Durante décadas, o Partido Socialista Francês (PSF) foi o rosto do poder na França republicana. De François Mitterrand a Lionel Jospin, o PSF encarnou o ideal social-democrata europeu, reformista e institucional. Mas hoje, o partido não passa de uma sombra do que foi. Reduzido a um papel secundário, vive entre a nostalgia do passado e a ambição de se reinventar. A questão impõe-se: estamos a assistir ao restauro do PSF ou ao seu funeral político?
uma geringonça chamado NUPES
A aliança com a extrema-esquerda, a NUPES (Nova União Popular Ecológica e Social), formada liderada por Jean-Luc Mélenchon, foi o ponto de viragem – ou melhor, de ruptura – para o PSF. Ao aceitar submeter-se à liderança da France Insoumise (LFI), o PSF abdicou da sua matriz europeísta e reformista, trocando-a por slogans revolucionários, posições antiocidentais e ecos marxistas reciclados.
A curto prazo, a NUPES permitiu eleger alguns deputados. A médio prazo, comprometeu a identidade do PSF e agravou as divisões internas. A longo prazo, revelou-se um suicídio estratégico.
Hoje, o PSF tenta sacudir a poeira ideológica da NUPES e apresentar-se como alternativa de centro-esquerda moderada, num espaço deixado vazio pelo colapso do macronismo. Apostou em Raphaël Glucksmann, cabeça de lista às Europeias de 2024, que obteve um resultado surpreendente ao recuperar parte do eleitorado social-democrata, urbano e educado.
Com este sinal de esperança, os socialistas ensaiam uma “segunda vida” política, sem radicalismos, mas também sem brilho. Recusam agora novas alianças submissas com a LFI, mas não conseguem ainda propor um projecto mobilizador e claro. Falta ambição, falta estrutura, falta narrativa.
Restauro ou morte?
Se conseguir consolidar um discurso próprio, realista e moderno, o PSF poderá regressar como força relevante no espaço progressista europeu. Mas o mais provável, a julgar pelas dinâmicas actuais, é que permaneça como um partido residual, útil apenas como força auxiliar em coligações ou como referência simbólica do passado.
A esquerda francesa está dominada pelos extremos. E o PSF parece, por ora, condenado a não liderar nem inspirar. Apenas a resistir. Por quanto tempo?