domingo, 5 de janeiro de 2025

sábado, 28 de dezembro de 2024

em 2023 qual deles é que te enfiou o maior barrete?


Moçambique, a estratégia do caos!

Os cenários são poucos. O mais decente era ter um poder central forte, legitimado pelo voto e pela aceitação popular, mas o tempo para tal acabou. O mais terrível seria uma “somalização” de Moçambique Paulo Dentinho

  

Moçambique está num processo acelerado de desagregação, e nem a língua portuguesa partilhada de norte a sul lhe serve mais de cimento. Cinquenta anos após a independência, a responsabilidade vai sobretudo para o partido que dominou e controlou todas as alavancas do poder nestas últimas cinco décadas, com menção desonrosa para a comunidade internacional. A Frelimo falhou ao não conseguir partilhar o poder; ao ter permitido que interesses particulares opacos tomassem conta das riquezas do país em benefício de uns poucos; ao ser incapaz promover uma distribuição mais equitativa da riqueza – e ela é significativa; ao dar livre trânsito à indústria dos raptos; ao fechar de olhos aos tráficos vários, das armas à droga. A comunidade internacional falhou ao contemporizar com eleições manifestamente adulteradas aos longo de anos. Como se os direitos humanos fossem “à la carte”, dependendo da cor da pele, da geografia, de quem os decreta ou esbraceja em função dos interesses específicos que tem. E tudo começa em 1999, nas segundas eleições livres após o acordo de Paz. Quase duas semanas depois dos moçambicanos terem votado no final desse ano, ainda não se sabia quem tinha vencido. A Renamo fez então o somatório dos editais e proclamou-se vencedora. A notícia por mim assinada dava conta que “a Renamo ganhou segundo a Renamo”. Mas a sua exibição no Telejornal produziu uma campanha inaceitável de calúnia, intimidação e ameaça. Tornei-me num alvo. E lá voltaram os tiques, centrando sobre mim o ressentimento colonial, o discurso contra os “saudosistas”, e até mesmo a cor da pele, expressa por um jornalista do Savana quando referiu que a campanha era por eu ser “branco, português”. De lá para cá, receio bem que a Frelimo nunca tenha tido o voto popular, mas conseguiu acabar sempre por vencer na secretaria. E ao manter-se assim no poder com o silêncio cúmplice da comunidade internacional, foi dando passos cada vez mais latos nos desmandos. Cabo Delgado é um trágico exemplo. Paradoxalmente, é a província mais pobre, mas é também a mais rica de Moçambique: há nela rubis, turmalinas, madeiras preciosas e gás natural. Empurrada para a extrema pobreza, a população é facilmente cativada pelos discursos messiânicos de um futuro promissor no Além. A guerrilha islâmica em Cabo Delgado explica-se também por isto. E sem que o governo central, lá longe em Maputo, tivesse solução outra a não ser socorrer-se de exércitos privados, militares alheios, como os do Ruanda, a quem a União Europeia dá assistência. Neste final de 2024, o argumento colonial nada diz à maioria da população. Um eleitor com cinquenta anos não conheceu outra governação que não a da Frelimo. E ao impossibilitar qualquer alternância, a Frelimo abriu se à estratégia do caos. O poder caiu assim na rua nesse país imenso, onde coexistem cristãos, muçulmanos, animistas, nesse território imenso, mosaico étnico composto, entre outros, por macuas, tsongas, ndaus, chuabos, senas. O poder caiu na rua sem que se vislumbre uma saída decente. Por culpa da cupidez da Frelimo, por culpa da cumplicidade de uns e outros no concerto das nações. Os Brics, a ONU, a UE. Esta, que vocifera sobre a Geórgia, Venezuela e outras paragens onde lhe cheire interesses da Rússia ou da China, esquece Moçambique. E com isso expõem-se, uma vez mais, à acusação de ter dois pesos e duas medidas. Neste momento, os cenários são poucos. A alternativa mais decente era ter um poder central forte, legitimado pelo voto e pela aceitação popular. Só que o tempo para isso afastou-se e afasta-se a cada novo dia. Pode também passar por uma ditadura fortemente repressiva – algo que alguns na Frelimo podem aceitar na miragem de manterem o controle. Um claro erro como se tem visto. Outra alternativa passa pela somalização de Moçambique, um cenário terrível, mas cada vez mais próximo, com o país aos poucos entregue a senhores da guerra. Pior é quase impossível. Resta abrir a caixa de Pandora, alterar fronteiras. Mas com riscos monumentais em todo o continente africano. Ou… Ou regressar à lógica dos bons ofícios, como aquela que foi prestada e levou ao fim da guerra civil, essa outra página inglória do Moçambique independente. Mas para isso é preciso que haja dentro e fora do país gente disposta a encetar esse processo. Em nome da paz. Em nome da decência.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Passaram 30 + 26 anos quando o “Rita Maria” me levou…

