terça-feira, 28 de outubro de 2025

O Bloco: funeral de uma flotilha ideológica

Os comentadores politicamente correctos estão em comoção com a saída de Mariana Mortágua da liderança do Bloco de Esquerda. Fala-se em “recomposição”, em “liderança alternativa”, em “sobrevivência de um projecto de esquerda radical”. É comovente. Só falta distribuírem lenços de papel e cartazes com “Free BE”.
Mas há uma diferença entre um partido com dificuldades e um partido que nasceu programado para implodir. O Bloco nunca foi um partido democrático no sentido liberal ou pluralista da palavra. Foi, desde o primeiro minuto, uma coligação ideológica de extrema-esquerda, com uma matriz totalitária assumida — trotskistas, maoistas e comunistas reciclados que nunca engoliram bem a queda do Muro de Berlim.
Os que hoje fingem surpresa perante a decadência do Bloco são muitas vezes os mesmos que, durante duas décadas, trataram este partido como “voz progressista da sociedade civil”, fechando os olhos às suas simpatias por ditaduras de manual — da Cuba castrista à Venezuela chavista.
Nos últimos anos, a agenda política do Bloco foi sendo substituída por um activismo de cartaz, mais preocupado em defender terroristas do que trabalhadores portugueses. Da Palestina a Cuba, passando pela “Flotilha da Liberdade”, os bloquistas converteram-se em operadores de propaganda internacional, frequentemente financiados por redes nebulosas de ONG’s alinhadas com interesses bem menos “românticos” do que proclamam.
Não é difícil perceber porque razão há tanto interesse em “flotilhas de luxo” e “missões humanitárias” muito bem financiadas: a política de extrema-esquerda contemporânea vive tanto de performance mediática quanto de convicções ideológicas. Mas quem paga a conta dessas férias revolucionárias? Essa pergunta costuma desaparecer do radar dos jornalistas sempre prontos a retratar estes “activistas” como mártires das causas justas.

Não é ser fiel à realidade escrever sobre o Bloco sem dizer o óbvio: este é um partido abertamente hostil à ordem democrática liberal. Idolatra regimes onde não há liberdade de imprensa, onde os opositores são presos e onde a economia é controlada por burocracias ideológicas. A diferença é que, em Portugal, aprenderam a usar a democracia — que desprezam — para ganhar tempo de antena e subvenções parlamentares.
Quando se aliaram ao Partido Socialista, não foi para moderar-se. Foi para condicionar políticas públicas a partir de dentro, impondo agendas ideológicas radicais, sem ter de enfrentar o incómodo de governar. Agora, que perderam peso eleitoral e capacidade de chantagem, voltam ao que sempre foram: uma minoria barulhenta e auto-referencial.
Os bloquistas têm sempre uma explicação para as derrotas: foi o mundo que virou à direita, foi a campanha, foi o patriarcado, foi o imperialismo… nunca são eles. O comentador Miguel Santos Carrapatoso escreve que “os eleitores deixaram de os compreender”. Não. O país compreendeu demasiado bem. Compreendeu que gritar “prende que é fascista” ou “Free Palestine” não resolve problemas de segurança, de habitação ou de salários.
A extrema-esquerda portuguesa esqueceu-se de que não existe povo real no país imaginário da sua retórica. E quando um partido se fecha no eco das suas convicções, acaba inevitavelmente a falar sozinho. É exactamente o que está a acontecer com o Bloco.
A eventual morte política do Bloco não é uma tragédia — é a normalização da política portuguesa. Quando partidos que defendem ditaduras, que hostilizam a economia de mercado e que vivem de slogans perdem peso, a democracia agradece.
O que virá a seguir? Talvez algumas reuniões em cafés alternativos, umas “ocupações” para os fiéis e umas crónicas indignadas no Observador e na SIC Notícias. A esquerda radical sempre foi perita em funerais simbólicos — e este, ironicamente, será o único com alguma coerência.
“O Bloco não desaparece. Regressa simplesmente à sua verdadeira dimensão: minoria ruidosa e ideologicamente fossilizada.”