As garras do telemóvel
Estamos a produzir uma sociedade inculta, egoísta, medrosa, narcísica, cujas referências maiores são o consumismo.
Ainda bem que naquela sala de aula da escola Carolina Michaelis estava um alarve que, perdido de gozo, filmou a cena de violência entre a ‘velha’, como ele lhe chamava, e a aluna que se atirou à professora por esta lhe ter retirado o telemóvel durante uma lição.
Ainda bem que estas imagens foram para a internet, para a televisão, para os jornais.
Ainda bem que se ouviram as gargalhadas de uma turma que ululava aos gritos histéricos da rapariga, enquanto o alarve, danado de gozo, filmava e gritava para a ‘gorda’ se afastar para produzir melhores imagens.
Ainda bem que vimos alguns alunos procurando ajudar a professora para não se concluir que, em vez de uma escola, estamos num território dominado por um gang.
É a evidência daquilo que há muito tempo se conhece. Em muitas escolas, um professor que entra numa sala de aula candidata-se a entrar num filme de terror.
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O telemóvel tornou-se o símbolo e o mito de uma sociedade tecnologicamente avançada. Mas vazia de humanismo, de sentido de existência, de fome de liberdade. Os Hunos que vimos em acção na Carolina Michaelis são nossos, nascidos da nossa ignorância tecnologizada, da nossa consciência democrática feita com pés de barro e minada por atavismos. De facto, iludidos que andámos muito, estamos a produzir desilusão e pesadelos. E o direito ao sonho?Onde é que pára? CM 230803 Francisco Moita Flores, Docente Universitário