

Violência escolar

Quatro em dez professores agredidos desde Setembro Quatro em cada dez professores contactaram a Linha SOS Professor nos primeiros cinco meses de funcionamento do serviço para relatar situações de agressão física Os dados agora divulgados pela Associação Nacional de Professores (ANP), que criou a linha, revelam que, entre Setembro do ano passado e o dia 28 de Fevereiro deste ano, 128 pessoas recorrem ao serviço por situações de indisciplina, agressão verbal e física e ainda outras queixas variadas. Na maioria dos episódios relatados, a relação entre os envolvidos é de professor-aluno (37,2%), seguindo-se a de professor-encarregados de educação (21%). Mais de 80% dos incidentes aconteceram em recinto escolar. Os distritos mais afectados por episódios de violência nas escolas são Lisboa, Porto e Setúbal. «Fazendo uma análise do último relatório sobre a linha SOS Professor verificamos que o número de situações comunicadas mantém o mesmo ritmo», afirmou o presidente da ANP e coordenador da linha, João Grancho. Sol Sábado, 3 Março

sexta-feira, 2 de março de 2007

A ESCOLA QUE TEMOS


A escola que temos não exige a muitos jovens qualquer aproveitamento útil ou qualquer respeito da disciplina. Passa o tempo a pôr-lhes pó de talco e a mudar-lhes as fraldas até aos 17 anos.
Entretanto mostra-lhes com toda a solicitude que eles não precisam de aprender nada, enquanto a televisão e outros entretenimentos tratam de submetê-los a um processo contínuo de imbecilização.
Se, na adolescência, se habituam a drogar-se, a roubar, a agredir ou a cometer outros crimes, o sistema trata-os com a benignidade que a brandura dos nossos costumes considera adequadas à sua idade e lava-lhes ternurentamente o rabinho com água de colónia.
Ficam cientes de que podem fazer tudo o que lhes der na real gana na mais gloriosa das impunidades.
Não são enquadrados por autoridade de nenhuma espécie na família, nem na escola, nem na sociedade, e assim atingem a maioridade.
Deixou de haver serviço militar obrigatório, o que também concorre para que cheguem à idade adulta sem qualquer espécie de aprendizagem disciplinada ou de noção cívica.
Vão para a universidade mal sabendo ler e escrever e muitas vezes sem sequer conhecerem as quatro operações. Saem dela sem proveito palpável.
Entretanto, habituam-se a passar a noite em discotecas e noutros proficientes locais de aquisição interdisciplinar do conhecimento, até às cinco ou seis da manhã.
Como não aprenderam nada digno desse nome e não têm referências identitárias, nem capacidade de elaboração intelectual, nem competência profissional, a sua contribuição visível para o progresso do país consiste no suculento gáudio de colocarem Portugal no fim de todas as tabelas.
Capricham em mostrar que o "bom selvagem" afinal existe e é português.
A sua capacidade mais desenvolvida orienta-se para coisas como o /Rock in Rio/ ou o futebol. Estas são as modalidades de participação colectiva ao seu alcance e não requerem grande esforço (do qual, aliás, estão dispensados com proficiência desde a instrução primária).
Contam com o extremoso apoio dos pais, absolutamente incapazes de se co-responsabilizarem por uma educação decente, mas sempre prontos a gritar aqui-d'el-rei! contra a escola, o Estado, as empresas, o gato do vizinho, seja o que for, em nome dos intangíveis rebentos.
Mas o futuro é risonho e é por tudo o que antecede que podemos compreender o insubstituível papel de duas figuras como José Mourinho e Luiz Felipe Scolari.
Mourinho tem uma imagem de autoridade friamente exercida, de disciplina, de rigor, de exigência, de experiência, de racionalidade, de sentido do risco. Este conjunto de atributos faz ganhar jogos de futebol e forma um bloco duro e cristalino a enredomar a figura do treinador do Chelsea e o seu perfil de /condottiere/ implacável, rápido e vitorioso.
Aos portugueses não interessa a dureza do seu trabalho, mas o facto de "ser uma máquina" capaz de apostar e ganhar, como se jogasse à roleta russa.
Scolari tem uma imagem de autoridade, mas temperada pela emoção, de eficácia, mas temperada pelo nacional-porreirismo, de experiência, mas temperada pela capacidade de improviso, de exigência, mas temperada pela compreensão afável, de sentido do risco, mas temperado por um realismo muito terra-a-terra. É uma espécie de tio, de parente próximo que veio do Brasil e nos trata bem nas suas rábulas familiares, embora saiba o que quer nos seus objectivos profissionais.
Ora, depois de uns séculos de vida ligada à terra e de mais uns séculos de vida ligada ao mar, chegou a fase de as novas gerações portuguesas viverem ligadas ao ar, não por via da aviação, claro está, mas porque é no ar mais poluído que trazem e utilizam a cabeça e é dele que colhem a identidade, a comprazer-se entre a irresponsabilidade e o espectáculo.
E por isso mesmo, Mourinho e Scolari são os novos heróis emblemáticos da nacionalidade, os condutores de homens que arrostam com os grandes e terríficos perigos e praticam ou organizam as grandes façanhas do peito ilustre lusitano. São eles quem faz aquilo que se gosta de ver feito, desde que não se tenha de fazê-lo pessoalmente porque dá muito trabalho. Pensam pelo país, resolvem pelo país, actuam pelo país, ganham pelo país.
Daí as explosões de regozijo, as multidões em delírio, as vivências mais profundas, insubordinadas e estridentes, as caras lambuzadas de tinta verde e vermelha dos jovens portugueses. Afinal foi só para o Carnaval que a escola os preparou. Mas não para o dia seguinte. Vasco Graça Moura Received: from exch01smtp02.hdi.tvcabo ([10.137.34.2]) by VS53.hdi.tvcabo with Microsoft SMTPSVC(6.0.3790.1830)

quinta-feira, 1 de março de 2007

...os Americanos são de Marte e os Europeus são de Vénus ?



EUROPA versus ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Introdução
As perspectivas norte-americanas e europeias estão a tomar direcções divergentes na importantíssima questão do poder – isto é, a eficácia, moralidade e a Finalidade estratégica do poder -.
A Europa está a distanciar-se do poder, a deslocar-se para além, dele na direcção de um mundo de leis, regras, negociação e cooperação supranacional. Está a entrar num tempo, pós- histórico, de paz e relativa prosperidade ou, nas palavras de Kant, da realização da “paz per­pétua”. Por outro lado, os Estados Unidos permanecem encerrados na História, exercendo o poder num mundo hobbesiano anárquico onde as leis e regras internacionais não lhes inspiram confiança, e onde, a verdadeira segurança, defesa e promoção da ordem democrática dependem ainda da posse e utiliza­ção de poderio militar.
Parafraseando John Gray, no que toca às principais questões estratégicas e internacionais, os Norte-Americanos são de Marte e os Europeus são de Vénus, ou seja, estão de acordo relativamente a pouca coisa e compreendem­-se cada vez menos.
Ora, este estado de coisas não é transitório, não é produto de uma qualquer eleição norte-americana – Bush ou outro - nem de um qualquer acon­tecimento catastrófico – 11 de Setembro incluído.
As razões do fosso transatlântico são profundas, de desenvolvimento prolongado e, muito provavelmente, irresolúveis.

Quando o que está em causa é o estabelecimento de prioridades nacionais, a identificação de ameaças, a defini­ção de desafios, a concepção e implementação de políticas externas e de defesa, os Estados Unidos e a Europa não se­guem na mesma direcção.

