quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A Gulbenkian Descobriu o Woke – e Perdeu a Vergonha

(...em português vernáculo diz-se que é de fp!)

Há dias em que um cidadão comum entra na Fundação Calouste Gulbenkian com a confortável expectativa de encontrar cultura, conhecimento e aquela sobriedade civilizada que, durante décadas, fez da instituição um farol no deserto mental que tantas vezes atravessa Portugal. Pois bem: esse tempo acabou. A antiga vanguarda deu lugar ao novo catecismo, e o catecismo chama-se woke.
A exposição sobre o Brasil — essa pérola da imaginação revolucionária tardia — não é só um disparate histórico: é um insulto à inteligência e uma tentativa descarada de transformar a cultura numa arma para excitar ressentimentos e fabricar culpas colectivas.
O absurdo linguístico: agora o português do Brasil nasceu em África
Há limites para o ridículo. Ou havia. Aparentemente já não há.
Afirmar que o português falado no Brasil “não advém da cultura portuguesa, mas sim de África” não é apenas uma mentira descarada; é uma prova experimental de analfabetismo histórico, mais própria de quem copia slogans em cartazes do que de quem organiza exposições numa instituição cultural.
Sim, porque é bom recordar o que os curadores da moda preferem esquecer:
  • – Os escravos enviados para o Brasil não foram capturados por portugueses, mas comprados às tribos dominantes de Angola, que faziam da captura de rivais um negócio tão legítimo quanto qualquer outro da época.
  • – Esses escravos não falavam português, nem uma versão, nem um esboço, nem um eco.
Falavam as línguas das suas tribos.
  • – E as palavras portuguesas que se falavam em Angola eram... portuguesas, trazidas por portugueses.
Mas, como o objectivo não é explicar a História, mas sim “reinventá-la” ao gosto das novas modas, convém fingir que tudo isto não existiu. Vai bem com o pacote emocional do momento.
A nova religião das desculpas
A teoria woke, que parece ter agora escritório permanente na Gulbenkian, vive de uma convicção singela:
qualquer problema contemporâneo deve ser imputado ao passado, de preferência a um passado longínquo e impossível de corrigir.
Assim se apresenta uma narrativa infantil para justificar que o Brasil de hoje — corrompido até ao tutano, devastado pelo crime organizado e em transe permanente de desresponsabilização moral — deve tudo isto à escravatura de há séculos. Curioso. Tão curioso quanto útil para quem não quer enfrentar as realidades contemporâneas e, sobretudo, para quem não quer assumir responsabilidades.
A ideia de que nada se pode fazer para transformar aquela sociedade porque “a culpa é histórica” é, além de falsa, perniciosa. É a versão tropical do velho chavão soviético: a culpa é sempre de outrem, nunca de quem age, governa ou escolhe.
A integração invertida: esconder a diferença para fingir inclusão
Outra pérola do pensamento mágico woke — tão caro aos curadores da Gulbenkian — é esta:
integrar alguém significa esconder-lhe a diferença e acusar de vil racista todo aquele que, com seriedade, tenta justamente o contrário: reconhecer essa diferença, respeitá-la e integrá-la de forma verdadeira e leal.
É o velho processo psicológico do preguiçoso moral:
  • – dá demasiado trabalho melhorar;
  • – dá ainda mais trabalho assumir responsabilidades;
  • – é muito mais fácil culpar alguém, de preferência um morto, um país, ou um continente inteiro.
Portugal e Brasil: dois países que merecem melhor do que propaganda
A exposição que a Gulbenkian decidiu acolher — e promover — não aproxima povos coisa nenhuma.
Pelo contrário: cria animosidade onde antes havia amizade, substitui o estudo pelo panfleto, e troca a cultura pela propaganda moralista que alimenta agendas políticas e confirma a muito desejada sensação de superioridade moral dos novos discípulos do ressentimento.
Não serve o Brasil — que precisa de coragem, verdade e reforma, não de desculpas colectivas.
Não serve Portugal — que não merece ser retratado como um eterno réu histórico para justificar os falhanços alheios.
E não serve a Gulbenkian — que desce do patamar da excelência para o subsolo das modas ideológicas, onde tudo se perdoa excepto pensar.
A conclusão que ninguém ali quis ouvir
A verdade — essa palavra que hoje incomoda tanta gente — é simples: não há país que se transforme enquanto a culpa for sempre dos outros.
E não há instituição cultural que mantenha a dignidade enquanto abdicar da missão de esclarecer para se dedicar à missão de doutrinar.

A Gulbenkian foi outrora um farol de cultura. Hoje, ao transformar-se num púlpito woke, arrisca tornar-se apenas mais um eco de uma moda passageira — daquelas que o tempo tratará de esquecer, mas não sem antes causar danos.
E tudo isto em nome daquilo que, supostamente, se queria promover: o Bem Comum.
Pois bem. Nada do que ali está exposto o promove.
Apenas promove a ignorância virtuosa e a mentira reconfortante.
Mas há sempre esperança: algumas modas passam depressa.
Oxalá esta seja uma delas.