terça-feira, 30 de setembro de 2025

A crise da Impresa: Razões Estruturais, de Gestão, de Estratégia e de Credibilidade

A crise da Impresa (SIC, Expresso e outras marcas) é real e tem várias dimensões. Pode-se analisar em três planos: estrutural, de gestão e editorial/credibilidade. Eis uma síntese das principais razões que ajudam a compreender porque enfrenta hoje a sua maior crise:
Razões Estruturais
(do mercado mediático)
. do modelo publicitário tradicional: as receitas migraram para Google, Meta (Facebook/Instagram) e TikTok, que concentram mais de 70% do investimento digital em Portugal.
. Erosão das vendas em papel: o Expresso vendia mais de 100 mil exemplares/semana há 20 anos; hoje anda na ordem dos 40 mil, com forte envelhecimento dos leitores.
. Mudança no consumo de media: as gerações mais novas não lêem jornais nem vêem televisão aberta; preferem plataformas digitais, podcasts independentes e redes sociais.
. Concorrência acrescida: novos players digitais (Observador, ECO, CNN Portugal, plataformas de subscrição individuais) roubaram relevância, anunciantes e leitores.
Razões de Gestão e Estratégia
. Elevado endividamento: a Impresa nunca conseguiu equilibrar receitas com a dívida acumulada, sobretudo após investimentos caros em estúdios e na transição digital.
. Modelo digital tardio: ao contrário do Público ou do Observador, a SIC e o Expresso demoraram a consolidar um modelo pago eficaz, perdendo “momentum”.
. Dependência excessiva da televisão generalista: a SIC é uma máquina cara (ficção, entretenimento, reality shows), sujeita a oscilações de audiências e de custos de produção.
. Fragilidade acionista: conflitos familiares (família Balsemão) e incapacidade de atrair novos investidores robustos dificultam qualquer reestruturação profunda.
Razões Editoriais e de Credibilidade
Aqui entra uma pergunta: Os jornalistas, comentadores e “especialistas” demasiado alinhados à esquerda não afastaram uma parte significativa do público?
. Perda de pluralismo: muitos leitores/espectadores percebem a SIC e o Expresso como próximos da esquerda tradicional (PS) ou até de narrativas mais à esquerda, o que afasta públicos de centro-direita e conservadores.
. Bolha mediática: excesso de comentadores recorrentes sempre dos mesmos quadrantes ideológicos (ex.: economistas e ex-governantes socialistas, jornalistas militantes em causas progressistas).
. Credibilidade desgastada: quando as audiências percebem que certos temas são tratados com enviesamento (imigração, contra CHEGA e outros conservadorismos, críticas à UE, etc.), tendem a procurar alternativas (Observador, CNN, Correio da Manhã).
. Desfasamento com o eleitorado: Portugal mudou — há hoje mais de um milhão de eleitores no espaço Chega/IL/CDS/PSD à direita, mas esses públicos não se reveem no tom dominante da SIC/Expresso. Resultado: cancelam assinaturas e desligam.

A crise da Impresa também se deve à orientação política da sua linha editorial - uma parte da equação. Mas o maior peso vem de não se ter apercebido, e reagido a tempo, à transformação tecnológica e à do mercado publicitário.
A falta de pluralismo e a tendência para um jornalismo de opinião monocórdico, muitas vezes percebido como “progressista de serviço”, agravaram a perda de credibilidade e dificultaram a fidelização de públicos fora do círculo tradicional da esquerda urbana.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Nas autárquicas "valem o que valem"

(Com a ajuda de "IA generativa" na pesquisa de dados)
Actualização com as sondagens mais recentes (publicadas até Setembro de 2025) para as eleições autárquicas / panorama político local, com foco nos partidos PS, PSD/AD e CHEGA:
Intenções de voto nas eleições em geral
. No barómetro DN / Aximage de setembro, o CHEGA aparece pela primeira vez em primeiro lugar entre as intenções de voto: 26,8 %. (Diário de Notícias)
. A AD (PSD/CDS) surge em segundo, com 25,9 %. (Diário de Notícias)
. O PS está em terceiro, com 23,6 %. (Diário de Notícias)
. As diferenças entre os três partidos situam‑se dentro da margem de erro (~4,1 p.p.) nesse barómetro. (Diário de Notícias)
. A liderança inédita do CHEGA indica uma crescente volatilidade no eleitorado e uma viragem para a direita fora do “arco de governação” tradicional. (euronews)
Esses resultados nacionais alimentam expectativas de que as eleições autárquicas de 2025 poderão refletir “efeitos de onda” nacionais, embora existam muitos fatores locais que podem alterar os resultados nos municípios.

Sondagens a municípios "de relevo"
Lisboa
Não há sondagem confiável exclusiva para a Câmara de Lisboa que destaque PS / PSD / CHEGA.
Mas o contexto nacional sugere que o CHEGA pode tentar capitalizar em distritos urbanos como Lisboa, especialmente se mobilizar bem eleitores jovens ou descontentes com os partidos tradicionais.
Porto
A sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso / SIC revela que o candidato do PS, Manuel Pizarro, estará à frente do candidato do PSD (Pedro Duarte) por cerca de 3 pontos percentuais. (Expresso)
Um avanço modesto e dentro da margem de erro (~3,5 p.p.), o que reforça a disputa acirrada. (Expresso)
Mas, aparece o candidato independente/terceira via (Nuno Cardoso) como fator disruptivo, com cerca de 13,5 % das intenções de voto no Porto, o que pode fragmentar votos tradicionais. (Porto Primeiro - Nuno Cardoso)
Faro
Numa sondagem formal depositada no ERC para Faro (parte do processo oficial de sondagens para as autárquicas 2025. Mas sem acesso público a números específicos.). (ERC)
Contudo o facto de existir sondagem oficial indica que Faro é um concelho acompanhado por institutos de Estudos de Opinião, o que sugere relevância competitiva.
outros Concelhos chave
. Em Sintra, uma sondagem recente (realizada entre 3 e 14 de Setembro) posiciona Ana Mendes Godinho (PS) como líder das intenções de voto. (marktest.com)
. Em Sintra também se comenta empate técnico tripartido entre PSD, PS e CHEGA, sinalizando uma disputa muito aberta no concelho e possível variação conforme a mobilização eleitoral. (Instagram)
. Em Braga, o Secretário-Geral do PS afirmou que as sondagens mostram uma “subida consolidada” do partido, o que sugere algum impulso regional favorável ao PS. (RTP)
Interpretação e risco
. O CHEGA está emergindo como força ascendentes a nível nacional e pode transformar isso em ganhos locais, principalmente onde os partidos tradicionais estiverem fracos ou mal mobilizados.
. Nos grandes centros urbanos (Porto, talvez Lisboa), o PSD/AD tenta manter ou recuperar terreno, mas corre risco face ao PS ou candidaturas alternativas que fragmentem o voto de direita.
. No PS, há sinais de reavivamento em distritos como Braga, e em municípios onde já tinham presença forte ou incumbência.
. Concelhos com perfil médio/pequeno ou com eleitorado mais voltado para personalidades locais podem ver surpresas, com CHEGA ou candidaturas independentes sendo decisivas no “efeito puxão” local.

a ímpia aliança

Há uns meses os serviços de segurança franceses escreveram um relatório para o Presidente Macron. O principal tema do relatório era a infiltração crescente nos últimos anos de grupos radicais islâmicos na sociedade e em instituições francesas. Muitas das actividades destes grupos são financiadas por países estrangeiros, como a Argélia, o Irão, o Qatar e a Turquia.
O relatório também mostrava que há uma aliança entre as extremas esquerdas francesas e os grupos islâmicos radicais. Os serviços de informação olham para esta aliança como uma ameaça grande à segurança interna francesa. A aliança entre o partido de Melenchon (a França Insubmissa) e os movimentos islâmicos radicais, até em listas comuns para eleições locais, não é novidade para quem segue a política francesa.

