Um belíssimo trabalho de FRANCISCO ALMEIDA LEITE no Diário de Noticias.sobre um estudo de José Bourdain
Pode o PS ser o partido mais votado nas urnas e, mesmo assim, perder as eleições legislativas de 2009 para o PSD?
A resposta está num estudo de José António Bourdain, académico do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que garante que a hipótese existe mesmo, mas pressupõe que os sociais-democratas estejam mais fortes e próximos dos scores dos socialistas.Na investigação a que o DN teve acesso, Bourdain usa o último estudo de opinião que deu um resultado mais animador para o PSD e mais próximo do PS - e que já remonta a Junho de 2008, no mês seguinte a Manuela Ferreira Leite ganhar as directas - e faz a extrapolação dos resultados, já tendo em conta a última revisão dos cadernos eleitorais. Os resultados são surpreendentes. Com uma intenção de voto muito próxima entre os dois maiores partidos e uma subida da esquerda, "o PS sai prejudicado, porque tem 1,4% a mais que o PSD, mas fica com cinco deputados a menos", diz o investigador.Com base nas percentagens descritas no quadro, Bourdain fez cálculos círculo a círculo (ou seja, por distrito), tendo como base "os dados mais recentes do recenseamento eleitoral". E, reforça, "dada a forma como os votos são distribuídos, e caso se verifiquem estes resultados este ano, irá acontecer algo de inédito na história das eleições democráticas em Portugal: o PS é o partido mais votado, mas o PSD vence as eleições com mais cinco deputados". As mexidas nos círculos ditam tudo: no estudo, Bragança, Castelo Branco e Lisboa perdem um deputado cada e Aveiro, Braga e Porto ganham um.
O autor de uma tese sobre "O Voto Estratégico em Portugal" no ICS garante ainda que, com a sua extrapolação, o PSD poderia chegar aos 93 deputados, o PS aos 88, o Bloco de Esquerda aos 25, a CDU aos 19 e o CDS-PP teria apenas cinco. Comparando com outras situações semelhantes que aconteceram lá fora, Bourdain lembra que "neste caso estamos perante sistemas eleitorais maioritários onde não é assim tão difícil que tal fenómeno ocorra. Acontece que o sistema eleitoral português é de representação proporcional (apesar de ser dos mais desproporcionais da Europa e do mundo)".Face ao actual momento político e ao que têm revelado os mais recentes estudos sobre intenções de voto, José António Bourdain afirma que "se é certo que este cenário é difícil de acontecer, face às sondagens mais recentes, por outro lado as mais recentes situam PS na casa dos 40% e PSD na casa dos 30%". Mas há a ressalva de ser certo e sabido "que os eleitores penalizam os governos em função de dados negativos sobre a economia ou desemprego. É precisamente isso que pode acontecer durante os próximos oito meses".