sábado, 31 de maio de 2025

Gouveia e Melo é uma enorme ameaça para Ventura

Após leitura atenta ao artigo em epigrafe, hesitei apodar o comentador Miguel Pinheiro no Observador, entre uma Pitonisa de Delfos e o Tullius Detritus enviado especial de César…
Fiquei-me pelo Tullius por causa do César
O tratamento de imbecilidade dado aos milhão e meio de votantes do CHEGA é chocante!
.
“Numa frase: mesmo que não queira, e mesmo recebendo uma maioria de votos do PSD e do PS, Gouveia e Melo mobilizará também uma gigantesca fatia dos eleitores do Chega. E será visto pelos próprios como o Presidente deles.”
“André Ventura está indeciso sobre o que fazer nas presidenciais. Pode avançar como candidato para tentar segurar o eleitorado do Chega, mas há a hipótese de ser humilhado no dia do voto. Pode enviar um soldado raso para a campanha, mas fica com a certeza de que o resultado será uma pequena vergonha. Pode declarar o apoio a Gouveia e Melo, mas arrisca-se a ser ignorado ou, pior, rejeitado. A primeira hipótese é má, a segunda é péssima, a terceira é potencialmente catastrófica.”
“Gouveia e Melo mobilizará também uma gigantesca fatia dos eleitores do Chega. E será visto pelos próprios como o Presidente deles. “
“A partir de Março do próximo ano, esses 1,5 milhões de eleitores passarão a ter dois líderes, um formal e outro informal: no Palácio de São Bento, André Ventura; no Palácio de Belém, Gouveia e Melo.”

terça-feira, 27 de maio de 2025

O pior cego!

O negacionismo político em Portugal continua, e é notável como jornalistas e comentadores persistem em ignorar que o cenário mudou profundamente após as eleições legislativas de 18 de Maio. O país político já não é o mesmo, mas há ainda quem continue agarrado à ilusão de que é possível excluir ou isolar um partido que foi democraticamente validado pelas urnas. A tentativa obstinada de marginalizar o CHEGA revela uma incapacidade preocupante em compreender e aceitar a nova realidade política.

O CHEGA, legitimado pelos votos, terá inevitavelmente direito a lugares institucionais importantes. Entre estes cargos estão a primeira vice-presidência da Assembleia da República e a liderança de Comissões Parlamentares fundamentais, como a Comissão das Finanças e do Orçamento. Além disso, será incontornável a presença deste partido em diversos órgãos essenciais ao funcionamento e supervisão democrática do Estado português. Refiro-me especificamente aos Conselhos Superiores de Segurança Interna, de Defesa Nacional, da Magistratura Judicial e do Ministério Público, bem como à fiscalização dos serviços secretos (SIS e SIRD).

Negar estas realidades não é apenas uma manifestação de incompreensão política, mas também um acto antidemocrático. Gostar ou não das opções políticas do CHEGA é uma questão pessoal e legítima; porém, negar-lhe o espaço institucional correspondente à sua representação democrática é negar o próprio princípio democrático. Os media e a classe política precisam rapidamente de ultrapassar o choque inicial e encarar o novo quadro político com seriedade e responsabilidade, deixando para trás um negacionismo que só alimenta tensões inúteis e fragiliza ainda mais a confiança nas instituições democráticas.

domingo, 25 de maio de 2025

PS e AD: a pressa do centrão que atropela o voto popular

A 18 de Maio, os eleitores portugueses enviaram um segundo recado claro às forças políticas. O veredicto das urnas foi severo para o Partido Socialista (PS), que sofreu uma das piores derrotas da sua história recente, e consagrou a coligação de centro-direita Aliança Democrática (AD) como vencedora, pela segunda vez embora minoritária . Num cenário político fragmentado — com o partido CHEGA a conseguir um resultado histórico ultrapassando  em deputados ao PS — esperava-se que os principais partidos fizessem uma pausa para reflectir. De facto, nas horas seguintes ao desaire, vários dirigentes socialistas falaram da necessidade de «reflexão profunda, lúcida e fria». Porém, na prática, essa reflexão ficou pelo caminho. O PS optou pela pressa, saltando «directo para os braços do primeiro candidato» disponível para a liderança, sem debate interno significativo. Assim, menos de uma semana após a derrota, o PS já tinha um novo líder oficioso e braços abertos à colaboração com a AD — um movimento que, na perspectiva de muitos, ignora a vontade popular expressa nas urnas.

Essa rapidez em alinhar com a força vencedora levanta suspeitas justificadas. Afinal, não terá o eleitorado votado por uma mudança de rumo? Em vez de autocrítica, o PS apressou-se a garantir status quo e manutenção de poder nos bastidores, indicando disponibilidade imediata para viabilizar o Governo alheio. Ao fugir à introspecção pós-eleitoral e concentrar-se em arranjos rápidos, o partido acaba por desrespeitar os eleitores — tanto os que o castigaram como os que nele confiaram esperando oposição firme às políticas de direita.

O «centrão» ressuscitado e a pluralidade ignorada

Por detrás desta aproximação expedita entre PS e AD está a velha tentação do centrão: um entendimento confortável entre os grandes partidos, à revelia da diversidade de escolhas feitas pelos eleitores. Francisco Assis, por exemplo, defendeu que «PS e AD têm de dialogar para garantir estabilidade. Fernando Medina insistiu que os socialistas devem viabilizar a entrada em funções do novo Executivo, impondo apenas condições mínimas. Instalou-se, pois, no Largo do Rato, a doutrina de privilegiar acordos de bastidores, apresentando-os como «sentido de responsabilidade».

O problema é que estes consensos artificiais no topo representam um pacto dos derrotados e vencedores para manterem o jogo entre si, ignorando a pluralidade do voto popular. Forçar agora um entendimento PS-AD — que não foi sufragado explicitamente — arrisca trair o espírito de protesto e mudança. A vontade popular torna-se secundária quando as cúpulas decretam que «o povo não sabe o que quer» e que o melhor é os do costume entenderem-se uns com os outros.