Os serviços de informações alemão e britânico também produziram relatórios semelhantes. As alianças entre as extremas esquerdas e os islâmicos radicais também existem na Alemanha e no Reino Unido. Em terras alemãs, é o De Linke que se alia aos islâmicos radicais, e no Reino Unido é o novo partido de Corbyn. Na Alemanha e no Reino Unido, a situação não é tão grave como em França. A razão não tem a ver com o número de imigrantes, já que é semelhante nos três países. Tem a ver com a dimensão política da extrema-esquerda: é muito maior em França do que na Alemanha e no Reino Unido.

Neste momento, Gaza transformou-se na maior causa do esquerdismo-islamismo. Os grandes aliados do Hamas são o Irão, o Qatar e as extremas esquerdas europeias. Não são os outros países árabes. Tirando o Qatar, nenhum outro estado árabe apoia o Hamas. Por que razão o governo do Egipto não abre a sua fronteira com a Faixa de Gaza, apesar da tragédia humanitária no território? Por uma razão muito simples: não quer elementos do Hamas no seu país.

É fundamental fazer uma distinção entre quem neste momento discorda da política do governo israelita em Gaza e os grupos de extrema-esquerda que sempre odiaram Israel, como Melenchon, Corbyn e, em Portugal, o Bloco de Esquerda e o PCP. Já eram favoráveis ao Hamas e anti-Israel muito antes dos ataques terroristas de 7 de Outubro de 2023. Para esses movimentos, Israel simboliza o triunfo de tudo o que sempre combateram: o capitalismo, a economia de mercado, a democracia liberal e os valores ocidentais. Entre o Hamas e as virtudes ocidentais, preferem o primeiro. Para as extremas esquerdas, o radicalismo islâmico é o grande aliado para as suas lutas revolucionárias na Europa.

De acordo com a sua tradição histórica, as extremas-esquerdas representam o pior das ideologias até hoje produzidas na Europa e, como sempre, aliam-se ao pior que existe: os Bolcheviques, o estalinismo, o maoismo, a Albânia, Cuba, o Chavismo e agora o radicalismo islâmico e o Hamas. Há uma linha condutora nas extremas esquerdas ao longo dos últimos cem anos: combater a cultura, as tradições e os valores ocidentais. Hoje, o grande aliado das extremas esquerdas para combater os valores ocidentais é o radicalismo islâmico.

sábado, 27 de setembro de 2025

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

um gajo sem nome e muitos palpites!

[adoro estes tudólogos, quiçá oráculos de Delfos, pagos para largar bitaites para endrominar tótós. No final do Verão cá estarei a conferir as artes devinatórias desta divindade]
.
Há quem alvitre que, quando os efeitos deste Orçamento se começarem a sentir - durante o verão, provavelmente - combinados com a subida do custo de vida provocada pelas taxas alfandegárias, os americanos irão para a rua protestar. Não os que não gostam de Trump, mas todos os afectados. Com certeza que mesmo aqueles que votaram no Presidente não vão gostar de ver as suas possibilidades de ascensão social reduzidas, ou mesmo a manutenção do seu nível de vida ameaçada. Tempos negros pela frente.
Antes da eleição presidencial, escrevi aqui que os Estados Unidos só tinham dois futuros pela frente: ou agitação social, mesmo uma semi-guerra civil, se Trump perdesse; ou uma ditadura, se Trump ganhasse. O que não podia prever era que acontecessem as duas situações ao mesmo tempo…
https://24.sapo.pt/opiniao/artigos/o-orcamento-de-trump-e-a-maior-calamidade-que-vai-acontecer-aos-norte-americanos?utm_source=Facebook&fbclid=IwY2xjawKexxtleHRuA2FlbQIxMQBicmlkETFXNVp0NUZpWXFmS1FnVnRMAR6QveL7PbrUSOiMqMpwJWw872MIVISStTjb_p2hrFVMUU_UqD7pke497drIzA_aem_dTo520ijnGMFxkuBVRSlTw


domingo, 21 de setembro de 2025

O 7 de Outubro não pode ser o acto fundador do Estado da Palestina!

”A 80.ª Sessão da Assembleia Geral da ONU realiza-se a partir de amanhã e intitula se: “Better together: 80 years and more for peace, development and human rights”. Estará na agenda a Questão da Palestina. O Governo português, em comunicado de 31 de julho de 2025, anunciou as tais seis condições específicas que deveriam estar preenchidas pela Autoridade Palestiniana para conduzir a um processo de reconhecimento do Estado da Palestina. O Governo, muito embora o reconhecimento dum Estado seja de sua competência, consultou os partidos: Chega contra e agora CDS também.

As condições eram seis: condenação dos atos terroristas do Hamas e exigência do seu total desarmamento; libertação incondicional e imediata dos reféns detidos em Gaza; compromisso com uma reforma institucional interna e com a organização de eleições num futuro próximo; aceitação do princípio de um Estado palestiniano desmilitarizado, cuja segurança externa seja garantida por forças internacionais; prontidão para retomar a administração e o controlo total da Faixa de Gaza, com a saída do Hamas; reconhecimento do Estado de Israel e das necessárias garantias de segurança.
Estas condições são um sonho! Então porque estamos aqui? Porque temos dúvidas. Estarão estas condições asseguradas? A Autoridade Palestiniana tem o poder de assegurar ao menos a libertação dos Reféns? Existe algum Estado?
Vejamos: esta Guerra tem armas estratégicas não convencionais e uma das mais poderosas é a Comunicação. O 7 de Outubro foi, como disse Herta Muller, o descarrilamento da civilização. A barbárie filmou e exibiu monstruosidades praticadas num apocalipse, como troféus de deuses de inferno. Bernard Henri Levy, no livro “A solidão de Israel”, atribuiu-lhe a classificação de R. Schurmann: um acontecimento, uma Nova Era.
A ciência da Comunicação fez libertar reféns, a conta gotas, num cenário de donos da guerra, o que não fez nenhuma MeToo protestar. Mostraram visualizações de reféns, em subterrâneos dantescos, quando achavam que isso podia servir para culpabilizar Israel. Isto quano libertá-los seria o fim da guerra.

Imagens tremendas de Gaza passam a toda a hora. Existe uma população civil sequestrada, usada como escudo humano e impedida de corresponder aos avisos do IDF, e quem publica essas imagens. A comunicação social parceira da Al Jazeera e de um inexistente Ministério da Saúde do Hamas que, a sê-lo, é da propaganda. A SIC, durante a entrevista ao embaixador de Israel, não passou sequer as imagens que ele levou, repetiram ofensivamente as de todos os dias, as que estetizam terroristas mas desumanizam israelitas. Constroem autoridade moral como agredidos quando foram eles os agressores.
Exemplo desta hipocrisia criadora é a flotilha que segue devagarinho para Gaza para render “likes” e não para acudir a aflitos.

