segunda-feira, 22 de junho de 2015

o Syriza não recusa um acordo, recusa o nosso modo de vida na União Europeia

Se o velho sistema político grego, corrupto, doente e ineficaz, não tivesse colapsado na sequência da crise financeira aberta em 2008, por muito talentoso que Tsipras fosse nunca conseguiria levar o seu pequeno partido da esquerda radical, que antes valia apenas 3% dos votos, até aos 36% que lhe permitiram estar hoje no poder. Nesse artigo recomendava-se que o jovem primeiro-ministro não tentasse abusar da sorte, pois ela de pouco lhe serve no tipo de negociações que tem tido pela frente.

Os radicais gregos não desejam apenas combater a austeridade – eles querem é tirar partido do descontentamento provocado pela austeridade para promoverem um tipo de sociedade radicalmente diferente da nossa. Eles não são reformistas ingénuos, são revolucionários que querem aparecer como pragmáticos. Tal como Álvaro Cunhal em 1975, eles não querem uma “democracia burguesa” – só são diferentes de Cunhal porque não sabem muito bem o que querem, pois longe vão os tempos da União Soviética.

o Syriza, ao ocupar o poder e ao colocar os seus homens nos lugares chave, está a mostrar que não é menos clientelar do que os velhos partidos gregos. Um bom exemplo disso é a forma como reabriram a televisão pública e a transformaram num instrumento de propaganda. Não que os outros não tivessem antes feito o mesmo – a diferença, hoje, é que já ameaçam os operadores privados com a cassação das suas licenças, uma ameaça “à venezuelana”.


A Grécia do Syriza no euro será sempre uma crise permanente, pois aquele partido não é apenas um PS um pouco mais radical – o Syriza é uma coligação de radicais que são convictamente contra o que os menos sofisticados, ou menos dissimulados, designam como “capitalismo” – basta ver o discurso de alguns dos manifestantes que têm saído à rua em apoio do governo. Mais: ao mesmo tempo, muitos na Grécia começam a sentir que as suas promessas foram enganadoras e que a sua agenda pode acabar numa catástrofe, e também esses já começaram a sair à rua, porque não se imaginam fora do euro ou afastarem-seda forma de vida democrática e livre da União Europeia.

Para onde vai a Grécia?




O futuro do pequeno país do Sul a Europa é hoje discutido ao mais alto nível. O objectivo é tentar resolver a crise da dívida helénica, que enterrou o país numa das maiores e mais profundas recessões da história económica europeia.

domingo, 14 de junho de 2015

Os vigilantes da imbecilidade

"I social media danno diritto di parola a legioni di imbecilli che prima parlavano solo al bar dopo un bicchiere di vino, senza danneggiare la collettività. Venivano subito messi a tacere, mentre ora hanno lo stesso diritto di parola di un Premio Nobel. E' l'invasione degli imbecilli". ( Umberto Eco in (ANSA) - TORINO, 10 GIU  )

Umberto Eco refere-se à Itália, naturalmente. 
Para entender a comparação e sendo Eco uma pessoa da esquerda ampla, basta ler o La Repubblica e o Público. Não necessariamente para se detectarem os focos da imbecilidade ambiente,  mas para se perceber que o jornal português nunca conseguirá aproximar-se da qualidade redactorial daqueloutro italiano e portanto o eventual esforço seria inútil.
Em Portugal a análise  passa necessariamente por uma indagação prévia sobre preferências político-partidárias dos jornalistas e causas que defendem particularmente. Causas da modernidade, artísticas e abertamente políticas. O jornalismo que praticam reflecte quase sempre tais idiossincrasias.
O predomínio absoluto da ideologia difusa de uma esquerda infusa marca indelevelmente o conteúdo das notícias, a redacção dos textos e a inflexão de voz da locução televisiva e radiofónica.

Ver e ouvir a tv e rádio públicas é testemunhar o anúncio do advento da próxima governação socialista, todos os dias.
O despudor é tal que o alinhamento noticioso entre as cadeias de informação televisiva nos vários canais é uniforme e de pensamento único.

Aqui há uns dias, a jornalista Judite de Sousa justificou a um Medina Carreira inconformado em ver que as tv´s não dão qualquer relevância à candidatura de um Henrique Neto, preferindo-lhe um Sampaio da Nóvoa, a circunstância de este ser apoiado por três ex-presidentes da República e se o melhor colocado em sondagens. E com isso ficaria definido o critério editorial de preferência permanente por aquele candidato da esquerda. Medina Carreira respondeu-lhe que nesse caso, o melhor seria proclamar desde já eleito como presidente o dito cujo...

Claro que esta imbecilidade não releva de qualquer rede social mas do suposto profissionalismo de alguém que tem poder e influência num órgão de informação de calibre televisivo. ( extracto de um post in Porta da Loja )


Se contassem a Umberto Eco o que sucedeu com o Expresso de um Costa&Nicolau no célebre episódio Artur Baptista da Silva,  o escritor ficaria banzado e teria que rever a sua teoria: a imbecilidade escondida no sítio "de referência". Pedir a estas pessoas para vigiarem a imbecilidade das "redes sociais" seria como pedir a um varredor o controlo de qualidade dos aspiradores. 