Importa lembrar que a democracia portuguesa vive hoje de uma crescente diversidade de opiniões. Ignorar essa diversidade pode ser perigoso. Ao reagrupar-se num centrão formal, PS e AD enviam o sinal de que pouco mudou. Não surpreende que André Ventura denuncie esse bloco central e colha dividendos do descontentamento anti-sistema  É exactamente este o risco: ao atropelar o voto popular e isolar vozes emergentes, PS e AD podem estar a alimentar o monstro que dizem querer conter. Miguel Prata Roque já classificou estes arranjos como «consensos balofos» — verdadeiras mordaças ao debate interno e externo.

Liderança entregue de bandeja: JLCarneiro e a sobrevivência do PS 

A forma como José Luís Carneiro foi guindado a líder do PS em tempo recorde ilustra a tentativa de sobrevivência política a todo o custo. Horas após a demissão de Pedro Nuno Santos, Carneiro fez saber estar disponível para assumir as rédeas socialistas. Em poucos dias, potenciais concorrentes — Mariana Vieira da Silva, Fernando Medina, Ana Catarina Mendes, Duarte Cordeiro — desistiram, deixando-o sozinho na corrida, em nome da tão apregoada «unidade». Resultado: um líder aclamado e não eleito, escolhido pelas elites em pânico.

Com Carneiro ungido pela máquina partidária, sem oposição interna, o PS sinaliza continuidade e não ruptura. Vozes críticas internas lembram que «falta de unidade não reconcilia o PS com os eleitores». Ao presumir que basta um verniz de união e alguns acenos ao centro para recuperar votos, a elite socialista arrisca desrespeitar novamente o eleitorado.

Logo nos primeiros dias, Carneiro declarou-se pronto a «contribuir para a estabilidade política do país», abrindo os braços à AD. Carlos César foi ainda mais longe: «O natural é que o Partido Socialista viabilize este Governo». Traduzindo: o PS adoptará uma oposição de fachada, garantindo que a AD não cai — desde que preserve influência nas grandes questões nacionais. É uma doutrina de sobrevivência que põe a conveniência política acima da renovação programática ou do respeito pela alternância ditada pelas urnas.

O preço de ignorar o eleitorado 

Em democracia, contornar o veredicto popular é sempre um jogo perigoso. Ao desvalorizar a vontade expressa em 18 de Maio, PS e AD aprofundam a frustração de largas faixas do eleitorado. Muitos portugueses sentem que votam, mas «eles» fazem sempre o que querem; se virem agora um bloco central a governar, crescerá a percepção de que o voto pouco importa — e isso só alimentará quem capitaliza o descrédito no sistema.

Uma governação equilibrada exige diálogos, mas não à custa da pluralidade. O PS tem o direito de se recentrar, mas deveria fazê-lo respeitando os seus processos democráticos internos e, sobretudo, o papel que os eleitores lhe destinaram: o de oposição. A AD, sem maioria absoluta, deve formar acordos que reflictam a mudança exigida pelos seus votantes, não apenas o medo partilhado do crescimento do Chega. Se PS e AD optarem pelo caminho fácil do conluio, estarão, na prática, a dizer aos cidadãos que as eleições de pouco serviram — traindo o voto popular e enfraquecendo a democracia.

O comportamento de PS e AD após 18 de Maio merece crítica dura. A democracia portuguesa prospera da saudável tensão entre governo e oposição, e da alternância quando assim o povo o decide — nunca de acordos de bastidores que silenciem essa vontade. No dia 18 de Maio, o povo falou; ignorá-lo, como fazem PS e AD, não é liderança esclarecida nem moderação responsável — é miopia política.

sábado, 24 de maio de 2025

Perfis dos Eleitores do PS, PSD, Chega, IL, BE e PCP em Portugal (2022–2025):

