Durante o serão, à medida que os resultados esmagavam as esquerdas e se tornavam cada vez mais indesmentíveis, desfilavam criaturas nos canais televisivos lastimando as eleições. (...) São criaturas que, em bom rigor, nos dizem assim: a democracia e a liberdade política servem para vocês votarem em nós. (Margarida Bentes Penedo)
As eleições do passado 18 de Maio foram mais do que uma votação — foram um grito. Um grito vindo de milhões de portugueses que há muito deixaram de se rever nos partidos do sistema e na elite mediática que os protege. Foi o momento em que os donos do poder — os que dominam jornais, televisões, partidos tradicionais — perceberam, atónitos, que o país real já não os segue. E, pior ainda, não os teme.
Mas não entenderam porquê. Não compreendem quem votou diferente. Não querem saber. E, acima de tudo, não respeitam.
A mudança não foi feita por eles. Não foi autorizada, nem anunciada nos editoriais, nem encomendada em sondagens manipuladas. Foi feita pelas pessoas comuns — aquelas que foram ignoradas, gozadas e reduzidas a caricaturas. E isso, para quem vive do conforto do sistema, é insuportável.
O país mediático reage como sempre: com desdém e arrogância. Herdou da velha esquerda um vício antigo — o de achar que só ela tem o direito de mudar o país. A esquerda acredita que só o Estado, sob o seu comando, pode transformar a sociedade. E qualquer transformação que venha de fora, ou pior, contra ela, é vista como ilegítima. Um erro a corrigir. Um perigo a silenciar.
É por isso que ignoram esta mudança. É por isso que a insultam. Porque não lhes pertence.
Mas esta mudança é real. É profunda. E é só o começo.