domingo, 11 de março de 2007

Se fosse uma marca seria 'Sandeman' …

… mas chamam-lhe 'o man'
Que é feito do bocejo do Mário Soares, da irritação de Cavaco Silva, das tempestades de alma de Sá Carneiro? Procura-se o defeito mas o que se encontra em José Sócrates é "o esforço pela perfeição", refere o jornalista Vicente Jorge Silva, que o define como o mais profissional dos políticos portugueses no sentido americano do termo. Pela disciplina, pela contenção. "Tão disciplinado que "soa a postiço", não fosse o descontrolo que às vezes lhe escapa e acaba por fazer sentido às pessoas", conclui, referindo essa "falha" como o efeito humanizador da personagem.
A americanização de que fala o jornalista nunca foi dissimulada, antes assumida na colagem a John Kennedy, lembra o psiquiatra Carlos Amaral Dias. Sócrates não terá o lado trágico, sublinha, mas tem Kennedy presente. Sobretudo numa frase nunca dita mas é sempre sugerida nas suas intervenções, adaptada à realidade portuguesa. "Não perguntes o que a América pode fazer por ti, mas o que podes fazer pela América".


"Em Sócrates", diz Amaral Dias, "a proximidade é um after-efect. Efeito secundário de quem cultiva a distância e a tempera com uma boa dose de segurança. Isso faz um estilo que não é o do sedutor, "qualidade mais aplicada aos populistas", mas o de alguém "capaz de pôr o país nos eixos, poderoso organizador" que mostra a crise mas "aponta a luz ao fundo do túnel, diferente discurso da tanga de Durão Barroso". O diagnóstico continua a ser de Amaral Dias e não tem por base o guarda-roupa do primeiro-ministro, onde Vicente Jorge Silva nota evolução. "É um homem Boss. Veste uns fatos bem cortados e corrigiu alguns erros. Antes não abotoava os casacos. Agora só usa fatos de dois botões e faz questão de apertar um. Usa-os sempre com gravatas lisas." Tudo encaixa na personagem que o jornalista traduz num livro: Sociedade pós--capitalista, do guru da gestão Peter Drucker. "Uma coisa que parece marxista mas com teorias da sociedade do conhecimento."

Não se constrói uma marca assim. "Para construir uma marca tenho de ter 30 fatos e 30 gravatas diferentes. É o que distingue a música pimba de uma sinfonia. Ou, em branding, o shrink do stretch, ou seja, as marcas comuns e as que fazem a diferença, inovadoras. Sócrates será um caso de shrink" muito bem construído, com identificadores, mas pouca flexibilidade." Será mesmo assim?, interroga-se, "Será que quando chega a casa arruma o pijama? Se não é, um dia isso vem acima."
Mas para o jornalista, o político tem a lição estudada. Bom aluno, ao contrário do errático Santana, prepara tudo, incluindo o gesto. Até o sorriso é figè, congelado. "Essa imagem tão articulada explica-se pela necessidade de transmitir segurança e resulta de grande disciplina. É quase japonês no domínio do corpo e da mente."

Vale a pena ler a versão completa em :
http://dn.sapo.pt/2007/03/11/tema/se_fosse_marca_seria_sandeman_chamam.html
DN 11Mar07