um novo “gender gap”
O sistema partidário português passa recentemente por transformações significativas, com a ascensão de novas forças (como Chega e Iniciativa Liberal) e a recomposição das bases eleitorais dos partidos tradicionais [1].
As preferências dos eleitores podem ser segmentadas por género, idade, escolaridade e região [2]. Constata-se então um novo “gender gap” em Portugal, similar a outras democracias: os homens tendem a votar mais à direita, enquanto as mulheres inclinam-se à esquerda [3]. Da mesma forma, emergem clivagens de escolaridade – com partidos diferentes atraindo eleitores de níveis de instrução distintos – e contrastes geracionais entre partidos “novos” e “antigos” [4]. Esses padrões gerais fornecem um pano de fundo para entender os perfis de cada partido em detalhe.
Partido Social Democrata (PSD / AD)
O eleitorado do PSD apresenta um perfil relativamente mais heterogéneo. Não há um desequilíbrio pronunciado de género [10]. Até à crise da austeridade, o PSD contava com expressiva fatia de eleitores idosos, mas estes migraram para o PS [11]. Em 2022, o PSD teve desempenho fraco nos eleitores acima de 54 anos (28% contra 51% do PS), mas disputou os mais jovens – empatando tecnicamente com o PS entre os menores de 25 anos [7]. Em 2024 e 2025, a coligação AD recuperou parte do eleitorado sênior, ultrapassando o PS nesse grupo etário [2].
A maior fatia dos seus eleitores possui ensino superior: 42% em 2022 [6]. Em 2024, AD e IL juntas chegaram a concentrar 44% dos votos dos eleitores licenciados [4]. Entre os eleitores com escolaridade baixa, a AD fica ainda atrás do PS [8]. Em termos territoriais, a AD subiu em cerca de 90% dos concelhos entre 2024 e 2025, sobretudo nos bastiões tradicionais [9].
CHEGA
O CHEGA tem um eleitorado marcado pela sobre-representação masculina, idade intermédia e escolaridade média ou baixa. É o partido com maior desequilíbrio de género a favor dos homens: em 2022, dois terços dos votantes eram homens [12]. Entre 2022 e 2024, a proporção de mulheres subiu para 40% [3]. Em 2024, o Chega liderou entre homens com menos de 55 anos e cresceu entre mulheres de 25–34 anos [13].
Em termos de instrução, apenas 7% dos licenciados votaram Chega em 2022, enquanto entre os eleitores com ensino secundário completo obteve o melhor resultado [7]. O partido apela à classe média baixa, trabalhadores e setores frustrados com os partidos tradicionais. Em termos geográficos, destacou-se nos territórios do interior Sul e no Alentejo, antigos bastiões do PS e do PCP [9].
Partido Socialista (PS)
O eleitorado do PS caracteriza-se por uma média de idade elevada e maior participação feminina. Se traçarmos um retrato-tipo, seria uma mulher com mais de 54 anos e com baixa escolaridade [5]. De fato, 57% dos votos socialistas em 2022 foram de mulheres [6]. Cerca de metade dos votantes do PS têm mais de 54 anos [7], o que faz do PS o partido preferencial dos eleitores mais idosos. Em contraste, entre os jovens adultos o PS enfrenta grande dificuldade – em 2024, ficou apenas em terceiro lugar entre os eleitores de 18 a 34 anos [8].
O PS continua ancorado nos estratos menos instruídos e populares. É o partido com maior apoio entre pessoas de baixa instrução: em 2022, 55% dos eleitores do PS não tinham terminado o ensino secundário [6]. Nas eleições de 2025, os socialistas viram a sua votação descer em 307 dos 308 concelhos do país [9]. O PS mantém um perfil de eleitorado envelhecido, maioritariamente feminino e menos instruído.
Iniciativa Liberal (IL)
A IL tem um eleitorado pequeno mas muito definido: urbano, jovem, altamente instruído e tendencialmente masculino. Em 2022, 49% dos seus votantes tinham menos de 35 anos [14], e 58% eram homens [6]. É o partido preferido dos licenciados: cerca de 61% dos seus eleitores têm diploma universitário [6].
Em termos territoriais, é forte nas áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e no estrangeiro. A IL enfrenta o desafio de alargar a sua base para além do nível socioeconómico alto e meios urbanos instruídos [8].
Bloco de Esquerda (BE)
O BE sempre contou com eleitorado jovem, urbano e escolarizado. Em 2022, a maioria dos votantes eram mulheres (55%) [6]. Mesmo em declínio, destacou-se entre jovens até 25 anos [7]. A base envelheceu, mas ainda está abaixo da média. Apenas 3% dos votos vieram de eleitores acima de 54 anos [7].
Em 2022, 42% dos votantes tinham curso superior [6]. A queda entre eleitoras com curso superior em 2025 prejudicou fortemente o BE [13]. Geograficamente, está concentrado em centros urbanos e universitários. Enfrenta hoje concorrência da IL e do Livre no eleitorado jovem instruído [13].
Partido Comunista Português (PCP/CDU)
O PCP tem uma base envelhecida e fiel. Em 2022, a maioria dos seus eleitores tinham mais de 54 anos, embora com diferença moderada para as demais faixas [6]. Não há grande diferença entre sexos (53% homens, 47% mulheres) [6]. O partido enfrenta dificuldade em renovar a sua base.
É o partido de trabalhadores manuais e pensionistas. Em 2022, 36% dos seus votantes não tinham concluído o secundário [6]. Geograficamente, está presente no Alentejo e Margem Sul, mas perdeu terreno nos últimos anos. É um eleitorado classista, envelhecido e ideológico.

As clivagens por idade, género e escolaridade estão a reconfigurar o sistema partidário português. PS, PSD e PCP mantêm bases mais velhas; Chega, IL e BE captam mais jovens. As mulheres votam mais à esquerda; os homens, à direita. PS e PCP têm apoio entre os menos escolarizados; BE, IL e AD entre os diplomados. Compreender estas bases permite interpretar a dinâmica dos partidos e prever onde ganharão ou perderão terreno.

Fontes:
[1] Pedro Magalhães e João Cancela, "As bases sociais do novo sistema partidário português, 2022–2025"
[2] ICS/ISCTE, Sondagens à boca das urnas 2022 e 2024
[3] Magalhães, Pedro. Artigo sobre gender gap em Portugal (ICS 2023)
[4] Sondagem ICS/ISCTE (Educação e voto 2022–2024)
[5] Expresso, "Perfil do eleitor-tipo do PS" (2022)
[6] ICS/ISCTE, distribuição por sexo, idade e instrução (2022)
[7] Sondagens Legislativas 2022 (Pitagórica/ISCTE/ICS)
[8] CESOP/Universidade Católica, Tracking Poll 2024/2025
[9] Observador, "Mapa Eleitoral 2025" (Maio 2025)
[10] Lisi, Marco. Entrevista RTP (2024)
[11] Lisi, Marco. "Do PSD ao PS: migração de pensionistas" (ICS)
[12] SIC/Notícias, Perfil do eleitor do Chega (2022)
[13] ICS, Relatórios de voto segmentado por sexo e idade (2024/25)
[14] Sondagem Eurosondagem 2022 (perfil da IL)

sexta-feira, 23 de maio de 2025

a influencia futura do Partido CHEGA

Com base no estudo de Rui Antunes e Vítor Dias publicado no Observador, o Chega, ao tornar-se o segundo maior partido na Assembleia da República, poderá exercer uma influência significativa na nomeação ou aprovação de diversos altos cargos do Estado português.
Embora o artigo original não esteja acessível devido a restrições de acesso, é possível inferir, com base no funcionamento das instituições portuguesas, que o Chega poderá influenciar:

·       Conselho de Estado: Este órgão consultivo do Presidente da República inclui membros eleitos pela Assembleia da República. Com o aumento da representação parlamentar, o Chega poderá indicar membros para este conselho.

·       Juízes do Tribunal Constitucional (TC): Alguns juízes do TC são eleitos pela Assembleia da República. A influência do Chega poderá ser determinante na escolha desses

·       Conselho Superior da Magistratura e Conselho Superior do Ministério Público: Estes órgãos, responsáveis pela gestão e disciplina dos magistrados, incluem membros eleitos pelo parlamento. O Chega poderá participar ativamente nessas nomeações.

·       Presidência do Conselho Económico e Social (CES): O CES é um órgão de consulta do governo em matérias económicas e sociais. A Assembleia da República tem um papel na sua composição, o que poderá permitir ao Chega influenciar a escolha do seu presidente.

·       Entidades reguladoras e outros órgãos independentes: A nomeação de membros para entidades como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) ou a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) envolve a Assembleia da República, oferecendo ao Chega oportunidades de influência.

