sábado, 27 de dezembro de 2025

André Ventura e a Lição Francesa

Do Cordão Republicano ao Cerco Mediático
Há fenómenos políticos que as nossas elites recusam aprender — mesmo quando lhes batem à porta com a subtileza de um elefante dançante.
Um desses fenómenos é o chamado “cordão sanitário”, invenção francesa que, como todas as invenções francesas pós-1958, tem um ar importante, muito perfume intelectual, mas uma eficácia prática próxima do nada.
E, tal como Paris exportou Maio de 68 para o mundo, parece ter agora exportado para Lisboa a sua histeria moralista de “frente republicana” contra o candidato que não devia existir, que não devia falar, e que sobretudo não devia ter votos: André Ventura.
Só que, ao contrário de França, onde a sucessão de Presidentes amparados pelo sistema produziu um país cansado mas obediente, Portugal já não está nesse ponto de docilidade patriótica.
O meteorito Ventura e o erro sistemático das sondagens
Comecemos pelo óbvio: as sondagens continuam a mostrar Ventura abaixo dos outros candidatos — ora 14 %, ora 15 %, ora 16 %, com a promessa tácita de que, se todos os entrevistados forem muito bem comportados, talvez ele desapareça espontaneamente.
É comovente.
E totalmente falso.
Desde 2019 que o Chega é sistematicamente subestimado, não porque os institutos sejam incompetentes (embora alguns sejam), mas porque:
  • . o eleitor do Chega responde pouco,
  • . confia menos ainda,
  • . e não está disponível para ser julgado moralmente por um inquérito telefónico.
Resultado: Ventura vale sempre mais do que as sondagens dizem.
É um facto empírico, um padrão estatístico, e — pior ainda para quem muito se indigna nas televisões — um padrão consistente
O núcleo duro: o que os outros candidatos não têm
Nesta corrida presidencial, Gouveia e Melo tem prestígio militar, Mendes tem prestígio televisivo, Seguro tem prestígio partidário.
André Ventura tem outra coisa: um eleitorado fiel, resistente e emocionalmente ligado à sua candidatura.
É o único candidato que tem aquilo que a ciência política americana chama base — não simpatizantes ocasionais, mas gente que vota, volta a votar e ainda convence dois vizinhos.
Para um sistema partidário fragmentado, isto vale metade do caminho até à segunda volta.
O mito do “cordão republicano” português (dito da “abrilada”)
A ideia francesa foi simples:
  • . Qualquer pessoa contra Marine Le Pen unia-se;
  • . O povo obedecia;
  • . A esquerda e a direita fingiam que ainda existia uma fronteira nítida entre ambas.
Mas Portugal não é França, e os nossos eleitores não seguem instruções como um batalhão napoleónico.
Se Ventura chegar à segunda volta (e tudo indica que sim), o tal cordão republicano terá vários problemas:
  • A direita moderada não vê Ventura como ameaça existencial, ao contrário da narrativa moralizante dos comentadores.
  • O eleitorado português é menos ideológico e mais pragmático — votar “contra alguém” tem pouco apelo cívico.
  • Há um desgaste crescente das instituições, que só torna o discurso anti-sistema mais apelativo.
  • E, sobretudo, não existe em Portugal um consenso moral anti-Ventura comparável ao anti-Le Pen francês.
Portanto, o cordão tenderá a transformar-se num "chocalho" - muito barulho, pouca contenção.

O que assusta o "Sistema" não é Ventura: é a aritmética

A verdade é esta:

Ventura não se tornará candidato forte porque “a extrema-direita está a crescer”, como os jornais repetem por hábito; tornar-se-á forte porque os outros candidatos dividem o espaço político entre si, enquanto ele concentra sozinho todo o voto protesto.


Num país fatigado de:
  • .relatórios que ninguém cumpre,
  • .comissões parlamentares que não servem senão para teatro,
  • .comentadores que acham que o povo existe para lhes dar audiências,
- André Ventura surge como a única ruptura perceptível.
Para as classes políticas tradicionais, isto é insuportável — não porque ameaça a democracia, mas porque ameaça a sua centralidade.
A fronteira real não é esquerda/direita - é sistema/anti-sistema
Se Ventura chegar à segunda volta, Portugal não replicará o modelo francês: não há Macron, não há gaullistas, não há socialistas com peso moral para liderar cruzadas republicanas.
Haverá, isso sim:
  • o candidato do sistema, seja Mendes, seja Gouveia e Melo, seja Seguro e 
  • o candidato anti-sistema, André Ventura.
Isto é: A escolha será entre duas percepções de país.
E nessa escolha, a velha moralização ideológica terá pouco peso...
Se a elite portuguesa insistir no erro francês - demonizar o eleitor, em vez de compreender as razões do seu voto - então, tal como em França, acabará a perguntar-se como foi possível que “isto” lhes tivesse acontecido.
A resposta é simples: não ouviram quando ainda havia quem falasse.