terça-feira, 23 de dezembro de 2025

A Possibilidade de os Novos Sistemas de Inteligência Artificial Fazerem Interpretação Jurídica...

O que o episódio dos “cartazes” me revelou não foi uma decisão jurídica isolada, mas um padrão. Um padrão de velocidades diferentes, de prioridades assimétricas, de urgências que surgem apenas quando o alvo é politicamente sensível e ideologicamente inconveniente.
É aqui que a judicialização da política deixa de ser um conceito académico e se torna experiência quotidiana. Os tribunais, ao intervirem de forma expedita em matérias politicamente inflamadas, não se limitam a aplicar a lei: moldam o debate público, delimitam o campo do dizível, e acabam por estabelecer fronteiras morais que não foram sufragadas em eleições.

Foi a propósito da decisão judicial relativa aos cartazes do CHEGA — e, em particular, da fundamentação adoptada — que comecei a pensar numa hipótese que, até há pouco tempo, teria parecido extravagante: poderá a Inteligência Artificial generativa ajudar a entender uma fundamentação diferente, não por “ter opinião”, mas por conseguir comparar, com rigor e escala, casos semelhantes e decisões divergentes?
Assistimos, de facto, a uma nova revolução tecnológica, decorrente da massificação de sistemas de Inteligência Artificial generativa. Estes sistemas vão para além das técnicas clássicas de Machine Learning, avançando para o Deep Learning e para redes neuronais capazes de produzir texto, síntese e inferência estatística a partir de grandes corpora — incluindo corpora jurídicos. E já se vem experimentando o seu uso no domínio da interpretação e do apoio à decisão jurídica.

Mas é precisamente aqui que surge a objecção “clássica”: a interpretação jurídica pareceria estar conceptualmente vedada à intervenção da IA, por consistir numa actividade mental — e, portanto, por a IA não poder fazer mais do que imitar processos mentais, sem compreender verdadeiramente. Será isto verdade?
Mesmo admitindo que o processo interno de uma IA não é idêntico — nem sequer proximamente semelhante — ao processo mental pelo qual um jurista interpreta normas, pondera princípios e escolhe uma via argumentativa, fica em aberto um ponto decisivo: o resultado pode ser (ou não) efectivamente idêntico, sobretudo quando a tarefa em causa é comparar padrões, detectar inconsistências e mapear soluções jurisprudenciais em casos equivalentes.
Ou seja: a questão deixa de ser “a IA interpreta como um juiz” e passa a ser “a IA consegue, a partir de decisões anteriores, reconstruir uma fundamentação alternativa plausível, mostrando como casos semelhantes foram decididos de modo diferente, e em que premissas se apoiaram?”. Se conseguir, então a IA não substitui a decisão humana — mas pode expor o que muitas vezes fica submerso: a selecção das prioridades, a elasticidade dos critérios, e o modo como certas urgências aparecem, com zelo súbito, quando a política entra pela porta do tribunal.

 

 

 

quando a toga começa a subir ao palanque!

Neste texto recuso o desvio cómodo. Não discuto cartazes, não discuto sensibilidades seleccionadas, não discuto a eterna cortina de fumo identitária. Discuto o sistema judicial enquanto actor político de facto, ainda que negado.
Durante anos repetiu-se o refrão: o problema é o CHEGA. Depois foram os cartazes. 
Depois o tom. 
Depois o eleitorado. 
Agora já nem se disfarça: o problema passou a ser a existência de um partido que não respeita o guião informal do regime. E quando o guião falha, entra em cena a toga.

O que o episódio dos "cartazes" revelou não foi uma decisão isolada, mas um padrão. Um padrão de velocidades diferentes, de prioridades assimétricas, de urgências que surgem apenas quando o alvo é politicamente sensível e ideologicamente inconveniente.
Vivemos num país onde processos de corrupção atravessam décadas como se fossem património histórico; onde investigações se eternizam até à prescrição, essa forma elegante de absolvição sem inocência; onde crimes económicos se dissolvem no tempo com a naturalidade de quem sabe que o relógio trabalha a seu favor.
Mas basta um cartaz, uma frase, um incómodo simbólico — e eis que a justiça se transforma num atleta olímpico da celeridade.
É aqui que a pergunta deixa de ser jurídica e passa a ser política — ainda que formulada em voz baixa, para não ferir susceptibilidades institucionais: porquê esta rapidez? porquê aqui? porquê agora?
Invoca-se a Constituição, como sempre. Dignidade humana, protecção de minorias, prevenção do discurso discriminatório. Tudo conceitos respeitáveis — e ninguém de boa-fé os contesta. O problema não está nos princípios; está na sua aplicação selectiva.
Quando a Constituição é brandida como espada apenas contra uns e como escudo protector contra outros, deixa de ser Lei Fundamental e passa a ser instrumento táctico.

É neste ponto que a judicialização da política deixa de ser um conceito académico e se torna experiência quotidiana. Os tribunais, ao intervirem de forma expedita em matérias politicamente inflamadas, não se limitam a aplicar a lei: moldam o debate público, delimitam o campo do dizível, estabelecem fronteiras morais que não foram sufragadas em eleições.

E quando a toga se aproxima do palanque, não é a política que sobe de nível — é a justiça que desce.
Convém dizê-lo sem rodeios: a neutralidade ideológica não é uma condição automática de nenhuma instituição humana. Magistraturas não vivem numa redoma asséptica; respiram o mesmo ar cultural, mediático e universitário que o resto do país. Ignorar isso não é prudência - é ingenuidade ou conveniência.
Por isso, quando decisões rápidas recaem quase sempre sobre os mesmos actores, enquanto dossiês estruturalmente graves permanecem enterrados em gavetas durante anos, a percepção de parcialidade deixa de ser teoria conspirativa. Passa a ser um problema institucional sério, corrosivo, cumulativo.
A justiça não pode limitar-se a ser imparcial. Tem de parecer imparcial. E hoje, para uma parte crescente da sociedade portuguesa, já não parece.
A rapidez selectiva, o silêncio prolongado noutros casos, a escolha cirúrgica dos alvos — tudo isto mina a confiança pública muito mais eficazmente do que qualquer cartaz alguma vez poderia fazer.
No fim, sobra a pergunta simples, brutal, impossível de ignorar:
Temos tribunais que aplicam a lei ou tribunais que, consciente ou inconscientemente, participam no jogo político?
Enquanto a resposta for ambígua, enquanto a dúvida persistir, enquanto a balança pender sempre para o mesmo lado, o problema continuará a não ser o CHEGA, nem os cartazes, nem os pretextos do costume.
O problema QED é o próprio sistema judicial.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

a igualdade de todos perante a lei ?