É mais fácil ver o contraste quando se é um americano, ou de cultura americana, a viver na Europa. Os europeus têm uma maior consciência das divergências crescentes, talvez por as temerem mais. Entre os intelectuais europeus e os opinion makers dos dois continentes, verifica-se uma quase unanimidade quanto à convicção de que os norte-americanos e os europeus já não possuem uma Cultura Estratégica comum. No seu extremo, os caricaturistas europeus representam uma América dominada por uma “cultura de morte”, onde o temperamento marcial não é senão um produto natural, consequência de uma sociedade violenta, todos possuem uma arma e reina a pena de morte, apesar dos que não estabelecem esta ligação primária estarem de acordo quanto à existência de profundas diferenças na forma como os Estados Unidos e a Europa conduzem as respectivas Políticas Externas. Os Estados Unidos, afirmam, recorrem à força mais rapidamente, e em comparação com a Europa, são menos pa­cientes no que concerne a diplomacia.



INADEQUADOS e AMIGOS?
De um modo geral, os norte-americanos vêem o mundo dividido entre bons e maus, entre amigos e inimigos, enquanto os europeus assumem um quadro mais complexo. Quando em confronto com adversários reais ou potenciais, os EUA favorecem políticas de coacção em detrimento de políticas de persuasão, preferindo sanções punitivas a instigações no sentido de me­lhorar o comportamento. Os americanos tendem a procurar um fim definitivo nos Assuntos Internacionais: querem os problemas resolvidos, as ameaças eliminadas. E, claro está, os americanos inclinam-se cada vez mais para a unilateralidade, nas questões internacionais. Sentem-se menos predispostos a agir no âmbito de instituições internacio­nais como as Nações Unidas, de que desconfiam e são menos susceptíveis de trabalhar em cooperação com outros países para alcançar objectivos comuns. Mostram maior cepticismo relativamente ao direito internacional, revelam também uma maior disposição para operar fora do seu âmbito territorial quando o consideram necessário ou mesmo mera­mente útil. Um observador representativo, francês, faz referência a “uma mentalidade norte-americana” que “tende a colocar a tónica nas soluções militares, técnicas e unilaterais para os problemas internacionais, possivelmente em detrimento de soluções cooperativas e políticas”. Gilles Andreani, The Disarray of U.S. Non-Proliferation Policy,Survival p 41, Inverno de 1999-2000, pp. 42-61.

Os europeus insistem no facto de olharem os proble­mas com uma maior diferenciação e sofisticação. Tentam in­fluenciar indirectamente através da subtileza, são mais tolerantes em relação aos fracassos e mais pacientes quando as soluções não surgem de imediato. De um modo geral, favorecem soluções pacíficas para as questões, pre­ferindo a negociação, a diplomacia e a persuasão à coacção. São mais rápidos a fazer apelo ao direito internacional, às convenções internacionais e à opinião pública internacional na resolução de disputas. Tentam utilizar os laços comerciais e económicos como forma de unir as nações. Colocam frequen­temente a tónica no processo, em detrimento do resultado, acre­ditando que, em última análise, o processo poderá acabar por se transformar em substância.

Este retrato europeu é obviamente uma dupla caricatura, com a sua dose de exagero e simplificação excessiva. Não se pode generalizar, falando-se dos europeus, tanto mais que os britânicos po­dem ter uma visão mais “americana” do poder do que muitos europeus continentais. Na verdade, a memória do império, a “relação especial” com os Estados Unidos, criada durante a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria e uma posição historicamente distanciada no que diz respeito ao resto da Europa, tendem a distinguir os britânicos dos demais euro­peus.
O caso da Bósnia, no início da década de 90, destaca-se como uma situação na qual alguns europeus - principalmente o primeiro-ministro britâ­nico, Tony Blair (Blair foi um dos primeiros defensores da utilização da Força Aérea e mesmo de tropas terrestres na crise do Kosovo) - foram, por vezes, mais veementes na defesa de uma acção militar do que a administração norte-americana (primeiro a de George Bush e depois a de Clinton). Os europeus tiveram forças terrestres na Bósnia quando os Estados Unidos não as queriam, embora numa missão de manutenção da paz no âmbito das Nações Unidas, que se revelou ineficaz ao primeiro embate.

PORQUE DIVERGEM AS ESTRATÉGIAS?
Seria interessante saber passados estes anos, os Órgãos Representativos Europeus teriam ordenado o bombar­deamento de Belgrado, sem a pressão exercida pelos Estados Unidos nesse sentido. Em contrapartida, em Outubro de 2002, uma maioria de Democratas no Senado apoiou a resolução que autorizava o Presidente Bush a entrar em guerra com o Iraque, enquanto os seus homólogos em França, na Alemanha, na Itália, na Bélgica – e mesmo no Reino Unido – assistiam, com espanto e algum horror, ao desenrolar dos acontecimentos.

O que é que está na origem destas perspectivas estratégicas diver­gentes?
Ao contrário do que crêem muitos europeus e alguns norte­-americanos, estas diferenças relativas à cultura estratégica não advêm naturalmente das características nacionais dos america­nos e dos europeus. Mas, nos anos recentes, a resposta a esta questão não tem sido alvo de muita atenção. Se os intelectuais da política externa e os decisores políticos de ambos os lados do Atlântico, sempre negaram a existência de diferenças genuínas, ou procuraram diminuir a importância dos desacordos em presença, salientando que a Aliança Transatlân­tica já conhecera momentos de tensão no passado. Todavia, aqueles que levaram mais a sério as divergências, especialmente os da Europa, mostraram-se mais interessados em atacar os Estados Unidos do que em compreender as razões que levavam os americanos a agir dessa forma ou, porque não, as razões que levavam a Europa a agir dessa forma!

É verdade que a Europa está em declínio há já algum tempo, enquanto potência militar mundial. O golpe mais danoso, tanto para o poder como para a confiança europeia, foi desferido há quase um século, com a guerra mundial que eclodiu em 1914. Esse conflito horrendo devastou três das cinco potências euro­peias - Alemanha, Áustria-Hungria e Rússia - que tinham constituído os pilares do equilíbrio continental do poder desde 1871. Prejudicou as economias europeias, submetendo-as a uma dependência dos banqueiros americanos, que se arrastou durante décadas. Mas, mais importante que tudo o resto, a guerra destruiu a vontade e o espírito da Grã-Bretanha e da França, pelo menos até os britânicos se reunirem de novo em torno de Churchill, em 1939, quando era já demasiado tarde para evitar nova guerra mundial. Na década de 20, a Grã­-Bretanha, recebia o choque da chacina de toda uma geração de jovens em Passchendaele e outros campos de morte. O governo britânico iniciou no final da guerra a rápida des­mobilização do seu exército. A França, assustada, lutara por manter uma força militar adequada à dissuasão do que consi­derava ser o regresso inevitável do poderio e do revanchismo alemães. No início dos anos 20, a França procurou desespe­radamente a celebração de uma aliança com a Grã-Bretanha, mas a garantia anglo-americana de defesa da França estipulada no Tratado de Versalhes, esfumou-se no ar quando o Senado norte-americano se recusou a ratificá-la. Entretanto, os britânicos traumatizados, tendo-se convencido de algum modo, contra tudo o que seria de esperar que era a França, e não a Alemanha, a representar a maior ameaça à paz europeia, continuaram a insistir - ainda em 1934 - no sen­tido do desarmamento da França até aos níveis da Alemanha. A voz de Winston Churchill era solitária na sua advertência para o «terrível perigo» de «exigir perpetuamente aos franceses que se enfraqueçam» Winston Churchill, The Gathering Storm, Boston;1948, p. 94..