O antissemitismo acabou? Não! Estamos a viver uma Nova Era com uma doença viral antiga que muitos asseguram já não existir. Explicam que antissionismo é algo diferente mas a sinalização selectiva de indignação só acontece quando o opositor é Israel. Não acontece com o sofrimento de muçulmanos em campos de concentração na China, gays na Arábia Saudita, escravos industânicos no Dubai/Abu Dhabi/Catar. Ou cristãos no Sudão e em Moçambique. Isto demonstra que não é quem sofre que lhes desperta a bondade mas sim o ódio ao opositor, Israel.
Delphine Horvilleur diz no seu livro “Coment ça ne vas pas?” que os brinquedos são vendidos sem pilhas mas o antissemitismo é fornecido com recarregáveis e capacidade de se adaptar ao ambiente.
Porque estão todos tão zangados com Israel? Digo-vos: porque os heróis Superman, Batman ou Spiderman, todos inventados por judeus, testemunham a ânsia de inventarem algo que os defenda. Pois agora decidiram defender-se a si próprios e realmente nada mais irritante que um judeu que não aceita mais ser o bode expiatório da humanidade .
E o que dizer da sequestração das universidades? Algumas estão sequestradas por financiamentos externos e contribuem com intelectualidade parcial para moldar o nosso modelo de sociedade judaico cristã.

Há uma religião nova mesmo para ateus. O movimento FreeFree ,tornou-se numa religião de seguidores fanáticos. “From the river to the sea” é o novo grito Heil. A vontade é apagar uma Nação cheia de alegria de viver, apagar um Povo de vez.
Brendan O’ Neil, em “Depois do Pogrom”, diz que Israel esperou a 8 de Outubro em vão pois esperou pela clareza moral de jovens universitários a manifestar-se a seu favor. Mas foi o inverso: justificaram o injustificável e logo no dia seguinte. O Hamas não testou somente a segurança de Israel mas a consciência moral da humanidade. Precisamos de falar, diz ele, sobre a piedade do ocidente para com os pogromistas logo nesse dia.
E as instituições mundiais? Zelam pela justiça e imparcialidade? Não. A ONU declara que Israel comete genocídio e fui ver quem eram os três elementos da suposta comissão neutra, Pillay, Kothari e Sidoti. Todos com histórico de criticas graves a Israel. O nosso Mundo de cabeça para baixo!

Tanto a ONU quanto o governo português limitaram-se a apelos formais e votos simbólicos, sem qualquer ação concreta ou eficaz para pressionar o Hamas para a libertação dos reféns. A ONU produziu resoluções não vinculativas enquanto Portugal se escondeu atrás de declarações conjuntas vazias, sem usar sua voz diplomática para liderar ou sequer incomodar. Ambos falharam em transformar palavras em resultados.
Estamos agora com os olhos postos nas Nações Unidas. Vários países anunciaram que, a partir de Setembro de 2025, reconheceriam o Estado Palestiniano se certas condições fossem cumpridas. Agora Paulo Rangel, como Greta, abandona a “flotilha”de Macron e passa a outra mais rápida.
Mas o que tem Israel contra um estado palestiniano pacífico a seu lado? Nada. Quando a ONU aprovou o plano de partilha da Palestina do Mandato Britânico nela estava implícito a aceitação israelita do Estado Palestiniano. Foram os árabes que não aceitaram. Depois os palestinianos, focados na negação do Estado judaico, negligenciaram a construção do seu e estão sob domínio terrorista.
É por isso que neste momento o reconhecimento de um Estado recompensaria o Hamas que já declarou que esse reconhecimento seria — e cito — “fruto de 7 de Outubro”.

Ora o 7 de Outubro não pode ser o acto fundador do Estado da Palestina.””

Afonso de Albuquerque

Se houve injustiças na Índia de Afonso de Albuquerque, não foi por sua culpa, porque “nunca consentiu que os seus homens oprimissem” os naturais.
(P. Gonçalo Portocarrero de Almada)

Afonso de Albuquerque (1453-1515) passou à História com o cognome de terrível, que é também o título de uma sua recente biografia, de que é autor José Manuel Garcia. Porém, uma tal alcunha não deve levar a esquecer que foi, sem exagero, uma das figuras maiores da nossa História e que, pelos seus feitos, bem merecia receber a honra de ser trasladado para o Panteão Nacional, que ficaria dignificado por uma tão ilustre presença, decerto mais honrosa do que a de outros que, sem méritos análogos, aí jazem indevidamente.
A sua vida, que não cabe no muito limitado espaço de uma crónica, foi narrada, com evidente admiração, pela historiadora francesa Elaine Sanceau (Editora Civilização, Barcelos 1983). Que uma investigadora estrangeira dedique um seu estudo a um vulto da nossa História é prova da sua importância, não apenas nacional, mas mundial. Também por esta justíssima razão, Fernando Pessoa, na Mensagem, não esqueceu Afonso de Albuquerque, precisamente porque a sua bravura moldou, de algum modo, a alma portuguesa. Bom seria que também hoje os alunos das nossas escolas conhecessem a vida deste e de outros heróis pátrios, porque os seus feitos e grandeza, mais do que pretexto para estéreis vaidades nacionalistas ou ridículas supremacias étnicas, deve ser estímulo para a virtude que fez grandes e exemplares aqueles nossos egrégios avós, que tanto contribuíram para a glória de Portugal.

A história de Afonso de Albuquerque começa com um drama que o precedeu e que predeterminou o seu nome familiar. Com efeito, por linha de varonia, era bisneto de Gonçalo Lourenço de Gomide, 1º Senhor de Vila Verde dos Francos, que foi casado com Inês Leitão, sendo pais de João Gonçalves de Gomide, 2º Senhor de Vila Verde dos Francos, Alcaide-mór de Óbidos e Escrivão da Puridade de D. João I, ou seja, uma espécie de chefe de gabinete, ou secretário, do primeiro monarca da dinastia de Aviz.

Este João Gonçalves de Gomide matou sua mulher, Leonor de Albuquerque, sendo posteriormente degolado. Por este motivo, a sua descendência, nomeadamente o pai de Afonso, trocaram o Gomide da sua ascendência paterna pelo apelido de sua mãe, em homenagem à vítima de tão horrível crime e manifesto repúdio, não apenas do ominoso assassino, mas também do seu nome e família que, entretanto, se extinguiram. Se um tal crime não tivesse acontecido, hoje, em vez de se celebrar Afonso de Albuquerque, festejar-se-ia Afonso de Gomide …

A malograda avó paterna do famoso Governador da Índia, Leonor de Albuquerque, era filha de Gonçalo Vaz de Melo, Senhor de Castanheira, e de Isabel de Albuquerque, a qual descendia, por varonia de sua mãe, Teresa de Albuquerque, de um filho bastardo de el-Rei D. Dinis, que casou com D. Teresa Martins de Menezes, 5ª Senhora de Albuquerque, que, por sua mãe, era neta do Rei Sancho IV de Castela e, por varonia, terceira neta de Afonso Teles, 1º Senhor de Albuquerque, e de sua mulher Teresa Sanches, filha de el-Rei D. Sancho I. Acrescente-se ainda que a infeliz Leonor de Albuquerque era irmã de Teresa de Albuquerque, mãe de Catarina de Albuquerque, que casou com Nuno da Cunha, sendo pais de Tristão da Cunha, que conviveu com seu primo Afonso de Albuquerque – suas avós eram irmãs – e descobriu, no hemisfério sul, as ilhas que têm o seu nome.

