domingo, 22 de junho de 2025

O OMO-jornalismo tira as nódoas vermelhas...


Este print screen da página online do PÚBLICO é um bom exemplo de OMO-jornalismo: na primeira versão noticia-se a morte de Mouta Liz, um dos fundadores da organização terrorista FP-25: “Morreu esta sexta-feira, um dos fundadores da organização terrorista de extrema-direita FP-25. Tinha 85 anos.” O erro é óbvio: as FP-25 não eram de extrema-direita mas sim de extrema-esquerda. Mas poderíamos admitir estar perante mais um exemplo do enviesamento ideológico que campeia pelas redacções e que leva a que automaticamente se associem a violência e o terrorismo à extrema-direita, para mais com o caricato de na fotografia Mouta Liz, (o primeiro da esquerda), César Escumalha e Pedro Goulart estarem, não a fazer a saudação nazi, como se esperaria duma organização de extrema-direita, mas sim de punho erguido. É o chamado não ter noção!
Contudo o mais interessante acontece quando a notícia é corrigida: “Morreu esta sexta-feira José Mouta Liz, um dos fundadores da organização terrorista FP-25. Tinha 85 anos.” Assim, simplesmente “organização terrorista”. Ao não serem de extrema-direita as FP-25 deixaram automaticamente de ter ideologia, tornando-se apenas uma “organização terrorista”. É aqui que entra o OMO-jornalismo, esse processo contínuo e constante na comunicação social de lavagem da violência da esquerda ou dos grupos e regimes que a esquerda apoia, defende ou “compreende” e que tanto podem ser agora o Hamas como, num passado não tão distante, os khmers vermelhos do Cambodja (vale a pena ouvir o Resto é História dedicado a este assunto), a ditadura comunista em Cuba (o problema era sempre o embargo dos EUA!), a actividade dos terroristas da ETA em Espanha e, em Portugal, as FP-25.
O exercício do OMO-Jornalismo reduz frequentemente as notícias a uma sucessão de absurdos em que cada afirmação omite uma parte significativa da informação — veja-se o que acontece com as notícias sobre a autoria e as motivações dos esfaqueamentos que já se banalizaram por essa Europa fora — ou, como sucedeu na morte de Mouta Liz, transforma o fundador de um movimento terrorista responsável por crimes de sangue numa espécie de assaltante de bancos por razões ideológicas não identificadas: “Morreu José Mouta Liz, um dos fundadores das FP-25. Tinha 86 anos. Foi considerado um dos responsáveis pelo célebre assalto a uma carrinha de valores do então banco Fonsecas & Burnay. Mouta Liz foi condenado a 17 anos de prisão, mas acabou por beneficiar de uma amnistia para crimes com motivações políticas aprovada pela Assembleia da República. Apoiante de Otelo Saraiva de Carvalho, Mouta Liz era defensor da violência armada como método de ação política, mas sempre negou ter participado em atividades terroristas” escreve a SIC Notícias num texto que é uma ilustração do absurdo a que leva o OMO-Jornalismo pois nada bate certo: Mouta Liz beneficiou “de uma amnistia para crimes com motivações políticas” mas quais eram as motivações políticas de Mouta Liz? E ele foi condenado porquê? Por causa do “célebre assalto”? Então o “célebre assalto” tinha motivações políticas? E quais seriam elas? Não só não se diz nada como ainda se acrescenta mais confusão: “Mouta Liz era defensor da violência armada como método de ação política” — mas de que acção política? Em resumo, tudo lido e espremido, Mouta Liz terá sido responsável por um “célebre assalto”. Uma celebridade, portanto.
É do mundo do OMO-Jornalismo que vêm as palavras que aplicamos aos protagonistas da violência. Por exemplo, o que distingue um nazi dum activista não é tanto a natureza criminosa dos actos que praticam ou pretendem vir a praticar mas sim o facto de uns desses grupos estarem na extrema-direita e os outros na extrema-esquerda. E se perante um nazi temos obviamente uma resposta imediata e reflexa de condenação, perante o desideologizado activista somos de imediato convidados a compreender que a bondade dos seus objectivos implica senão tolerância pelos menos alguma desvalorização dos métodos a que possam recorrer. Sobre o que pensa o activista nem uma palavrinha! O OMO-Jornalismo é aquele que tira as nódoas vermelhas mesmo as mais difíceis, como as que são deixadas pelo terrorismo de esquerda.
Mas como às vezes acontece a verdade veio ao de cima no caso de Mouta Liz e o PÚBLICO faria uma terceira e até agora última versão da sua notícia sobre a sua morte: “Morreu esta sexta-feira José Mouta Liz, um dos fundadores da organização terrorista de extrema-esquerda FP-25. Tinha 86 anos.”
Sim, José Mouta Liz não só teve a vida longa que foi roubada às vítimas das FP-25 como não morreu caído no chão sob as balas disparadas pelos homens das FP-25, como aconteceu a Alexandre Souto, Álvaro Militão, Rogério Canha e Sá, Agostinho Francisco Ferreira, José Lobo dos Santos, Henrique Nascimento Hipólito, Fernando Abreu, José Manuel Rosa Barradas, Diamantino Monteiro Pereira e Gaspar Castelo Branco, ou desfeito pelas bombas que eles colocaram como aconteceu ao bebé Nuno Dionísio e aos soldados da GNR Adolfo Dias e Francisco Ouvidor Silva.
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José Mouta Liz morreu aos 86 anos numa cama de hospital.
Hospital privado, obviamente.