A televisão portuguesa trabalha para a sua própria extinção?

O que é que andam a fazer exactamente os canais de TV terrestre em Portugal?

Não conheço quase ninguém que ainda acompanhe a sua programação, para além do telejornal da noite, o que já é um enorme desafio. Quem é que, às oito da noite, tem uma hora e meia, ou duas horas, para se sentar a ver tantas notícias, embora de facto não sejam muitas notícias…


Há reportagens de tiro rápido, filmadas na rua por jornalistas sem fôlego, sempre com “vox pops” de demasiadas pessoas com demasiadas coisas para dizer, mas que nunca acrescentam substância ou informação à notícia. No fundo, o vox pop da rua é o equivalente das caixas de comentários “below the line”. Depois segue o futebol, que enche o resto da programação. Poucos outros desportos aparecem.

As horas do dia enchem-se com “shows” fúteis, feitos para velhotas pouco curiosas e capazes de se pasmarem perante muita coisa. As audiências no estúdio são compostas de mulheres de meia-idade ou velhotas com penteados grandes e pullovers justos, que seguem as deixas dos apresentadores para se rirem ou fazerem caras tristes nos sítios certos.

Ao fim da noite, aparecem os tudólogos, sempre as mesmas caras cada semana, sempre nas mesmas discussões (ou não-discussões) sobre pormenores que pouco interessam à maior parte da gente, que naturalmente não vive obcecada pela política.

Há, obviamente, uma audiência para estas tretas do dia e da noite… por enquanto. As pessoas que veem e gostam disto não conhecem outras coisas, e continuam a ver e a gostar, e a acreditar que isto é que é televisão. As velhotas sem curiosidade devem gerar rendimentos suficientes para que os canais continuem. Para já. Mas no futuro, o que poderá acontecer?

O que será quando a geração das velhotas sem curiosidade desaparecer, para ser substituída por uma geração mais sofisticada que nunca viu a televisão terrestre porque está agora a ver os canais americanos? (extracto do artigo de opinião de Lucy Pepper in Observador)

sábado, 6 de junho de 2015

Grécia:quando é que a história acaba?

A Grécia tinha esta sexta-feira um pagamento ao Fundo Monetário Internacional, e esperava-se que não pagasse. Era a bancarrota, o fim da saga. A Grécia, de facto, não pagou. Mas nem por isso houve bancarrota. Mais uma vez. Nos últimos meses, o governo grego lá foi arranjando dinheiro, e os seus credores lá foram arranjando paciência. A saga continua.
O pior, para o Syriza, é que, dentro da Grécia, a sua chegada provocou a mais perigosa de todas as revoltas: a dos contribuintes e aforradores. Os contribuintes (um terço dos quais são trabalhadores por conta própria, e portanto menos vulneráveis ao fisco), começaram a deixar de pagar impostos, e os aforradores a tirar o dinheiro dos bancos
Quanto à UE, o seu problema não é a Grécia, mas a sua própria concepção do Euro. A Grécia representa 2% da economia da zona Euro, e não pesa especialmente no comércio de nenhum dos seus membros (para as exportações alemãs, a Grécia é menos importante do que o Luxemburgo).
(isto é)
Não deveria ser mais do que um problema humanitário. 

Não vale a pena tentar adivinhar os próximos capítulos. Como é típico destes processos de procrastinação e de arrastamento, quando o inevitável acontecer, será sempre uma surpresa. ( Rui Ramos in Observador.pt )

quarta-feira, 3 de junho de 2015

as nove “garantias” da coligação

1. Garantimos que Portugal não voltará a depender de intervenções externas e não terá défices excessivos.
2. Garantimos, no que de nós depender, uma legislatura de crescimento económico robusto e gerador de emprego. A nossa ambição é criar condições para um crescimento económico médio de 2% a 3% nos próximos 4 anos.
3. Garantimos, dentro do que está ao alcance de um Governo, uma legislatura em que a redução continuada do desemprego seja a prioridade máxima. A nossa ambição é que o desemprego em Portugal, baixe, pelo menos, para a média europeia.
4. Garantimos a eliminação progressiva da sobretaxa de IRS e a recuperação gradual do rendimento dos funcionários públicos. A nossa proposta é viável; outras, não o são.
5. Garantimos que as reformas na Segurança Social serão feitas por consenso e respeitarão a jurisprudência do Tribunal Constitucional. Lançaremos um novo programa ambicioso de redução da pobreza.
6. Garantimos um Estado Social viável e com qualidade. Disso é exemplo um Serviço Nacional de Saúde universal e geral que proporcione um médico de família a todos os portugueses.
7. Garantimos que pugnaremos pela inscrição na Constituição um limite à dívida pública. Assim se defende o presente e o futuro de Portugal.
8. Garantimos que a próxima legislatura dará particular importância às questões da demografia, da qualificação das pessoas e da coesão do território.

9. Garantimos um Estado mais justo e eficiente, queremos uma sociedade com maior autonomia e liberdade de escolha”.