terça-feira, 30 de setembro de 2025

A crise da Impresa: Razões Estruturais, de Gestão, de Estratégia e de Credibilidade

A crise da Impresa (SIC, Expresso e outras marcas) é real e tem várias dimensões. Pode-se analisar em três planos: estrutural, de gestão e editorial/credibilidade. Eis uma síntese das principais razões que ajudam a compreender porque enfrenta hoje a sua maior crise:
Razões Estruturais
(do mercado mediático)
. do modelo publicitário tradicional: as receitas migraram para Google, Meta (Facebook/Instagram) e TikTok, que concentram mais de 70% do investimento digital em Portugal.
. Erosão das vendas em papel: o Expresso vendia mais de 100 mil exemplares/semana há 20 anos; hoje anda na ordem dos 40 mil, com forte envelhecimento dos leitores.
. Mudança no consumo de media: as gerações mais novas não lêem jornais nem vêem televisão aberta; preferem plataformas digitais, podcasts independentes e redes sociais.
. Concorrência acrescida: novos players digitais (Observador, ECO, CNN Portugal, plataformas de subscrição individuais) roubaram relevância, anunciantes e leitores.
Razões de Gestão e Estratégia
. Elevado endividamento: a Impresa nunca conseguiu equilibrar receitas com a dívida acumulada, sobretudo após investimentos caros em estúdios e na transição digital.
. Modelo digital tardio: ao contrário do Público ou do Observador, a SIC e o Expresso demoraram a consolidar um modelo pago eficaz, perdendo “momentum”.
. Dependência excessiva da televisão generalista: a SIC é uma máquina cara (ficção, entretenimento, reality shows), sujeita a oscilações de audiências e de custos de produção.
. Fragilidade acionista: conflitos familiares (família Balsemão) e incapacidade de atrair novos investidores robustos dificultam qualquer reestruturação profunda.
Razões Editoriais e de Credibilidade
Aqui entra uma pergunta: Os jornalistas, comentadores e “especialistas” demasiado alinhados à esquerda não afastaram uma parte significativa do público?
. Perda de pluralismo: muitos leitores/espectadores percebem a SIC e o Expresso como próximos da esquerda tradicional (PS) ou até de narrativas mais à esquerda, o que afasta públicos de centro-direita e conservadores.
. Bolha mediática: excesso de comentadores recorrentes sempre dos mesmos quadrantes ideológicos (ex.: economistas e ex-governantes socialistas, jornalistas militantes em causas progressistas).
. Credibilidade desgastada: quando as audiências percebem que certos temas são tratados com enviesamento (imigração, contra CHEGA e outros conservadorismos, críticas à UE, etc.), tendem a procurar alternativas (Observador, CNN, Correio da Manhã).
. Desfasamento com o eleitorado: Portugal mudou — há hoje mais de um milhão de eleitores no espaço Chega/IL/CDS/PSD à direita, mas esses públicos não se reveem no tom dominante da SIC/Expresso. Resultado: cancelam assinaturas e desligam.

A crise da Impresa também se deve à orientação política da sua linha editorial - uma parte da equação. Mas o maior peso vem de não se ter apercebido, e reagido a tempo, à transformação tecnológica e à do mercado publicitário.
A falta de pluralismo e a tendência para um jornalismo de opinião monocórdico, muitas vezes percebido como “progressista de serviço”, agravaram a perda de credibilidade e dificultaram a fidelização de públicos fora do círculo tradicional da esquerda urbana.