O tribunal determinou esta segunda-feira que os cartazes presidenciais de André Ventura, presidente do CHEGA, sejam removidos de imediato da via pública e proibiu a sua reposição futura com teor idêntico ou equivalente. A sentença fixa ainda uma sanção de 2.500 euros por dia, por cartaz, em caso de incumprimento do prazo estabelecido.
Para André Ventura, a decisão representa um precedente preocupante: “Não é possível que um tribunal ache que os ciganos não devem cumprir a lei.” O líder do segundo maior partido sustenta que a mensagem não visa qualquer comunidade, mas reafirma um princípio constitucional básico — a igualdade de todos perante a lei — e considera que a sentença limita a liberdade de intervenção política em período eleitoral.

O candidato presidencial critica o que classifica como “judicialização do discurso político”, defendendo que a Justiça não pode substituir-se ao debate democrático nem impor leituras restritivas a frases de campanha.

para conferir o que "eles" bitaitam!!!

“Estamos a enfrentar mudanças muito grandes, passaremos da era da guerra para a era da pz”, disse Orbán na sua tradicional conferência de imprensa de final do ano, ao falar sobre as recentes eleições nos Estados Unidos da América.

Segundo o primeiro-ministro da Hungria, se o novo presidente dos EUA, que tomará posse em 20 de janeiro, “fizer apenas parte do que prometeu o mundo enfrentará mudanças tremendas”.
Orbán mencionou, entre outros, que a nova realidade mudará a forma de pensar a família, as políticas de género, a guerra ou a economia.

Sobre estas questões, Orbán e Trump defendem valores muito semelhantes, centrados na importância da visão tradicional da família e na crítica às políticas de género. Ambos apelam a um cessar-fogo imediato na Ucrânia.

Pitonisas Rascas!

a desinformação a que temos direito
há 5 meses as putanisas na XIC anunciavam que



Em Portugal, a pergunta já não é se a mudança vem - é quando!

Em Espanha uma mudança de ciclo está no ar e vem a toda velocidade!
Há noites eleitorais em que os comentadores pedem sais de cheiro; e há outras em que, subitamente, vêem tudo com uma nitidez comovente. Desta vez, em Espanha, a clarividência chegou cedo. A era de Pedro Sánchez não terminou por causa de algoritmos malévolos nem por um súbito ataque de “raiva popular”. Terminou porque a realidade tem o mau hábito de bater à porta quando a propaganda já só fala sozinha.
O essencial não é a dimensão da vitória do Partido Popular; é a dimensão da derrota do PSOE no seu antigo reduto. A Extremadura, durante décadas moldada à imagem do socialismo espanhol, resolveu lembrar que hegemonias não são direitos adquiridos. O mapa político virou, e virou sem pedir licença aos analistas de sofá.
Durante anos, explicou-se tudo com a cartilha habitual: país cansado, polarização tóxica, eleitores manipulados. Tudo menos admitir que governar é decidir — e decidir tem custos. A polarização, cuidadosamente encenada para enfraquecer o PP e empurrar votos para o Vox, acabou por produzir um efeito bumerangue: o colapso histórico do PSOE numa região que julgava cativa. Quando a política se reduz a demonizar o voto alheio, o eleitor aprende depressa a responder no único idioma que conta.

Há, claro, problemas à direita. O PP enfrenta o dilema clássico de quem vence mas nãodomina todo o seu flanco; e decisões como as de María Guardiola mostram como um passo em falso pode custar capital político. Ainda assim, a fotografia geral é inequívoca: a Espanha de amanhã está a formar-se apesar de quem a detesta — e apesar dos que insistem em dizer às pessoas que estão erradas.

E em Portugal? Convém não fingir distração. Também por cá se confundiu governo com moralização permanente, divergência com extremismo, voto popular com erro a corrigir. Também por cá se apostou na pedagogia do insulto e na esperança de que o tempo resolvesse o que a política evitou resolver. Espanha mostra que não resolve.
A lição não é importar receitas, mas reconhecer padrões. Quando partidos se fecham numa bolha de certeza moral, quando tratam antigos bastiões como propriedade privada, quando substituem resultados por narrativas, o ciclo muda — rápido e sem sentimentalismos. A Extremadura não “radicalizou”; respondeu. E respostas assim atravessam fronteiras.

O aviso está dado: quem preferir explicar o eleitor em vez de o ouvir, acabará explicado por ele. Em Espanha, o relógio acelerou. 
Em Portugal, a pergunta já não é se a mudança vem - é quando.

domingo, 21 de dezembro de 2025

I N V E R N O !

 

imigração ucraniana: memória curta, lição longa!

