(Um texto de Isabel Lago. Notável !!! )
Desvendou-se o mistério que nos vinha apoquentando nos últimos meses. Já podemos dormir descansados. Foi escolhido o grande português, o maior de todos os tempos, segundo os objectivos da RTP. Feito isto, acabaram-se as apostas de café ou familiares, os debates televisivos, os artigos na imprensa à volta dessa figura que passaria a ser uma espécie de herói nacional. Aliás como se pode comprovar, de nada adiantaram. Num concurso em que se punham em comparação figuras actuais e vivas, dos mais variados quadrantes e, na sua quase totalidade, sem valor intemporal, com outras que vinham do início da portugalidade e de cuja actuação se tem uma perspectiva temporal vasta, tudo seria de esperar. Foi uma espécie de sopa de pedra de que só restaram mesmo os calhaus. A escolha, porque não foi uma eleição, de Salazar e Cunhal, é o retrato fiel da sociedade que temos: sem sentido histórico e de memória curta. Ah, e que pelos vistos gosta de chicote. Só assim se explica a escolha de dois ditadores, se bem que de facções opostas. Politicamente o que se passou revela a clivagem da sociedade portuguesa, dividida entre a esquerda e a direita desde que entrámos na chamada era democrática. Mas enquanto Salazar foi uma realidade, com uma actuação governativa completa de princípio, meio e fim (concordemos ou não com ela) reconhecida internacionalmente, Cunhal não passou de uma intenção: nunca governou a não ser o seu próprio partido. A maioria do próprio povo português o impediu de subir ao poder porque adivinhava nele a chegada de uma forma de governar mais ditatorial do que a de Salazar e de que a célebre “Cortina de Ferro” era a imagem. Salazar foi um grande português. Mas não o MAIOR. Teve uma actuação nacional e o que se pedia era uma dimensão universal.
O que revela pois esta opção? Que os portugueses estão em crise de valores económico-sociais, mas também descrentes na política deste país. Em todos os momentos semelhantes, ao longo da nossa história, têm surgido fenómenos de messianismo, ou seja, da criação de figuras que desejamos nos venham salvar. Continuamos à espera de um qualquer D. Sebastião que venha arrancar-nos do fosso em que estamos. Esse redentor do séc. XXI provavelmente já não virá numa manhã de nevoeiro, mas de avião. E se demorar um pouco arrisca-se a aterrar na Ota. A escolha destes dois nomes é prova do que acabo de afirmar. Um é um mito da direita. O outro da esquerda. Na divulgação de ambos e no apelo ao voto foram utilizadas manobras “subterrâneas” e silenciosas, como que temendo represálias de uma qualquer inquisição: sms que circularam entre amigos e conhecidos, envelopes abertos que, em vez de endereço tinham, escrita a lápis a frase: “lê, vota e passa a outro” e que dentro tinham fotocópias de propaganda de uma ou outra figura. Foram acções que desvirtuaram o jogo.
Desvendou-se o mistério que nos vinha apoquentando nos últimos meses. Já podemos dormir descansados. Foi escolhido o grande português, o maior de todos os tempos, segundo os objectivos da RTP. Feito isto, acabaram-se as apostas de café ou familiares, os debates televisivos, os artigos na imprensa à volta dessa figura que passaria a ser uma espécie de herói nacional. Aliás como se pode comprovar, de nada adiantaram. Num concurso em que se punham em comparação figuras actuais e vivas, dos mais variados quadrantes e, na sua quase totalidade, sem valor intemporal, com outras que vinham do início da portugalidade e de cuja actuação se tem uma perspectiva temporal vasta, tudo seria de esperar. Foi uma espécie de sopa de pedra de que só restaram mesmo os calhaus. A escolha, porque não foi uma eleição, de Salazar e Cunhal, é o retrato fiel da sociedade que temos: sem sentido histórico e de memória curta. Ah, e que pelos vistos gosta de chicote. Só assim se explica a escolha de dois ditadores, se bem que de facções opostas. Politicamente o que se passou revela a clivagem da sociedade portuguesa, dividida entre a esquerda e a direita desde que entrámos na chamada era democrática. Mas enquanto Salazar foi uma realidade, com uma actuação governativa completa de princípio, meio e fim (concordemos ou não com ela) reconhecida internacionalmente, Cunhal não passou de uma intenção: nunca governou a não ser o seu próprio partido. A maioria do próprio povo português o impediu de subir ao poder porque adivinhava nele a chegada de uma forma de governar mais ditatorial do que a de Salazar e de que a célebre “Cortina de Ferro” era a imagem. Salazar foi um grande português. Mas não o MAIOR. Teve uma actuação nacional e o que se pedia era uma dimensão universal.
O que revela pois esta opção? Que os portugueses estão em crise de valores económico-sociais, mas também descrentes na política deste país. Em todos os momentos semelhantes, ao longo da nossa história, têm surgido fenómenos de messianismo, ou seja, da criação de figuras que desejamos nos venham salvar. Continuamos à espera de um qualquer D. Sebastião que venha arrancar-nos do fosso em que estamos. Esse redentor do séc. XXI provavelmente já não virá numa manhã de nevoeiro, mas de avião. E se demorar um pouco arrisca-se a aterrar na Ota. A escolha destes dois nomes é prova do que acabo de afirmar. Um é um mito da direita. O outro da esquerda. Na divulgação de ambos e no apelo ao voto foram utilizadas manobras “subterrâneas” e silenciosas, como que temendo represálias de uma qualquer inquisição: sms que circularam entre amigos e conhecidos, envelopes abertos que, em vez de endereço tinham, escrita a lápis a frase: “lê, vota e passa a outro” e que dentro tinham fotocópias de propaganda de uma ou outra figura. Foram acções que desvirtuaram o jogo.
Só faltou mesmo aparecer novamente um Bandarra com as suas trovas
Faço Trovas muito inteiras
Versos mui bem medidos,
Que hão de vir a ser cumpridos
Lá nas eras derradeiras.
Faço Trovas muito inteiras
Versos mui bem medidos,
Que hão de vir a ser cumpridos
Lá nas eras derradeiras.