Apesar de terrível, Afonso de Albuquerque foi, na insuspeita opinião de Elaine Sanceau, um excelente governante, pois, “entre os indígenas de Goa, a opinião era unânime. Adoravam-no como raras vezes se adora um conquistador. Governava-os com justiça rigorosa, cuidava do seu bem-estar, socorria-lhes os pobres e nunca consentiu que os seus homens os oprimissem.” Se é verdade que nos descobrimentos portugueses houve, como é óbvio, excessos, também é certo que muitos vultos dessa epopeia se destacaram pela sua humanidade, tendo pautado a sua actuação pelos princípios da moral cristã. E, portanto, se houve injustiças na Índia de Afonso de Albuquerque, não foi decerto por sua culpa, porque “nunca consentiu que os seus homens oprimissem” os naturais, o que não quer dizer, como é óbvio, que não tenha havido, mais por via de excepção do que por regra, injustiças, mas sem o seu conhecimento, nem consentimento.

A este propósito, Elaine Sanceau narra um episódio, decerto comovedor, da humanidade de Afonso de Albuquerque: “Conta-se que na ocasião em que naufragou a Frol de la Mar, uma rapariguinha assustada, filha de uma cativa, se lhe agarrou à mão. Os prisioneiros de guerra de qualquer idade ou sexo eram apenas parte da presa a dividir entre os vencedores e a vender depois como escravos. Em desastres no mar, deixavam-nos sempre ir ao fundo ou salvar-se a nado. Mas Albuquerque ergueu a pequena nos braços e aí a conservou. De todos os ricos despojos de Malaca, foi esta criança a única coisa que salvou do naufrágio.”

Não se pense, contudo, que esta sua enternecedora solicitude para com aquela criança, que logrou salvar de uma morte certa, foi um caso único porque, como governante, sempre manifestou predilecção pelos mais novos, sobretudo se desvalidos. É ainda a historiadora francesa quem dá conta de que Albuquerque, “em Goa, reuniu todas as crianças órfãs de pai e enjeitadas que havia na cidade – Gaspar Correia declara que eram muitas, na sua maioria órfãs de portugueses falecidos – e instituiu um fundo para as sustentar. Alimentavam-nas e vestiam-nas, e as que já tinham idade para isso aprendiam a ler e a escrever e a recitar o catecismo, e mais tarde forneciam-lhes os meios de ganharem a vida. Todas as multas impostas por diversos delitos revertiam para essa boa obra, bem como parte do valor das presas tomadas no mar. Uma quota de dotação das capelas construídas por Albuquerque após o regresso do mar Vermelho foi também reservada para esta obra de caridade. Quaisquer saldos que houvesse das despesas da igreja tinham de ser entregues ao fundo dos órfãos.”

Também no seu testamento, apesar de não ter morrido rico, não esqueceu os mais novos: deixou legados a sua afilhada Ximena Gomes, uma rapariga indígena, e a um tal Álvaro, filho de um mouro de Goa, “morto per justiça”, que “eu cryey de meu moço pequeno”.

Afonso de Albuquerque não foi apenas grande na glória, mas também na desventura. Não obstante os seus inegáveis méritos e a sua inexcedível dedicação ao Rei e à pátria, nem aquele, nem esta souberam reconhecer e retribuir os seus feitos. Morre a bordo da nau que o leva, por última vez, a Goa, onde já desembarca cadáver. Esgotadas as suas forças até ao extremo do heroísmo, soube então que tinha sido destituído do seu cargo.

Nas últimas palavras do grande Afonso de Albuquerque, que bem podiam ser o seu epitáfio, há alguma tristeza, devida à ingratidão do seu monarca e de alguns dos seus subalternos, embora prevaleça a atitude cristã de quem perdoa os seus inimigos e é consciente de que não foi em vão o sacrifício da sua vida, por ter sempre servido, em primeiro lugar, a Deus: “mal ante elle [el-Rei] por amor dos homens, e mal com os homens por amor d’elle [el-Rei], compreme acolher à igreja.” Como resposta à injustiça humana, a Afonso de Albuquerque só lhe resta o justo juízo de Deus, que é misericordioso, e compensa e supera as ingratidões humanas.

Afonso de Albuquerque jaz nas dependências da Igreja da Graça, numa sepultura armoriada em que, curiosamente, em vez de constarem as armas dos Albuquerques, cujo nome usou e tanto engrandeceu, foram esculpidas as armas dos Gomides, da sua ascendência paterna, como que numa derradeira tentativa de expiar e redimir a criminosa memória do avô homicida.

Portugal deve a Afonso de Albuquerque o reconhecimento de quanto fez pelo nosso país e império. Embora ele já não careça desse tributo, é justo e necessário que lhe seja dada a honra de jazer no Panteão Nacional.

sábado, 20 de setembro de 2025

O "governo sombra"

não tem quadros!
não tem militantes com experiência!
( Estas eram as comuns observações do Jornalistado e do Comentariado)
mas há
Alexandre Franco de Sá, Educação, Ciência e Inovação. É docente e doutorado pela Universidade de Coimbra, dedicando-se sobretudo à área da Filosofia Social e Política.
Fernando Silva, Administração Interna. Professor de Direito Penal na Universidade Autónoma de Lisboa e Professor Adjunto, na área de Direito, na Escola Superior de Tecnologia do Mar, do Instituto Politécnico de Leiria. É advogado e membro da Comissão Nacional de Eleições nomeado pelo Chega.
Horácio Costa, Saúde. Foi diretor do serviço de Cirurgia Plástica Reconstrutiva do Hospital de Vila Nova de Gaia e é diretor clínico do Hospital de São Francisco da Venerável Ordem Terceira de São Francisco do Porto. É o número dois do Chega à Câmara Municipal de Gaia.
Jorge Cid, Agricultura. Médico veterinário, foi bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários durante 12 anos, oficial superior no Exército e fundador do Hospital Veterinário do Restelo.
Margarida Bentes Penedo, Habitação e Infraestruturas. Ex-dirigente do CDS, na direção de Francisco Rodrigues dos Santos. Foi eleita, em 2021, deputada municipal de Lisboa, pela coligação Novos Tempos de Carlos Moedas e desvinculou-se, tornando-se deputada não inscrita. É arquiteta e cronista do Observador.
Miguel Corte Real, Reforma do Estado. Ex-PSD com funções de vice-presidência na concelhia do Porto e conselheiro nacional, liderou a bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto e é o atual cabeça de lista do Porto às eleições autárquicas pelo Chega.
Nuno Simões de Melo, Defesa. É, até agora, o único deputado do Chega no governo escolhido por André Ventura. é coronel de cavalaria na reserva e coordenador da Comissão Parlamentar para a Defesa Nacional.
Rui Gomes da Silva, Justiça. Advogado, é ex-ministro dos Assuntos Parlamentares e ministro adjunto do primeiro-ministro do governo de Pedro Santana Lopes e foi deputado do PSD durante vários anos. Pertence à maçonaria, como membro da Loja do Grande Oriente Lusitano. Era uma das três pessoas que estava no avião que sofreu um acidente após uma visita à base da UNITA.
Rui Teixeira Santos, Economia e Finanças. Professor associado no Instituto Superior de Gestão (ISG), doutorado com uma tese intitulada “Economia Política da Corrupção – O Caso dos Estados Lusófonos”, foi jornalista e presidente da administração do jornal “Semanário”, nos anos 90 e esteve também ligado à criação do jornal Novo, em 2020, que fechou pouco tempo depois.
Teresa Nogueira Pinto, Cultura. Mestre em Relações Internacionais e Doutorada em Ciência Política pela Universidade Católica Portuguesa. Escritora e professora universitária.
Tiago Moreira de Sá, Negócios Estrangeiros. É eurodeputado eleito pelo Chega, foi deputado do PSD e é doutorado em Ciência Política e professor associado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

 

 



Se a Democracia não funciona, é preciso pô-la a funcionar

A esquerda contemporânea, pressionada pelas urnas e incapaz de convencer no debate democrático, recorre cada vez mais a um “outro método”: a criminalização dos adversários políticos. Transformam o conservador em “racista”, o opositor em “fascista”, criando a moldura para que surjam justiceiros voluntários, investidos da missão de “salvar o mundo”.