sábado, 21 de junho de 2025

o novo “Ancien Regime” na clara visão de Jaime Nogueira Pinto

“Ou seja, o grande capital globalista, que à solta, parece convergir com o que resta das esquerdas utópicas radicais na guerra às nações, às religiões, às identidades e às fronteiras, enquanto fomenta a vinda de escravos baratos das periferias. O Centrão sobrevivente governa onde ainda pode, e na luta desesperada contra “a extrema-direita”, mobilizam-se os aparelhos culturais e informativos: a “academia”, os media e agora, como ultima ratio regum, também os tribunais (fizeram-no com sucesso na Roménia e em França).
Mas, não parece estar a funcionar. 
Talvez só uma mudança radical do sistema criado nos últimos 35/40 anos possa parar o dito crescimento dos populismos e da “extrema-direita”, mudança a que os criadores, senhores e benificiários da ordem estabelecida não querem ou não podem proceder. Por isso, ao que tudo indica, a revolta vai continuar, vai crescer e vai também tornar-se cada vez mais consciente e convicta, passando, inevitavelmente, do puro protesto às convicções e às alternativas.
No mundo multipolar de hoje, na nova ordem internacional, ou no presente interregno para uma nova ordem internacional e perante o declínio político e estratégico da Europa – cujas elites esvaziadas, deslumbradas ou desesperadas subscrevem e prescrevem as extravagâncias decadentistas das novas esquerdas –, assistimos à reacção de povos acordados pelas consequências económicas e sociais das políticas dos últimos anos.
A resistência, que se exprime agora sobretudo nas urnas, é a revolta dos “bárbaros” que escolhem a nação, a família, a identidade e a liberdade contra o globalismo, o hedonismo e a tutela dos “iluminados”, instalados no poder. “Iluminados” que deixaram há muito de ser a revolução para serem agora “o sistema”, “o regime”, o novo Ancien regime.”

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Activismo-Jornalístico e a Estratégia da Difamação ou Como a Extrema-Esquerda Usa o Medo para Mascarar a Derrota Política

Neste artigo proponho-me a uma análise crítica ao fenómeno crescente do activismo-jornalístico em Portugal, particularmente à forma como sectores da extrema-esquerda e seus aliados mediáticos promovem a retórica do “perigo nazi” e da “extrema-direita” para encobrir um duplo fracasso: a erosão eleitoral e a incapacidade de mobilização popular. Numa época em que a esquerda radical perde terreno nas democracias ocidentais, a construção de narrativas de medo torna-se uma ferramenta táctica de sobrevivência política. Este texto desmonta essas narrativas, expõe as suas motivações ideológicas e revela os perigos para a democracia quando o jornalismo abandona a função de informar para se tornar instrumento de propaganda.

