a “instalação do medo” que se vai criando na sociedade portuguesa com o “caso Charrua”, a ida da polícia aos sindicatos perguntar quem é que vai às manifestações e com “as leis sobre o tabaco, sobre os piercings, sobre isto e sobre aquilo”.
O Governo e o Partido Socialista parecem atacados de um furor proibicionista. O que recordaremos dos anos socráticos” no futuro será a luta incessante das autoridades contra a colher-de-pau, o chouriço artesanal, a mousse de chocolate “caseira”, o fumo passivo e a falta de tolerância pelas piadolas ao primeiro-ministro.
Durante quarenta anos Portugal viveu um regime repressivo e policial, mas as memórias que hoje mais perduram da longa noite salazarista são a proibição de uso e porte de isqueiro sem licença ou o impedimento das mulheres saírem para o estrangeiro sem autorização do marido. São as coisas que nos tocam pessoalmente, que afectam a nossa liberdade pessoal, as que mais recordamos. Não tanto pelo medo salazarista, no caso do “socratismo”, mas pelo insuportável abelhudismo.
in José Júdice in Metro quarta-feira, 19 de Março de 2008