As recentes declarações de Volodymyr Zelensky, apelando à participação de Portugal na reconstrução da Ucrânia, são um bom pretexto para recordar um capítulo que o País parece ter esquecido depressa: a imigração ucraniana dos anos 90 que deixou saudades e uma  terceira geração já portuguesa

Entre 1995 e 1999, começaram a chegar a Portugal milhares de ucranianos, integrando a
vaga pós-soviética do Leste europeu. Vieram para trabalhar — e trabalharam onde era preciso: construção civil, obras públicas e limpezas. Vieram também para aguentar o que muitos portugueses já não aceitavam: salários baixos, subempreitadas abusivas, precariedade e atrasos na regularização.
Portugal precisava de mão-de-obra e tinha então uma legislação mais permissiva do que outros países europeus. A combinação foi explosiva: os homens nos estaleiros, as mulheres nas limpezas, muitos em regime informal, quase todos invisíveis ao discurso público. Não houve indignações televisivas nem histerias identitárias. Houve, isso sim, trabalho duro e silêncio.
Convém lembrar um dado frequentemente omitido: o perfil educacional da comunidade ucraniana era elevado. Engenheiros, técnicos, médicos e professores aceitaram tarefas manuais como porta de entrada num país que lhes oferecia segurança e rendimento, ainda que à custa da desqualificação profissional. 
Apesar disso, começaram cedo a organizar-se: associações culturais, redes de apoio, ligação à Embaixada, frequência do ensino português e integração sem alarido.

Os números mais expressivos viriam já nos anos 2000 — em 2002, os ucranianos chegaram a ser a maior comunidade estrangeira em Portugal —, mas foi no final dos anos 90 que tudo começou. Foi aí que se testou, na prática, a capacidade de integração, a disciplina laboral e o contributo real de uma imigração que não pediu privilégios, apenas espaço para trabalhar.

Vale a pena recordar isto hoje, quando se fala de imigração de forma abstracta e moralista. A experiência ucraniana mostra que integração não se decreta, constrói-se: com trabalho, regras claras e exigência mútua. E lembra também que Portugal já beneficiou — e muito — de fluxos migratórios bem-sucedidos, sem propaganda nem romantizações.
Talvez, antes de grandes discursos sobre “Europa unida” e reconstruções futuras, fosse prudente reaprender as lições do passado recente. Porque a memória curta costuma ser péssima conselheira — sobretudo em política.

sábado, 20 de dezembro de 2025

Um Tribunal distante de um povo cansado

A decisão do Tribunal Constitucional de rejeitar a nova Lei da Nacionalidade volta a expor uma fratura profunda entre o Estado e uma parte significativa do povo português. Não se trata apenas de um acórdão técnico ou jurídico: trata-se de mais um episódio em que os cidadãos sentem que a sua vontade, as suas preocupações e a sua identidade são tratadas como secundárias face a interpretações rígidas e abstratas da Constituição. A Constituição da República Portuguesa deveria ser um instrumento vivo, ao serviço do povo e da realidade do país, e não um escudo usado para bloquear qualquer tentativa de adaptação às transformações sociais, demográficas e culturais que Portugal enfrenta. Quando o Tribunal Constitucional se coloca sistematicamente como um travão à vontade democrática expressa através do Parlamento, a pergunta impõe-se: a quem serve, afinal, a Constituição? Muitos portugueses sentem que a nacionalidade deixou de ser encarada como um vínculo profundo de pertença, responsabilidade e compromisso com o país, passando a ser tratada como um mero procedimento administrativo. A tentativa de rever a lei não nasceu do ódio nem da exclusão, mas da necessidade legítima de proteger a coesão nacional, o valor da cidadania e o respeito por quem sempre cumpriu regras, deveres e sacrifícios. 

Ao rejeitar essa revisão, o Tribunal Constitucional ignora o sentimento crescente de injustiça e desconsideração vivido por milhares de cidadãos. Ignora o facto de que a soberania reside no povo e que a democracia não pode ser reduzida a um exercício jurídico distante da realidade concreta das pessoas. Uma Constituição que não escuta o povo arrisca-se a perder legitimidade moral, mesmo que conserve legitimidade formal. O povo português não é intolerante — é exigente. Exige respeito, exige equilíbrio e exige que as instituições deixem de falar apenas para si próprias. Defender fronteiras jurídicas claras e critérios justos de nacionalidade não é atacar a democracia; é, pelo contrário, tentar preservá-la. Se a Constituição serve para silenciar o descontentamento popular em vez de o canalizar, então é legítimo questionar se não chegou o momento de a repensar, de a rever e de a devolver àqueles a quem verdadeiramente pertence: os portugueses. A democracia não vive apenas nos tribunais. Vive, acima de tudo, no povo que sente, trabalha, contribui e ama este país — mesmo quando sente que o país já não o escuta. (Bernardino Oliveira in O Luso)

De um lado, o candidato do Príncipe Real. Do outro, o candidato do País Real.

Há debates que, mesmo quando fingem discutir ideias, acabam por revelar algo muito mais cru: quem fala para quem. Não por aquilo que dizem, mas por aquilo que pressupõem. Não pelo tom, mas pelo destinatário implícito. O debate entre João Cotrim Figueiredo e André Ventura foi um desses momentos raros de clarificação social — quase sociológica — da política portuguesa contemporânea.
De um lado, o candidato do Príncipe Real. Do outro, o candidato do País Real.

Cotrim Figueiredo falou, como sempre, para uma fracção muito específica do País: aquela que vive confortavelmente instalada na convicção de que o Estado é um estorvo, os impostos um roubo e a “sensibilidade social” uma excentricidade cara. Um discurso afinado para os 5% que confundem privilégio herdado com virtude adquirida e baptizam de meritocracia aquilo que, na prática, é a transmissão silenciosa da vantagem por redes familiares, contactos certos e portas que nunca estiveram verdadeiramente fechadas.
É um liberalismo de salão, bem-educado, urbano, perfumado de cosmopolitismo e convicto de que o mundo começa nas Avenidas Novas, passa pela Foz e termina num brunch tardio ao domingo. Tudo o resto é folclore, custo social ou “externalidade”.

