sábado, 1 de março de 2008

Eles sabem que mentem...


Não tenhamos dúvidas: não faltam profissionais da comunicação social dispo­níveis para adular um Governo e um primeiro-ministro que prometem ficar pelo menos até 2013. A atracção pelo poder talvez não atinja alguns jornalistas mais jovens, que seguiram uma vocação e alimentam ainda ingénuas ilusões, como pode não produzir efeitos nessa última geração de resistentes formados naquilo que Batista-Bastos definiu como a velha escola da notícia, nomeadamen­te nos que não almejam ou já renunciaram a uma carreira bem sucedida. Só o ca­rácter ou a frustração nos tomam implacáveis com os poderosos.
Sigo o exemplo de Marinho Pinto e não concretizo. Mas basta um olhar atento sobre a matéria publicada para se descobrir quem rega a rosa. Até por­que existe uma interessante estratégia socialista que tem proporcionado exce­lentes resultados: a da antecipação das tempestades, trazendo para a opinião pública já hoje, propositadamente distorcida e com um enfoque mais doce, a bomba que se descobriu ir reben­tar amanhã. Enquanto uns inves­tigam, outros, alertados pelos vi­sados, atamancam a coisa e dão a versão romântica do problema. Chegar antes, para deitar poeira para os olhos e fazer uma barulheira que confunda os ouvidos, é o segredo da brigada das minas do PS.
Tiro o chapéu ao arquitecto deste monumento de contra-informação. Por­que se não é difícil encontrar os papagaios de Sócrates, mais fácil ainda é desco­brir os empenhados em fazer com que a rosa murche. São menos hábeis, por vezes tacanhos, e merecem que a máquina de propaganda ao serviço do poder retire impacto às suas campanhas de destruição em massa. Como a miserável perseguição feita ao ministro Correia de Campos, defendendo para isso hospi­tais e maternidades da treta, com bons profissionais e maravilhosas paredes, mas onde se morria por falta de qualidade técnica no socorro. Eles sabiam que men­tiam e mentiram. Ou como a história dos mamarrachos da Guarda - iguais a mi­lhares de outros espalhados por aí e que todos nós ampliamos na santa terri­nha para lá caber a família inteira no convívio saloio - apresentados em fotos abundantes como se tivessem origem no mau gosto de José Sócrates.
Eles sabiam que mentiam e mentiram. Justificaram, assim, o soberbo con­tra-ataque da demagogia barata, tanto o que obriga os empresários que cons­truíram o restaurante no alto do Parque Eduardo VII a entregá-lo ao Estado, a custo zero, como o que retira ao Casino Lisboa um edifício pelo qual pagou e pagou bem. Ou o do arraial dos 300 despachos numa noite, que foram, afinal, dúzia e meia de louvores. A guerra à classe política está aberta - e atrás dos ca­nhões senta-se outra tropa, mais irresponsável e com menos vergonha. In Sábado 199 – Alexandre Pais