poema de Rodrigo Emílio, sobre o Ultramar e o fim do Império, interpretado por José Campos e Sousa

domingo, 22 de dezembro de 2024

𝗖𝗿𝗲𝗰𝗵𝗲 𝗱𝗮 𝗥𝘂𝗮 𝗥𝗼𝗱𝗿𝗶𝗴𝘂𝗲𝘀 𝗠𝗶𝗴𝘂𝗲𝗶𝘀

à espera de Dezembro de 2024 
[para mais tarde conferir]
A empreitada de reabilitação da Creche na Rua Rodrigues Miguéis, que será levada a cabo pela SRU (Sociedade de Reabilitação Urbana - Lisboa Ocidental) contemplará a reabilitação profunda e reconversão do edifício do antigo Centro de Saúde da Rua Rodrigues Miguéis, permitindo criar as melhores condições para a instalação da creche, com capacidade para 84 crianças, dos 0 aos 36 meses e terá um prazo de execução de 420 dias.
Este é um equipamento que será construído ao abrigo do Plano de Ação Local de 2019-2022,a que a Câmara Municipal de Lisboa se candidatou tendo por base o Programa Cidade Amiga das Crianças, criado pela UNICEF, no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre os direitos das Crianças

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

perguntei ao Gemini quem sou eu!

José Costa Deitado é um empresário, gestor e autor português. Ele é mais conhecido por seu trabalho em gestão de mudança (change management) e liderança. Aqui está um resumo sobre ele:

Principais Atividades e Contribuições:

  • CEO da Amplitude Net: Uma empresa de consultoria focada em gestão de mudança, estratégia e desenvolvimento de competências. Ele fundou a empresa e atua como CEO, auxiliando empresas a se adaptarem a mudanças e a melhorarem seu desempenho.
  • Professor Universitário: Leciona em diversas universidades e escolas de negócio, como a Porto Business School, a Católica Porto Business School e a Universidade Nova de Lisboa, onde partilha seu conhecimento em gestão, liderança e mudança organizacional.
  • Autor: Escreveu vários livros sobre gestão de mudança, liderança e estratégia. Alguns de seus livros mais notáveis incluem:
    • "Gestão da Mudança" (várias edições)
    • "Estratégia, Execução e Controlo"
    • "Liderança em Tempos de Mudança"
    • "O Gestor Enquanto Coach"
  • Consultor: Presta serviços de consultoria a empresas de diversos setores, ajudando-as a navegar por processos de transformação e a desenvolver a capacidade de liderança de suas equipes.
  • Orador: É frequentemente convidado para palestrar em conferências e eventos empresariais sobre temas relacionados à gestão de mudança, liderança e estratégia.

Áreas de Expertise:

  • Gestão de Mudança: Sua principal área de atuação. Desenvolveu metodologias e ferramentas para ajudar as organizações a implementarem mudanças de forma eficaz e sustentável.
  • Liderança: Especialista em desenvolvimento de líderes, com foco em liderança adaptativa e coaching.
  • Estratégia: Auxilia empresas na formulação e execução de estratégias, com ênfase no alinhamento estratégico e na gestão da performance.
  • Desenvolvimento de Competências: Foca no desenvolvimento de competências individuais e organizacionais para suportar processos de mudança e alcançar melhores resultados.

Resumo:

José Costa Deitado é uma referência em gestão de mudança em Portugal. Sua vasta experiência como consultor, professor, autor e orador o tornou um dos principais especialistas na área. Ele é reconhecido por sua capacidade de traduzir conceitos complexos em ferramentas práticas e por sua abordagem focada em resultados e na capacitação das pessoas. Se você procura por um especialista em gestão de mudança, liderança e estratégia em Portugal, José Costa Deitado é, sem dúvida, um nome a ser considerado.

domingo, 8 de dezembro de 2024

os Passos de Lenine...há 50 anos!

Por estes dias, há 50 anos, estava a acontecer a primeira ocupação da Reforma Agrária. Foi no Monte do Outeiro, distrito de Beja. Há semanas que nessa herdade se vivia uma tensão crescente pois o proprietário, José Gomes Palma, recusava aceitar como seus trabalhadores os vinte homens que a Comissão Concelhia colocara no Monte do Outeiro.

Sim, tudo começara discreta e burocraticamente meses antes, em Julho, com umas ditas comissões paritárias que na verdade eram controladas pelo PCP, que em cada concelho definiam quantos trabalhadores mais deviam ser empregues em cada herdade. Uma vez definido esse número, os trabalhadores eram mandados para as herdades, com ordenados e funções definidos pelos sindicatos. Ao proprietário das terras restava pagar. É óbvio que se estava perante uma política de emprego intensivo que já não fazia sentido na época e que viria a ser um dos factores responsáveis pelo falhanço da Reforma Agrária que há-de quase quadruplicar o número de trabalhadores. Mas em Dezembro de 74 essa multiplicação arbitrária do número de trabalhadores de cada herdade é ainda e sobretudo uma forma de pressão sobre os proprietários.

