Ao lermos as análises de Rui Ramos e de João Marques de Almeida sobre a actual situação do Partido Socialista e da extrema-esquerda em Portugal, torna-se quase inevitável a metáfora que ambos sugerem — a de uma esquerda desesperada, lançada à água, debatendo-se para não afundar. Mas não porque a maré esteja especialmente forte. Afunda-se porque já não sabe nadar no tempo em que vive.
Rui Ramos, com a sua habitual precisão histórica, retrata o PS como um partido que, tendo perdido o rumo e a ligação ao país real, já só sabe fazer política de sobrevivência — não com ideias, mas com jogos parlamentares. Como um náufrago, tenta agarrar-se a qualquer bóia que encontre: ora ao Livre, ora ao Bloco de Esquerda, ora a uma suposta “defesa da democracia” contra os perigos que projecta no CHEGA. Mas quem observa de fora percebe o desespero: o PS de 2025 já não nada, apenas se debate. E quanto mais se agita, mais se afunda na irrelevância de um passado que não quer largar. Como nota Rui Ramos, se o país estivesse verdadeiramente nas mãos do PS, estaríamos de facto em piores lençóis.
João Marques de Almeida, por sua vez, foca-se na extrema-esquerda — essa que já nem se lembra de sair da piscina. Insiste em slogans vazios, em causas que não mobilizam mais do que uma minoria ruidosa e urbana, e ignora o essencial: as pessoas comuns deixaram de a ouvir porque deixaram de a compreender. Ou melhor, porque perceberam que ela deixou de as representar. O autor descreve uma esquerda radical que fala sozinha, sem consciência de que a água lhe sobe até ao pescoço, sem perceber que o seu discurso é uma linguagem morta para quem procura segurança, trabalho e dignidade.
Ambas as análises convergem na constatação de que a esquerda portuguesa — tanto a dita moderada como a radical — está prisioneira de um tempo político ultrapassado. Incapaz de renovar ideias, alianças ou lideranças, mergulha cada vez mais fundo no vazio político e moral. Como um nadador que já não sabe qual a margem da piscina, debatem-se, agarram-se uns aos outros, e acabam por arrastar-se mutuamente.
Entretanto, cá fora, o país observa. Muitos já abandonaram as bancadas da velha piscina partidária. Alguns procuram novas margens. Outros, simplesmente, seguem em frente, conscientes de que não vale a pena tentar salvar quem insiste em não querer ser salvo — porque prefere a fidelidade a dogmas caducos à coragem de enfrentar o mundo como ele é.
O afogamento não é apenas uma metáfora do presente. É, cada vez mais, o destino inevitável de quem insiste em nadar contra o sentido da História.