sábado, 21 de junho de 2008

A sombra de uma dúvida








Um excelente artigo de opinião do Sociólogo Alberto Gonçalves (Sábado 16Jun2008) que inafortunadamente poucos o saberão ler!
Fica para a minha colecção de “históricos”...





o Menino de Ouro do PS é a primeira bio­grafia de José Sócrates, escrita por Eduar­da Maio.

Parabéns à autora, mas eu des­ceria uns graus na hierarquia: para mim, o socialista a biografar é Pedro Silva Perei­ra.



Quem é Pedro Silva Pereira?
Lá está, não temos grande ideia, donde a urgência da obra. No máximo, sabemos que é aque­le senhor que vive a oito centímetros de Sócrates, que se veste como Sócrates, que se penteia como Sócrates, que fala como Sócrates, que diz o que diz Sócrates e cujo rosto me lembra o de Paris Hilton, embo­ra não de uma maneira erótica. Assim de repente, não imagino português mais in­trigante e mais digno de 300 páginas.

As relações clássicas entre os detentores do poder e as respectivas sombras, de Ni­xon/Kissinger a Menezes/Marco António, passando por Batatinha/Companhia, fun­dam-se no contraponto e na diferença de personalidades. O mistério é que, à pri­meira e à décima vistas, Silva Pereira mal se distingue de Sócrates e incorre em de­sumanos esforços para não se distinguir de todo. A sua originalidade consiste em assemelhar-se a uma cópia. Ou a um clo­ne, graçola, aliás, bastante glosada por aí.
Parece-me uma graçola fácil. Bem es­premido, até Leonard Zelig, a persona­gem fictícia de Woody Allen que adqui­ria as características dos que o rodeavam, tinha uma identidade própria e uma ex­plicação para o seu enigma. Raios me par­tam se Silva Pereira, que tudo leva a crer ser uma personagem autêntica e se adap­ta a uma única pessoa, não esconder qual­quer coisa de seu: ambições, angústias, dúvidas, esperanças, mágoas. Conhecer­-lhe o lado íntimo seria fascinante. E se Sil­va Pereira não possuir íntimo nenhum e for somente o que aparenta, o fascínio será ainda maior. .