André Ventura, pelo contrário, falou para quem não tem tempo para essas subtilezas. Falou para quem depende do Estado não por ideologia, mas por necessidade. Para quem sabe que igualdade de direitos não é um slogan constitucional decorativo, mas uma linha de defesa mínima contra a arbitrariedade económica e social. Falou para o País que trabalha, paga, espera, e quase nunca é ouvido.
Não se trata aqui de santificar Ventura ou de absolver excessos retóricos. Trata-se de reconhecer um facto simples e incómodo: um falou para o povo; o outro falou para a elite. Um representou, conscientemente ou não, o partido popular; o outro defendeu, com elegância e bons modos, a elite de facto — essa mesma que se julga “naturalmente” superior, embora raramente o seja por mérito próprio.
.
O mais curioso — e talvez o mais trágico — é assistir ao entusiasmo juvenil por este liberalismo importado, sobretudo entre uma geração que ainda não trabalhou, não pagou impostos, não enfrentou a precariedade e sonha enriquecer sem perceber de onde vem, historicamente, a riqueza em Portugal. Votam contra os seus próprios interesses com o fervor típico da alienação bem-embalada.
O debate não foi entre direita e direita, nem entre modelos económicos. Foi entre dois Países. Um pequeno, seguro de si, convencido de que governa por direito natural. Outro vasto, real, imperfeito, mas vivo. E quando esses dois Países se olham de frente, percebe-se porque tantos se sentem incomodados.
Não é populismo. É aritmética social.
Cinco por cento não são o País.
E nunca o foram.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

no Observador a "luta continúa"

Seis meses depois
um bitaite para conferir 
Um dos seis detidos é chefe da PSP e nos grupos de Telegram em que se organizam abunda desinformação e mensagens antissemitas. PJ apreendeu pela primeira vez armas feitas com impressoras 3D.

Mil subscritores, antissemitismo e muitas ameaças. Dentro do canal de Telegram
O movimento descrevia-se como “um grupo de Lusitanos que enaltece Portugal e os Portugueses patriotas”, com membros referenciados em várias ocasiões por participarem em manifestações racistas. Nos últimos tempos, a atividade deslocou-se dos blogs para o Telegram, rede social e de troca de mensagens em que, através de dois canais diferentes, contam com mais de mil subscritores — que aumentaram consideravelmente durante a pandemia.

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Um Partido de perder!

Durante décadas, o Partido Socialista foi, em Portugal, um partido dividido — mas não fragmentado. As suas grandes disputas foram quase sempre pessoais, geracionais ou circunstanciais, nunca verdadeiramente ideológicas. Mário Soares contra Salgado Zenha, Soares contra Manuel Alegre: combates duros, sim; mas travados dentro de uma mesma casa, com uma ideia comum de partido e de regime.
Hoje, isso acabou.
As eleições presidenciais tornaram-se o espelho cruel dessa mutação. O exercício de imaginar o voto dos antigos líderes do PS é mais do que uma curiosidade política: é um diagnóstico. Um partido em que os seus antigos secretários-gerais votam em quatro candidatos distintos não está “plural”; está desagregado.
O PS deixou de ser um partido com correntes. Tornou-se um arquipélago.

A origem do estilhaçamento: Sócrates, a bancarrota e a mentira fundadora
A fragmentação começa com José Sócrates — não apenas com a sua governação, mas sobretudo com a forma como ela terminou. A bancarrota de 2011 não foi apenas financeira; foi moral, estratégica e identitária.
Até aí, o PS conseguia oscilar entre o discurso social e a prática orçamental com relativa impunidade. A intervenção externa acabou com essa ambiguidade. Pela primeira vez, o partido foi obrigado a escolher entre a ilusão ideológica e a realidade contabilística.
António José Seguro fez essa escolha. Pagou por ela.
Ao aceitar o quadro imposto pela União Europeia e pelo FMI, Seguro assumiu a heresia máxima dentro de um PS ainda intoxicado por retórica soberanista e voluntarista. Foi atacado, sabotado e, por fim, derrubado. Pedro Nuno Santos — então jovem promessa — chegou ao ponto de defender que a dívida não devia ser paga. Não era apenas uma divergência táctica: era uma ruptura com a própria ideia de Estado responsável.
A partir daí, o PS nunca mais recompôs a sua coluna vertebral.
A geringonça: o poder como anestesia ideológica
Se Sócrates abriu a fenda, a geringonça alargou-a até à ruptura.
Em 2015, o PS fez algo que nunca tinha feito: aliou-se formalmente às extremas-esquerdas para governar. Muitos socialistas detestaram a solução. Mas calaram-se. O poder tem esse efeito: suspende a consciência crítica.
O problema é que a geringonça não foi apenas uma solução parlamentar. Foi uma mutação identitária. Ao aceitar governar dependente do Bloco, do PCP e - mais tarde, indirectamente -  do Livre, o PS deixou de ser o eixo do sistema para passar a ser apenas mais uma peça de uma frente ideológica.
A partir desse momento, o partido passou a viver dividido entre dois projectos incompatíveis:
  • · um PS centrista, europeu, social-democrata no sentido clássico; e
  • · um PS de frente popular, refém da agenda da esquerda radical.
Esses dois PS coexistem hoje — mas já não se reconhecem.
As presidenciais como sintoma, não como causa
É neste contexto que surge a candidatura de António José Seguro. E é por isso que ela está condenada — não por falha do candidato, mas pela doença do partido.
O PS que apoia Seguro não é o PS que governa câmaras com o Bloco. Não é o PS que flerta com greves políticas, nem o PS que tolera a captura do discurso social por sindicatos ideologizados. A recente “greve geral” apenas agravou o problema: empurrou votos socialistas para candidatos do Bloco e do PCP, fragmentando ainda mais o eleitorado que, teoricamente, deveria convergir.
O resultado pode ser histórico — e não no bom sentido: o pior desempenho de sempre de um candidato presidencial apoiado pelo PS.
Não é Seguro que falha. É o PS que já não existe como unidade política coerente.
O espelho europeu: quando os partidos socialistas se desfazem
O que se passa em Portugal não é excepção. É atraso.
Em França, o Partido Socialista colapsou após a presidência de Hollande, esmagado entre o macronismo centrista e a esquerda radical de Mélenchon. Restou um esqueleto eleitoral que acabou diluído em alianças artificiais.
Em Itália, o velho campo socialista dissolveu-se em fusões sucessivas, dando origem a partidos híbridos, sem identidade clara, permanentemente dependentes de coligações instáveis.
Em Espanha, o PSOE sobrevive — por agora — à custa de alianças com forças que minam a própria ideia de Estado nacional, pagando o preço de uma crescente perda de credibilidade institucional.
Na Alemanha, o SPD mantém-se apenas como gestor cansado de consensos, sem narrativa mobilizadora, eclipsado ora pelos Verdes, ora pela nova direita.
Em todos os casos, o padrão repete-se:
  • · perda de identidade ideológica;
  • · alianças tácticas transformadas em dependências estruturais;
  • · eleitorado tradicional desmobilizado; e
  • · emergência de partidos “homónimos” - uns mais radicais, outros mais tecnocráticos - que acabam por dividir, fundir ou substituir o original.
o PS português chegou tarde ao seu próprio declínio?
O PS português vive hoje aquilo que os seus congéneres europeus viveram há dez ou quinze anos. A diferença é que chega mais tarde — e, talvez por isso, com menos margem de manobra.
Já não se trata de escolher líderes. Trata-se de escolher o que o partido é — ou se ainda é alguma coisa.
Enquanto essa escolha não for feita, o PS continuará a fragmentar-se em eleições presidenciais, autárquicas e legislativas. Continuará a perder votos para a esquerda radical e credibilidade para o centro. Continuará, sobretudo, a ser um partido que fala a várias vozes — e já não convence ninguém.
O problema não é o candidato.
O problema é o partido.