UM SISTEMA EUROPEU ANTI-CONFLITO
O período entre as guerras, testemunhou a primeira tentativa europeia no sentido de ultrapassar a política de poder e de transformar a fraqueza em virtude. Ao invés de dependerem do poder, como tinham feito anteriormente, os vencedores euro­peus da Primeira Guerra Mundial manifestaram a sua fé na «segurança colectiva» e na sua concretização institucional, a Sociedade das Nações. Um dos principais estadistas da Sociedade afirmou: “O nosso objectivo foi tornar a guerra impos­sível, matá-la, aniquilá-la e para fazer isto, tivemos de criar um sistema.” Edward Benes citado em E. H. Carr, The Twenty Years' Crisis, 1919-1939, Londres, 1948, p. 30.

Mas o «sistema» não resultou, em parte porque os seus principais membros não tinham nem o poder nem a von­tade política para tal. Ironicamente, a força intelectual motriz que se encontra por detrás deste esforço de resolução da crise europeia de segurança, através da criação de uma instituição legal supranacional, pertence a um presidente americano: Woodrow Wil­son.


O INICIO DO “CONFLITO”
Mas as circunstâncias da Guerra Fria criaram uma tensão porventura inevitável entre os interesses norte-americanos e europeus. Os americanos preferiam, em termos gerais, a exis­tência de uma capacidade militar europeia efectiva - sob o controlo da OTAN, claro está - que detivesse o avanço dos exércitos soviéticos no solo europeu sem o desencadeamento de uma guerra nuclear e em cuja acção o grosso das baixas fosse registado pelos europeus, e não pelos americanos. Não surpreendentemente, muitos europeus tinham uma perspectiva diversa quanto à forma desejável de intimidação. Satisfaziam­-se em confiar na protecção oferecida pela cobertura nuclear norte-americana, esperando que a segurança europeia fosse preservada pelo equilíbrio de terror americano-soviético e a doutrina de destruição mutuamente garantida. Fosse como fosse, nos primeiros anos da Guerra Fria as economias europeias estavam demasiado enfraquecidas para conseguir reunir sufi­ciente capacidade militar para a sua defesa.

A ideia persistiu até à década de 90. Os conflitos balcânicos dessa década obrigaram os Estados Unidos a considerar a Europa como prioridade estratégica. A aliança da OTAN pare­cia ter encontrado uma nova missão, Pós-Guerra Fria, de levar a paz àquela região do continente ainda dada a conflitos étni­cos violentos os quais, numa escala menor, não pareciam muito diferentes dos grandes conflitos da primeira metade do século XX. O alargamento da aliança da OTAN por forma a incluir antigos membros do bloco soviético - a confirmação da vitória da Guerra Fria e a criação de uma Europa «una e livre» - constituiu outro projecto grandioso do Ocidente que manteve a Europa no primeiro plano do pensamento político e estratégico norte-americano.
E havia a promessa anterior da Nova Europa: ao unir o continente numa única unidade política e económica - o feito histórico de Maastricht, em 1992 -, muitos esperavam recu­perar a antiga grandeza da Europa sob uma nova forma polí­tica. A Europa seria a próxima superpotência, não apenas económica e politicamente, mas também militarmente. Seria ela a resolver as crises no continente europeu, como os con­flitos étnicos nos Balcãs, e surgiria como agente mundial de importância primordial. Nos anos 90, os europeus podiam ainda afirmar com confiança que o poder de uma Europa unificada reconstituiria, finalmente, a multipolaridade mundial que havia sido destruída pela Guerra Fria e suas consequên­cias. E, com emoções contraditórias, a maior parte dos ameri­canos acreditava que a superpotência Europa era o futuro. S.P.Huntington, da Universidade de Harvard, conside­rou que a coalescência da União Europeia se constituiria como «acção mais importante» numa reacção mundial à hegemonia americana, produzindo um século XXI «verdadeiramente mul­tipolar.» Samuel P. Huntington, «The Lone1y Superpower», Foreign Affairs 78, Março/Abril de 1999, pp. 35-49.

Se a Europa tivesse correspondido a esta expectativa durante a década de 90, o mundo seria actualmente muito diferente. Os Estados Unidos e a Europa poderiam estar agora a negociar as novas condições de uma relação baseada numa igualdade apro­ximada de poder, em vez de se debaterem com a sua enorme disparidade. É possível que o produto desse ajustamento mútuo tivesse sido benéfico para ambos os lados, assumindo a Europa alguns dos encargos da segurança global e dispensando os Estados Unidos maior atenção aos interesses e aspirações euro­peus ao formular a sua própria política externa.
Mas a «nova» Europa não correspondeu a esta expectativa. Nos domínios económico e político, a União Europeia operou milagres. Apesar das esperanças e dos receios manifestados pelos cépticos de ambos os lados do Atlântico, a Europa hon­rou a promessa de unidade. E a Europa unida surgiu como potência económica de grande importância, capaz de ombrear com os Estados Unidos e as economias asiáticas e de negociar matérias relativas ao comércio e às finanças internacionais de igual para igual. Se a Guerra Fria tivesse dado lugar a uma era na qual o poder económico importasse mais do que o poder militar - como muitas pessoas, tanto na Europa como nos Estados Unidos, pensaram que sucederia -, a União Europeia teria ficado efectivamente em posição de determinar a ordem mundial com tanta influência como os Estados Unidos. Mas o final da Guerra Fria não diminuiu a importância do poder militar e os europeus descobriram que o poder económico não se traduz necessariamente em poder estratégico e geopolítico. Os Estados Unidos, ao permanecerem um gigante tanto económico como militar, ultrapassam de longe a Europa em termos do poder total de que podem fazer uso na cena internacional.

Na verdade, os anos 90 testemunharam, não o aparecimento de uma superpotência europeia, mas o declínio ainda mais acen­tuado da Europa no que diz respeito à sua relativa fraqueza militar, em comparação com os Estados Unidos. O conflito nos Balcãs, no início da década, deixou a nu a incapacidade militar e a desunião política europeias; o conflito do Kosovo, no final da década, expôs um fosso transatlântico em termos de tecnolo­gia militar e capacidade de levar a cabo uma guerra moderna que não cessaria de aumentar, nos anos subsequentes. No exte­rior da Europa, no final dessa década, a disparidade tornou-se ainda mais gritantemente evidente, quando ao tornar-se claro que a capacidade e vontade das potências europeias, individual ou colectivamente, de enviar meios decisivos para regiões em conflito fora da área do continente eram praticamente nulas. Os europeus conseguiram fornecer meios de manutenção de paz nos Balcãs - efectivamente, acabaram por ser eles a for­necer o grosso dos contingentes presentes na Bósnia, no Kosovo e na Macedónia - e mesmo no Afeganistão e talvez, um dia, no Iraque. Mas não possuem recursos para introduzir e manter uma força de combate em território potencialmente hostil, mesmo na Europa. Na melhor das hipóteses, o papel europeu limita-se ao fornecimento de forças de manutenção de paz, após os Estados Unidos terem, praticamente sozinhos, realizado as fases decisivas de uma operação militar e estabilizado a situação. Como afirmaram alguns europeus, a verdadeira divi­são de tarefas processa-se do seguinte modo: os Estados Uni­dos «fazem o jantar» e os europeus «lavam a louça».