É importante notar que, apesar do crescimento do Chega, o líder da Aliança Democrática, Luís Montenegro, reiterou que não formará coligações com o partido, o que poderá limitar a influência direta do Chega no governo.
No entanto, com 58 deputados, o Chega poderá exercer pressão significativa em votações parlamentares e na negociação de nomeações para cargos-chave, especialmente em contextos de governos minoritários, onde cada voto conta.
Assim, o fortalecimento do Chega no parlamento português poderá traduzir-se numa maior capacidade de influenciar a composição de órgãos fundamentais do Estado, moldando, de forma indireta, políticas e decisões estratégicas para o país.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

os donos do regime ainda não perceberam!

Durante o serão, à medida que os resultados esmagavam as esquerdas e se tornavam cada vez mais indesmentíveis, desfilavam criaturas nos canais televisivos lastimando as eleições. (...) São criaturas que, em bom rigor, nos dizem assim: a democracia e a liberdade política servem para vocês votarem em nós. (Margarida Bentes Penedo)

No domingo passado, o país mudou. Mas os donos do regime ainda não perceberam.
As eleições do passado 18 de Maio foram mais do que uma votação — foram um grito. Um grito vindo de milhões de portugueses que há muito deixaram de se rever nos partidos do sistema e na elite mediática que os protege. Foi o momento em que os donos do poder — os que dominam jornais, televisões, partidos tradicionais — perceberam, atónitos, que o país real já não os segue. E, pior ainda, não os teme.
Mas não entenderam porquê. Não compreendem quem votou diferente. Não querem saber. E, acima de tudo, não respeitam.
A mudança não foi feita por eles. Não foi autorizada, nem anunciada nos editoriais, nem encomendada em sondagens manipuladas. Foi feita pelas pessoas comuns — aquelas que foram ignoradas, gozadas e reduzidas a caricaturas. E isso, para quem vive do conforto do sistema, é insuportável.
O país mediático reage como sempre: com desdém e arrogância. Herdou da velha esquerda um vício antigo — o de achar que só ela tem o direito de mudar o país. A esquerda acredita que só o Estado, sob o seu comando, pode transformar a sociedade. E qualquer transformação que venha de fora, ou pior, contra ela, é vista como ilegítima. Um erro a corrigir. Um perigo a silenciar.
É por isso que ignoram esta mudança. É por isso que a insultam. Porque não lhes pertence.
Mas esta mudança é real. É profunda. E é só o começo.

As Eleições Autárquicas em 2001

As Eleições Autárquicas em 2001 em Contexto Político Nacional

Desde 1995 António Guterres chefiava o Governo (XIV Constitucional) – primeiro com maioria absoluta e, a partir de 1999, como governo minoritário. Nas legislativas de Outubro de 1999 o PS obteve 115 deputados, empatando com a soma dos restantes partidos no parlamento ; o Presidente Sampaio chegou a alertar que aquela “tragédia” parlamentar acabaria por trazer instabilidade. O governo Guterres passou a depender de acordos pontuais para aprovar o Orçamento, recorrendo a negociações heterodoxas – ficou célebre, por exemplo, o acordo com um deputado do CDS que exigiu apoios locais (uma fábrica de queijo Limiano) em troca de abstenção, viabilizando os orçamentos de 2001/02 . Internamente, a liderança socialista encarava críticas veladas: no congresso de Maio de 2001 Guterres foi reeleito secretário-geral sem oposição, mas já se sentia no ar um “ar de fim de ciclo” . O próprio primeiro‑ministro reconhecia desgaste: confidenciou a Sampaio que “o país zangou‑se comigo” e que precisava “reconciliar-se com as pessoas” Ao longo de 2000/2001 o executivo foi abalado por escândalos políticos (como o das chamadas “viagens‑fantasma” que envolveu deputados e governantes) e por sucessivas renúncias ministeriais  . Esse acúmulo de controvérsias (e a forte oposição do PSD de Durão Barroso) criou um clima de oposição ao governo dentro e fora do PS, preparando o terreno para a crise.

Resultados das Eleições Autárquicas de 2001

As eleições autárquicas de 16 de dezembro de 2001 foram um fracasso histórico para o PS. A nível municipal, o PSD obteve vitórias em várias câmaras antes controladas pelos socialistas. Destacam‑se, em particular:
Lisboa: Santana Lopes (PSD) conquistou a câmara, derrotando a coligação de esquerda que governava a cidade .
Porto: Rui Rio (PSD) venceu o socialista Fernando Gomes na câmara do Porto .
Sintra: Fernando Seara (PSD) triunfou sobre a socialista Edite Estrela em Sintra .
Além disso, o PS perdeu outras capitais de distrito (Coimbra, Faro, Setúbal, entre outras) e 14 câmaras em relação a 1997. O PSD, por seu lado, ganhou 159 municípios (número recorde), incluindo as grandes cidades acima. Em suma, o Partido Socialista foi o grande derrotado do pleito . Essa derrota em centros urbanos simbólicos foi interpretada como um sinal claro de rejeição popular ao governo. Em apenas meia hora após o fechamento das urnas Guterres anunciou ao país que pediria demissão para “evitar que o país caísse num pântano político”, indicando que reconheceu o peso político dos resultados.

…e António Guterres Anuncia a Demissão

Na tarde de 17 de dezembro de 2001 Guterres anunciou formalmente que apresentaria ao Presidente da República o pedido de demissão do cargo de primeiro‑ministro. Na entrevista coletiva pós‑eleições, ele justificou que deixava o cargo “para evitar que o país caia num pântano político”. Guterres declarou ainda que não buscava vantagens pessoais, afirmando ter “no ambitions” e que sua decisão “o tranquiliza”. Segundo Guterres, prosseguir com um “governo de derrotados” seria danoso para a democracia e para o próprio Presidente. Em seguida, no Palácio de Belém, formalizou a renúncia perante o Presidente Jorge Sampaio. O anúncio ficou marcado por essa expressão do “pântano político”, que foi amplamente destacada na imprensa como símbolo do fim do XIV Governo Constitucional.