domingo, 14 de dezembro de 2025

um Pais dual...

“Despe o colete ‘jaune ou rouge’ e lê, com olhos de ler e cabeça de ver!”

Portugal é um país curioso. Não tanto pela sua história — que é rica — mas pela sua capacidade quase artística de fingir que não vê o que está mesmo à frente dos olhos. E um dos exemplos mais acabados dessa cegueira voluntária é o chamado “país dual” em que vivemos.
A cada greve, o ritual repete-se com a precisão de um relógio suíço: o sector público faz greve contra legislação que… não se lhe aplica. O sector privado, esse, continua a trabalhar, a adaptar-se, a contornar a paralisação e, quando pode, a pagar a factura. Complicado? Não. Hipócrita? Bastante.
A narrativa oficial chama-lhe “defesa dos trabalhadores”. Na realidade, trata-se sobretudo da defesa dos trabalhadores certos — os que já estão dentro. Os outros, os que ainda não entraram, que esperem. Ou que emigrem. Ou que se calem.
O exemplo da saúde é particularmente elucidativo, quase pedagógico. O sector privado da saúde sobrevive, em boa medida, graças a trabalhadores do sector público que beneficiam do melhor seguro de saúde existente em Portugal: a ADSE. Um privilégio silencioso, raramente mencionado nos protestos, mas muito usado na prática.
Curiosamente, sempre que algum governo ousa pensar em parcerias público-privadas que permitam aos trabalhadores do sector privado aceder a hospitais privados em condições semelhantes, ergue-se imediatamente o coro da indignação. Fala-se do “nosso SNS”, da “ameaça dos privados”, do “desmantelamento do Estado social”.
O “nosso”, note-se, nunca é exactamente o deles.
Este padrão repete-se noutros domínios: trabalho, habitação, pensões. Aquilo que em Portugal se apresenta como defesa dos direitos é, demasiadas vezes, a defesa de leis, regulamentos e procedimentos que blindam quem já chegou e penalizam quem ainda vem a caminho. Uma espécie de sindicalismo de condomínio fechado, com porteiro ideológico incluído.
O resultado é um país onde a injustiça não é acidental, mas estrutural. Onde o discurso da solidariedade serve para manter privilégios adquiridos. Onde o colete — seja ele amarelo ou vermelho — substitui o pensamento. E onde ler com atenção se tornou um acto quase revolucionário.
Por isso, o convite é simples: despe o colete. Lê. Observa. Compara. E talvez descubras que o verdadeiro fosso social não está entre esquerda e direita, mas entre quem já está protegido e quem nunca chega a estar.
E isso, por muito que incomode, explica mais sobre Portugal do que mil greves televisionadas.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

A “Greve Geral”: anatomia de uma grevinha ideológica!