A maior propensão norte-americana para a utilização da força militar nem sempre significou uma maior disposição para acei­tar baixas. A disparidade em capacidade militar não teve nada a ver com a coragem relativa dos soldados norte-americanos e europeus. A haver alguma diferença, pode dizer-se que os governos francês, britânico e mesmo alemão mostraram por vezes menor relutância em colocar as suas tropas em risco do que os presidentes norte-americanos. No decurso da crise dos Balcãs, em meados da década de 90, e, mais tarde, no Kosovo, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, manifestou maior prontidão em colocar forças no terreno contra a Sérvia do que o Presidente Bill Clinton. Todavia, sob determinados aspectos, esta disparidade também funcionou contra os europeus.

Os norte-americanos e os europeus que propuseram, após a Guerra Fria, o alargamento do papel estratégico da Europa para lá das fronteiras do continente estavam a sugerir, na prática, a realização de uma mudança revolucionária na estratégia e capacidade europeias. Era irrealista esperar que os europeus readquirissem o seu estatuto internacional de grande potência como a que tinham gozado antes da Segunda Guerra Mundial - sem os povos europeus se mostrarem dispostos a deslocar recursos significativos dos programas sociais para os progra­mas militares e a restruturar e modernizar os seus exércitos, substituindo forças pensadas para a defesa territorial passiva por forças susceptíveis de serem enviadas e mantidas longe do respectivo país.
Os eleitores europeus mostraram claramente que não estavam dispostos a apoiar tal alteração de prioridades. Não só não pretendiam financiar o envio de forças militares para fora do continente europeu como, após a Guerra Fria, não se mostraram dispostos a financiar a capacidade militar suficiente para conduzir acções militares, por menores que fossem, no seu próprio continente, sem o auxílio dos Estados Unidos. E tam­bém pareceu ser indiferente o facto de se pedir aos europeus para gastarem dinheiro no reforço da OTAN ou numa política europeia externa e de defesa independente: a resposta foi a mesma. Ao invés de encarar o colapso da União Soviética como uma oportunidade para expandir o alcance estratégico europeu, os europeus consideraram-no uma oportunidade para tirar vantagem de um considerável dividendo de paz. Para a Europa, a queda da União Soviética não eliminou apenas um «adversário estratégico» num certo sentido, destruiu a necessi­dade da geopolítica. Muitos europeus consideraram o fim da Guerra Fria como umas férias, no que diz respeito à estratégia.

Como é que a esta grande e crescente desproporção em termos de poder não correspondeu um fosso crescente no que concerne às percepções estratégicas e à cultura estratégica?
As potências fortes vêem certamente o mundo de forma di­versa das potências mais fracas. Avaliam as oportunidades e as ameaças de modo diverso, definem a segurança de modo diferente e possuem diferentes níveis de tolerância relativamente à insegurança.
Aquelas que detêm um maior poderio militar considerarão mais provavelmente a força como instru­mento útil nas relações internacionais. As potências mais for­tes podem, na verdade, basear-se mais na força do que deve­riam. Um crítico britânico da propensão norte-americana para a acção militar recorda o velho ditado: «Quando temos um martelo. os problemas começam todos a assemelhar-se a pregos.» Isto é verdade. Mas as nações que não possuem um grande poder militar correm o perigo oposto: quando não se tem um martelo, prefere-se que nada se assemelhe a pregos. As perspectivas e psicologias do poder e da fraqueza explicam muito daquilo, embora certamente não tudo, que actualmente divide os Estados Unidos e a Europa.
O problema não é novo!

Durante a Guerra Fria estas divergências eram mais tácticas do que filosóficas. Não se discutia os objectivos do poder, uma vez que ambos os lados do Atlântico confiavam claramente no poder militar conjunto para aniquilar qualquer ataque soviético, por mais remotas que as possibilidades de tal ocorrência o pudessem parecer. O fim da Guerra Fria, que tanto alargou o fosso de poder quanto eliminou o inimigo sovié­tico comum, não só exacerbou a diferença de perspectivas estratégicas como alterou a natureza da discussão.
Durante grande parte da década de 90, os decisores políticos e os analistas nostálgicos de ambos os lados do Atlântico, insistiram naquilo em que os americanos e os europeus concordavam: a natureza destas ameaças à paz e à ordem mundial discordavam somente na reacção que a elas era adequada. Esta análise optimista subestimou o fosso crescente.
Ao longo da década passada, os Estados Unidos e os seus aliados euro­peus foram revelando cada vez mais divergências quanto ao que constitui uma ameaça intolerável à segurança internacio­nal e à ordem mundial, como o caso do Iraque demonstrou à sociedade. E estas divergências reflectem, acima de tudo, a disparidade de poder.
Uma das maiores divergências transatlânticas, desde o fim da Guerra Fria, diz respeito à identificação das novas ameaças que merecem maior atenção. As administrações norte-ame­ricanas colocaram maior ênfase nos chamados estados-pária e naquilo que o Presidente George W. Bush designou como o «eixo do mal». A maior parte dos europeus adoptou uma visão mais tranquila do risco representado por estes regimes. Como me disse um responsável governamental francês: «o problema são os 'estados falidos', não os 'estados-pária'».


MARTE x VENÚS
Por que razão os americanos e os europeus vêem as mesmas ameaças de forma diferente?
Os europeus afirmam amiúde que os americanos têm uma exigência insensata de segurança per­feita, consequência de viverem durante dois séculos escudados atrás de dois oceanos.
Os europeus declaram saber o que é viver com o perigo e viver paredes meias com o mal, atendendo a que há séculos o fazem - daí a sua maior tolerância rela­tivamente às ameaças representadas pelo Iraque de Saddam Hussein, o Irão dos ayatollahs, ou a Coreia do Norte.
Isto é, os europeus entendem grosso modo que os ame­ricanos exageram na avaliação do perigo que estes, e/ou outros, regimes representam.




A EUROPA HOJE
Nos últimos 50 anos, a Aliança Atlântica abriu um novo capítulo da História, permitindo à União Europeia abrir uma nova página do seu processo de unificação com o próximo alargamento a 25 Estados membros. Hoje, as questões euro-atlânticas são, no entanto, mais complexas estendendo-se à visão mais profunda que cada um dos parceiros tem sobre o seu futuro. Os novos desafios de um mundo globalizado e interdependente requerem soluções diferentes as quais só poderão ser encontradas em conjunto pela América e pela Europa.
Ambos continuam unidos por valores fundamentais e interesses económicos comuns. Todavia, a divergência de percepções e políticas toldam os céus atlânticos, quer porque a forma como os Estados Unidos lidam com o seu competitivo comércio põe em perigo o regime de comércio multilateral estabelecido após a Segunda Guerra Mundial, quer devido ao crescente desequilíbrio militar no seio da Aliança, tanto na sua componente política como orçamental, obrigando assim a Europa a um esforço desmesurado. Pelo menos, as duas partes reconhecem que estes desafios não podem ser enfrentados de forma unilateral.
É preciso manter o optimismo quanto ao futuro da Aliança. Esta, terá de definir o seu papel por forma a resolver os novos problemas de segurança tornados indivisíveis.
A OTAN está a correr o risco de vir a tornar-se um local de mera conversa, isto é, uma coligação de membros de boa vontade. E, se por um lado, a União Europeia assumir o papel de contrapeso aos Estados Unidos isso não será a saída mais promissora para os actuais antagonismos no seio da aliança transatlântica. Por outro lado, os Estados Unidos terão de aceitar uma verdadeira parceria de igualdade e, por conseguinte, concordar que a União Europeia crie a sua própria capacidade de defesa.

