quarta-feira, 7 de maio de 2025

Estão a fazer de nós parvos! O que efetivamente mudou?

Desde há cerca de um ano, que o Chega tem sido o partido mais veemente na defesa do controlo rigoroso da imigração em Portugal. André Ventura acusou recorrentemente o Governo de “eleitoralismo” por não levar a sério propostas como quotas de entrada ou referendos sobre imigração, sublinhando que “estávamos a atingir números impossíveis de sustentar para o país” e que o Chega temia este tema sozinho no Parlamento. Nessa altura, tanto deputados dos alegados partidos tradicionais como comentadores e “auto-denominados jornalistas” acusaram o Chega de xenofobia e racismo, isolando-o no debate público.

Mas no passado dia 3 de maio de 2025, o líder do PSD, Luís Montenegro, anunciou publicamente que “os imigrantes ilegais vão ter de sair de Portugal”, referindo-se a um primeiro grupo de 4 574 cidadãos estrangeiros notificados para abandonar o território nacional, entre um total de 18 000 indeferimentos já decididos pelo SEF. Esta declaração marca uma clara aproximação às propostas que até aqui eram exclusivas do Chega, numa área onde o PSD se mantivera reticente.
Vários elementos explicam esta mudança de postura. Em primeiro lugar, os números oficiais vieram intensificar a percepção de crise: o aumento substancial de pedidos de autorização de residência e as notificações para saída voluntária estão a alimentar uma narrativa de “pressão migratória insustentável”. Em segundo lugar, dados de sondagens recentes — que colocam a imigração como uma das principais preocupações dos eleitores — colocam pressão sobre o PSD para não perder votos para o Chega.

Com as eleições legislativas agendadas para 18 de Maio, o PSD tem apelado ao “voto útil” na Aliança Democrática, argumentando que só assim se evitará um governo frágil e “arrependimentos” num eventual dia seguinte às eleições. Ao adotar o tema da imigração, Montenegro procura não só esvaziar o discurso do Chega, mas também consolidar a imagem de partido que “ouve o país” e se adapta rapidamente às prioridades sentidas pelos eleitores.
Este reposicionamento do PSD suscitou críticas por parte de adversários políticos que acusam Montenegro de “trumpetizar” o seu discurso — numa alusão ao estilo populista de Donald Trump — e de normalizar posições anteriormente marginalizadas como xenófobas. Observadores destacam que a adoção destas teses de segurança e controlo reforça um padrão em que partidos tradicionais absorvem agendas de extrema-direita para reter eleitores numa corrida ao centro-direita radical.

O que efetivamente mudou?
A consolidação deste eixo PSD–Chega em torno da imigração tende a deslocar o debate político para a direita, diminuindo a voz de propostas de integração e solidariedade que também ganharam terreno em anos recentes. Ao ver o seu discurso legitimado por um grande partido, Ventura poderá usar a sua posição para exigir mais medidas duras, sabendo que, qualquer que seja a iniciativa legal, o PSD dificilmente resistirá.
O que mudou foi sobretudo a percepção de urgência política: o PSD sentiu-se pressionado pelos números e pelas sondagens, e reagiu para não perder terreno eleitoral para o Chega. Ao fazê-lo, transformou um tema até aqui visto como domínio de um partido marginal num ponto central da sua campanha. A verdadeira batalha política passou, assim, de um confronto ideológico PSD vs. PS para um embate directo PSD vs. Chega na agenda da imigração — e não mais apenas na “linha vermelha” que Montenegro traçava contra a "extrema-direita".