sábado, 31 de maio de 2025
Gouveia e Melo é uma enorme ameaça para Ventura
quarta-feira, 28 de maio de 2025
terça-feira, 27 de maio de 2025
O pior cego!
segunda-feira, 26 de maio de 2025
domingo, 25 de maio de 2025
PS e AD: a pressa do centrão que atropela o voto popular
A 18 de Maio, os eleitores portugueses enviaram um segundo recado claro às forças políticas. O veredicto das urnas foi severo para o Partido Socialista (PS), que sofreu uma das piores derrotas da sua história recente, e consagrou a coligação de centro-direita Aliança Democrática (AD) como vencedora, pela segunda vez embora minoritária . Num cenário político fragmentado — com o partido CHEGA a conseguir um resultado histórico ultrapassando em deputados ao PS — esperava-se que os principais partidos fizessem uma pausa para reflectir. De facto, nas horas seguintes ao desaire, vários dirigentes socialistas falaram da necessidade de «reflexão profunda, lúcida e fria». Porém, na prática, essa reflexão ficou pelo caminho. O PS optou pela pressa, saltando «directo para os braços do primeiro candidato» disponível para a liderança, sem debate interno significativo. Assim, menos de uma semana após a derrota, o PS já tinha um novo líder oficioso e braços abertos à colaboração com a AD — um movimento que, na perspectiva de muitos, ignora a vontade popular expressa nas urnas.
Essa rapidez em alinhar com a força vencedora levanta
suspeitas justificadas. Afinal, não terá o eleitorado votado por uma mudança
de rumo? Em vez de autocrítica, o PS apressou-se a garantir status quo
e manutenção de poder nos bastidores, indicando disponibilidade imediata
para viabilizar o Governo alheio. Ao fugir à introspecção pós-eleitoral
e concentrar-se em arranjos rápidos, o partido acaba por desrespeitar os
eleitores — tanto os que o castigaram como os que nele confiaram esperando
oposição firme às políticas de direita.
O «centrão» ressuscitado e a pluralidade ignorada
Por detrás desta aproximação expedita entre PS e AD está a velha tentação do centrão: um entendimento confortável entre os grandes partidos, à revelia da diversidade de escolhas feitas pelos eleitores. Francisco Assis, por exemplo, defendeu que «PS e AD têm de dialogar para garantir estabilidade. Fernando Medina insistiu que os socialistas devem viabilizar a entrada em funções do novo Executivo, impondo apenas condições mínimas. Instalou-se, pois, no Largo do Rato, a doutrina de privilegiar acordos de bastidores, apresentando-os como «sentido de responsabilidade».
O problema é que estes consensos artificiais no topo
representam um pacto dos derrotados e vencedores para manterem o jogo entre si,
ignorando a pluralidade do voto popular. Forçar agora um entendimento
PS-AD — que não foi sufragado explicitamente — arrisca trair o espírito de
protesto e mudança. A vontade popular torna-se secundária quando as
cúpulas decretam que «o povo não sabe o que quer» e que o melhor é os do
costume entenderem-se uns com os outros.
Importa lembrar que a democracia portuguesa vive hoje de uma
crescente diversidade de opiniões. Ignorar essa diversidade pode ser
perigoso. Ao reagrupar-se num centrão formal, PS e AD enviam o sinal
de que pouco mudou. Não surpreende que André Ventura denuncie esse bloco
central e colha dividendos do descontentamento anti-sistema É exactamente este o risco: ao
atropelar o voto popular e isolar vozes emergentes, PS e AD podem estar a
alimentar o monstro que dizem querer conter. Miguel Prata Roque já classificou
estes arranjos como «consensos balofos» — verdadeiras mordaças ao
debate interno e externo.
Liderança entregue de bandeja: JLCarneiro e a sobrevivência do PS
A forma como José Luís Carneiro foi guindado a líder do PS
em tempo recorde ilustra a tentativa de sobrevivência política a todo o
custo. Horas após a demissão de Pedro Nuno Santos, Carneiro fez saber estar
disponível para assumir as rédeas socialistas. Em poucos dias, potenciais
concorrentes — Mariana Vieira da Silva, Fernando Medina, Ana Catarina Mendes,
Duarte Cordeiro — desistiram, deixando-o sozinho na corrida, em nome da
tão apregoada «unidade». Resultado: um líder aclamado e não eleito,
escolhido pelas elites em pânico.
