sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Quando o “comentariado” brinca às casinhas

a propósito do excelente artigo de opinião de Rui Ramos no Observador que olha para o comentariado para o jornalistado:
Há muito tempo que o país tem falta de debates sérios. 
Não falta é a outra fauna: aquela espécie de ornitologia opinativa que, em vez de olhar para o que importa, prefere debicar nos rótulos — “moderado”, “radical”, “antissistema”, “centro‑esquerda com travo a citrinos”… A verdade é que, para boa parte dos nossos “analistas”, a política não passa de um passatempo tolo, uma espécie de Sudoku ideológico para preencher colunas de jornal e horas mortas de televisão.
É por isso que vale a pena sublinhar que estas presidenciais não são, na primeira volta, sobre perfis presidenciais. Não são sobre poses e fotografias oficiais. São sobre força política. Ponto.
Enquanto Ramos descreve o óbvio com a limpidez do costume, os nossos especialistas continuam entretidos a medir sobrancelhas presidenciais, a avaliar sorrisos e a discutir empatia — como se estivéssemos num casting televisivo e não perante um país que desde 2005 vive a metabolizar crises sucessivas.
O diagnóstico é certeiro: o país está demasiado instável e saturado para perder tempo com frivolidades. E, no entanto, é exactamente isso que o “comentariado” faz: perde tempo.
Perde tempo a fingir que estas eleições têm algo de “normalidade republicana”, quando toda a gente percebe que a primeira volta será um gigantesco teste de força partidária.
Lembro o essencial:
– Votar em André Ventura será votar no único discurso que mantém vivas as preocupações que muitos querem silenciar.
– Votar em Marques Mendes será votar na confortável tibieza do PSD.
– Votar em António José Seguro será votar na hipótese de o PS se libertar da herança tóxica de Sócrates e Costa.
e
Duas ideias decisivas:
1. O debate não pode expulsar as inquietações fundamentais do país. O candidato do CHEGA é a garantia de que a imigração e a insegurança não são varridas para debaixo do tapete.
2. Ou Portugal encontra uma esquerda lúcida e adulta, ou continuará a carregar às costas os restos do PREC misturados com wokismo importado e caciquismo paroquial.

Enfim, concordo que Rui Ramos faz aquilo que o “comentariado” não consegue: 
observa o país como ele é, não como as redacções gostariam que fosse.