Há palavras que sobrevivem por inércia. “Greve geral” é uma delas. Em Portugal, há muito que deixou de descrever um facto e passou a designar uma encenação. A de hoje não foi excepção — foi, aliás,
uma dupla falácia.
Primeiro, porque greves não se medem por manifestações, nem por planos fechados de televisão, nem por directos inflamados onde meia dúzia de bandeiras vermelhas fingem representar o país inteiro. Se assim fosse, a RTP — onde a greve “conta” sempre mais, por definição administrativa — seria o termómetro da economia nacional. Mesmo aí, o que houve foi mais fumo do que fogo.
Segundo, porque de “geral” não teve absolutamente nada. O país real — o dos serviços, do comércio, da restauração, da logística, das pequenas empresas, do trabalho privado — continuou, mal ou bem, a funcionar. Não parou. Não colapsou. Não tremeu. O que parou foi o país residual do velho neo-realismo político-sindical, esse que vive de uma memória gloriosa que já não corresponde a nada de existente.
Os tempos mudaram, mas alguns recusam-se a perceber.
Nos anos 80 ou 90, uma greve nos transportes pesava. Hoje pesa menos — não apenas porque houve municipalização, mas porque o mundo mudou. Houve autocarros onde não houve metro. Houve circulação onde antes tudo parava. Houve tele-trabalho, esse detalhe incómodo que baralha qualquer contabilidade militante. Eu próprio andei de autocarro. Um escândalo, para quem precisava de um país imobilizado para fingir força.
No essencial, foi uma greve quase exclusiva da administração pública: escolas públicas, hospitais públicos, alguns serviços de atendimento ao público. Exactamente aqueles sectores que nada têm a ver com a alteração da lei laboral privada, mas tudo têm a ver com a fidelidade ideológica a uma certa esquerda estatizada, corporativa e sindicalizada.
Ou seja: greve contra o quê?
Contra quem?
Com que legitimidade?
O paradoxo é delicioso: faz-se greve “geral” em nome de trabalhadores que não aderiram, contra leis que não os afectam directamente, liderada por estruturas sindicais que já não representam a maioria de ninguém.
E aqui convém dizer o que raramente se diz: os protagonistas desta grevezinha são, em larga medida, os mesmos sectores políticos e sindicais derrotados a 25 de Novembro de 1975 — derrotados então no plano histórico e derrotados agora no plano eleitoral. São os que perderam deputados, influência e centralidade nas duas últimas eleições legislativas, e que continuam a confundir rua com país e ruído com poder. 
O sindicalismo que sobrevive neste formato não é social: é ideológico. Não representa trabalhadores; representa causas. Não defende o trabalho; defende uma visão do Estado herdada do PREC e mal disfarçada desde então. Vive da administração pública porque fora dela deixou de ter base social.
Se o objectivo era fazer tremer o governo, lamento informar: o governo não tremeu, não tremelicou, nem sequer espirrou
Amanhã é outro dia. O país acordará com os mesmos problemas estruturais, mas também com a mesma evidência: esta esquerda sindical já não tem capacidade de bloqueio nacional.
Chamar “greve geral” a isto é como chamar “levantamento popular” a uma reunião de condomínio mal frequentada.
O país mudou.
Os trabalhadores mudaram.
A economia mudou.
Só o guião ficou velho.
E isso, convenhamos, não é motivo para greve. É motivo para revisão — da linguagem, da estratégia e, sobretudo, da relação com a realidade.
Aqui, no ReVisões, chamamos as coisas pelo nome: não foi uma greve geral. Foi uma grevinha.
E como todas as grevinhas ideológicas, terminou com o habitual comunicado triunfal… e com o país a seguir em frente.
Amanhã é outro dia.
Para eles, infelizmente, também.
Chamaram-lhe “greve geral”.
Foi, no máximo, uma grevinha ideológica.
O país privado trabalhou.
Os serviços continuaram.
Houve autocarros, houve tele-trabalho, houve vida real.
Parou apenas o costume: funcionários públicos sindicalizados, herdeiros políticos dos derrotados de 25 de Novembro, hoje reduzidos a ruído mediático depois de sucessivas derrotas eleitorais.

a greve "geral" de Lisboa numa má noticia...

a noticia desta "indústria" é má e vem com sotaque sul americano...

domingo, 7 de dezembro de 2025

para o jornalistado e para o comentariado (em estilo mordaz e directo)

“Do “cordão sanitário” ao cerco mediático e às “linhas vermelhas”- nada de novo.

As sondagens continuam a subestimar Ventura, como sempre fizeram desde 2019, e o sistema continua convencido de que basta gritar “frente republicana!” para evitar que o povo vote em quem quer. A receita francesa — todos contra Le Pen — está a ser importada com o mesmo entusiasmo com que se importam croissants congelados: muito barulho, pouco conteúdo.
A verdade é simples: André Ventura tem o único eleitorado fiel e disciplinado desta corrida.
Os outros dividem-se, desgastam-se e esperam que o sistema os salve.

Se houver segunda volta — e haverá — o país (e Eu) terá de escolher entre o candidato do sistema e o candidato antissistema.
...
E aí, meus caros, já não haverá “cordão” que nos valha.”

sábado, 6 de dezembro de 2025

História para os mais novos

- 25 de Novembro de 1975 -
-   4 de Dezembro de 1980 -
-   4 de Outubro de 2015 -


 

Do Cordão “Republicano” ao Cerco social-fascista— A Lição Francesa e o Caso Ventura

As elites portuguesas continuam convencidas de que o eleitor é um ser obediente, maleável e propenso a seguir ordens televisionadas. É por isso que, tal como em França, acreditam que um “cordão sanitário” basta para travar quem não se enquadra na narrativa dominante. Em 2026, esse alvo chama-se André Ventura.
1. A eterna subestimação das sondagens
Desde 2019 que as sondagens subestimam o Chega. Isto não é polémico: é estatístico. O eleitor de Ventura não responde, não confia e não gosta de ser avaliado moralmente por quem o entrevista.
Resultado: Ventura vale sempre mais do que o publicado.
2. O candidato com base própria
Gouveia e Melo atrai simpatia. Mendes apela aos nostálgicos do comentário político televisivo. Seguro convoca a máquina socialista.
Ventura, porém, é o único com uma base consolidada: disciplinada, coerente e resistente ao ridículo mediático.
3. O cordão que não se aguenta
A tentativa de copiar a estratégia francesa — todos contra Ventura — esquece um detalhe: Portugal não é França.
  • . A direita moderada não vê Ventura como inimigo existencial.
  • . O eleitor português não gosta de ser mandado votar “contra” e
  • . A elite política perdeu a autoridade moral para liderar cruzadas cívicas.
4. O problema não é Ventura — é a aritmética
A fragmentação dos outros candidatos empurra Ventura para a segunda volta, não por força extrema, mas por coesão do seu eleitorado. Onde os outros dividem, Ventura soma.
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Concluindo-me:
O confronto não será esquerda vs. direita. Será sistema vs. anti-sistema.
E quando essa for a alternativa real, os velhos “cordão republicano” e “cerco social-fascista” transformar-se-á apenas num gadget de limites de ruido socialmente pouco aceitáveis — muito barulho, pouca utilidade.