Impacto Imediato e Consequências Políticas

A demissão de Guterres teve desdobramentos rápidos. O Presidente Sampaio dissolveu a Assembleia da República e convocou eleições legislativas antecipadas para 17 de março de 2002. O PS elegeu então Ferro Rodrigues como novo líder e candidatou‑se ao pleito, mas foi derrotado pelo PSD de Durão Barroso – que formou coligação com o CDS para governar. Assim, encerrava‑se o ciclo do PS no poder iniciado em 1995. Na prática, a saída de Guterres pôs fim ao XIV Governo Constitucional e deixou o PS na oposição nos anos seguintes. Quanto ao próprio Guterres, ele distanciou‑se da política interna e dedicou-se à carreira internacional: tornou‑se presidente da Internacional Socialista e, pouco depois, Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, consolidando sua projeção mundial. Em suma, o episódio provocou uma redefinição imediata do mapa político (novas eleições e governo) e marcou o fim da era Guterres em Portugal, dando lugar a nova liderança no PS e ao retorno do PSD ao Executivo.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

os comentadores

 

estágios fora da Bolha!

Ao contrário dos 1001 comentadores que agora garantem que estavam mesmo a ver que as eleições iriam terminar assim, eu não estava.
As sondagens indicavam que o crescimento do Chega era possível, e até provável, mas João Miguel Tavares não queria acreditar nisso, por três razões:
1) porque os 50 deputados do Chega tinham oferecido uma única coisa ao país: maus modos e gritaria;
2) porque o episódio das malas e outros casos de polícia tinham revelado a qualidade lastimável dos seus quadros;
3) porque estava convencido que parte do seu eleitorado não tinha apreciado a queda do Governo e poderia transferir os votos para a AD. (…)
É certo que sempre me esforcei para compreender o Chega, nunca engoli a conversa do regresso do fascismo, e sempre achei que a estratégia das linhas vermelhas iria desembocar aqui — no crescimento da direita radical através da agregação de uma multidão de descontentes que não precisam de concordar em nada, excepto no ódio aos partidos do regime.
Mas, ainda assim, nunca pensei que o crescimento fosse tão rápido, e era, para mim, inimaginável, no contexto destas eleições, que o Chega pudesse ultrapassar o PS em deputados. (…)
Eis boa parte do problema da tribalização: quem se interessa por política enfia palas nos olhos e não se esforça minimamente para perceber o mundo à sua volta — e isto inclui gente que é paga precisamente para isso.
Estou farto do exército de comentadores que acerta nos resultados do Totobola às segunda-feiras.
Todos nós — comunidade de jornalistas, de comentadores, de leitores — temos de fazer um esforço genuíno para sair da bolha onde estamos enfiados.
Neste momento, há dois países políticos, e o de 22,5% permanece na sombra. 
Responder com indignação já não chega.
É preciso começar a estagiar fora da bolha.
Nunca ninguém combaterá com eficácia aquilo que não consegue compreender.”

como se votou no Alentejo!

Dos 48 municípios alentejanos só não foi possível realizar as eleições em Olivença, por tristes razões que são conhecidas. Nos restantes 47, houve eleições e os resultados foram os seguintes.
O CHEGA foi o primeiro classificado num total de 22 municípios: em Alter do Chão, Fronteira, Monforte, Ponte de Sor, Elvas, Campo Maior, Sousel, Estremoz, Vila Viçosa, Reguengos, Mourão, Viana, Vendas Novas, Almodôvar, Alvito, Moura, Barrancos, Ferreira, Beja, Vidigueira, Sines e Odemira.
O PS foi o primeiro em 19 municípios: Nisa, Gavião, Crato, Mora, Avis, Arraiolos, Montemor, Redondo, Alandroal, Borba, Portel, Serpa, Mértola, Castro Verde, Aljustrel, Grândola, Santiago do Cacém, Cuba e Alcácer do Sal.
E a AD ficou em primeiro lugar nos restantes 6 concelhos: Évora, Ourique, Arronches, Portalegre, Marvão e Castelo de Vide.
Porém, mais impactante do que a perspectiva geral é ainda o exame dos pormenores. Os leitores nem imaginam o abalo que vai nas sedes lisboetas da Soeiro Pereira Gomes e da Avenida da Liberdade ao ver que o PCP perdeu para o CHEGA locais tão emblemáticos como Albernoa, Trigaches ou a Trindade... Oh Beja terrível Beja, já cantava o Vitorino... Nem em Baleizão a CDU ganhou (e de certeza que nenhum velhinho acamado deixou de ser transportado às urnas).
É a revolta da criadagem: de ora em diante, os comités lisboetas da Soeiro Pereira Gomes ou da Intersindical já vão ter grande dificuldade em arranjar mão de obra para as manifs. Até o exílio alentejano, no Seixal ou na Moita, em Vila Franca ou em Palmela, deu uma banhada nos camaradas do Avante. Isto não tem volta atrás. É um choque cultural, a cultura política em Portugal mudou irreversivelmente.

terça-feira, 20 de maio de 2025

dos queques e "galões claros"

o CHEGA não é de direita e quem em primeiro lugar percebeu isso foram os comunistas do Alentejo. Essa falsidade – esse roubo de personalidade – é a pedra basilar de um edifício que, construído em terreno falso, movediço, levará à sua – estrondosa – queda.
assim escrevia o tótó PBF do finado CDS/PP:
Costumo ler com atenção – e prazer – João Miguel Tavares. Noto que o mesmo, sempre se debateu entre o dar importância ao número de votos no CHEGA e à boçalidade de muitos dos seus membros.
Trata-se de um dilema de – muito – difícil resolução. JMT tenta resolvê-lo através de elucubrações com alguma profundidade, mas que acabam sempre mal. E acabam dessa forma, porque nunca devemos, seja de que modo for, emprestar a nossa inteligência a quem não a tem e que faz disso gáudio. É um princípio.
Por muito brilhantes que sejam (e são): Rui Ramos, JMT, Helena Matos, Jaime Nogueira Pinto e outros, não conseguem resolver este dilema: Se tomarmos banho numa ETAR, ficamos a cheirar à mesma. Metaforicamente: Infelizmente existem muitas pessoas que só podem fazer praia no Samouco. O facto de serem muitas não faz do Samouco uma praia de bandeira azul. André Ventura é o concessionário da praia do Samouco, mas nada faz para que a praia ganhe a bandeira da qualidade. Pelo contrário, quer que se mantenha como está, pois, é nestes ambientes insalubres que medra o elemento do principal prato que serve no seu restaurante
Defender o fim das linhas vermelhas é a grande vitória – post-mortem – de António Costa. Esse, o Costa, não se importou de tomar banho na praia do Jamor para ser 1º Ministro. Estes brilhantes escribas entendem que o mesmo deve ser feito por parte do PSD na direita do hemiciclo. E este é o primeiro laço do nó: o CHEGA não é de direita e quem em primeiro lugar percebeu isso foram os comunistas do Alentejo. Essa falsidade – esse roubo de personalidade – é a pedra basilar de um edifício que, construído em terreno falso, movediço, levará à sua – estrondosa – queda.

o voto dos mais novos!

