sábado, 4 de outubro de 2025

Há que devolver à discussão pública algo que há décadas vinha sendo abafado

A existência de “um Sistema”, transversal às várias fases da nossa história contemporânea — O Sistema da Primeira República, o Sistema do Estado Novo e o Sistema actual, herdeiro directo do PREC e do anti-PREC, consolidado depois do 25 de Novembro, quando o poder político foi entregue ao Centrão (PS-PSD) e o poder cultural e mediático à esquerda antifascista.

Jaime Nogueira Pinto lança hoje no Observador um dos raros exercícios de lucidez histórica e política que expõe, com serenidade e rigor, a continuidade subterrânea de um Sistema que sobreviveu a todas as “rupturas” aparentes do século XX português.
Da Primeira República ao Estado Novo, e deste ao regime actual, o autor mostra como o poder político e cultural se adaptou, reciclou e protegeu, sempre à margem do verdadeiro soberano: o povo.

Incómodo porque denuncia a ilusão da alternância democráticao eterno revezar entre PS e PSD — como mera gestão interna do mesmo Sistema, que herdou do PREC e do anti-PREC a sua engenharia de controlo e domesticação social: instituições capturadas, comunicação social alinhada, elites auto-reprodutivas e um discurso moralista que legitima tudo o que vem “da esquerda antifascista”.

Ao recordar o Sistema da Primeira República, feito de manipulação eleitoral e arrogância intelectual; o Sistema do Estado Novo, feito de autoridade e desenvolvimento controlado; e o Sistema actual, feito de propaganda “democrática” e censura moral disfarçada de pluralismo, o texto faz algo notável: liga as três fases num mesmo fio histórico, mostrando que os donos do poder sempre mudaram de nome, mas raramente de natureza.

É precisamente esse fio que explica o fenómeno político contemporâneo: o despertar de uma maioria popular cansada, que já não aceita o monopólio moral da esquerda nem a falsa moderação do Centrão.
Não é a “extrema-direita” que ameaça o regime; é o povo, finalmente a reclamar o direito de existir politicamente fora do Sistema.

Uma analise histórica, corajosa e intelectualmente honesta, que desmonta o mito da “nova democracia” e prova que em Portugal, o regime mudou de forma, mas o Sistema permaneceu.
Mas a pergunta final continua a ecoar:
Onde está o povo?