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Era o que Marcelo Caetano não aceitava. À frente da UN em 1947, propôs-se suscitar "um verdadeiro levantamento cívico para conquistar a opinião pública e os votos". Não se conformava, como disse a Salazar, com o facto de o governo ser "a única realidade política activa, apoiado no aparelho administrativo e nas polícias". Também não ocultou as suas dúvidas em relação ao nível de vida do país. Em Setembro de 1954 visitou Trás-os-Montes e o Minho: "Vi magníficas obras, mas não posso dizer que me confortou ver o resto: muita pobreza, salários baixíssimos, desrespeito de horário de trabalho na indústria e nas obras públicas, exploração de menores; as Casas do Povo reduzidas a museus de folclore, etc." Os inimigos de Caetano, como o historiador Alfredo Pimenta, já o achavam em 1948 "nado, fadado e criado para ser o Kerensky da situação actual". Mas Caetano, que havia sido um integralista na juventude, nunca pensou em arriscar o poder numa competição eleitoral entre partidos. Em 1948, o sufrágio universal parecia-lhe "cada vez mais sem sentido e sem seriedade". Desejava apenas mobilizar as "massas" através das instituições corporativas e da melhoria da qualidade de vida.
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Rui Ramos, "História de Portugal" parte iii (Época Contemporânea), Esfera dos Livros - pré-publicação do capítulo 9 no Jonal “ i “ -.
curiosa e re-aplicavél a opinião de Marcelo Caetano em Setembro de 1954...