… mas chamam-lhe 'o man'
Que é feito do bocejo do Mário Soares, da irritação de Cavaco Silva, das tempestades de alma de Sá Carneiro? Procura-se o defeito mas o que se encontra em José Sócrates é "o esforço pela perfeição", refere o jornalista Vicente Jorge Silva, que o define como o mais profissional dos políticos portugueses no sentido americano do termo. Pela disciplina, pela contenção. "Tão disciplinado que "soa a postiço", não fosse o descontrolo que às vezes lhe escapa e acaba por fazer sentido às pessoas", conclui, referindo essa "falha" como o efeito humanizador da personagem.
A americanização de que fala o jornalista nunca foi dissimulada, antes assumida na colagem a John Kennedy, lembra o psiquiatra Carlos Amaral Dias. Sócrates não terá o lado trágico, sublinha, mas tem Kennedy presente. Sobretudo numa frase nunca dita mas é sempre sugerida nas suas intervenções, adaptada à realidade portuguesa. "Não perguntes o que a América pode fazer por ti, mas o que podes fazer pela América".
…
"Em Sócrates", diz Amaral Dias, "a proximidade é um after-efect. Efeito secundário de quem cultiva a distância e a tempera com uma boa dose de segurança. Isso faz um estilo que não é o do sedutor, "qualidade mais aplicada aos populistas", mas o de alguém "capaz de pôr o país nos eixos, poderoso organizador" que mostra a crise mas "aponta a luz ao fundo do túnel, diferente discurso da tanga de Durão Barroso". O diagnóstico continua a ser de Amaral Dias e não tem por base o guarda-roupa do primeiro-ministro, onde Vicente Jorge Silva nota evolução. "É um homem Boss. Veste uns fatos bem cortados e corrigiu alguns erros. Antes não abotoava os casacos. Agora só usa fatos de dois botões e faz questão de apertar um. Usa-os sempre com gravatas lisas." Tudo encaixa na personagem que o jornalista traduz num livro: Sociedade pós--capitalista, do guru da gestão Peter Drucker. "Uma coisa que parece marxista mas com teorias da sociedade do conhecimento."
…
Não se constrói uma marca assim. "Para construir uma marca tenho de ter 30 fatos e 30 gravatas diferentes. É o que distingue a música pimba de uma sinfonia. Ou, em branding, o shrink do stretch, ou seja, as marcas comuns e as que fazem a diferença, inovadoras. Sócrates será um caso de shrink" muito bem construído, com identificadores, mas pouca flexibilidade." Será mesmo assim?, interroga-se, "Será que quando chega a casa arruma o pijama? Se não é, um dia isso vem acima."
Mas para o jornalista, o político tem a lição estudada. Bom aluno, ao contrário do errático Santana, prepara tudo, incluindo o gesto. Até o sorriso é figè, congelado. "Essa imagem tão articulada explica-se pela necessidade de transmitir segurança e resulta de grande disciplina. É quase japonês no domínio do corpo e da mente."
Vale a pena ler a versão completa em :
http://dn.sapo.pt/2007/03/11/tema/se_fosse_marca_seria_sandeman_chamam.html
DN 11Mar07
Que é feito do bocejo do Mário Soares, da irritação de Cavaco Silva, das tempestades de alma de Sá Carneiro? Procura-se o defeito mas o que se encontra em José Sócrates é "o esforço pela perfeição", refere o jornalista Vicente Jorge Silva, que o define como o mais profissional dos políticos portugueses no sentido americano do termo. Pela disciplina, pela contenção. "Tão disciplinado que "soa a postiço", não fosse o descontrolo que às vezes lhe escapa e acaba por fazer sentido às pessoas", conclui, referindo essa "falha" como o efeito humanizador da personagem.
A americanização de que fala o jornalista nunca foi dissimulada, antes assumida na colagem a John Kennedy, lembra o psiquiatra Carlos Amaral Dias. Sócrates não terá o lado trágico, sublinha, mas tem Kennedy presente. Sobretudo numa frase nunca dita mas é sempre sugerida nas suas intervenções, adaptada à realidade portuguesa. "Não perguntes o que a América pode fazer por ti, mas o que podes fazer pela América".
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"Em Sócrates", diz Amaral Dias, "a proximidade é um after-efect. Efeito secundário de quem cultiva a distância e a tempera com uma boa dose de segurança. Isso faz um estilo que não é o do sedutor, "qualidade mais aplicada aos populistas", mas o de alguém "capaz de pôr o país nos eixos, poderoso organizador" que mostra a crise mas "aponta a luz ao fundo do túnel, diferente discurso da tanga de Durão Barroso". O diagnóstico continua a ser de Amaral Dias e não tem por base o guarda-roupa do primeiro-ministro, onde Vicente Jorge Silva nota evolução. "É um homem Boss. Veste uns fatos bem cortados e corrigiu alguns erros. Antes não abotoava os casacos. Agora só usa fatos de dois botões e faz questão de apertar um. Usa-os sempre com gravatas lisas." Tudo encaixa na personagem que o jornalista traduz num livro: Sociedade pós--capitalista, do guru da gestão Peter Drucker. "Uma coisa que parece marxista mas com teorias da sociedade do conhecimento."
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Não se constrói uma marca assim. "Para construir uma marca tenho de ter 30 fatos e 30 gravatas diferentes. É o que distingue a música pimba de uma sinfonia. Ou, em branding, o shrink do stretch, ou seja, as marcas comuns e as que fazem a diferença, inovadoras. Sócrates será um caso de shrink" muito bem construído, com identificadores, mas pouca flexibilidade." Será mesmo assim?, interroga-se, "Será que quando chega a casa arruma o pijama? Se não é, um dia isso vem acima."
Mas para o jornalista, o político tem a lição estudada. Bom aluno, ao contrário do errático Santana, prepara tudo, incluindo o gesto. Até o sorriso é figè, congelado. "Essa imagem tão articulada explica-se pela necessidade de transmitir segurança e resulta de grande disciplina. É quase japonês no domínio do corpo e da mente."
Vale a pena ler a versão completa em :
http://dn.sapo.pt/2007/03/11/tema/se_fosse_marca_seria_sandeman_chamam.html
DN 11Mar07