Convergências, divergências e o que isto implica para Portugal
Resumo. A Escola Austríaca parte de princípios (propriedade privada, livre associação, crítica ao Estado-Providência) e conclui que “fronteiras abertas” num regime de prestações universais criam integração forçada e socialização de custos; a alternativa coerente seria ou encolher o Estado-Providência ou seleccionar entradas por convite/contrato. J. Fernández-Villaverde (UPenn) chega a conclusões semelhantes por via empírica: com Estados-Providência europeus, imigração pouco qualificada tende a ter saldo fiscal líquido negativo, não “salva” pensões e pressiona salários e rendas; o foco deve ser produtividade, reforma institucional e selecção do fluxo migratório.
1) Método: praxeologia vs. evidência
Austríacos (Mises/Hayek/Hoppe): o problema migratório nasce do domínio público (ruas, escolas, prestações) num quadro de impostos compulsórios; com propriedade privada plena, a entrada seria por convite e a exclusão também. Hoppe formaliza a crítica a “fronteiras abertas + welfare”. (Mises Institute, ontology.buffalo.edu)
Fernández-Villaverde: abordagem de equilíbrio geral + dados: composição por qualificações, conta fiscal ao longo da vida, pressões em habitação/serviços, e trade-offs entre gerações. (YouTube)
2) Mercado de trabalho: “há empregos que os nativos não querem”?
Ambos desmontam o slogan. O que há são preços e produtividade: se salários e mercados se ajustarem (incluindo habitação), os empregos existem para quem os aceita ao preço que o mercado sustenta; quando há distorções regulatórias e de prestações, surgem compressões salariais nos decis mais baixos e rendas mais caras nas zonas de acolhimento. (YouTube)
3) PIB bruto vs. bem-estar dos residentes
Austríacos: o critério é quem paga e quem decide; se os custos são socializados, entradas indiscriminadas podem reduzir o bem-estar dos contribuintes, mesmo que o PIB suba. (Mises Institute)
Fernández-Villaverde: distingue maximizar PIB de maximizar bem-estar dos residentes; com a arquitectura actual do Estado-Providência, grandes fluxos pouco qualificados não maximizam o segundo objectivo. (YouTube)
3) PIB bruto vs. bem-estar dos residentes
Austríacos: o critério é quem paga e quem decide; se os custos são socializados, entradas indiscriminadas podem reduzir o bem-estar dos contribuintes, mesmo que o PIB suba. (Mises Institute)
Fernández-Villaverde: distingue maximizar PIB de maximizar bem-estar dos residentes; com a arquitectura actual do Estado-Providência, grandes fluxos pouco qualificados não maximizam o segundo objectivo. (YouTube)
4) Estado-Providência e saldo fiscal
Austríacos: “abertura com welfare” = integração forçada; solução: reduzir prestações universais e/ou migrar para acesso contratual (patrocinadores, cauções, seguro privado), antes de liberalizar a mobilidade. (Mises Institute)
Fernández-Villaverde: composição é destino: se o fluxo se concentra em baixa qualificação, o saldo fiscal de ciclo de vida é fraco e a pressão em escolas, SNS e habitação é forte; por isso defende selecção por qualificações e controlo da irregularidade. (X , YouTube)
5) Demografia e pensões
Austríacos: o problema das pensões é institucional (pay-as-you-go). “Importar contribuintes” não repara a engenharia do sistema; a via é capitalização e idade efectiva de reforma.
Fernández-Villaverde: “A imigração não nos vai salvar” — para estabilizar rácios de dependência seriam precisos volumes politicamente indigeríveis; sem qualificação, o saldo fiscal não fecha. Prioridade: produtividade, reformas e selecção. (YouTube)
6) Cultura, instituições e capacidade de absorção
Austríacos: sublinham a dimensão institucional-cultural — regras, normas e preferências locais importam; sem propriedade privada a decidir convites e exclusões, o Estado impõe forçosamente convivências e custos. (ontology.buffalo.edu)
Fernández-Villaverde: menos “culturalista”, mais operacional: capacidade administrativa (habitação, escolas, saúde, segurança) e efeitos entre gerações (idosos podem beneficiar de cuidadores; jovens enfrentam salários comprimidos e rendas altas). (YouTube)
O que isto implica para Portugal
Não vender milagres demográficos. Reformar pensões (idade efectiva, incentivos ao trabalho sénior) e alavancar produtividade com reforma regulatória e fiscal. (YouTube)
Selecção e controlo. Se o Estado-Providência se mantém, seleccionar por qualificações, exigir patrocínio/garantias e combater a irregularidade (para não premiar o canal errado). (X)
Mercados a funcionar. Liberalizar construção e arrendamento para evitar que choques populacionais caiam sobre jovens e classes trabalhadoras via rendas.
Contas locais e transparência. Publicar, município a município, custos e receitas associadas a fluxos migratórios (educação, saúde, habitação, segurança), para que o debate saia do moralismo e entre nas contas.
Concluindo.
A convergência entre uma tradição liberal exigente (Austríaca) e a análise empírica de Fernández-Villaverde é cristalina: sem reforma institucional, mais imigração pouco qualificada não é uma política socialmente benéfica; com mercados e Estado arrumados, a selecção e o contrato permitem colher ganhos sem socializar prejuízos.
Fontes:
Fontes:
[Hoppe, The Case for Free Trade and Restricted Immigration] (Mises Institute) ·
[Hoppe, On Free Immigration and Forced Integration] (ontology.buffalo.edu) ·
[Mises, Liberalism — “Freedom of Movement” (texto integral)] (Mises Institute) ·
[Roundtable Mises/Rothbard/Block/Hoppe (passagens sobre imigração)] (Mises Institute) ·
[Fernández-Villaverde — “España (y Europa) en apuros” (Fund. Rafael del Pino)] (YouTube) ·
[Clip: “La inmigración no va a salvarnos” (síntese de JFV)] (YouTube) ·
[Fernández-Villaverde em X/Twitter (saldo fiscal e legal vs. ilegal)] (X))
[Hoppe, On Free Immigration and Forced Integration] (ontology.buffalo.edu) ·
[Mises, Liberalism — “Freedom of Movement” (texto integral)] (Mises Institute) ·
[Roundtable Mises/Rothbard/Block/Hoppe (passagens sobre imigração)] (Mises Institute) ·
[Fernández-Villaverde — “España (y Europa) en apuros” (Fund. Rafael del Pino)] (YouTube) ·
[Clip: “La inmigración no va a salvarnos” (síntese de JFV)] (YouTube) ·
[Fernández-Villaverde em X/Twitter (saldo fiscal e legal vs. ilegal)] (X))