 

Quem fala assim...

 


segunda-feira, 19 de maio de 2025

mudar de vida|

 


Quando os jornalistas pitonisam!

 


eleitores versus comentadores

e agora os comentadores terão condições para continuar a comentar...



pitonisas!

 


Para mais tarde recordar: 18 de Maio será o tempo de colher?

1 Montenegro beneficia de uma condição estrutural da democracia portuguesa: a complacência do eleitor médio perante a falta de ética. Exemplos não faltam. Começando em José Sócrates, que, em 2011, já depois de muita informação ser pública, logrou obter mais de 1.5 milhões de votos, passando por Isaltino Morais, que é reeleito no concelho com mais educação do país apesar de inclusive já ter cumprido tempo de prisão por práticas de corrupção, até ao caso mais recente de Miguel Albuquerque, que, no Funchal, na condição de arguido, e com suspeitas graves a pender sobre si, levou o PSD novamente ao poder. Estes três exemplos ilustram como o eleitor médio é pouco exigente em matéria de lisura ética.
2 Montenegro beneficia de uma condição que podemos considerar conjuntural e que, em grande parte, é mérito do líder do PSD. Quando chegou ao poder, Montenegro percebeu não só que tinha uma maioria periclitante, que o obrigaria a estar preparado para eleições em qualquer momento, como decidiu também seguir a estratégia de governação do Partido Socialista que tantas alegrias trouxe ao Largo do Rato. Esta receita é simples. Por um lado, não se deve fazer rigorosamente qualquer reforma, sob pena de criar ganhadores e perdedores e, naturalmente, suscitar a ira eleitoral dos últimos e ser penalizado nas urnas. Promover o viver habitualmente, como ensinou o velho sábio de Santa Comba, é o melhor caminho. Por outro lado, é necessário distribuir prebendas aos grupos sociais que potencialmente possam ser eleitores fiéis. Montenegro distribuiu abundantemente ao longo dos últimos dez meses.

Como diz o Livros do Eclesiastes, há um tempo para plantar e outro para colher. 18 de Maio será o tempo de colher?

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domingo, 18 de maio de 2025

O Crescimento do CHEGA e o Declínio dos Partidos Tradicionais

O crescimento do CHEGA tem sido objecto de múltiplas interpretações, muitas delas ancoradas em análises centradas na retórica populista, na suposta manipulação das redes sociais ou na alegada alienação do eleitorado. No entanto, persiste uma explicação mais simples, directa e, talvez por isso mesmo, muitas vezes ignorada: o CHEGA cresce não tanto pelo seu mérito intrínseco, mas sobretudo pela degradação progressiva dos partidos tradicionais. Em termos simples, o eleitorado não procura o melhor partido, procura o que ainda não falhou — e essa oportunidade, neste momento, está do lado do CHEGA.

Ao longo das últimas décadas, Portugal assistiu a uma lenta mas consistente erosão da confiança nas instituições políticas. Os ciclos de governação sucessivos protagonizados por PS e PSD (com ou sem o suporte de outras forças, como o CDS ou o BE) foram pautados por promessas incumpridas, escândalos sucessivos, reformas inconclusas e uma percepção generalizada de impunidade. As promessas de estabilidade ou progresso não se concretizaram em melhorias visíveis na qualidade de vida, na eficiência do Estado ou na redução das desigualdades estruturais.
Esta falência cumulativa alimentou uma percepção — não apenas entre eleitores mais jovens ou desiludidos, mas também entre cidadãos de perfil moderado — de que a política se tornou uma esfera autorreferencial, desconectada das exigências reais do país. É neste contexto de descrédito que emerge o espaço político para uma força como o CHEGA.
Ao contrário do que muitas vezes se argumenta, o crescimento do CHEGA não depende de uma mobilização ideológica coerente ou de uma plataforma programática robusta. O que sustenta esse crescimento é a rejeição do status quo. O eleitorado que migra para o CHEGA fá-lo, em larga medida, por exclusão — não por adesão plena aos seus princípios, mas pela convicção de que os partidos tradicionais já esgotaram qualquer benefício da dúvida.
Este fenómeno não é novo na ciência política: partidos anti-sistema prosperam quando os partidos dominantes entram em crise de legitimidade e eficácia. O caso português não foge à regra, mas tem uma nuance própria: a persistência de um discurso moralista e sancionatório por parte de muitos actores institucionais (media incluídos) que, em vez de conter o avanço do protesto, o legitimam aos olhos do eleitorado como reacção a uma ordem disfuncional.
A relação entre os media tradicionais e o fenómeno CHEGA é particularmente relevante. A tentativa recorrente de isolar ou descredibilizar o partido e os seus apoiantes — frequentemente rotulados como extremistas ou ignorantes — tem um efeito contraproducente: reforça a ideia de que há um esforço concertado para manter o sistema político fechado sobre si mesmo. O que era para ser uma crítica torna-se, na óptica de muitos eleitores, uma prova de coerência do próprio CHEGA: se todos os que falharam o atacam, é porque ele os incomoda.
Este ciclo de antagonismo simbólico serve os interesses do partido, que não precisa, para já, de apresentar soluções concretas. Basta-lhe denunciar falhas alheias, assumir um discurso de ruptura e manter uma presença combativa nos canais onde a comunicação política é hoje mais eficaz: as redes sociais.
Concentrar o debate público na figura de André Ventura ou nas declarações mais polémicas do partido é uma forma de evitar a verdadeira questão: como é que chegámos ao ponto em que o CHEGA se tornou, para muitos, a única alternativa viável? A resposta não está na retórica populista, mas na degradação das estruturas partidárias tradicionais, na falta de renovação de quadros, na captura do discurso público por agendas desligadas do quotidiano das pessoas.
Neste contexto, o crescimento do CHEGA é menos um fenómeno de radicalização do eleitorado do que uma expressão de saturação democrática. Não é que o CHEGA convença por excelência — é que os outros partidos se tornaram, para muitos cidadãos, indefensáveis.
Se o sistema quiser preservar a sua legitimidade, terá de olhar para além do populismo e começar por fazer o seu próprio exame de consciência.

em 10 de Março 2024 e na sondagem de 12 de Março de 2025

A sondagem da Consulmark2 foi a que ficou mais próxima dos resultados saídos das eleições de 10 de março de 2024, falhando apenas por décimas as percentagens finais obtidas pelos principais partidos: AD, PS e CHEGA.