Durante a crise do Iraque, a opinião pública europeia falou a uma só voz, os seus governos é que se dividiram revelando uma lamentável ausência de Política Externa e de Segurança comuns. Fora da Europa, a crise ressaltou ainda mais a importância de o Ocidente actuar em concertação, sobretudo no mundo árabe. Os participantes mostraram-se também preocupados com o crescente anti-americanismo na Europa, uma tendência a ser refreada. Os últimos seis meses causaram demasiados danos à NATO, à União Europeia e à ONU. Os actores transatlânticos, terão de encontrar formas e meios de definirem um novo sistema internacional capaz de comprometer as guerras preventivas. No campo económico, a Ronda de Desenvolvimento da Organização Internacional do Comércio, em Doha, bem como a Reunião Ministerial de Cancum deverão ser um êxito. Nos próximos tempos, a liderança política vai estar sob grande pressão.
A futura arquitectura institucional da União Europeia, à luz da fase derradeira da Convenção Europeia, é tema a merecer ser discutido. A adesão à OTAN de novos países, em especial a da Polónia – novo membro da União Europeia – vai trazer à UE influência, vigor e juventude no campo económico e será certamente um forte defensor de futuras integrações europeias e um firme advogado de uma comunidade atlântica mais unida sem estar em contradição com o seu futuro na Europa. Para este país, a crise do Iraque mostrou a importância vital do projecto conjunto euro-atlântico, mas, há ainda a ter em conta a futura posição e o futuro papel da Rússia no seio de uma Europa mais alargada.

Para muitos a Europa, afundada em problemas de eficácia, deixou de funcionar quer em responsabilidade quer em consistência democráticas. O euro entrou em vigor mas o processo não está concluído, falta gerar crescimento e postos de trabalho; a política externa e de segurança é tudo menos comum; o alargamento, tarefa vital e histórica, foi mal preparado tanto pelos Estados membros como pelos países candidatos. Daqui resulta a necessidade uma nova arquitectura com um conteúdo relevante, tarefa que deverá ocorrer em simultâneo com a Convenção, ou Constituição Europeias. Entre os muitos assuntos pendentes, a questão da Presidência tem de ser resolvida, nomeadamente, através da eleição do Presidente da Comissão pelo Parlamento Europeu que escolhe o Conselho Europeu. "A votação por maioria qualificada", o vanguardismo de alguns Estados membros ao pretenderem uma mais rápida integração, o futuro da região mediterrânica no seio da Europa, são questões a merecerem, todas elas, uma atenção imediata.
Resumindo, a União Europeia terá de rever os seus métodos, porque as medidas económicas tendentes a uma maior unificação já não são suficientes.
A União terá de adoptar difíceis medidas políticas e, entre elas, destaco:
- As actuais propostas de arquitectura saídas da Convenção, nomeadamente as evidentes inconsistências entre os objectivos proclamados e a falta de financiamento.
- O alargamento ainda não consumado.
- A União Europeia é rica na diversidade histórica dos seus povos e isso tem de ser respeitado. Mas, a EU também tem de ultrapassar as crescentes dicotomias como o intergovernamentalismo versus método comunitário; mercado versus coesão; união monetária versus união económica.
Em suma, a Europa não pode ser construída sem respeito pela história das partes que a constituem.
A questão Estados "grandes" e Estados "pequenos" no seio da União Europeia e da falta de uma cláusula de "exit" consagrada no novo Tratado Constitucional, levam a considerar a necessidade de não se esperar demasiado da Convenção que, pelo menos, havia de dar seguimento ao mandato de Nice, revelando assim mais um passo para a integração.
Falar a "uma só voz" em questões internacionais não é ainda uma realidade. Estará a Europa preparada para uma votação de "maioria dupla" em questões de segurança e de política externa? Poderemos, num futuro não muito longínquo, assistir a um reforço da cooperação? Estas e outras questões, levam ao estudo de processos específicos tendentes à elaboração de uma política externa e de segurança mais "comum" mas não necessariamente "única".
Fácil é concluir que embora a agenda europeia esteja carregada de dificuldades, continua em direcção a uma maior unificação.
Esta caminhada deu já resultados substanciais nos últimos 50 anos, quanto mais não seja, por ter cimentado a paz num continente destroçado pela guerra.


DORMINDO COM O INIMIGO ?
No Médio Oriente a queda do regime de Sadam Hussein foi um passo para uma maior estabilidade na região, mas não deve ser equacionada como "a paz" propriamente dita, apesar de ter levado a sair de agenda o uso de armas de destruição maciça ou uma reacção violenta por parte de Israel e poderá vir a o relançamento do processo de paz israelo-palestiniano.
A instauração da democracia pela força das armas é quase uma impossibilidade, especialmente para o mundo árabe, a única região do Mundo a não revelar nos últimos 15 anos, qualquer tentativa de democratização. Mas o mundo árabe importa ao ocidente – migração, história, fronteiras próximas -, pelo que, uma mensagem importante a transmitir será a de que o estado desesperado dos países árabes é apenas cultivado para consumo local. Os Países Árabes têm direito à democracia. Mudar é urgente.
Olhando para o Ocidente, é importante reconstruir as relações transatlânticas. Apenas o optimismo pode prevalecer à luz da nova Resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Reconstrução do Iraque permitindo o aparecimento, na região, de um espaço público democrático. Somente através da construção de uma economia de mercado bem sucedida se poderão irradicar as raízes do terrorismo. Os parceiros atlânticos têm, por isso, de ajudar os seus aliados americanos e conter a maré crescente de anti-americanismo que varre o mundo árabe. Finalmente, urge dar oportunidade ao "Road Map" do Médio Oriente proposto pelo Quarteto, por mais difíceis que se revelem os próximos passos a dar.



CONFLITO paradoxal com os ESTADOS UNIDOS
Se inicialmente, os Estados Unidos, na sua senda pela independência, a levaram ao ponto de se desligarem não só de Inglaterra, mas também do mundo dito ocidental, assumindo-se como patronos de uma civilização maior, a consolidação dos EUA enquanto nação independente, levou a que para além da proclamação de uma Zona de Segurança ocupando todo o continente, fossem criados mecanismos económicos para a sustentação da independência nacional, a par da presença da influência norte-americana por toda a América Latina e mesmo até para além dela.
Os Estados Unidos eram então os únicos a poderem alargar o seu território sem que para isso tivessem de entrar em competição com outros estados de relevância militar, e assim, com estas migrações em direcção a territórios de extensão indeterminada, começa a ganhar forma a ideia de espaço para o americano, acabando, de certo modo, por provocar a esquizofrenia de que padecem ainda hoje, na ambivalência de ser ambos, americano de nação e americano de continente, provocando deste modo a habitual existência de uma linha de acção comum em ambas as situações.
Apesar de aparentemente paradoxal, tal interferência em assuntos internos de outros Estados, a par da defesa de valores tão gratos aos americanos como o de garantir os benefícios da liberdade a essas mesmas nações, acaba por ser legitimada pelo levantar de valores mais altos, como o estabelecimento da justiça, sem a qual a liberdade não é possível. Tendo em mente tais princípios, a prossecução de uma política que assegurasse aos seus nacionais, não só a realização destes, mas também o próprio aperfeiçoamento da sociedade americana, o Executivo americano tem, desde sempre, seguido uma linha de defesa das necessidades nacionais, para lá das suas fronteiras quando necessário.
Se inspirado pela divina providencia da cristandade protestante, a harmonização da ordem natural surge pela competitividade, não é de estranhar que os Estados Unidos olhem para a sua própria existência, enquanto nação, como destinada à competição com outros estados, dentro ou fora do seu continente, e pressuponham que da sua própria harmonização está dependente a harmonização mundial.

