Vivemos num tempo em que as palavras perderam o peso e os rótulos se colam ao sabor da conveniência política. Fala-se muito da extrema-direita — com alarme, censura e estigmatização. Da extrema-esquerda, fala-se menos — ou com complacência, indulgência ou até simpatia. Mas a verdadeira viagem, a que interessa fazer com olhos abertos, é ao submundo de ambas.
O que encontramos, olhando para dentro de cada uma? Diferenças, sim. Mas acima de tudo: simetrias
Ambas operam por dicotomias absolutas: o bem e o mal, o puro e o corrupto, o oprimido e o opressor. Uma fala contra o “capitalismo e o patriarcado”, a outra contra “globalismos e imigracionismos”. Mas ambas querem o mesmo: destruir o centro, o equilíbrio, o espaço de liberdade.
A extrema-esquerda gramsciana pesca nos bairros e nas universidades. A extrema-direita, mais tecnológica nas redes socias, e nas periferias urbanos.
Ambas oferecem o mesmo: pertença, identidade, uma explicação total do mundo — e um inimigo a abater.
Cada lado tem os seus mártires e os seus slogans.
Liberdade Liberal? Querem substituí-la.
A extrema-esquerda sonha com assembleias populares. A extrema-direita com a autoridade forte.
Ambas desprezam os freios da democracia representativa, a liberdade de expressão para o adversário, o pluralismo, a dúvida, a moderação.
...e quanto à "Violência Justificada"? Ambas a justificam se esta for em nome da “causa”.
A extrema-esquerda fala em “resistência” para encobrir vandalismo. A extrema-direita diz “autodefesa”.
E ambas têm - mais aquela, menos esta- "imprensa amiga" pronta a relativizar, desde que escorra do lado certo.
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Ambas se alimentam de redes internacionais, grupos de pressão e activismo estratégico. A extrema-esquerda infiltra universidades, meios culturais e ONGs. A extrema-direita vive mais em plataformas paralelas, fóruns crípticos e estruturas informais.
As duas extremas vivem de mitologias. De utopias passadas ou futuras, Cuba e o Che, reconquista ou os impérios perdidos. Ficções com função terapêutica: evitar encarar o presente e culpar terceiros pelo fracasso de tudo.
mas
A liberdade não vive em nenhuma das margens. Vive ao centro. Não no centrismo mole, mas na firmeza que recusa ambos os extremos com igual desdém.