Na próxima quinta-feira, 11 de Julho, o Parlamento Europeu votará uma moção de censura contra Ursula von der Leyen, apresentada por eurodeputados nacionalistas, sobretudo das direitas romena (AUR), alemã (AfD) e polaca (PiS). Embora se saiba de antemão que a presidente da Comissão Europeia irá sobreviver politicamente, esta votação marca uma clara linha de fractura entre os blocos centristas, ainda dominantes, e os crescentes sectores radicais à esquerda e à direita.
O debate é mais simbólico do que prático, mas não deixa de revelar tensões que atravessam o novo Parlamento — incluindo os partidos portugueses. A seguir, a distribuição das posições segundo os grupos políticos europeus e as respectivas forças nacionais.
Contra a moção em apoio a von der Leyen
EPP – Partido Popular Europeu
Aliança Democrática (PSD, CDS-PP)
Votam contra, num apoio firme à presidente da Comissão, que foi eleita com os votos deste grupo. O EPP considera esta moção um “ataque oportunista da extrema-direita”.
S&D – Socialistas & Democratas
Partido Socialista (PS)
Votam contra, mas criticam a falta de ambição ambiental e o alegado conluio do EPP com a extrema-direita em certos dossiês. Condenam os ataques à legitimidade democrática da Comissão.
Renew Europe – Liberais Centristas
Iniciativa Liberal (IL)
Votam contra, mas exigem mais transparência institucional e ética nas decisões — nomeadamente nos contratos das vacinas e no financiamento europeu.
Verdes / EFA
Livre
Não têm eurodeputado formal, mas estão alinhados com o grupo. Defendem von der Leyen contra os eurocéticos, mesmo mantendo críticas ambientais.
A favor da moção contra von der Leyen
GUE/NGL – Esquerda Unitária Europeia
Bloco de Esquerda (BE) e Partido Comunista Português (PCP)
Votam a favor, acusando a Comissão de neoliberalismo, falta de solidariedade e submissão ao eixo EUA–NATO. Contestam também a resposta europeia à pandemia.
ECR / ID – Conservadores, Nacionalistas e Direita Radical
Chega (sem grupo oficial, mas com afinidade ideológica)
O Chega apoia a moção, alinhado com o AUR e o AfD, sob críticas à política de imigração, à centralização da UE e ao globalismo. Apesar de ainda não estar integrado formalmente, tenta uma aproximação ao grupo ECR
.
A moção de censura não deverá passar — os grupos centristas (EPP, S&D, Renew, Verdes) continuarão a garantir a sobrevivência de von der Leyen. No entanto, o crescente peso político das margens (tanto da extrema-direita como da extrema-esquerda) tornou-se visível nesta batalha parlamentar. Também os partidos portugueses reproduzem, quase sem excepções, esta divisão ideológica europeia.
A sobrevivência institucional está assegurada. Mas a pressão política não cessará — e o equilíbrio europeu dependerá, cada vez mais, da arte de compor maiorias instáveis.