A derrota política e a reinvenção da agitação
A derrocada eleitoral da esquerda e da extrema-esquerda na generalidade dos países democráticos é um facto documentado e Portugal não é excepção: nas Legislativas de Maio de 2025, partidos como o Bloco de Esquerda e o Livre perderam representação ou viram-se politicamente irrelevantes. Perante este colapso, a estratégia da mobilização popular revelou-se ineficaz. Sem massas, resta a encenação.
Inspirando-se nos ensinamentos de Lenine no "Que Fazer?", a extrema-esquerda portuguesa recorre hoje à criação artificial de um inimigo absoluto: “os nazis” e “a extrema-direita”. Este recurso tem dupla função: legitima o seu activismo residual e permite capturar o espaço mediático. A técnica é conhecida e já gasta: provocar pequenos tumultos e depois amplificá-los através de jornalistas ideologicamente alinhados. Trata-se de uma engenharia da percepção pública, na qual a violência ou a tensão são pré-fabricadas para justificar alarmismos.
O papel do activismo-jornalístico e a fabricação do medo
Casos recentes revelam com clareza esta mecânica. O discurso da deputada Moreira, que afirma que “o maior factor de insegurança em Portugal é a extrema-direita”, ignora deliberadamente a realidade factual da violência urbana que assola Lisboa — muito dela concentrada em zonas com forte imigração ilegal e ausência do Estado como se afirma no Relatório Anual de Segurança Interna, o RASI 2024.
Note-se, como exemplo, que a agressão a um actor ou a um voluntário, por lamentável que sejam, é amplificada como evidência de uma alegada “ameaça fascista”, ao passo que casos quotidianos de violência extrema — desde o motorista da Carris incendiado até às agressões contra profissionais de saúde, polícias esfaqueados ou idosos assaltados — são omitidos ou relativizados, porque não se encaixam na narrativa. A indignação é selectiva. A sua ausência, reveladora!

A falácia militante: notícias ou peças de agit-prop?

Circulam nas redes sociais vídeos como este ou este, nos quais se procura associar actos de intimidação ou vandalismo a um crescimento do “nazismo”. Trata-se de uma operação semiótica: usar símbolos, estética ou episódios isolados para sugerir a existência de uma “milícia organizada”. A cobertura do Correio da Manha sobre “neonazis a prepararem atentados” parece retirada de um thriller de segunda ordem. As fontes são opacas, os factos vagos, o contexto ausente.



Já o Público insinua uma infiltração da
“extrema-direita” nas forças de segurança, embora a notícia se baseie em investigações preliminares, sem condenações e sem robustez probatória. O objectivo não é informar: é alimentar a suspeita e associar instituições — nomeadamente as polícias — a um alegado “perigo reaccionário”. É um modelo clássico de difamação por associação, que visa deslegitimar os corpos de soberania que escapam ao controlo ideológico da esquerda.
usando a manipulação como substituto da política
O fenómeno descrito não é apenas desonesto; é perigoso. Quando os órgãos de comunicação social se tornam extensões da militância partidária, o espaço público deixa de ser livre e plural. A táctica de chamar “nazi” a tudo o que escapa ao controlo da esquerda não visa proteger a democracia — visa desacreditar a alternância democrática.
Este padrão reflecte o desespero de quem perdeu o poder real, mas mantém influência simbólica nos media, universidades e administrações. Tal como no PREC se rotulava tudo o que resistia como “fascista”, também hoje se invoca o “perigo nazi” como reflexo de uma psicose ideológica que teme a soberania popular.
a extrema-esquerda e jornalismo-activista entre a decadência e o fingimento
A actual campanha da extrema-esquerda portuguesa, sustentada por jornalistas-militantes, é a última trincheira de um projecto político em colapso. Incapazes de convencer o eleitorado, tentam agora governar a percepção. Mas o povo — nas urnas, nas ruas, nas redes — começa a perceber o truque.
A vigilância democrática exige que se denuncie esta simbiose entre jornalismo e activismo. O medo fabricado, a mentira propagada e a indignação selectiva não devem servir para inverter o resultado eleitoral. Devem, isso sim, ser estudados como sintomas de uma esquerda órfã de povo e viciada em propaganda.
Fontes:
[Relatório Anual de Segurança Interna, RASI 2024]
[https://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/neonazis-preparavam-atentados-contra-politicos]
[https://www.publico.pt/2025/06/19/sociedade/noticia/tres-agentes-forcas-seguranca-estarao-envolvidos-milicia-neonazi-desmantelada-pj-2137136]
[https://www.facebook.com/share/v/1CJzPBhbmP/]
[https://www.facebook.com/share/v/16PFzFzkSV/]