O assassinato de Charlie Kirk por Tyler Robinson é o exemplo extremo deste processo. O homicida inscreveu nos cartuchos referências culturais e históricas — desde o Bella Ciao dos partigiani até slogans de subculturas digitais antifas e do gaming —, confirmando como a violência política de esquerda se alimenta de um ecossistema de ódio intelectual e mediático.
Como sublinha Victor Davis Hanson, quando intelectuais, académicos e jornalistas elevam a demonização até ao insulto máximo, estão a alimentar um “exército das sombras”: indivíduos radicalizados que acreditam que silenciar pela força é não só aceitável, mas moralmente necessário.
É esta a verdadeira inversão do debate democrático: não é a direita que impõe “linhas vermelhas”, mas a esquerda que decide quais são as ideias “inadmissíveis”. E, quando falham as urnas, sobra-lhes o recurso a transformar opositores em inimigos a eliminar.
A Democracia, se quer sobreviver, tem de voltar ao essencial: liberdade de expressão, confronto de ideias e respeito pelas maiorias silenciosas. Sem isso, corre o risco de ser apenas o nome que encobre a violência de uns contra os outros, resume Jaime Nogueira Pinto em “ A democracia a funcionar “

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

a rendição diplomática de Rangel, do Governo e de Marcelo

Quer no método, quer na substância, quer na coerência, a decisão de reconhecer o Estado da Palestina nesta conjuntura é um erro grave que fragiliza Portugal e corrói a credibilidade da sua política externa.
O episódio começou da pior forma: não foi o Governo português a anunciar a decisão, mas sim o Palácio do Eliseu, como se Lisboa fosse um satélite de Paris, incapaz de afirmar a sua própria voz. É diplomática e institucionalmente insólito que um país soberano se deixe anunciar por outro. Portugal fica diminuído, tratado como apêndice e não como Estado com política externa própria.
A substância é ainda mais grave. Reconhecer a Palestina neste contexto significa inscrever na nossa história diplomática um precedente perigoso: confundir causa política com terrorismo. A mensagem transmitida ao mundo é inequívoca — que o massacre de 7 de Outubro, o mais bárbaro ataque contra judeus desde o Holocausto, pode ser entendido como acto fundador de um Estado. É o sangue de inocentes transformado em moeda diplomática.
Alguns dirão que o gesto é simbólico, um sinal de solidariedade com o sofrimento palestiniano, ou que Portugal apenas se alinha com tendências internacionais. Mas nada disso resiste à análise: a solidariedade não pode ser confundida com a legitimação da violência, e seguir Paris ou Bruxelas sem respeito pelos critérios nacionais é abdicar da soberania em troca de aplausos fáceis.
A incoerência é total. O Governo estabeleceu critérios claros: libertação dos reféns, desarmamento do Hamas, reconhecimento de Israel, reforma da Autoridade Palestiniana, eleições livres e desmilitarização do futuro Estado. Nenhum destes pontos está cumprido. Nenhum.
E, ainda assim, Portugal avança — não porque os pressupostos foram verificados, mas porque Paris decidiu que era hora. Esta rendição não é só incoerência: é traição às linhas que o próprio Executivo traçou.
A tudo isto soma-se o silêncio do Presidente da República. Marcelo, que tantas vezes reclama autoridade moral e política, opta agora por calar. Mas o silêncio também fala: neste caso, legitima o gesto do Governo, confirmando a secundarização de Portugal e a submissão diplomática.

Paris manda. Marcelo cala-se. O Governo trai a palavra dada. E Paulo Rangel deixa de ser chefe da diplomacia para ser simples ministro obediente. 
O resultado é um só: uma humilhação  e a perda da credibilidade externa conquistada em décadas de esforço.

André Ventura: para eles o "inimigo publico"!

Para memoria futura fica que Quer o sr. Bruno, quer o sr. Paulo omitiram a entrada na manifestação de deputada Isabel Moreira além de André Ventura cuja presença tanto criticaram!!!

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

e se este alegado jornalista nos enganou?

O plano começa a dar frutos. A tendência de crescimento eleitoral da Aliança Democrática parece estar a consolidar-se nos sucessivos estudos de opinião que vão sendo publicados. Os inquiridos nestas sondagens vão fazendo uma avaliação aparentemente positiva dos quase 10 meses de Governo e a popularidade de Luís Montenegro vai resistindo mesmo depois de o Executivo ter somado a sua dose de casos e casinhos. Em sentido inverso, Pedro Nuno Santos e André Ventura vão mostrando os primeiros sinais de algum desgaste, um dado que não passa despercebido a quem aconselha o primeiro-ministro. 

(Miguel Santos Carrapatoso no Observador em 17 jan. 2025, 23:0515)

No núcleo mais próximo de Luís Montenegro, ninguém quer entrar em grandes euforias ou dar especial importância a sondagens. Mas a verdade é que havia alguma frustração latente com os estudos de opinião. Ainda que confirmassem a popularidade de Montenegro, estes inquéritos iam apontando para um empate técnico entre a AD e o PS (ou até para uma ligeira vantagem dos socialistas) e para uma estabilização do Chega nas intenções de voto mesmo depois de o Governo ter feito aprovar uma série de medidas teoricamente populares de redistribuição de rendimentos e apesar da preocupação declarada da coligação de direita em recuperar bandeiras como a segurança e a imigração.

Paulatinamente, e na perspetiva dos homens do primeiro-ministro, claro, a tenaz que encurtava o espaço político da AD parece estar a perder força. As contas públicas mantêm-se em ordem (e o centro gosta disso), os mais jovens (bastião eleitoral da AD) estão a conseguir comprar mais casas (cerca de 17 mil já o fizeram com as novas regras fiscais e o IRS Jovem vai começar a produzir resultados este ano) e os mais velhos (o suporte político do PS) começam agora a perceber que o fantasma da troika e do corte das pensões está definitivamente exorcizado.

Não menos importante, o binómio segurança/imigração tornou-se tema dominante de todos os debates, o que tem permitido ao Governo falar diretamente para o eleitorado do Chega e ensaiar uma separação das águas à direita. “Foi como sopa no mel. E André Ventura está a ficar sem chão e sem narrativa”, argumenta um elemento do Governo. “O nosso discurso cria um embaraço a André Ventura. Ocupámos um espaço que ele estava a tentar ocupar”, concorda um destacado dirigente social-democrata.

A partir do Governo a ordem é para dramatizar e tentar provar que Pedro Nuno Santos (pela inação e pela omissão) está tão errado como André Ventura (pela agenda radical). Nem o "oito" do PS, nem o "oitenta"do Chega, vai dizendo Montenegro

Nem o “oito” do PS, nem o “oitenta”do Chega

É quase uma questão de aritmética eleitoral: nas últimas eleições legislativas, houve 1 milhão de votos à direita da Aliança Democrática; o Chega terá uma base de fiéis na ordem dos 10%, que dificilmente será recuperável, mas existem ainda muitos eleitores por convencer nesse espaço político. “Fechámos o campo de batalha ao centro. Temos de crescer à direita“, antecipa um influente social-democrata.

