sexta-feira, 4 de julho de 2025

A Esquerda Ibérica que já não foge do barco a afundar-se!

As esquerdas estão a cair. Não é apenas uma impressão ou um fenómeno passageiro: é uma realidade política consolidada, quer em Portugal, quer em Espanha, quer no resto da Europa. E a sua queda é, ao mesmo tempo, evidente e inevitável. Porque deixou de haver esquerda. Ou melhor: o que se chama hoje “esquerda” não é senão uma caricatura de si mesma — uma burocracia cultural instalada no Estado, um moralismo sem povo, uma elite dependente do poder que já não sabe o que é viver fora dele.

Como recorda Rui Ramos no Observador, a esquerda nasceu no século XIX como contra-poder: era o movimento dos que estavam fora e contra os que mandavam, dos explorados contra os exploradores, dos marginalizados contra os poderosos. Era, nesse sentido, revolucionária. Mas, passada mais de uma centena de anos, algo se inverteu: hoje, as esquerdas estão no topo da máquina estatal, nas universidades, nas redacções dos jornais, nas direcções dos sindicatos, nos conselhos de administração das fundações com dinheiros públicos. Tornaram-se a nova aristocracia — sem nobreza, mas com muitos privilégios.
Em Portugal, o colapso começou antes. O PS perdeu a alma e os votos. A Geringonça foi a última tentativa de simular alguma forma de esquerda popular. O que ficou depois foi uma colecção de chavões ideológicos, políticas identitárias, e um sectarismo moral que afastou os eleitores reais. O povo fartou-se da “moral woke”, da corrupção sistémica e do desprezo pelas preocupações quotidianas: insegurança, imigração descontrolada, falta de autoridade nas escolas, injustiça fiscal. A nova oposição já não é apenas à direita — é contra todo um regime de esquerda instalado que se julga dono da democracia e da história.
Em Espanha, o processo está em curso. Pedro Sánchez, o grande ilusionista da política
ibérica, sobrevive à custa de alianças com o separatismo, com o extremismo e com o oportunismo. Governa contra o país real. Mas a maré também lá virou. As eleições europeias e regionais revelam o que já não se pode esconder: o eleitorado tradicional da esquerda está em dissolução. Tal como em Portugal, os mais pobres já não votam na esquerda porque a esquerda já não fala por eles. Fala, sim, por minorias activistas, por agendas internacionais, por ONGs bem financiadas e por burocratas bem colocados em Bruxelas. E os mais velhos, esses, começam a lembrar-se de quando havia ordem e alguma decência no governo.
Na Europa, o fenómeno repete-se com variantes locais: na Alemanha, os sociais-democratas desapareceram atrás dos Verdes, e os Verdes afundam-se com a sua impopularidade. Em França, o PS é hoje um partido residual. Nos Países Baixos, o populismo conservador ganha fôlego. Na Itália, a esquerda já nem esconde que perdeu. A nova divisão política já não é entre esquerda e direita, mas entre o povo e os que fingem representá-lo.
A esquerda perdeu o instinto de sobrevivência. Não tem capacidade para se adaptar. Já não foge do barco a afundar-se, porque já não reconhece que está a afundar-se. Prefere insultar quem salta para terra firme do que reconhecer os erros que a levaram até ao naufrágio.
Conclui-se, com ironia amarga, que “a esquerda já não precisa da direita para se afundar”. E tem razão. As esquerdas cavaram a própria sepultura ao confundirem moralismo com política, doutrinação com governo, e activismo com acção concreta. Esqueceram o povo, e o povo não esqueceu.
Em Portugal, o 18 de Maio foi um murro na mesa. Em Espanha, virá outro momento assim. E na Europa, os ventos sopram cada vez mais fortes contra um regime político que, com a máscara da democracia, impôs décadas de conformismo ideológico e incompetência social.

A esquerda morreu porque deixou de ser contra o poder. Tornou-se o próprio poder. E o poder, quando se serve a si mesmo, apodrece.