As acções externas dos Estados Unidos foram sempre condicionadas simultaneamente por interesses materiais e missionarismo moral. Enquanto a primeira provem da influência interna de grupos de pressão com interesses económicos, a segunda provem da própria consciência nacional, acreditando na excepcionalidade da sua sociedade, transpondo para o plano ético-religioso os princípios consagrados na Constituição, partindo consequentemente para a disseminação da "palavra divina" através de centenas de "cruzadas" em todo o mundo. Não obstante as intervenções militares verificadas durante o século XX e onde se nota uma cada vez maior influência de grupos económicos, e sabendo que a excepcionalidade norte-americana se foi desvanecendo com o crescimento económico e maturidade política europeia, o facto de existir o suposto perigo de domínio mundial por parte do totalitarismo comunista fez com que se apoiasse e, deste modo, se legitimasse toda e qualquer intervenção pela política de contenção.
A defesa da posição dos Estados Unidos enquanto potência mundial pela via das armas, graças à Guerra Fria, conduziu a política de Theodore Roosevelt até meados da década de 70 (até à Guerra do Vietname, o Presidente era visto como o defensor do senso comum americano, e logo, irreprimível no anúncio e seguimento das suas doutrinas).

Os partidos encontravam-se agora cada vez mais dependentes do financiamento das suas campanhas por parte de privados, portanto, deixava de ser estranho ver grupos de relevância económica nacional, englobados na esfera política do país como sustentáculos do próprio multipartidarismo, logo, da democracia. As acções externas iam progressivamente ficando mais afastadas do interesse público, ou pelo menos dos irredutíveis e seculares valores tidos como base da sociedade americana. A legitimidade de intervenção dos Estados Unidos em várias áreas do globo era agora, justificada pelos interesses económicos em causa, em que a Guerra Fria se ia tornando cada vez mais numa Guerra Fresca, no entanto, sendo a sociedade americana baseada em valores morais mais altos que qualquer bem estar material, esta não poderia jamais ficar a par de tal legitimação, sob o risco de não existir novo mandato presidencial.

Com o fim da Guerra Fria o perigo do desequilibro desapareceu, hoje a necessidade não é a de encontrar uma potência que sirva os propósitos dos Estados Unidos, mas sim a de encontrar propósitos para o uso da potência dos Estados Unidos. Esta necessidade levou à busca de novos propósitos pela política externa norte-americana, justificativos da presença americana nos assuntos mundiais, tal como tinha acontecido durante a Guerra Fria. O apelo da administração norte-americana à necessidade da influência por parte dos Estados Unidos no alastrar da democracia no mundo não tem eco no público, acabando por ser, ela mesma, contrariada pela política praticada internamente, na qual o processo democrático, cada vez mais, parece suscitar a indiferença e o distanciamento entre governantes e governados, materializando-se nos galopantes valores da abstenção.

O argumento de que à liderança norte-americana é necessária o envolvimento em problemas mundiais é frequente e, até certo ponto, é compreensível, visto tratar-se da actual grande potência mundial, no entanto, este argumento leva a que se levante a questão de saber se a liderança americana assim o deseja, se é o suficientemente abrangente para isso, e se é encarada com legitimidade por parte das outras nações, para tornar os problemas do mundo em problemas internos.

A par dos vários grupos económicos que se movimentam nos bastidores da política externa norte-americana, surgem agora grupos organizados por aparentes uniões culturais entre seus membros.
A cada vez maior rapidez das vias de informação, a par do facto dos Estados Unidos serem o maior foco de imigração mundial, torna uma realidade o crescente papel dos grupos étnicos na construção de uma política externa americana. Contra a existência, não destes grupos, mas do crescente poder, encontra-se todo um mundo Ocidental, uma vez que para sobrevivência desta, espera-se dos Estados Unidos que se assumam como guardiões deste pensamento. Desta feita, a legitimação da intervenção americana em vários cenários de guerra, embora seja cada vez mais posta em causa internamente, acaba por ser encontrada externamente, nomeadamente junto dos seus aliados, ou seja, todo o mundo Ocidental. Quando outrora eram os nacionais americanos a reivindicar a excepcionalidade dos seus princípios, legitimando toda e qualquer intervenção americana além - fronteiras pela existência de um destino providencial, hoje, encontrando-se estes mais preocupados com a manutenção do Estilo de Vida Americano, e logo com a preservação do seu nível de vida, cabe aos aliados dos Estados Unidos, bilateralmente ou mesmo através de organizações de âmbito militar, aclamar essas mesmas intervenções como vitais à sua própria existência.
Em suma, não deixa assim de ser periclitante o actual rumo da política externa norte-americana. Entre os apelos de grupos, económicos, étnicos e governamentais internos, de nações aliadas e de organizações internacionais, nunca esquecendo os sacralizados princípios presentes na Constituição, o equilíbrio entre as várias forças é ténue.
No seio do Executivo, a competência para o delinear dos vectores de acção recai na pessoa de um só homem, o Presidente dos Estados Unidos, e neste quadro, a isenção na tomada de decisões respeitantes à política externa encontra-se distante, se não inatingível, tendo a sua permeabilidade maior nos grupos sobre os quais assenta o já mencionado Estilo de Vida Americano, nomeadamente aqueles que mais riqueza e fonte de emprego representem para a nação.

Não posso deixar de notar a coerência nos acontecimentos mais relevantes ligados à administração Bush, um texano sempre ligado ao petróleo. Desde o estabelecimento de uma presença permanente no Afeganistão, encravado entre 5 potências nucleares e sobre importantes reservas de energias fósseis, passando pela morte de Jonas Savimbi, a qual para além da paz, trouxe a estabilidade necessária a um investimento mais avultado nas maiores reservas de petróleo de África, chegando ao frustrado golpe de estado na Venezuela, o quarto exportador da OPEP, tudo isto numa altura em que a CIA voltou a ter como palco da actuação o mundo,
A questão energética parece ser o ponto central da Doutrina George W. Bush, uma doutrina que antes mesmo da presidência já se afigurava mais permeável e moldável por interesses internos do que por quaisquer desejos de estabelecer uma pax americana assente no bem geral da humanidade.









Factos:
1) Manutenção de interesses nos países árabes:
- A maioria de estados árabes amigos dos EUA não são democracias.
- Os EUA, crêem que a estabilidade de países árabes pode ser conseguida através de um estado de dependência destas nações ao auxilio económico e militar que os EUA lhes conferem.
- O patrocínio ao estabelecimento de democracias árabes pode saldar-se no aparecimento de regimes menos abertos ao Ocidente ou até hostis, como aconteceu com a FIS na Argélia.
- Com o volte face do Irão, em 1979, os EUA optaram por exercer influência no mundo árabe de um modo quase subliminar, preferindo uma progressiva aculturação ocidental através dos média ao tradicional apoio base a regimes autocráticos, despoletadores da ira popular.
2) As relações económicas com a UE:
- Imposição de tarifas aduaneiras de 30% sobre a importação do aço.
- Nos últimos 4 anos perderam-se 20 mil postos de trabalho no sector.
- A aplicação desta tarifa vai ao encontro do reivindicado pelo poderoso lobby do sector siderúrgico, especialmente pelo Sindicato da Siderurgia Norte-americana, com os seus 600 mil trabalhadores.
- A siderurgia tem grande importância no chamado Steel Belt, onde os estados da Pensilvânia, Ohio, Ilinois, Indiana e Virgínia Ocidental formam uma autêntica cinta de aço.