No último debate quinzenal, aliás, Montenegro e o líder do Chega chocaram precisamente nessa frente, com os dois a tentarem levar a água ao seu moinho: Ventura a sugerir que o Governo é frouxo no combate à insegurança e à imigração ilegal; e o social-democrata a tentar colocar-se rigorosamente ao centro nesta discussão. Nem o “oito” do PS, nem o “oitenta” do Chega, disse Montenegro. “Os dois partidos da oposição estão a apanhar bonés“, rematou Hugo Soares, líder parlamentar do PSD e braço direito do primeiro-ministro, no mesmo debate.

Os sociais-democratas estão convencidos de que estão a conseguir ganhar este debate. Por um lado, acreditam que Pedro Nuno Santos não tem conseguido encontrar um discurso coerente e que as posições relativamente recuadas dos socialistas (ambíguas e contraditórias em alguns casos) estão a prejudicar o próprio partido. O PSD entende que só precisa de continuar a colar o PS ao radicalismo e a uma alegada agenda anti-ordem e anti-polícia para manter a pressão sobre Pedro Nuno.

Aliás, o mesmo debate quinzenal ficou marcado pelo momento de indignação de Montenegro (amplamente partilhado nas redes sociais dos apoiantes da AD). Pedro Nuno Santos teve uma evidente preocupação de ignorar por completo a operação do Martim Moniz ou a questão da imigração para não ser arrastado para o campo de batalha onde a AD parece sentir-se mais confortável. Mas uma referência quase lateral às alterações às regras de acesso de cidadãos estrangeiros ao SNS foi o suficiente para que o primeiro-ministro acusasse, aos gritos, o líder socialista de querer “pactuar e promover redes criminosas na Saúde”.

Ao mesmo tempo, acredita-se no quartel-general do PSD, um discurso assertivo sobre os dois temas, com medidas e ações concretas no terreno, pode fazer recuperar parte do eleitorado que fugiu para o Chega — partido que durante muito tempo esteve sozinho a falar sobre as questões da criminalidade e da imigração — e que agora se pode sentir incomodado com os exageros retóricos e programáticos de André Ventura. A ordem, portanto, é para dramatizar e tentar provar que o secretário-geral do PS (pela inação) está tão errado como André Ventura (pela agenda radical).

O barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos teve conclusões: 75% dos respondentes acham que seria positivo para Portugal que houvesse uma política de imigração mais regulada; 68% defendem que os imigrantes contribuem para o aumento da criminalidade; 54% acham que os imigrantes prejudicam os portugueses no mercado de trabalho; e 61% dos inquiridos consideram que o número de imigrantes do subcontinente indiano deve diminuir

AD com um sinal verdadeiramente animador

Claro que nada disto se faz sem erros e dores de crescimento. A conferência de imprensa das oito da noite que tanta tinta fez correr, a operação policial no Martim Moniz que tantas críticas provocou, a equiparação que Luís Montenegro fez entre a manifestação “Não nos encostem à parede”, que juntou dezenas de milhares de pessoas, e a vigília organizada pelo Chega (que reuniu umas centenas de pessoas e uns quantos elementos do partido nacionalista Ergue-te), tudo foi aproveitado pela oposição para acusar o Governo de ter mergulhado numa deriva autoritária. Para o PSD/CDS, importa garantir que o centro moderado não se assusta e, para isso, é preciso equilíbrio e alguma contenção. É Montenegro a andar no arame.

O último inquérito da Pitagórica para a TVI, CNN, TSF e JN trouxe indicadores positivos para a Aliança Democrática, reforçaram os estudos internos do Governo e mostraram Montenegro finalmente a descolar do PS (ligeiramente, mas a descolar). Além de subir cerca de quatro pontos percentuais nas intenções de voto em relação às últimas legislativas, 62% dos inquiridos disseram aprovar a atuação do Governo e 53% das pessoas que participaram na sondagem fizeram uma avaliação positiva do desempenho do primeiro-ministro, num estudo conduzido entre os dias 28 de dezembro de 2024 e 5 de janeiro de 2025, já depois da controversa operação policial no Martim Moniz.

Em sentido inverso, nesta mesma sondagem, o PS e o Chega descem 1 e 2 pontos percentuais em relação às últimas eleições legislativas. Não é exatamente um trambolhão, mas Pedro Nuno Santos e André Ventura também recolheram avaliações maioritariamente negativas (59 e 69%, respetivamente) e, no caso do socialista, existe um dado particularmente relevante: 37% dos inquiridos que dizem ter votado no PS fazem uma avaliação má ou muito má de Pedro Nuno Santos, o que indicia algum desencanto das bases do partido com o líder eleito em dezembro de 2023.

Todas as sondagens devem ser lidas com especial cautela. Esta, por maioria de razões, também: qualquer estudo deste género é apenas a fotografia do momento; mesmo que sejam antecipadas, falta muito tempo para haver eleições legislativas; a margem de erro do inquérito não é irrelevante; e a amostra desta sondagem é relativamente curta (400 pessoas). Todavia, parece consolidar uma tendência verificada noutras sondagens — e isso não deve ser politicamente desprezado.

Em cima disto, existe outro indicador que é relevante para as pretensões de Luís Montenegro. A Aliança Democrática tem vantagem sobre o PS em quase todo o território (falha o Sul do país e as ilhas) e em todos os segmentos eleitorais à exceção de dois, os mais pobres e os mais velhos, que continuam a preferir os socialistas. Mas aqui há uma variação importante: a distância entre a Aliança Democrática e o PS junto dos eleitores que têm mais de 55 é praticamente residual, o que pode indiciar uma mudança de comportamento deste eleitorado.

reconciliação com os eleitores mais velhos foi uma necessidade assumida por Luís Montenegro. Nas últimas legislativas, e mesmo tendo vencido as eleições — à tangente, mas venceu —, a Aliança Democrática foi copiosamente derrotada pelo PS neste segmento eleitoral, confirmando um divórcio entre os eleitores mais velhos e o espaço de centro-direita que se arrasta desde o tempo da troika.

Daí para cá, o Governo tem feito um esforço concertado para “desmistificar” a ideia de que a direita penaliza os reformados quando chega ao poder, seja através do aumento das pensões, seja através do reforçou do Complemento Solidário para Idosos ou, por exemplo, da gratuitidade dos medicamentos para os beneficiários deste apoio social.

Entre os dirigentes sociais-democratas ouvidos pelo Observador há quem entenda que recuperar o discurso e a agenda sobre segurança e imigração também pode ser determinante para merecer a confiança dos eleitores mais velhos — aqueles que, por norma, mais temem o aumento da criminalidade e que mais dificuldades têm em interagir com uma comunidade que vai sofrendo a pressão da imigração. Ora, se o PS falhar em ter um discurso para estas pessoas, também isso será uma oportunidade para a AD disputar a grande base eleitoral dos socialistas.

O binómio segurança/imigração tornou-se tema dominante de todos os debates, o que tem permitido ao Governo falar diretamente para o eleitorado do Chega e ensaiar uma separação das águas à direita. "André Ventura está a ficar sem chão e sem narrativa", argumenta um elemento do Governo. "O nosso discurso cria um embaraço a André Ventura. Ocupámos um espaço que ele estava a tentar ocupar", concorda um destacado dirigente social-democrata

Segurança e imigração: sondagens reforçam caminho do Governo

Esta sondagem da Pitagórica mediu ainda outras duas questões relevantes para o debate atual. Os inquiridos foram desafiados a dizer se concordavam ou não com a operação policial conduzida no Martim Moniz e se consideravam terem ou não existido motivações racistas naquela rusga. As conclusões foram cristalinas: 57% das pessoas disseram concordar ou concordar totalmente com aquela operação (contra apenas 27% que disseram discordar ou discordar totalmente); e 65% rejeitaram retirar qualquer leitura racista daquela operação contra apenas 20% dos que disseram ver motivações raciais na rusga.

