CARTA ABERTA A AUGUSTO SANTOS SILVA E MANUEL ALEGRE
Gostaria, como militante do Partido Socialista, de declarar publicamente o meu apoio e concordância com Manuel Alegre, na sua recente tomada de posição relativamente à intervenção politica e às palavras de Augusto Santos Silva [...] De facto, as sucessivas intervenções do ministro da propaganda do PS caracterizam--se pelo dogmatismo, pela política da verdade única e pela incapacidade de compreender que um partido político moderno é mais do que a arregimentação de militantes passivos que por seguidismo, necessidade, ou medo, deixaram de ter ideias e vontade próprias.Há, de facto, medo no PS e na sociedade portuguesa, pelos mais variados motivos. Têm medo os empresários, de que não lhes sejam permitidos os apoios, ou os financiamentos, dados a outros; têm medo os funcionários públicos, relativamente aos chefes de nomeação politica; têm medo os professores, da avaliação e do ministério, avaliação necessária mas imposta; e têm medo muitos militantes socialistas de perderem os seus lugares, ou o acesso aos benefícios pessoais que retiram da actividade política. Lugares e benefícios que há muito deixaram de ser decididos pela razão do mérito e que agora são o resultado da fidelidade ao chefe.
É aqui que Augusto Santos Silva se distingue, na obsessão da fidelidade ao líder, como condição da actividade política. No momento em que se prepara mais um congresso do Partido Socialista, a missão de Augusto Santos Silva é matar à nascença qualquer veleidade de debate livre e de novas ideias para o PS e para Portugal. Santos Silva está apenas interessado em 'malhar neles', começando logo por malhar nos militantes do PS, aqueles que ainda pensam habitar o mesmo partido dos anos 70 a 90 [...]. O PS, como partido da liberdade e do debate político e das novas ideias para Portugal, já não existe e o que há são sedes sem vida, militantes que olham a competição e a concorrência com medo, a quem permanentemente é incutida a ideia de que divergir e criticar é traição ao PS e bênção para os adversários políticos. 'Quem se mete com o PS leva' fez escola no PS. Relativamente a Manuel Alegre [...], surpreende-me que não tenha, aparentemente, compreendido a razão do apoio de Santos Silva à sua candidatura. Esse apoio tem a marca de uma velha cartilha política, muito praticada entre nós, cujo objectivo é aumentar o valor pessoal junto do novo chefe, previsivelmente vencedor. Porque, como Manuel Alegre bem sabe, em política uma coisa são convicções [...] e outra, bem diferente, é tratar de fazer carreira política. Augusto Santos Silva e alguns outros, felizmente poucos, ex-apoiantes de Manuel Alegre, há muito que escolheram a segunda possibilidade e é bom que disso exista a consciência.
Henrique Neto
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