O gajo da melena e pá ou Uma outra estória


Por sorte nossa, a História oficial, sobretudo quando não prima pela verdade, tende a ser efémera. E pode sempre rever-se e refazer-se escreveu um dia Jaime Nogueira Pinto.
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Lembram-se do tempo em que "eles" eram "Oficial e Cavalheiro"? Este não o é o caso! Nunca o foi! E aqui, preto no branco, bem o demonstra.
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A bem da verdade o Observador tem a obrigação de obter contraditório às boutades deste bronco.
Aqueles que foram seus contemporâneos na Guiné, nos Açores e na Metrópole e, especialmente, os militares, em especial os soldados sem graduação, que estiveram com ele,  que ele "comandava" devem ser ouvidos em contraditório. 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

mesmo nas Presidenciais... valem o que valem!

Segundo a jornalista Joana Mourão Carvalho e o Estudo de Opinião da Consulmark2 
Se as eleições presidenciais de 18 de janeiro fossem este domingo, Luís Marques Mendes disputaria a segunda volta com um de quatro outros candidatos: António José Seguro, Henrique Gouveia e Melo, André Ventura ou João Cotrim de Figueiredo.
A sondagem realizada pela Consulmark2 para a Euronews mostra um cenário um tanto inesperado, com o candidato apoiado pelo PSD a surgir em primeiro lugar com apenas 16,9% das intenções de voto, seguido por António José Seguro com 13,0%, Henrique Gouveia e Melo com 12,7%, André Ventura com 12,6% e João Cotrim de Figueiredo com 12,2%. Há portanto um empate técnico a quatro para disputar quem segue para a segunda volta.
Já Catarina Martins não vai além dos 2,0%, seguida de muito perto de António Filipe com 1,9% das intenções de voto. Jorge Pinto não chega sequer a 1%.
A sondagem realizada pela Consulmark2 para a Euronews mostra um cenário um tanto inesperado, com o candidato apoiado pelo PSD a surgir em primeiro lugar com apenas 16,9% das intenções de voto, seguido por António José Seguro com 13,0%, Henrique Gouveia e Melo com 12,7%, André Ventura com 12,6% e João Cotrim de Figueiredo com 12,2%. Há portanto umempate técnico a quatro para disputar quem segue para a segunda volta.
Já Catarina Martins não vai além dos 2,0%, seguida de muito perto de António Filipe com 1,9% das intenções de voto. Jorge Pinto não chega sequer a 1%.
Resultados sem distribuição aritmética dos NS/NR 
A sondagem foi realizada entre 19 e 28 de novembro de 2025, já com os debates televisivos a decorrer. A amostra teve 795 entrevistas telefónicas: 380 homens e 415 mulheres. A margem de erro é de 3,4%.
Um total de 89% dos inquiridos disse ter intenção de votar a 18 de janeiro e 52,8% já decidiram em quem irão votar. Apenas 2,2% assumem a abstenção e quase metade (47,2%) ainda não sabe em quem vai votar. A maioria deles vai esperar pela campanha eleitoral para decidir.
Com distribuição de indecisos, na primeira volta, Marques Mendes aparece destacado em primeiro lugar com 22,0%, mas o cenário de empate a quatro repete-se com Seguro a obter 16,9% das intenções de voto, Gouveia e Melo 16,6%, Ventura 16,4% e Cotrim 15,9%. Mais longe estão Catarina Martins (2,6%), António Filipe (2,5%) e Jorge Pinto (0,8%).
A decisão do voto 
Já na percepção pública de qual vai ser o resultado, 41,4% dos inquiridos neste estudo acreditam que Marques Mendes será o próximo Presidente da República.
O candidato da família social-democrata também é o melhor avaliado em diversas categorias: melhor perfil para ser presidente da República (29,35), conhece melhor os problemas do país (38%), transmite maior credibilidade (33%), mais reconhecimento internacional (36,1%) e mais próximo das pessoas (32,5%). Também lhe é reconhecida a maior capacidade de diálogo (41,9%).
Marques Mendes apenas é ultrapassado na capacidade de liderança, categoria onde é Gouveia e Melo que reúne maior consenso (37,9%).
Luís Marques Mendes ganha todos os “confrontos” e André Ventura perde todos
Tudo indica que será necessária uma segunda volta para eleger o próximo presidente da República. Em todos os cenários apresentados aos inquiridos, Luís Marques Mendes ganha aos três candidatos que estão mais próximos em pontos percentuais. Se for André Ventura a passar a uma segunda volta, o candidato apoiado pelo PSD vence com 64,8%. Se for Gouveia e Melo, Marques Mendes ganha a eleição com 46,0%. Se o adversário for António José Seguro, a margem encurta para 43,6%.
Outro ponto a destacar é que André Ventura perde em todos os cenários na segunda volta com qualquer outro dos três candidatos, seja no confronto com Marques Mendes, Gouveia e Melo ou Seguro. Os níveis de rejeição do líder do Chega numa segunda volta é um aspeto que tem vindo a ser demonstrado em sucessivas sondagens para as eleições presidenciais.
Os cenários na segunda volta 

Ficha técnica
Estudo de opinião sobre a atual situação social e política em Portugal, realizada pela Consulmark2, Estudos de Mercado e Trabalho de Campo, Lda para Euronews.
Universo: Indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas pelas variáveis sexo, idade e região, com base nos Censos 2021. A amostra teve 795 entrevistas efetivas: 380 homens e 415 mulheres; 168 entre os 18 e os 34 anos, 421 entre os 35 e os 64 anos e 206 para os 65 e mais anos; Norte 262, Centro 133, Oeste e Vale do Tejo 64, Grande Lisboa 159, Península de Setúbal 61, Alentejo 37, Algarve 38, R. A. Açores 20 e R. A. Madeira 21.
Técnica: Entrevistas telefónicas (CATI).
Datas de realização do Trabalho de Campo: Decorreu entre 19 e 28 de novembro de 2025.
Taxa de resposta: 46,2%.
Erro máximo de amostragem, para um intervalo de confiança de 95%: + 3,4%.
Responsabilidade do estudo: Consulmark2, Estudos de Mercado e Trabalho de Campo, Lda, sob a direção técnica de José Constantino Costa.
Em “O VOTO”, a percentagem de Ns/Nr/Recusas distribuída aritmeticamente é de 22,2%.
Publicado a 04/12/2025 - 15:12 GMT+1 •Últimas notícias 15:40

A Gulbenkian Descobriu o Woke – e Perdeu a Vergonha

(...em português vernáculo diz-se que é de fp!)