Soluções:
a) Compensar em 2500 milhões de euros a UE parece ser a única solução dos EUA para poder manter as taxas, uma vez que o acordo da OMC prevê a compensação dos países afectados pela implementação de medidas proteccionistas mesmo que estas não violem a natureza do tratado.

b) Retaliar pela aplicação de um imposto compensatório a produtos originários de Estados norte-americanos decisivos para os republicanos nas eleições de Novembro.

c) Proteger, durante o prazo legal de 6 meses, as importações de aço entre 14,9% e 26% que ultrapassem os níveis de 2001
- O anterior comissário europeu para o comércio, o inglês Leon Brittain, indica que a actual guerra do aço pode pôr em causa a participação europeia na guerra ao terrorismo, nomeadamente no possível apoio a um ataque ao Iraque.
- Na condenação à situação no Médio Oriente, as divergências também se fizeram notar, com uma forte condenação do lado europeu e com um mero pedido de retirada do lado dos EUA.


- As relações com o UK, para quem o sector do aço tem ainda bastante importância, sofreram um abalo.
- Embora tradicionalmente democratas, estes estados deram a vitória aos republicanos em consequência das promessas feitas por Bush.
- A UE aponta estas medidas proteccionistas como demagógicas tendo em vista a vitória
republicanas eleições para as duas câmaras em Novembro.


RELAÇÕES TRANSATLÂNTICAS
Não obstante as tensões periódicas que a caracterizam, a relação transatlântica está no centro das Relações Externas da União Europeia. Os fluxos comerciais entre a União e os Estados Unidos totalizam cerca de mil milhões de euros por dia. Os EUA apoiaram firmemente o processo de integração europeu desde o seu início. As duas partes partilham os mesmos valores, possuindo, em muitos casos, interesses comuns. Para além das cimeiras semestrais, os dois parceiros mantêm contactos permanentes e a todos os níveis: diálogos entre as empresas, entre os consumidores, os sindicalistas e os ecologistas, bem como reuniões frequentes a nível de funcionários, ministros, membros do Parlamento Europeu e do Congresso dos Estados Unidos. A forma como a UE e os EUA geriram questões comuns relacionadas com o direito da concorrência ou do reconhecimento mútuo das respectivas normas técnicas, serviu de modelo para as relações entre a União e outros parceiros, nomeadamente o Japão e o Canadá.
”Reparando” As RELAÇÕES
A administração Bush ganhou (?) a sua guerra contra Iraque. Agora deve ganhar a paz, e aqui inclui-se reparar estragos nas relações com vários aliados na "Velha Europa" e noutros lugares.

Embora a cimeira económica do G-8 pareça ter sido cortês, o amargo prelúdio ao ataque anglo - estadunidense no Iraque afectou seriamente as velhas relações de amizade.
"O líder francês tem trabalhado para convencer o povo estadunidense que se preocupa pela segurança do nosso país," proclamou o presidente Bush, mas de imediato o seu próprio Subsecretário da Defesa admitiu serem os anúncios de Washington sobre as armas de destruição massiva do Iraque feitos por "razões burocráticas."
Embora os Estados Unidos sejam a potência militar dominante do mundo, isso não os dota de uma sabedoria única. Nem tampouco se supõe que os líderes de estados independentes e democráticos estejam obrigados a seguir cegamente os desígnios de Washington.

Ademais, a postura da administração Bush deixou uma sensação de hipocrisia. A devoção para com os direitos humanos é admirável, mas os Estados Unidos evidenciam pouca preocupação para com eles quando apoiaram Saddam Hussein na agressiva guerra contra o Irão e ignoraram os abusos da Turquia contra os Curdos.
Igualmente estranha foi a campanha de Washington para comprar aliados da qual resultou uma "coligação a várias cores” formada, primordialmente, por nações que ofereceram exageradas cartas de apoio.

E o papel da Europa não foi mais honrado. O chanceler alemão, Gerhard Schroeder, ganhou a reeleição ao atacar os Estados Unidos, mesmo quando ninguém esperava que Berlim se unisse a qualquer guerra.
A França jogou o papel de aliado leal ao aprovar a resolução inicial da ONU, antes de se converter no mais agudo crítico dos Estados Unidos - enquanto actuava simultânea e unilateralmente na Costa do Marfim.
A "Nova Europa" pode ter apoiado Washington, porque fazê-lo não requeria nenhum compromisso militar e com isso ganhava apoio para conseguir garantias quer em ajuda externa quer em segurança.
Os políticos canadienses denunciaram a política estadunidense mesmo quando dependiam da protecção militar de Estados Unidos.
Insultos mesquinhos e boicotes deram a volta ao globo.
Ataques mútuos não servem os interesses de ninguém. Ora, para se repararem relações requer-se, a priori, honestidade. Collin Powell, disse recentemente: "este é um conflito que ninguém pediu, que não buscámos, que não queremos e que fizemos todo o possível por evitar."
Nenhuma pessoa séria o podia querer. Washington estava determinado em fazer a guerra e essa mesma determinação fez com que o presidente Bush ganhasse apoio popular nos Estados Unidos. Agora a administração Bush necessita justificar a sua decisão... não fugir dela!
Washington deve admitir que exagerou. O fracasso ao não encontrar nenhuma arma de destruição massiva é profundamente humilhante.
Se o Iraque não estava disposto a usar as ditas armas para se defender, então estas aparentemente não existiam ou não valia a pena usá-las.

Simultaneamente, os críticos dos Estados Unidos deveriam reconhecer que a sua posição reflectia mais uma preocupação face ao domínio estadunidense do que um “não compromisso face ao direito internacional”.
Por outro lado, será necessário reconhecer que Bush não é um vaqueiro louco, como prova a resposta cautelosa dada aos ataques terroristas do 11 de Setembro.


Ambos necessitam de recuperar o sentido de proporção face ao multilateralismo. Se os Estados Unidos consideram estar em jogo os seus interesses vitais, não se deveria esperar a aprovação da ONU para uma resposta.

Apesar disso, o multilateralismo tem valor.
Washington, provavelmente, assumirá o tortuoso processo de criar um Iraque democrático e estável e seria mais fácil se se contasse com um amplo apoio internacional, mas, Heidemarie Wieczorek-Zeul, Ministra da Cooperação e Desenvolvimento Económico da Alemanha, sustem: "não é aceitável que os estadunidenses e britânicos bombardeiem e que a 'Velha Europa' pague."
Ainda assim, verifica-se que os críticos dos Estados Unidos estavam equivocados quanto ao manterem o Iraque refém das suas ambições conservado-lhe as sanções.
A aprovação de uma resolução da ONU, quanto ao Iraque, poderia vir a ser o início de uma genuína cooperação.

Por outro lado, a Europa requer um verdadeiro exército, se quer que a tomem a sério em Política Externa, Washington não deveria ter ilusões de que a "Nova Europa" possa substituir a "Velha Europa" uma vez que os europeus do Centro e Leste trouxeram á OTAN mais responsabilidades estratégicas em lugar de vantagens de defesa e a primeira poderá ter um potencial económico e político a longo prazo, mas permanece dependente do acesso aos mercados e subsídios dos membros mais velhos da União Europeia.