Quando a “Sociedade Aberta” se Torna um Sistema Fechado de Influência

Uma investigação conduzida por Grégor Puppinck, jurista francês e director do European Centre for Law and Justice (ECLJ), revela o que há muito tempo se suspeitava: a promiscuidade entre organizações internacionais e grandes fundações privadas, em especial a Open Society de George Soros e a Fundação Gates.
Segundo os relatórios financeiros do próprio Conselho da Europa, entre 2004 e 2014, a Open
Society e a Microsoft foram os maiores doadores privados da organização. Estas entidades financiaram directamente iniciativas políticas e culturais do Conselho, incluindo projectos como o Instituto Europeu de Artes e Cultura Cigana. Com o tempo, os pagamentos foram canalizados por fundos extra-orçamentais, mais opacos.
Mas a questão vai mais além da Europa. A Fundação Gates foi, em 2019, o segundo maior financiador da Organização Mundial de Saúde (OMS), com 530 milhões de dólares, ultrapassando muitos Estados soberanos. O Tribunal Penal Internacional e a própria ONU também beneficiaram de “doações voluntárias” oriundas destas fundações. O resultado é previsível: estruturas supranacionais vulneráveis à influência de bilionários sem legitimidade democrática.
Puppinck denuncia ainda o entrismo — e até conluio — de personalidades directamente ligadas à Open Society em cargos chave. O exemplo mais grave talvez seja o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos: dos 100 juízes nomeados nos últimos dez anos, 22 vieram de sete ONGs financiadas por Soros, e 18 intervieram em casos envolvendo directamente essas mesmas organizações — uma clara violação das normas de imparcialidade judicial. 
Esta realidade foi denunciada por vários deputados ao Comité de Ministros do Conselho da
Europa, mas os 48 embaixadores continuam sem dar resposta. Bruxelas também foi interpelada. No entanto, a Comissão Europeia, através da vice-presidente Věra Jourová, respondeu que “não tem dúvidas quanto à independência do Tribunal”. Curiosamente, a mesma Jourová aparece fotografada com Soros, elogiando os “valores da sociedade aberta” no seio da União Europeia.
Mais do que suspeitas, estamos perante um sistema paralelo de influência, que se aproveita da fragilidade orçamental de organismos internacionais para colocar as suas agendas políticas acima da soberania dos Estados e do escrutínio democrático. A questão que se impõe é simples, mas urgente: quem governa, de facto, o mundo institucional que nos representa?

 

terça-feira, 17 de junho de 2025

Por que razão?

Não restem dúvidas sobre dois factos.

O primeiro é este: todos estes casos de violência são repugnantes, os seus actores merecem desprezo moral e o Estado deve ter os mecanismos próprios de Direito e Justiça para lhes responder, investigando e, sendo o caso, punindo exemplarmente quem os cometeu.

O segundo é o seguinte: independentemente dos mecanismos do Estado de Direito (que merecem toda uma discussão à parte desta), nenhuma democracia sobrevive moral e eticamente quando, no espaço de poucos dias, uns crimes merecem destaque mediático e reacções do poder político, e outros não. Ou quando o poder político decide reagir em função do mediatismo que é oferecido a determinados crimes, ou em função do peso eleitoral que tem a classe profissional a que a vítima pertence.

Por que razão todos os agentes políticos se manifestam perante um episódio levado a cabo por um grupo de extrema-direita e ao mesmo tempo se calam perante um homicídio levado a cabo por um português de etnia cigana que, além de ter assassinado um filho, queria forçar uma sua filha, menor, a casar-se contra a sua vontade?
Por que razão (mais um) caso de violência entre adeptos de desporto é olimpicamente ignorado pelo poder político, mas tratando-se de um agente da PSP até o Primeiro-ministro sente necessidade de vir a público manifestar-se e repudiar a violência?
Por que razão o episódio da Amareleja se cinge às páginas do Correio da Manhã? A menina cigana não tem dignidade suficiente ou os desejosos de demonstrar a sua superioridade moral, sempre tão zelosos dos direitos das mulheres, ficaram hesitantes sobre de que lado estar neste caso concreto?

É assim tão difícil afirmar que nenhum acto de violência, excepto em casos de exclusão de ilicitude (como a legítima defesa, por exemplo), é aceitável, e que todos eles merecem repúdio e que as autoridades devem fazer o seu trabalho? Não, não é. Excepto numa sociedade que vive mais da exibição da sua superioridade moral, das suas agendas políticas e da sua cobardia do que da coerência e da integridade dos seus valores.
(Nuno Gonçalo Poças)

Entre o Medo e o Desprezo: Como o “Observador” Fala do CHEGA… e dos seus Eleitores

O jornal Observador e a sua estação de rádio associada tornaram-se, nos últimos anos, referências incontornáveis da direita portuguesa. Mas não qualquer direita: é uma direita ordeira, urbana, liberal nos impostos, conservadora nos costumes, mas – acima de tudo – institucionalista. É a direita que teme a desordem, mas que despreza o povo que não vota “como deve ser”.