E agora?




sobre o racismo racista!

 

sábado, 10 de maio de 2025

O Papel do CHEGA no Cenário Político Português numa Análise das Perspectivas Actuais

Nos tempos recentes, a paisagem política em Portugal tem se mostrado complexa e cheia de nuances. O partido CHEGA, liderado por André Ventura, emerge como uma peça central em debates e discussões sobre o futuro governo. Neste texto tento explorar as razões que colocam o CHEGA nesta posição de destaque e as possíveis implicações para o país.
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Desde a sua fundação em 2019, o CHEGA tem sido caracterizado por uma ascensão meteórica. Seu discurso populista e nacionalista atraiu uma base de eleitores descontentes com os partidos tradicionais, em especial o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD). Em eleições recentes, o CHEGA conseguiu consolidar sua posição como uma força política relevante, aumentando sua representação parlamentar e influenciando o debate público.
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O CHEGA defende uma plataforma centrada em políticas de segurança, justiça e imigração. Propõe medidas rigorosas contra a corrupção, uma abordagem mais dura contra o crime e reformas extensivas no sistema judicial. Além disso, o partido adota uma posição crítica em relação à União Europeia, promovendo uma visão de soberania nacional.
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O panorama actual sugere que o PSD pode emergir como o maior partido nas próximas eleições. No entanto, as previsões indicam que o PSD não conseguirá formar um governo sozinho, mesmo com o apoio da Iniciativa Liberal (IL). Isto cria uma situação onde o CHEGA pode se tornar um aliado indispensável para a formação de um governo de direita.
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Os analistas políticos destacam que o PSD enfrenta um dilema significativo. Se por um lado, aliar-se ao CHEGA pode garantir a maioria necessária para governar, por outro, isso pode trazer consequências negativas. A associação com um partido de extrema direita pode afetar a imagem do PSD e alienar eleitores moderados. Este impasse coloca o PSD frente ao problema que tentou evitar: governar sem o CHEGA pode ser impossível, mas governar com ele pode ser arriscado.
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Os mídia tem tentado apresentar a IL como uma alternativa viável para o PSD, numa tentativa de minimizar a influência do CHEGA. No entanto, essa estratégia parece insuficiente perante o cenário cada vez mais provável da necessidade de uma coligação com o CHEGA. Políticos e analistas reagem de diversas maneiras: alguns optam pelo silêncio, enquanto outros reconhecem a complexidade da situação, mas não oferecem soluções claras.
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Implicações para o Futuro
As implicações deste cenário são profundas. Uma coligação entre PSD e CHEGA pode redefinir o espectro político em Portugal, com potencial para mudanças significativas nas políticas internas e nas relações internacionais. O impacto nas eleições futuras e na estabilidade política é uma questão que merece atenção.
O papel do CHEGA no cenário político português não pode ser subestimado. O partido tem-se tornado uma peça chave nas discussões sobre o futuro governo, e as decisões tomadas pelos principais partidos em relação ao CHEGA terão consequências duradouras. Portugal encontra-se num momento crítico, onde as escolhas feitas hoje moldarão a trajetória do país nos próximos anos.

tendências atuais do eleitorado português

Factores como idade e nível de escolaridade influenciam as preferências partidárias?
🟦 Partido Socialista (PS)
· Idade: Predominância entre os eleitores com 65 anos ou mais, representando 39% do seu eleitorado. PÚBLICO+4Ultraperiferias+4SIC Notícias+4
· Escolaridade: Maior apoio entre os eleitores com níveis de escolaridade mais baixos; 40% dos que não completaram o 3.º ciclo de ensino manifestam intenção de voto no PS. PÚBLICO+1PÚBLICO+1
🟨 Aliança Democrática (AD – PSD/CDS)
· Idade: Eleitorado distribuído de forma relativamente uniforme entre as faixas etárias; cerca de 24% dos eleitores com 65 anos ou mais. Ultraperiferias
· Escolaridade: Maior apoio entre os eleitores com ensino superior; 29% dos licenciados manifestam intenção de voto na AD.
🟥 CHEGA
· Idade: Predominância entre os eleitores com idades entre 35 e 64 anos, representando 62% do seu eleitorado. PÚBLICO+1PÚBLICO+1
· Escolaridade: Maior apoio entre os eleitores com ensino secundário completo; 23% dos eleitores com este nível de escolaridade manifestam intenção de voto no Chega. Visão+1Ultraperiferias+1
🟪 Iniciativa Liberal (IL)
· Idade: Predominância entre os eleitores com idades entre 18 e 34 anos, representando 51% do seu eleitorado. PÚBLICO
· Escolaridade: Maior apoio entre os eleitores com ensino superior; 66% dos seus eleitores têm formação universitária. Visão
🟩 Bloco de Esquerda (BE)
· Idade: Predominância entre os eleitores com idades entre 18 e 34 anos.
· Escolaridade: Maior apoio entre os eleitores com ensino superior; 42% dos seus eleitores têm formação universitária.
🟫 CDU (PCP/PEV)
· Idade: Predominância entre os eleitores com 65 anos ou mais. SIC Notícias
· Escolaridade: Maior apoio entre os eleitores com níveis de escolaridade mais baixos; 36% dos seus eleitores não completaram o ensino secundário. Ultraperiferias+2Visão+2PÚBLICO+2
🟧 PAN
· Idade: Predominância entre os eleitores com idades entre 18 e 34 anos.
· Escolaridade: Maior apoio entre os eleitores com ensino superior; quase metade dos seus eleitores têm uma licenciatura. Visão
🟨 Livre
· Idade: Predominância entre os eleitores com idades entre 18 e 34 anos.
· Escolaridade: Maior apoio entre os eleitores com ensino superior; 60% dos seus eleitores frequentaram a universidade. Visão


quarta-feira, 7 de maio de 2025

Estão a fazer de nós parvos! O que efetivamente mudou?