Com Carneiro ungido pela máquina partidária, sem oposição
interna, o PS sinaliza continuidade e não ruptura. Vozes críticas internas
lembram que «falta de unidade não reconcilia o PS com os eleitores». Ao
presumir que basta um verniz de união e alguns acenos ao centro para recuperar
votos, a elite socialista arrisca desrespeitar novamente o eleitorado.
Logo nos primeiros dias, Carneiro declarou-se pronto a «contribuir
para a estabilidade política do país», abrindo os braços à AD. Carlos César
foi ainda mais longe: «O natural é que o Partido Socialista viabilize este
Governo». Traduzindo: o PS adoptará uma oposição de fachada, garantindo que a
AD não cai — desde que preserve influência nas grandes questões nacionais. É
uma doutrina de sobrevivência que põe a conveniência política acima da
renovação programática ou do respeito pela alternância ditada pelas urnas.
O preço de ignorar o eleitorado
Em democracia, contornar o veredicto popular é sempre um
jogo perigoso. Ao desvalorizar a vontade expressa em 18 de Maio, PS
e AD aprofundam a frustração de largas faixas do eleitorado. Muitos portugueses
sentem que votam, mas «eles» fazem sempre o que querem; se virem agora um bloco
central a governar, crescerá a percepção de que o voto pouco importa — e
isso só alimentará quem capitaliza o descrédito no sistema.
Uma governação equilibrada exige diálogos, mas não à
custa da pluralidade. O PS tem o direito de se recentrar, mas deveria
fazê-lo respeitando os seus processos democráticos internos e, sobretudo, o
papel que os eleitores lhe destinaram: o de oposição. A AD, sem maioria
absoluta, deve formar acordos que reflictam a mudança exigida pelos seus
votantes, não apenas o medo partilhado do crescimento do Chega. Se PS e AD
optarem pelo caminho fácil do conluio, estarão, na prática, a dizer aos
cidadãos que as eleições de pouco serviram — traindo o voto popular e
enfraquecendo a democracia.
O comportamento de PS e AD após 18 de Maio merece crítica
dura. A democracia portuguesa prospera da saudável tensão entre governo e
oposição, e da alternância quando assim o povo o decide — nunca de acordos
de bastidores que silenciem essa vontade. No dia 18 de Maio, o povo falou;
ignorá-lo, como fazem PS e AD, não é liderança esclarecida nem moderação
responsável — é miopia política.
sábado, 24 de maio de 2025
Perfis dos Eleitores do PS, PSD, Chega, IL, BE e PCP em Portugal (2022–2025):
[1] Pedro Magalhães e João Cancela, "As bases sociais do novo sistema partidário português, 2022–2025"
[2] ICS/ISCTE, Sondagens à boca das urnas 2022 e 2024
[3] Magalhães, Pedro. Artigo sobre gender gap em Portugal (ICS 2023)
[4] Sondagem ICS/ISCTE (Educação e voto 2022–2024)
[5] Expresso, "Perfil do eleitor-tipo do PS" (2022)
[6] ICS/ISCTE, distribuição por sexo, idade e instrução (2022)
[7] Sondagens Legislativas 2022 (Pitagórica/ISCTE/ICS)
[8] CESOP/Universidade Católica, Tracking Poll 2024/2025
[9] Observador, "Mapa Eleitoral 2025" (Maio 2025)
[10] Lisi, Marco. Entrevista RTP (2024)
[11] Lisi, Marco. "Do PSD ao PS: migração de pensionistas" (ICS)
[12] SIC/Notícias, Perfil do eleitor do Chega (2022)
[13] ICS, Relatórios de voto segmentado por sexo e idade (2024/25)
[14] Sondagem Eurosondagem 2022 (perfil da IL)
sexta-feira, 23 de maio de 2025
a influencia futura do Partido CHEGA
· Conselho de Estado: Este órgão consultivo do
Presidente da República inclui membros eleitos pela Assembleia da República.
Com o aumento da representação parlamentar, o Chega poderá indicar membros para
este conselho.
· Juízes do Tribunal Constitucional (TC): Alguns
juízes do TC são eleitos pela Assembleia da República. A influência do Chega
poderá ser determinante na escolha desses
· Conselho Superior da Magistratura e Conselho Superior do Ministério
Público: Estes órgãos, responsáveis pela gestão e disciplina dos
magistrados, incluem membros eleitos pelo parlamento. O Chega poderá participar
ativamente nessas nomeações.