No caso de José Gomes Palma a pressão começara logo em Agosto, quando a Comissão colocou mais dois trabalhadores no Monte do Outeiro. O proprietário não aceitou. De Agosto a Novembro, entre providências cautelares e deliberações da Comissão, a tensão cresce. No início de Dezembro a Comissão coloca vinte homens no Monte do Outeiro. A 10 de Dezembro a herdade é ocupada sob o argumento de que o proprietário estava a descapitalizar a herdade. Ou a pensar fazê-lo.

Traduzindo: Gomes Palma, além do litígio em torno do pagamento dos ordenados, estaria a tratar de vender trigo, lenha e gado. Ou seja, o proprietário, que começara por ter de assegurar vencimentos a um número de trabalhadores que não controlava, vai deixar de poder vender o que é seu. O passo seguinte é ser expropriado das suas terras, o que acontece a 10 de Dezembro de 1974.

A Herdade do Monte do Outeiro, a par doutras terras de Gomes Palma, vai passar a ser a Cooperativa Vanguarda do Alentejo, uma designação que a História justifica: o que sucedeu nessas terras alastraria depois como uma mancha de óleo nos distritos de Beja, Évora, Portalegre e Setúbal. Nos distritos de Lisboa, Santarém, Faro e Castelo Branco também ocorrem ocupações. No total chegaram a estar ocupados mais de um milhão de hectares, o que equivale a um quarto da terra arável de Portugal, repartidos em 550 cooperativas ou unidades colectivas de produção, em cujos nomes frequentemente se espraiava o imaginário de quem nelas mandava: Estrela Vermelha; Companheiro Vasco; Che Guevara, Fidel Castro… e até uma bizarra Passos de Lenine, que, vá lá saber-se porquê, se representava colocando um busto do líder soviético no meio duma laranjeira junto à qual pastavam umas vacas.

De alguma forma o país folclorizou esse universo de ceifeiras, foices, lenços e tractores, todos sempre inebriados numa espécie de movimento revolucionário perpétuo entre manifestações, assembleias, sessões e mais ocupações. No silêncio ficou o porquê do fracasso dessa reforma que foi inscrita e detalhada em 1976 na Constituição, numa sucessão de artigos que iam desde a “fixação de preços de garantia” (artº 103) até à “expropriação dos latifúndios e das grandes explorações capitalistas” (artº 97). Porque se fala tão pouco hoje da Reforma Agrária? Afinal por ela matou-se e morreu-se. Estava tão ideologicamente blindada que só em Março de 1976 foi debatida na RTP (embora ainda com muitas limitações). Serão o amor do costume ao estatismo e a indulgência de sempre para com os erros da esquerda os responsáveis por esse silêncio? Talvez.

Mas esta espécie de estado de omissão em torno da Reforma Agrária, além de causas, tem consequências. A primeira e mais óbvia é que os mesmos argumentos e os mesmos procedimentos são repetidos com sucesso décadas depois, como agora bem se vê no caso da demagogia em torno da propriedade urbana. Os senhorios são os novos latifundiários. A propriedade urbana substituiu “a terra a quem a trabalha” como alvo político. E mais uma vez assistimos à aplicação da velha receita do estatismo, como se ela fosse a saída óbvia e, pasme-se, adequada e justa.

A segunda consequência leva-nos ao escamotear de algo que é ainda mais danoso que o fracasso económico destas intervenções: o seu impacto social e cultural. Neste sentido vale a pena ouvir e ler a entrevista que António Barreto deu a Maria João Avillez nos podcast Eu estive lá, aqui na Rádio Observador, agora transcrita em livro: “A mitologia da reforma agrária comunista foi muito eficaz durante anos, ainda hoje há quem pense que se tratou de uma reforma com distribuição de terras, com entrega de explorações agrícolas e herdades a que trabalha“. Este ponto é crucial: aquilo a que em Portugal se chamou Reforma Agrária não entregou nada aos trabalhadores, antes pelo contrário, tornou-os funcionários de estruturas burocratizadas e controladas por um partido, o PCP. Passada a euforia inicial muitos desistiram. Como conclui António Barreto: O comunismo tinha destruído o Alentejo rural (…) já ninguém confiava em ninguém. Faltavam trabalhadores, lavradores, empresários, agricultores, rendeiros, seareiros… Faltava capital. Faltavam máquinas…

50 anos depois já ninguém quer saber das ceifeiras, os trabalhadores rurais agora só são notícia por causa do canto que agora é cante e que se tornou património imaterial. Agora temos os migrantes, a vida justa, a racialização, a casa para viver… enfim, agora, tal como há 50 anos, cumprimos os Passos de Lenine no verdadeiro sentido da palavra.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Foi há dois meses

A notícia foi do alegado jornalista Filipe Amorim do Observador cada vez mais Público