Desde há cerca de um ano, que o Chega tem sido o partido mais veemente na defesa do controlo rigoroso da imigração em Portugal. André Ventura acusou recorrentemente o Governo de “eleitoralismo” por não levar a sério propostas como quotas de entrada ou referendos sobre imigração, sublinhando que “estávamos a atingir números impossíveis de sustentar para o país” e que o Chega temia este tema sozinho no Parlamento. Nessa altura, tanto deputados dos alegados partidos tradicionais como comentadores e “auto-denominados jornalistas” acusaram o Chega de xenofobia e racismo, isolando-o no debate público.

Mas no passado dia 3 de maio de 2025, o líder do PSD, Luís Montenegro, anunciou publicamente que “os imigrantes ilegais vão ter de sair de Portugal”, referindo-se a um primeiro grupo de 4 574 cidadãos estrangeiros notificados para abandonar o território nacional, entre um total de 18 000 indeferimentos já decididos pelo SEF. Esta declaração marca uma clara aproximação às propostas que até aqui eram exclusivas do Chega, numa área onde o PSD se mantivera reticente.
Vários elementos explicam esta mudança de postura. Em primeiro lugar, os números oficiais vieram intensificar a percepção de crise: o aumento substancial de pedidos de autorização de residência e as notificações para saída voluntária estão a alimentar uma narrativa de “pressão migratória insustentável”. Em segundo lugar, dados de sondagens recentes — que colocam a imigração como uma das principais preocupações dos eleitores — colocam pressão sobre o PSD para não perder votos para o Chega.

Com as eleições legislativas agendadas para 18 de Maio, o PSD tem apelado ao “voto útil” na Aliança Democrática, argumentando que só assim se evitará um governo frágil e “arrependimentos” num eventual dia seguinte às eleições. Ao adotar o tema da imigração, Montenegro procura não só esvaziar o discurso do Chega, mas também consolidar a imagem de partido que “ouve o país” e se adapta rapidamente às prioridades sentidas pelos eleitores.
Este reposicionamento do PSD suscitou críticas por parte de adversários políticos que acusam Montenegro de “trumpetizar” o seu discurso — numa alusão ao estilo populista de Donald Trump — e de normalizar posições anteriormente marginalizadas como xenófobas. Observadores destacam que a adoção destas teses de segurança e controlo reforça um padrão em que partidos tradicionais absorvem agendas de extrema-direita para reter eleitores numa corrida ao centro-direita radical.

O que efetivamente mudou?
A consolidação deste eixo PSD–Chega em torno da imigração tende a deslocar o debate político para a direita, diminuindo a voz de propostas de integração e solidariedade que também ganharam terreno em anos recentes. Ao ver o seu discurso legitimado por um grande partido, Ventura poderá usar a sua posição para exigir mais medidas duras, sabendo que, qualquer que seja a iniciativa legal, o PSD dificilmente resistirá.
O que mudou foi sobretudo a percepção de urgência política: o PSD sentiu-se pressionado pelos números e pelas sondagens, e reagiu para não perder terreno eleitoral para o Chega. Ao fazê-lo, transformou um tema até aqui visto como domínio de um partido marginal num ponto central da sua campanha. A verdadeira batalha política passou, assim, de um confronto ideológico PSD vs. PS para um embate directo PSD vs. Chega na agenda da imigração — e não mais apenas na “linha vermelha” que Montenegro traçava contra a "extrema-direita".

segunda-feira, 5 de maio de 2025

O que é que ele sabe e nós não sabemos?

Aníbal Cavaco Silva deu esta semana um apoio público a Luís Montenegro que, de facto, não teve em nenhum dos dois líderes do PSD anteriores — Durão Barroso e Pedro Passos Coelho — nas campanhas em que saíram vencedores.
Numa entrevista à Rádio Renascença no dia 2 de maio, afirmou que, após “uma análise cuidada”, concluiu que Luís Montenegro “tem qualidades claramente superiores em matéria de competência técnica e política, em matéria de capacidade de liderança do Governo e de defesa dos interesses portugueses na União Europeia” e que “não fica atrás de nenhum dos outros líderes partidários no que se refere à dimensão ética na vida política”– Prometeu também publicar brevemente um texto onde explicará em detalhe os fundamentos dessa avaliação.
Porque para Cavaco Silva que foi líder histórico do PSD e Presidente da República o seu silêncio — ou neutralidade — costumava ser norma em campanhas internas ou legislativas, um pronunciamento tão claro traduz, por isso, uma preocupação atípica com o desfecho eleitoral.
O apoio de Cavaco serve como um contrapeso direto a essas críticas, dando-lhe um selo de aprovação ética vindo da “casa-mãe” do partido.
Embora a previsão seja de vitória de Montenegro, o seu reforço junto dos indecisos e demais eleitores de centro-direita pode ser decisivo para assegurar uma maioria estável e limitar ganhos de partidos como o Chega.

Comparando com Barroso e Passos Coelho
Durão Barroso (2002, 2004): Cavaco tinha sido então Primeiro-Ministro (1985–1995) e, como Presidente da República (2006–2016), manteve distância das campanhas internas do PSD e não fez declarações públicas de apoio a Barroso nas legislativas de 2002 ou 2004.
Pedro Passos Coelho (2011): Tal como Barroso, beneficiou de redes de influência, mas nunca de um endosso pessoal tão explícito de Cavaco enquanto Presidente ou, depois, como ex-chefe de Estado.
O que isto nos diz sobre a percepção interna do PSD?
A disponibilidade de Cavaco para intervir num momento de campanha sugere que, internamente, há receio de que a AD se fragilize face às controvérsias recentes.
Ao destacar “competência”, “liderança” e “ética”, ele tenta consolidar o eleitorado mais tradicional do PSD e, simultaneamente, apelar a independentes e moderados que possam hesitar devido ao caso Spinumviva ou ao reforço do Chega.