sábado, 1 de novembro de 2025

Balucha


 

“La Piovra e o Escudo Democrático: Bruxelas contra o pensamento livre”

Há uma expressão italiana, “La Piovra”, que ficou famosa nos anos 80 por designar o poder tentacular da Máfia — um polvo invisível que se estendia por toda a sociedade, controlando políticos, magistrados, jornalistas e empresários.
Pois bem: hoje, o polvo já não vem de Palermo. Cresce em Bruxelas.
O Comissário Europeu para a Democracia, Justiça, Estado de Direito e Protecção do Consumidor, Michael McGrath, anunciou o projecto de um “Escudo Democrático Europeu” destinado — diz ele — a “proteger” a União da desinformação, das ingerências estrangeiras e das ameaças híbridas.
Aparentemente, trata-se de blindar as eleições e a opinião pública. Na prática, o objectivo é outro: blindar o sistema contra o voto do povo.
A “democracia protegida” é a nova forma da censura ilustrada.¹
Tal como Jaime Nogueira Pinto recorda, o método é antigo: quando as eleições não correm bem, anula-se; quando correm mal, legisla-se.
Na Roménia, anulou-se uma primeira volta porque o “candidato errado” estava à frente. Em França, tenta-se condenar judicialmente Marine Le Pen por ter feito o mesmo que todos os outros partidos fizeram. E em Portugal, enquanto se celebram 50 anos de “liberdade de expressão”, multiplicam-se os apelos a controlar as redes sociais.
Não se trata de proteger a Democracia; trata-se de proteger o monopólio da palavra.
As redes sociais tornaram-se o maior incómodo dos regimes confortáveis: permitem que a plebe fale, compare, denuncie e exponha as hipocrisias da elite.
Para os “liberalíssimos democratas” que hoje pregam o amor à liberdade, o problema é que o povo fala demais — e fora de guião.
O “Escudo Democrático” é, afinal, um escudo contra a pluralidade.
A mesma Europa que se diz assente na diversidade quer agora um pensamento único, higienizado e supervisionado.
A mesma que se ofende com o Estado Novo e o acusa de censura moral, apressa-se a criar o seu index digital, em nome da moral democrática e da luta contra o “ódio”.
O polvo mexe-se devagar, mas firme.
Começa por “proteger os cidadãos”; acaba por lhes dizer o que podem pensar, partilhar e votar.
Bruxelas tornou-se, assim, a sede do novo moralismo europeu — aquele que, com a máscara da virtude, controla o discurso e pune a dissidência.
A democracia que nasce da vigilância e da censura é como o escudo de McGrath: pesado, brilhante — e inútil.
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Nota:
Ver Jaime Nogueira Pinto, O Escudo Democrático, in Observador, 2025.
A metáfora de “La Piovra” é aqui usada na acepção figurativa, referindo-se a uma estrutura de poder difuso e autorreferencial — um polvo ideológico que se alimenta do medo de perder o controlo sobre o discurso público.

1 de Novembro de 1755

 

in memoriam 1 11 1775