Uma leitura mais fina dos dados permite retirar outras conclusões complementares. Por exemplo, os inquiridos que dizem ter votado no PS nas últimas eleições legislativas estão rigorosamente divididos nas duas questões. Metade afirmou discordar da operação policial e considerou-a racista; outra metade defendeu-a e afastou qualquer tipo de motivação racial. É mais um indício, um indício objetivo neste caso, de que os socialistas continuam com dificuldades em encontrar uma posição fechada sobre estas duas matérias.

Por comparação, esta divisão não existe de todo entre os eleitores da Aliança Democrática e do Chega, que aprovam por larga maioria a operação no Martim Moniz e discordam radicalmente da ideia de que tenha sido racista. À esquerda, um fenómeno igualmente interessante: o PCP, que tem um eleitorado tipicamente mais conservador e mais envelhecido, está igualmente dividido nestas duas questões; já aqueles que dizem ter votado no Bloco de Esquerda nas últimas legislativas são, de longe, os que mais condenam esta operação e aqueles que mais vincadamente afirmam considerá-la racista.

Se os critérios forem o género, a idade e a classe social também é possível encontrar algumas chaves de leitura. São os homens, os mais pobres e os que estão em plena idade ativa (34 a 55  anos) que mais aprovam esta operação policial. E são também os homens desta faixa etária que mais rejeitam a ideia de que esta operação tenha sido racista — não há grandes variações nesta matéria em função da classe social dos inquiridos.

Não é um sinal irrelevante. Instalou-se a perceção de que a força de André Ventura residia no eleitorado mais jovem e com baixas qualificações, mas não é exatamente assim. Como explicaram os investigadores João Cancela e Pedro Magalhães a partir de uma sondagem conduzida à boca das urnas pelo ICS/ULisboa, o Iscte e a GfK Metris, “este grupo representa apenas 7% do total de votantes, tornando este resultado insuficiente para explicar o crescimento do partido”. A força do Chega reside noutro segmento eleitoral.

Na verdade, nas últimas eleições legislativas, que resultaram numa eleição histórica de 50 deputados, o Chega foi particularmente forte precisamente junto dos homens nesta faixa etária e com menos qualificações — os mesmos que, na sondagem da Pitagórica, mais validaram a operação policial no Martim Moniz e refutaram com maior veemência a classificação de racismo. É uma interseção praticamente perfeita.

Voltando à sondagem da Pitagórica: 33% dos inquiridos que dizem ter votado no Chega fazem uma avaliação positiva da prestação de Luís Montenegro. André Ventura tem 21% de avaliações negativas ou muito negativas mesmo entre os seus eleitores.

Ao mesmo tempo foi divulgado um barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos que reforça e amplia todos estes indicadores — com uma amostra bem mais expressiva, de mais de mil inquiridos. As conclusões são igualmente reveladoras: 75% dos respondentes acham que seria positivo para Portugal que houvesse uma política de imigração mais regulada; 68% defendem que os imigrantes contribuem para o aumento da criminalidade; 54% acham que os imigrantes prejudicam os portugueses no mercado de trabalho; e 61% dos inquiridos consideram que o número de imigrantes do subcontinente indiano deve diminuir.

Este estudo trouxe ainda uma outra conclusão muito relevante: “Existe entre os inquiridos um forte enviesamento (por excesso) na perceção do número de imigrantes em Portugal. Tal resultado revela-se particularmente relevante, uma vez que essa falsa perceção é também um forte preditor de atitudes mais desfavoráveis à imigração”. Ou seja, os portugueses sobrestimam o número de imigrantes existentes em Portugal e, consequentemente, o impacto dessa imigração e os seus eventuais riscos no e para o país.

Com base nas repostas dos inquiridos, o mesmo barómetro concluiu que, para os portugueses, o problema mais significativo que país tem enfrentado é precisamente a imigração. Só depois entram as questões relacionadas com o acesso à Saúde e à Habitação e, em quarto lugar, a “criminalidade, a violência e a segurança”. Mas os números não são lidos da mesma forma. A equipa de Luís Montenegro vai argumentando que está a governar para responder às reais preocupações dos portugueses. A oposição vai acusando o Governo de estar a agravar perceções e a definir políticas públicas com base em pressupostos errados.

Factualmente, a imigração aumentou de forma expressiva nos últimos anos, a criminalidade violenta e grupal aumentou 5,6% e 14,6%, respetivamente. Mas os relatórios oficiais não fazem qualquer correlação entre o aumento do número de imigrantes e o número de crimes, e a proporção de reclusos estrangeiros mantém-se estável.

Ao contrário de Ventura, Montenegro tem dito repetidamente que não existe uma relação direta entre o aumento do crime e o número de imigrantes, mas a falta de dados mais finos tem sido utilizada para acusar as autoridades oficiais de querem esconder a realidade do país — o líder do Chega disse isso mesmo esta semana, em entrevista à CNN.

No Parlamento, Luís Montenegro admitiu seguir a recomendação da Iniciativa Liberal e, ouvido o Conselho Superior de Segurança, passar a incluir a nacionalidade dos autores dos crimes nos Relatórios Anuais de Segurança Interna (RASI). “Pode ser útil à definição de políticas e condições operacionais das forças de segurança. Podemos e devemos ter essa discussão”, justificou o primeiro-ministro. A ideia foi rapidamente contestada pelos partidos mais à esquerda, mas tem tudo para fazer o seu caminho e marcar uma nova fase do debate político.



O dilema presidencial de André Ventura: força e fraqueza são, afinal, duas faces da mesma moeda.

André Ventura escolheu, mais uma vez, o caminho mais arriscado. Não acredita que vá ganhar — e sabe que a sua taxa de rejeição, sobretudo à esquerda e na imprensa “a que temos direito”, o torna um candidato improvável. Mas acredita — com razão — que pode alcançar a segunda volta, graças à fragmentação ideológica dos candidatos concorrentes, que não conseguem gerar unanimidade nem dentro dos partidos que os apoiam.
O paradoxo que o move: força e fraqueza.
Quem quisesse verdadeiramente neutralizar André Ventura e enfraquecer o CHEGA talvez já não tivesse de o combater nas arenas parlamentares ou nos palcos televisivos. Bastaria elegê-lo Presidente da República. Conseguir isso seria a apoteose e a derrota, o clímax e a decadência numa mesma eleição. O CHEGA, sem André Ventura, tornar-se-ia irrelevante: um partido em estado vegetativo, reduzido a resmungos parlamentares e a intrigas de segunda linha.

