Vivemos hoje em Portugal num ambiente mediático em tudo contrário ao espírito democrático que tanto se invoca. A Imprensa, que devia ser livre, plural e ao serviço da cidadania, transformou-se num braço armado do regime — ou melhor, do “centrão”, esse eixo que une o PS e o PSD e que tanto condiciona a realidade política quanto a forma como esta nos é apresentada.
Os órgãos de comunicação social deixaram de ser órgãos de informação. Tornaram-se empresas de comunicação, com objectivos claros: defender os interesses ideológicos e económicos dos seus donos e accionistas, na maioria próximos dos partidos dominantes do regime.
A sua missão original — informar objectivamente, apresentar os factos tal como ocorreram, e dar voz à pluralidade de opiniões existentes numa sociedade democrática — foi substituída por outra: a de manipular, formatar e alinhar mentalidades. E fazem-no com a subtileza de quem finge neutralidade.
Basta ver como se tratam os que não alinham com a narrativa dominante: ridicularizados, interrompidos, ignorados ou silenciados. Quando uma figura da Direita é convidada a falar, não é para ser ouvida — é para ser atacada. Perguntas capciosas, insinuações, interrupções sistemáticas... já todos vimos este guião demasiadas vezes.
No Reino Unido, nos EUA, em França ou em Espanha, os jornais e televisões assumem assuas cores: conservadores, liberais, socialistas, trabalhistas. Em Portugal, reina o fingimento. Fingem independência. Fingem pluralismo. Fingem objectividade. Mas a verdade é uma só: vivemos num simulacro de democracia, onde o espaço público é cativo de uma minoria ideológica que domina os estúdios e as redações.
É por isso que, como escreve Miguel Mattos Chaves, não temos órgãos de informação — temos órgãos de manipulação. E é por isso que a mudança, se vier, virá do voto e da indignação consciente de quem se recusa a ser manipulado.
A escolha é simples: continuar a viver numa democracia de plástico, onde só alguns têm voz, ou reclamar de volta o espaço público, onde todos possam ser ouvidos com respeito. A democracia verdadeira começa pela liberdade de pensamento — e essa, hoje, está amordaçada nos nossos media.
(José Costa-Deitado, a partir de Miguel Mattos Chaves)