quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Ano Vieirino

Designadas por Ano Vieirino, numa iniciativa da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa em Lisboa e da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, as comemorações terão a sua abertura oficial, num evento – Congresso Internacional - que ocupará todo o dia 6 de Fevereiro próximo, na Academia das Ciências de Lisboa.


O ano de 2008, será pois, ano de celebração do Jesuíta e da perpétua obra de uma figura ímpar da Cultura Portuguesa e Brasileira.Grande pensador do Quinto Império, Quinto, porque segundo ele - na interpretação de Agostinho da Silva - não haveria Sexto, já que, acreditava que os males de Portugal tinham a ver com o comando, logo, como o seu Quinto era católico e por maioria de razão o seu comando entregue a Deus, não poderia haver sexto. Assim ficou até hoje e nem Pessoa nem Agostinho o alteraram.Padre António Vieira, considerado um dos maiores prosadores da língua portuguesa, é um espírito complexo e vigoroso, paladino dos direitos humanos, patriota esforçado, utopista, visionário e politicamente realista. O padre António Vieira foi o sebastianista criador da ideia do Quinto Império, uma nova era sob a égide temporal de Portugal.Virtuoso da língua portuguesa, arrastava multidões com os seus dialécticos sermões, obras dramáticas e calculadas com exactidão para que provocassem as reacções desejadas no público. (1)

Espanta-nos desde logo a sua personalidade multifacetada: o insigne orador, que mereceu o título de “O Crisóstomo Português”; o conselheiro real e diplomata a quem D. João IV gabava a “lábia”; o missionário imbuído de profunda religiosidade, o “Payassu” (“Padre Grande”), como o alcunharam os Índios.Em todos os textos de feição visionária – sejam eles a História do Futuro, o Livro Anteprimeiro (prólogo explicativo daquela), as Esperanças de Portugal, a Clavis Prophetarum ou mesmo a Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício – se procura explicar o verdadeiro sentido das profecias de Bandarra, as quais, infalíveis em tantos pormenores, haviam também de o ser na consumação do Quinto Império: um império universal, totalizante, harmónico, onde coubessem todas as raças e todas as culturas, unidas espiritualmente num único reino cristão e católico. (2)

No seu livro “História do Futuro” de 1718, o Padre António Vieira expunha ser ele também mensageiro da loja branca e senhor do segredo divino, num misto de ocultismo e de cristianismo de sentimento sebástico de concepção ocultista e cristã doImpério das raças e sub-raças, com a esperança de que o Quinto Império anunciado para depois do segundo é o império espiritual português. É sua a sublimar frase: Para se avaliar a esperança, há-se de medir o futuro.

A “História do Futuro”, é um manancial de profecias ao profeta Daniel, intérprete do sonho de Nabucodonosor onde vai colher o fundamento do mito do Quinto Império e que o Padre António Vieira no sermão de acção de graças pelo nascimento do príncipe D. João assim descreve: Nabucodonosor, aquele grande monarca, pôs-se uma noite a considerar se o seu império seria perpétuo, ou se depois dele sucederiam outros no mundo; e adormecendo com estes pensamentos viu aquela famosa estátua tantas vezes pregada nos púlpitos, cuja cabeça era de oiro, o peito de prata e o ventre de bronze, e daí até aos pés de ferro. Viu mais que uma pedra caída do alto, dando nos pés da estátua, a derrubava e fazia em pó, e a mesma pedra crescendo se aumentava e dilatava em um monte de tanta grandeza que enchia toda a terra. Este foi o sonho de que Nabucodonosor totalmente se esqueceu, até que o profeta Daniel lho trouxe outra vez à memória e lhe declarou a significação dele. A cabeça de oiro – diz Daniel – significa o primeiro império, que é o dos Assírios, a que hão-de suceder os Persas; o peito de prata significa o segundo império, que é o dos Persas, a que hão-de suceder os Gregos; o ventre de bronze significa o terceiro império, que é o dos Gregos, a que hão-de suceder os Romanos; o demais de ferro até os pés significa o quarto império, que é o dos Romanos, a que há-de suceder o da pedra, que derribou a estátua: porque ele é o último; e assim como a pedra se levantou à altura e se estendeu à grandeza de um monte que encheu todo o mundo, assim este império dominará o mesmo mundo, e será reconhecido e obedecido de todo ele. (3)

Na História do Futuro podemos ler o seguinte:Tudo que abraça o mar, tudo que alumia o sol, tudo o que cobre, e rodeia o sol, será sujeito a este Quinto Império: não por nome ou título fantástico, como todos que até agora se chamaram impérios do mundo; senão por domínio, e sujeição verdadeira. Todos os reinos se unirão em um ceptro, todas as cabeças obedecerão a uma suprema cabeça, todas as coroas se rematarão em um só diadema, e esta será a peanha da cruz de Cristo. (4)

É este o império espiritual do padre António Vieira, implantado sob a Cruz e que, no rasto do sapateiro de Trancoso cujas profecias datavam de 1554, predizia o mito sebástico vinte e quatro anos antes da batalha de Alcácer Quibir.

Fontes:
1 – Dicionário de autores da língua portuguesa – Amigos do livro – Editores.
2 – Sermões escolhidos, Padre António Vieira - Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses.
3 – Estudo biográfico e crítico, Hernâni Cidade. Vol. I - Agência geral das colónias.
4 – História do Futuro - Oficina de António Pedrozo Garlam

com a devida vénia a "jorsoubrito" in jorsoubrito.multiply.com/journal/item/161
ver também http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo10551.pdf