A amarga disputa entre aliados permanece desagradável, embora ofereça uma oportunidade para repensar relações antiquadas.
Estados Unidos e Europa compartilham muitos objectivos, desde a cooperação em Inteligency ao desenvolvimento económico e á assistência em segurança.
Mas aliados não devem assumir que os seus interesses vão sempre convergir, por isso deveriam tornar, a evolução das suas amizades, o menos dolorosa possível.


CONSTRUÇÃO EUROPEIA SEM OS ESTADOS UNIDOS?
Passados cinquenta e oito anos sobre o final da Segunda Guerra Mundial que deixou o velho continente em escombros, a Europa vive hoje um contexto de paz e estabilidade.

A reconstrução europeia, projecto promovido pelos Estados Unidos no pós-guerra, como consequência do Plano Marshall, cujos primeiros contornos se evidenciaram na forma de integração económica, teve início há quarenta e seis anos. Desde então, a UE, tornou-se num dos projectos mais fascinantes das relações internacionais. É um processo em evolução permanente. Começou em 1957 mas ninguém lhe conhece os limites, quer ao nível da geografia, quer ao nível do modelo de organização política.
Hoje, a UE, constitui um grande espaço de bem-estar igualável a poucas regiões do mundo e é, porque atractiva, ponto de chegada, de imigrantes de todos os continentes.
Os resultados conseguidos constituem um feito magnífico se atendermos a que são produto da coordenação e entendimento entre Estados tradicionalmente litigantes.

Mas o aumento da complexidade da UE, como organização de integração regional, anda a par com o crescendo de desafios que enfrenta. E presentemente estes não são nem poucos, nem irrelevantes.

O domínio da política externa é o maior de todos eles, constituindo o grande problema do futuro da UE. As divergências que se evidenciaram em matéria de política externa entre os Estados membros, em torno da guerra anglo-americana contra o Iraque, intensificaram o debate dentro da União Europeia quanto aos seus objectivos de responsabilidade e postura internacional.
No seio desta discussão destacam-se duas correntes: uma atlantista, defendendo que a construção europeia não se pode fazer desligada dos Estados Unidos; uma europeísta, que defende que a UE se deve distanciar dos Estados Unidos adoptando uma postura crescentemente autónoma.

Porém, acontece que a União não reúne as condições necessárias para se tornar no que os europeístas pretendem. Para além de não possuir os meios militares indispensáveis para tornar a negociação internacional eficaz e a política externa credível, parece ser cada vez menos provável que venha sequer a existir uma política externa europeia com plenos poderes. A que existe actualmente é bastante limitada.
A actuação do alto-representante para a PESC, Javier Solana, passa essencialmente pela promoção de medidas de criação de confiança e estabilidade no estrangeiro próximo da UE. Mas com a entrada, em Maio de 2004, de dez novos membros originários da Europa Central, a criação dessa política externa integrada, fica cada vez mais distante, pois Xavier Solana, ou quem venha a suceder-lhe no cargo, se concentrasse plenos poderes de representação, seria constantemente desautorizado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros de cada Estado membro, porque cada Estado tem um passado histórico próprio, espelhado em vertentes de política externa com interesses não coincidentes.

Isto quer dizer que a Europa continuará a precisar do aliado norte-americano, hoje mais que anteriormente, mas nunca como antes.

Desde o derrube do muro de Berlim e da desintegração da União Soviética, o contexto alterou-se profundamente. Se antes apenas interessava a Washington preservar o continente fora da influência Soviética, hoje que deixou de existir a ameaça comunista, concreta e identificável, e passou a existir um conjunto de ameaças de natureza diversa e com contornos de grande complexidade, a incerteza da política externa americana deve ser motivo suficiente para deixar a Europa preocupada.

Nesta mudança de contexto a UE ainda não se dotou de meios militares proporcionais à sua dimensão e necessidades.
Mesmo supondo que decida agora investir na defesa, hipótese remota, os custos são gigantescos e os resultados demorados.
Sendo uma ilha de paz, estabilidade e bem-estar, a UE está rodeada de ameaças e precisa preservar com cuidado, mais do que antes, a relação com os Estados Unidos, sabendo-se que há muita gente em Washington a pretender ver reduzido o contributo e empenhamento norte-americano na NATO.
Ora sendo esta a aliança que, de facto, garante a segurança europeia, se ela vier a ser diminuída é a Europa quem se expõe aos mais diversos riscos. Para este cenário, nefasto aos europeus e quase indiferente aos americanos, muito têm contribuído alguns líderes europeus, sobretudo franceses e alemães, com curta visão estratégica e com sentido de Estado e de interesse nacional diminuído por avaliações de curto prazo, nocivas aos seus países e à construção europeia.
Não basta fazer manifestos de intenção para a criação de política externa e de defesa integrada com plenos poderes, é preciso ter condições para a sustentar, e o que dela possa vir a existir decorre da conservação estável das relações transatlânticas.

POR UMA EUROPA RADICALMENTE EUROPEIA
Defender a ideia de Europa no contexto de um processo de intervenção radical, nestas matinas do século XXI, implica reconhecer o Estado a que chegámos, isto é, ao mesmo tempo, pequeno demais para os grandes problemas da vida e grande demais para os pequenos problemas da vida. É pequeno demais para resolver os grandes problemas do nosso tempo (a economia, a segurança, o ambiente, a tecnologia, a saúde) e, para o efeito, sob o alento da aldeia global, vamos tentando projectar e construir, por todo o lado, grandes espaços. Mas também é grande demais, pelo menos quanto à participação política e à humanização do poder, e muitos vão exigindo desconcentração, desregulamentação, descentralização e regionalização. Daniel Bell

É forçoso, ainda, assinalar que acabou a era das ideologias do tempo da guerra fria quando se transformaram questões concretas em questões ideológicas, colorindo-as com uma tensão ética e uma linguagem emocional. Porque, aqui e agora, nós, os herdeiros da liberdade europeia, marcados tanto pelas tradições do humanismo laico como do humanismo cristão, estamos cansados das divisões artificiais entre a direita e a esquerda e dos consequentes combates entre reaccionários e progressistas, ou entre liberais e socialistas, e talvez tenhamos de aceitar que só podemos superar as encruzilhadas da história, se admitirmos o essencial da perspectiva da pluralidade de pertenças e da consequente disjuntion of realms, da existência de princípios axiais diferentes nos campos da economia, da política e dos valores culturais, nos anos trinta e quarenta se dizia, ao mesmo tempo, radical nos objectivos económico-sociais, reformista nas metodologias políticas e conservador no tocante aos valores. Emmanuel Mounier
Isto é, uma aproximação ao socialismo nos domínios da economia, com uma profissão de fé liberal em política e uma atitude conservadora quanto ao valores culturais. Daniel Bell
Talvez esta pluralidade de pertenças, contrária aos preconceitos reaccionários de esquerda e de direita, nos leve de volta a uma certa memória libertária e radical, em nome dos princípios, necessariamente reformistas no tocante às atitudes políticas e defensora dos grandes princípios do regresso à política. É esse o horizonte, onde necessariamente se insere a ideia de Europa que Sufraga.

O regresso à política, a retomada da res publica, isto é, a reinvenção da cidadania, são a única forma de superarmos as actuais doenças dos sistemas políticos, sitiados pela corrupção e pelo clientelismo, causas geradoras das actuais vagas populistas, xenófobas e racistas que ameaçam a Europa.
Ora estes sintomas só podem ser removidos se à terapêutica se acrescer a profiláctica de uma educação cívica, capaz de retomar uma perspectiva libertária da pessoa: uma perspectiva comunitária de sociedade e uma visão do Estado como um Estado-Razão e um Estado de Justiça.


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