Há dias em que um cidadão comum entra na Fundação Calouste Gulbenkian com a confortável expectativa de encontrar cultura, conhecimento e aquela sobriedade civilizada que, durante décadas, fez da instituição um farol no deserto mental que tantas vezes atravessa Portugal. Pois bem: esse tempo acabou. A antiga vanguarda deu lugar ao novo catecismo, e o catecismo chama-se woke.
A exposição sobre o Brasil — essa pérola da imaginação revolucionária tardia — não é só um disparate histórico: é um insulto à inteligência e uma tentativa descarada de transformar a cultura numa arma para excitar ressentimentos e fabricar culpas colectivas.
O absurdo linguístico: agora o português do Brasil nasceu em África
Há limites para o ridículo. Ou havia. Aparentemente já não há.
Afirmar que o português falado no Brasil “não advém da cultura portuguesa, mas sim de África” não é apenas uma mentira descarada; é uma prova experimental de analfabetismo histórico, mais própria de quem copia slogans em cartazes do que de quem organiza exposições numa instituição cultural.
Sim, porque é bom recordar o que os curadores da moda preferem esquecer:
  • – Os escravos enviados para o Brasil não foram capturados por portugueses, mas comprados às tribos dominantes de Angola, que faziam da captura de rivais um negócio tão legítimo quanto qualquer outro da época.
  • – Esses escravos não falavam português, nem uma versão, nem um esboço, nem um eco.
Falavam as línguas das suas tribos.
  • – E as palavras portuguesas que se falavam em Angola eram... portuguesas, trazidas por portugueses.
Mas, como o objectivo não é explicar a História, mas sim “reinventá-la” ao gosto das novas modas, convém fingir que tudo isto não existiu. Vai bem com o pacote emocional do momento.
A nova religião das desculpas
A teoria woke, que parece ter agora escritório permanente na Gulbenkian, vive de uma convicção singela:
qualquer problema contemporâneo deve ser imputado ao passado, de preferência a um passado longínquo e impossível de corrigir.
Assim se apresenta uma narrativa infantil para justificar que o Brasil de hoje — corrompido até ao tutano, devastado pelo crime organizado e em transe permanente de desresponsabilização moral — deve tudo isto à escravatura de há séculos. Curioso. Tão curioso quanto útil para quem não quer enfrentar as realidades contemporâneas e, sobretudo, para quem não quer assumir responsabilidades.
A ideia de que nada se pode fazer para transformar aquela sociedade porque “a culpa é histórica” é, além de falsa, perniciosa. É a versão tropical do velho chavão soviético: a culpa é sempre de outrem, nunca de quem age, governa ou escolhe.
A integração invertida: esconder a diferença para fingir inclusão
Outra pérola do pensamento mágico woke — tão caro aos curadores da Gulbenkian — é esta:
integrar alguém significa esconder-lhe a diferença e acusar de vil racista todo aquele que, com seriedade, tenta justamente o contrário: reconhecer essa diferença, respeitá-la e integrá-la de forma verdadeira e leal.
É o velho processo psicológico do preguiçoso moral:
  • – dá demasiado trabalho melhorar;
  • – dá ainda mais trabalho assumir responsabilidades;
  • – é muito mais fácil culpar alguém, de preferência um morto, um país, ou um continente inteiro.
Portugal e Brasil: dois países que merecem melhor do que propaganda
A exposição que a Gulbenkian decidiu acolher — e promover — não aproxima povos coisa nenhuma.
Pelo contrário: cria animosidade onde antes havia amizade, substitui o estudo pelo panfleto, e troca a cultura pela propaganda moralista que alimenta agendas políticas e confirma a muito desejada sensação de superioridade moral dos novos discípulos do ressentimento.
Não serve o Brasil — que precisa de coragem, verdade e reforma, não de desculpas colectivas.
Não serve Portugal — que não merece ser retratado como um eterno réu histórico para justificar os falhanços alheios.
E não serve a Gulbenkian — que desce do patamar da excelência para o subsolo das modas ideológicas, onde tudo se perdoa excepto pensar.
A conclusão que ninguém ali quis ouvir
A verdade — essa palavra que hoje incomoda tanta gente — é simples: não há país que se transforme enquanto a culpa for sempre dos outros.
E não há instituição cultural que mantenha a dignidade enquanto abdicar da missão de esclarecer para se dedicar à missão de doutrinar.

A Gulbenkian foi outrora um farol de cultura. Hoje, ao transformar-se num púlpito woke, arrisca tornar-se apenas mais um eco de uma moda passageira — daquelas que o tempo tratará de esquecer, mas não sem antes causar danos.
E tudo isto em nome daquilo que, supostamente, se queria promover: o Bem Comum.
Pois bem. Nada do que ali está exposto o promove.
Apenas promove a ignorância virtuosa e a mentira reconfortante.
Mas há sempre esperança: algumas modas passam depressa.
Oxalá esta seja uma delas.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

afinal é possível fazer-lhe uma entrevista!

Uma conversa rara entre André Ventura e Pedro Santana Lopes, que surpreendeu o país.
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Sem filtros, sem ataques — apenas política dita cara a cara. Ventura fala sobre o sistema, a corrupção, a justiça e o papel de um Presidente verdadeiramente interventivo. Um diálogo diferente, direto e revelador, onde se percebe o que cada um realmente pensa sobre o futuro de Portugal