Força
A força de André Ventura é evidente. Pela primeira vez na história democrática portuguesa, sondagens colocam o CHEGA como força maioritária. Ventura conseguiu, em poucos meses, assumir-se como verdadeiro líder da oposição — ao passo que José Luís Carneiro continua atolado no cinzentismo, incapaz de renovar um PARTIDO SOCILISTA à deriva, dominado pelos mesmos de sempre.
Ventura percebe que as presidenciais são o palco perfeito: sem risco de perda parlamentar imediata, com elevada exposição mediática e com a possibilidade de transformar a eleição num referendo sobre o “sistema”. Uma ida à segunda volta bastaria para projectar a sua imagem de inevitabilidade e reforçar o seu domínio interno no CHEGA.
Fraqueza
Mas a decisão revela também a sua maior fraqueza: a solidão no topo. Ventura não tem ninguém a quem delegar protagonismo credível.
Gouveia e Melo, outrora visto como “almirante salvador”, tornou-se indigesto — demasiado vaidoso para piscar o olho a um partido populista, demasiado enredado em anticorpos para uma coligação tácita. Marques Mendes, Cotrim de Figueiredo ou António José Seguro até poderiam ser hipóteses aceitáveis para uma direita “respeitável”, mas só à custa da negação existencial do CHEGA: admitir que não tinha um candidato próprio seria suicidário para um partido que vive do personalismo de Ventura.
O Argumento do “Suicídio Presidencial”
O jornalista Pedro Almeida Vieira defende que, caso Ventura fosse eleito, isso significaria o início do fim do CHEGA1. A Presidência obrigá-lo-ia à moderação, ao decoro institucional e ao silêncio táctico, amputando-lhe o estilo combativo e polémico que lhe dá identidade. Sem o seu líder a provocar, chocar e agitar as águas, o CHEGA definharia, órfão de carisma e de direcção.
A ideia assenta em três pressupostos:
O cargo presidencial é incompatível com o estilo Ventura;
Ventura não conseguiria reinventar-se para esse papel;
O partido não tem sucessor à altura.
Os Contra-Argumentos do “Suicídio Presidencial”
Outros analistas discordam desta visão.
O André Freire tem sublinhado que a Presidência portuguesa é um cargo de grande visibilidade e influência simbólica, mesmo que formalmente limitada, e que o poder depende muito da personalidade de quem o ocupa2. Marcelo Rebelo de Sousa demonstrou como um Presidente pode usar a sua popularidade para dominar a agenda, sem necessidade de exercer poderes formais — o que sugere que Ventura poderia manter protagonismo e moldar o debate mesmo de Belém.
Já Jaime Nogueira Pinto tem argumentado que figuras carismáticas adaptam o seu estilo ao cargo em vez de o perderem — e que um Ventura em Belém poderia “presidencializar” o CHEGA, elevando a sua imagem institucional e obrigando-o a crescer como estrutura partidária3.

Além disso, a história recente mostra que partidos personalistas nem sempre colapsam quando o líder muda de posição: o caso francês da Frente Nacional (Le Pen), ou o italiano da Liga (Salvini), demonstram que, se houver uma base ideológica sólida e estruturas locais activas, o partido pode sobreviver e até ganhar novos espaços com a “institucionalização” do líder4.
Cenários Alternativos
Dois cenários extremos estão em aberto:
Sucesso presidencial e declínio partidário — André Ventura ganha, mas o CHEGA definha, incapaz de gerar novas lideranças, tornando-se satélite de um Presidente neutralizado pelo protocolo.
Sucesso presidencial e consolidação partidária — André Ventura ganha e usa Belém como plataforma de influência diária, deixando a liderança formal do partido a um fiel delfim, mas continuando a condicionar todas as decisões, como fez Mitterrand no PS francês após chegar ao Eliseu.
Entre estes extremos, o cenário mais provável é intermédio: André Ventura perde, mas chega à segunda volta com uma votação expressiva que o consolida como líder da oposição e reforça o CHEGA como alternativa de poder.
A candidatura presidencial de André Ventura é um gesto de risco calculado. Se perder, ganha estatuto. Se ganhar, enfrenta o dilema de se reinventar.
A Presidência pode ser tanto um trampolim como uma jaula. Tudo dependerá menos do cargo em si e mais da capacidade de Ventura para transformar o poder simbólico em influência política quotidiana — e da capacidade do CHEGA para deixar de ser um partido de um só homem.
isto é:
A força e a fraqueza de André Ventura são, afinal, duas faces da mesma moeda.
Referências
Pedro Almeida Vieira, “E se a esquerda fizesse Ventura Presidente? Isso seria… o fim do Chega”, Página Um, 16 Setembro 2025.
André Freire, “Presidência e poder de agenda”, Diário de Notícias, 2021.
Jaime Nogueira Pinto, “A personalização da liderança política”, Observador, 2023.
Cas Mudde & Cristóbal Rovira Kaltwasser, Populism: A Very Short Introduction, Oxford University Press, 2017.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

das "sondagens" da semana que passou"

Atualização semanal das sondagens e perspectivas para as Eleições Autárquicas de 2025, com foco no PS, PSD/AD e Chega.

1. Tendências Globais e Expectativas Nacionais
Uma sondagem da Intercampus, realizada para o Negócios, CM e CMTV, revela que mais de 25% dos portugueses acreditam que o Chega poderá conquistar mais câmaras municipais do que o PS nas autárquicas de 12 de outubro — um fenómeno considerado “inédito” e potencial reflexo do desgaste eleitoral do PS após as legislativas de Maio.
Até ao momento, os principais estudos de opinião estão a cargo do ICS/ISCTE, Intercampus, GFK/Metris, e em menor medida Aximage, IPOM e Multidados, cobrindo concelhos como Cascais, Alenquer, Covilhã, Faro, Figueira da Foz, Penafiel, Porto e Torres Novas.
Outro item relevante: a Intrapolls tem publicado mapas estimativos por distrito e município, mostrando onde cada partido (PS, PSD/AD, Chega) parece liderar ou ter vantagem. Os mapas mostram que há distritos onde Chega está à frente ou muito competitivo, distritos onde PSD/AD mantêm forte presença, assim como distritos dominados pelas forças do PS ou coligações.
2. Panorama Local — Concelhos em Foco
Faro: em sondagem do ICS/ISCTE para o Expresso (divulgada em 7 de Agosto): PS (António Miguel Pina) lidera com 21%, seguido pelo PSD com 19%, e o Chega em terceiro com 16%.
Gaia (não capital de distrito, mas de grande relevância metropolitana): sondagem da Pitagórica para TVI/CNN mostra Luís Filipe Menezes (PSD) com 41,6 %, vs PS com 33,4 %.
Porto: sondagem (Notícias ao Minuto) indica Manuel Pizarro liderando com ~ 36%, Pedro Duarte ~ 33%; Chega (Miguel Corte-Real) aparece atrás desses dois.
Entroncamento (municipio representativo): mapa da Intrapolls mostra Chega e PSD muito próximos (~ 31 %), com Chega ligeiramente à frente; PS atrás. (Facebook)
Lisboa (estimativa municipal via Intrapolls): AD/IL lidera cerca de 36 %, Chega ~ 17 %, PS abaixo desses dois. (Instagram)
3. Panorama Nacional
Estimativas do Intrapolls mostram deslocações de vantagem em muitos municípios, com PS + coligações, PSD/AD ou Chega assumindo liderança conforme região.
Baseando-se nos dados disponíveis, Chega tende a ganhar terreno nos distritos mais periféricos ou no interior, PSD/AD mantém vantagem em várias capitais de distrito e cidades médias, PS tentando recuperar terreno onde historicamente tinha mais força.
A diferença entre “intenção de voto” e “vontade de ganhar câmaras” ainda é significativa, especialmente porque candidaturas locais, alianças e dinâmicas regionais (personalidades locais) podem pesar muito no resultado final.
4. Análise da Semana
Chega continua a emergir como força em crescimento visível, especialmente em estimativas/distritos onde há concorrência multipartidária e desgaste do PS.
PSD/AD parecem sustentar-se bem em distritos urbanos ou capitais de distrito, embora em muitos casos com margens estreitas.
PS está em fase de reação, com apelo a consolidar bases locais e recuperar nas áreas onde foi ultrapassado ou onde a vantagem foi perdida, mas enfrenta o desafio de alianças locais e candidaturas fortes de adversários.