Esta tensão entre o desejo de mudança e o medo de ruptura revela-se com clareza nas análises e comentários que o Observador dedica ao partido CHEGA e, talvez ainda mais interessante, aos seus eleitores.
O que pensam os jornalistas e comentadores do “Observador” sobre o CHEGA?
Uma atitude predominante: crítica e desconfiança
O CHEGA é frequentemente descrito como populista, radical, ou antieuropeísta, embora esta última caracterização varie.
Há uma tentativa frequente de diferenciar o eleitorado do CHEGA da liderança de André Ventura, numa abordagem que sugere que os eleitores podem ser compreendidos, mas o líder é muitas vezes retratado como oportunista ou perigoso.
Comentadores como José Manuel Fernandes, Rui Ramos ou João Marques de Almeida já escreveram ou disseram publicamente que o crescimento do CHEGA é um sinal de falência da representação tradicional, mas recusam normalizar o partido ou incluí-lo numa eventual coligação governativa.
Editorialmente:
jornal recusa associar-se à tese de “cordão sanitário” à moda francesa, mas também recusa dar legitimidade institucional plena ao CHEGA, especialmente ao nível do governo nacional.
Mas em vários artigos de opinião, considera-se que o partido:
não apresenta um programa de governo consistente,
alimenta-se do ressentimento e de um discurso de rutura emocional,
beneficia da inépcia do sistema partidário tradicional e da impopularidade da esquerda.

O Partido que os Assusta e os eleitores que os Incomodam 
Na generalidade dos seus editoriais, artigos de opinião e espaços de comentário, o CHEGA é descrito como um partido populista, radical, perigoso para as instituições e para o prestígio do regime. Não se trata apenas de uma crítica ideológica, mas de um juízo moral: André Ventura é apresentado como manipulador, oportunista e calculista. Já o partido, por seu turno, é visto como um vazio programático preenchido por indignação e ressentimento.
Contudo, o Observador não comete o erro ingénuo de tratar todos os eleitores do CHEGA como fascistas, ignorantes ou xenófobos. Pelo contrário, alguns dos seus colunistas mais sérios – Rui Ramos ou João Marques de Almeida – reconhecem que muitos votos no CHEGA são respostas legítimas a uma representação política falhada, a um sistema que abandonou os seus cidadãos, e a uma classe política que vive num mundo paralelo.
A tensão é esta: compreendem-se os eleitores, mas recusa-se a sua escolha.
Compreendem os eleitores, mas desprezam o seu voto.
O Observador diz entender os portugueses que votam CHEGA… mas continua a tratar o partido como um acidente, um erro ou uma ameaça.
Talvez o que os incomoda não seja o radicalismo de Ventura, mas o facto de milhares de cidadãos terem deixado de pedir licença para protestar — e começado a votar contra o regime.
O Artigo Que Foge ao Roteiro
Curiosamente, é o próprio Observador a publicar (17Junho2025), um artigo intitulado “O que pensam os eleitores do CHEGA?”, que procurou, com alguma honestidade, contrariar a narrativa dominante. Nesse texto, os autores denunciam a visão condescendente com que muitos jornalistas tratam os apoiantes de Ventura: como se fossem analfabetos funcionais, desinformados, ou fanáticos racistas.
Nada disso resiste ao confronto com a realidade: o artigo retrata um eleitorado que, longe de ser irracional, revela consistência nos temas que elege como prioritários (corrupção, insegurança, imigração, justiça), e um profundo descrédito nas promessas recicladas pelos partidos do costume.
A ironia não deixa de ser amarga: o jornal que alberga colunistas que diabolizam Ventura, é o mesmo que reconhece que milhares de portugueses apenas querem ser ouvidos – e que, sendo ignorados, começaram a gritar.
O Limite da Compreensão
O Observador quer ser moderno, mas não disruptivo. Quer ser crítico do regime, mas sem romper com ele. Quer dar espaço à crítica popular, mas teme a força do povo quando este se organiza politicamente fora das fronteiras convencionais.
Talvez por isso o CHEGA seja simultaneamente o partido mais escrutinado e o mais mal interpretado pelas direitas institucionais. Porque representa não uma alternativa intelectual, mas uma insurreição emocional e social – o grito de quem já percebeu que este sistema não muda com bons modos.
E é exactamente por isso que, mesmo quando os jornalistas do Observador escrevem que compreendem os eleitores do CHEGA, continuam a escrever como se esses eleitores tivessem votado mal.

Manuela