Guerra de accionistas e interferências políticas podem complicar venda do jornal "Sol"
21.01.2009 - 23h35 PÚBLICO
A entrada de capitais angolanos no semanário "Sol" está a ser dificultada por dois dos accionistas do jornal, o BCP e a Imosider de José Paulo Fernandes, este último um accionista que entrou no capital do jornal por indicação do BCP.
Os outros accionistas mais importantes, a holding de Joaquim Coimbra, um empresário de Tondela ligado ao PSD, e a Comunicação Essencial, detida por alguns dos jornalistas que fundaram o semanário, que em conjunto controlam 51 por cento do capital, estão a encontrar dificuldades de última hora para se associarem a uma empresa angolana, a Newshold, que traria dinheiro fresco indispensável à ultrapassagem das dificuldades actuais daquele periódico.
O PÚBLICO apurou, junto de elementos ligados ao grupo fundador do jornal – onde se encontra o director, José António Saraiva, e os directores-adjuntos José António Lima e Mário Ramires, todos ex-"Expresso" – que estas dificuldades se agravaram nas últimas semanas quando o negócio parecia fechado. Nem a empresa do universo do BCP, nem João Paulo Fernandes haviam mostrado interesse em exercer a opção de compra sobre a parte do capital social que deveria ser adquirida pela empresa angolana, da mesma forma que antes não se tinham empenhado em encontrar novos sócios disponíveis para refinanciar a empresa. Pelo contrário, o BCP teria mesmo manifestado a sua intenção de vender a participação que detém.
As dificuldades que estão agora a levantar à concretização do negócio constituíram uma surpresa e são, por isso, interpretadas como decorrendo do desconforto do grupo dirigido por Santos Teixeira com a orientação editorial do jornal e, em particular, com as notícias que revelou nas últimas semanas relativas à investigação que decorre no Reino Unido sobre um caso de corrupção em que a lista dos suspeitos é encabeçada por um antigo ministro de António Guterres. Vários jornalistas disseram ao PÚBLICO que existe na redacção a percepção que terão mesmo existido pressões para que o jornal não divulgasse o que sabia sobre a investigação judicial inglesa ao chamado “caso Freeport”.
O PÚBLICO também apurou que as relações entre o "Sol" e um dos seus principais accionistas, o grupo BCP, se têm vindo a alterar desde que os socialistas Santos Teixeira e Armando Vara foram eleitos para a administração do banco fundado por Jardim Gonçalves. Foram canceladas campanhas publicitárias e retirados patrocínios já negociados, o que contribuiu para tornar mais difícil a situação da empresa.
Amanhã e depois deverão decorrer reuniões decisivas para desbloquear o actual impasse, reuniões onde os representantes da Comunicação Essencial, onde estão os jornalistas que fundaram o "Sol", procurarão impedir aquilo que um membro da equipa do semanário definiu como correspondendo à “tentativa de estrangular uma empresa jornalística em nome de cálculos políticos condicionados pela proximidade das eleições”.
Em causa estará, sobretudo, o choque entre a nova posição do grupo BCP e do seu aliado, a Imosider de José Paulo Fernandes, e a holding de Joaquim Coimbra, que não levantou problemas à entrada do grupo angolano que os jornalistas fundadores vêem como essencial à recapitalização da empresa que detém o "Sol".
in Publico, com a devida vénia a um Jornal que ainda consegue manter a sua independencia!