· Presidência do Conselho Económico e Social (CES): O
CES é um órgão de consulta do governo em matérias económicas e sociais. A
Assembleia da República tem um papel na sua composição, o que poderá permitir
ao Chega influenciar a escolha do seu presidente.
· Entidades reguladoras e outros órgãos independentes: A
nomeação de membros para entidades como a Entidade Reguladora para a
Comunicação Social (ERC) ou a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD)
envolve a Assembleia da República, oferecendo ao Chega oportunidades de
influência.
quinta-feira, 22 de maio de 2025
os donos do regime ainda não perceberam!
As Eleições Autárquicas em 2001
As Eleições Autárquicas em 2001 em Contexto Político Nacional
Desde
1995 António Guterres chefiava o Governo (XIV Constitucional) – primeiro com
maioria absoluta e, a partir de 1999, como governo minoritário. Nas
legislativas de Outubro de 1999 o PS obteve 115 deputados, empatando com a soma
dos restantes partidos no parlamento ; o Presidente Sampaio chegou a alertar que aquela
“tragédia” parlamentar acabaria por trazer instabilidade. O governo Guterres
passou a depender de acordos pontuais para aprovar o Orçamento, recorrendo a
negociações heterodoxas – ficou célebre, por exemplo, o acordo com um deputado
do CDS que exigiu apoios locais (uma fábrica de queijo Limiano) em troca de
abstenção, viabilizando os orçamentos de 2001/02 . Internamente, a liderança socialista encarava críticas
veladas: no congresso de Maio de 2001 Guterres foi reeleito secretário-geral
sem oposição, mas já se sentia no ar um “ar de fim de ciclo” . O próprio primeiro‑ministro reconhecia desgaste:
confidenciou a Sampaio que “o país zangou‑se comigo” e que precisava
“reconciliar-se com as pessoas” Ao longo de 2000/2001 o executivo foi abalado
por escândalos políticos (como o das chamadas “viagens‑fantasma” que envolveu
deputados e governantes) e por sucessivas renúncias ministeriais . Esse acúmulo de
controvérsias (e a forte oposição do PSD de Durão Barroso) criou um clima de
oposição ao governo dentro e fora do PS, preparando o terreno para a crise.
Resultados das Eleições
Autárquicas de 2001
…e António Guterres Anuncia a
Demissão
Na tarde de 17 de dezembro de 2001 Guterres anunciou formalmente que apresentaria ao Presidente da República o pedido de demissão do cargo de primeiro‑ministro. Na entrevista coletiva pós‑eleições, ele justificou que deixava o cargo “para evitar que o país caia num pântano político”. Guterres declarou ainda que não buscava vantagens pessoais, afirmando ter “no ambitions” e que sua decisão “o tranquiliza”. Segundo Guterres, prosseguir com um “governo de derrotados” seria danoso para a democracia e para o próprio Presidente. Em seguida, no Palácio de Belém, formalizou a renúncia perante o Presidente Jorge Sampaio. O anúncio ficou marcado por essa expressão do “pântano político”, que foi amplamente destacada na imprensa como símbolo do fim do XIV Governo Constitucional.
Impacto Imediato e
Consequências Políticas
A
demissão de Guterres teve desdobramentos rápidos. O Presidente Sampaio
dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições legislativas
antecipadas para 17 de março de 2002. O PS elegeu então Ferro Rodrigues como
novo líder e candidatou‑se ao pleito, mas foi derrotado pelo PSD de Durão
Barroso – que formou coligação com o CDS para governar. Assim, encerrava‑se o
ciclo do PS no poder iniciado em 1995. Na prática, a saída de Guterres pôs fim
ao XIV Governo Constitucional e deixou o PS na oposição nos anos seguintes. Quanto
ao próprio Guterres, ele distanciou‑se da política interna e dedicou-se à
carreira internacional: tornou‑se presidente da Internacional Socialista e,
pouco depois, Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, consolidando
sua projeção mundial. Em suma, o episódio provocou uma redefinição imediata do
mapa político (novas eleições e governo) e marcou o fim da era Guterres em
Portugal, dando lugar a nova liderança no PS e ao retorno do PSD ao Executivo.