Este print screen da página online do PÚBLICO é um bom exemplo de OMO-jornalismo: na primeira versão noticia-se a morte de Mouta Liz, um dos fundadores da organização terrorista FP-25: “Morreu esta sexta-feira, um dos fundadores da organização terrorista de extrema-direita FP-25. Tinha 85 anos.” O erro é óbvio: as FP-25 não eram de extrema-direita mas sim de extrema-esquerda. Mas poderíamos admitir estar perante mais um exemplo do enviesamento ideológico que campeia pelas redacções e que leva a que automaticamente se associem a violência e o terrorismo à extrema-direita, para mais com o caricato de na fotografia Mouta Liz, (o primeiro da esquerda), César Escumalha e Pedro Goulart estarem, não a fazer a saudação nazi, como se esperaria duma organização de extrema-direita, mas sim de punho erguido. É o chamado não ter noção!
Contudo o mais interessante acontece quando a notícia é corrigida: “Morreu esta sexta-feira José Mouta Liz, um dos fundadores da organização terrorista FP-25. Tinha 85 anos.” Assim, simplesmente “organização terrorista”. Ao não serem de extrema-direita as FP-25 deixaram automaticamente de ter ideologia, tornando-se apenas uma “organização terrorista”. É aqui que entra o OMO-jornalismo, esse processo contínuo e constante na comunicação social de lavagem da violência da esquerda ou dos grupos e regimes que a esquerda apoia, defende ou “compreende” e que tanto podem ser agora o Hamas como, num passado não tão distante, os khmers vermelhos do Cambodja (vale a pena ouvir o Resto é História dedicado a este assunto), a ditadura comunista em Cuba (o problema era sempre o embargo dos EUA!), a actividade dos terroristas da ETA em Espanha e, em Portugal, as FP-25.
O exercício do OMO-Jornalismo reduz frequentemente as notícias a uma sucessão de absurdos em que cada afirmação omite uma parte significativa da informação — veja-se o que acontece com as notícias sobre a autoria e as motivações dos esfaqueamentos que já se banalizaram por essa Europa fora — ou, como sucedeu na morte de Mouta Liz, transforma o fundador de um movimento terrorista responsável por crimes de sangue numa espécie de assaltante de bancos por razões ideológicas não identificadas: “Morreu José Mouta Liz, um dos fundadores das FP-25. Tinha 86 anos. Foi considerado um dos responsáveis pelo célebre assalto a uma carrinha de valores do então banco Fonsecas & Burnay. Mouta Liz foi condenado a 17 anos de prisão, mas acabou por beneficiar de uma amnistia para crimes com motivações políticas aprovada pela Assembleia da República. Apoiante de Otelo Saraiva de Carvalho, Mouta Liz era defensor da violência armada como método de ação política, mas sempre negou ter participado em atividades terroristas” escreve a SIC Notícias num texto que é uma ilustração do absurdo a que leva o OMO-Jornalismo pois nada bate certo: Mouta Liz beneficiou “de uma amnistia para crimes com motivações políticas” mas quais eram as motivações políticas de Mouta Liz? E ele foi condenado porquê? Por causa do “célebre assalto”? Então o “célebre assalto” tinha motivações políticas? E quais seriam elas? Não só não se diz nada como ainda se acrescenta mais confusão: “Mouta Liz era defensor da violência armada como método de ação política” — mas de que acção política? Em resumo, tudo lido e espremido, Mouta Liz terá sido responsável por um “célebre assalto”. Uma celebridade, portanto.
É do mundo do OMO-Jornalismo que vêm as palavras que aplicamos aos protagonistas da violência. Por exemplo, o que distingue um nazi dum activista não é tanto a natureza criminosa dos actos que praticam ou pretendem vir a praticar mas sim o facto de uns desses grupos estarem na extrema-direita e os outros na extrema-esquerda. E se perante um nazi temos obviamente uma resposta imediata e reflexa de condenação, perante o desideologizado activista somos de imediato convidados a compreender que a bondade dos seus objectivos implica senão tolerância pelos menos alguma desvalorização dos métodos a que possam recorrer. Sobre o que pensa o activista nem uma palavrinha! O OMO-Jornalismo é aquele que tira as nódoas vermelhas mesmo as mais difíceis, como as que são deixadas pelo terrorismo de esquerda.
Mas como às vezes acontece a verdade veio ao de cima no caso de Mouta Liz e o PÚBLICO faria uma terceira e até agora última versão da sua notícia sobre a sua morte: “Morreu esta sexta-feira José Mouta Liz, um dos fundadores da organização terrorista de extrema-esquerda FP-25. Tinha 86 anos.”
Sim, José Mouta Liz não só teve a vida longa que foi roubada às vítimas das FP-25 como não morreu caído no chão sob as balas disparadas pelos homens das FP-25, como aconteceu a Alexandre Souto, Álvaro Militão, Rogério Canha e Sá, Agostinho Francisco Ferreira, José Lobo dos Santos, Henrique Nascimento Hipólito, Fernando Abreu, José Manuel Rosa Barradas, Diamantino Monteiro Pereira e Gaspar Castelo Branco, ou desfeito pelas bombas que eles colocaram como aconteceu ao bebé Nuno Dionísio e aos soldados da GNR Adolfo Dias e Francisco Ouvidor Silva.
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José Mouta Liz morreu aos 86 anos numa cama de hospital.
Hospital privado, obviamente.