Aníbal Cavaco Silva deu esta semana um apoio público a Luís Montenegro que, de facto, não teve em nenhum dos dois líderes do PSD anteriores — Durão Barroso e Pedro Passos Coelho — nas campanhas em que saíram vencedores.
Numa entrevista à Rádio Renascença no dia 2 de maio, afirmou que, após “uma análise cuidada”, concluiu que Luís Montenegro “tem qualidades claramente superiores em matéria de competência técnica e política, em matéria de capacidade de liderança do Governo e de defesa dos interesses portugueses na União Europeia” e que “não fica atrás de nenhum dos outros líderes partidários no que se refere à dimensão ética na vida política”– Prometeu também publicar brevemente um texto onde explicará em detalhe os fundamentos dessa avaliação.
Porque para Cavaco Silva que foi líder histórico do PSD e Presidente da República o seu silêncio — ou neutralidade — costumava ser norma em campanhas internas ou legislativas, um pronunciamento tão claro traduz, por isso, uma preocupação atípica com o desfecho eleitoral.
O apoio de Cavaco serve como um contrapeso direto a essas críticas, dando-lhe um selo de aprovação ética vindo da “casa-mãe” do partido.
Embora a previsão seja de vitória de Montenegro, o seu reforço junto dos indecisos e demais eleitores de centro-direita pode ser decisivo para assegurar uma maioria estável e limitar ganhos de partidos como o Chega.
Comparando com
Barroso e Passos Coelho
Durão Barroso (2002, 2004): Cavaco tinha sido então Primeiro-Ministro (1985–1995) e, como Presidente da República (2006–2016), manteve distância das campanhas internas do PSD e não fez declarações públicas de apoio a Barroso nas legislativas de 2002 ou 2004.
Pedro Passos Coelho (2011): Tal como Barroso, beneficiou de redes de influência, mas nunca de um endosso pessoal tão explícito de Cavaco enquanto Presidente ou, depois, como ex-chefe de Estado.
O que isto nos
diz sobre a percepção interna do PSD?
A disponibilidade de Cavaco para
intervir num momento de campanha sugere que, internamente, há receio de que a
AD se fragilize face às controvérsias recentes.
Ao destacar “competência”,
“liderança” e “ética”, ele tenta consolidar o eleitorado mais tradicional do
PSD e, simultaneamente, apelar a independentes e moderados que possam hesitar
devido ao caso Spinumviva ou ao reforço do Chega.