domingo, 12 de outubro de 2025

“O que irão fazer a tanto lenço?

[a propósito de um excelente artigo de opinião no Observador]
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"Como hoje é dia de reflexão cada um reflecte no que pode. Eu, por exemplo, não consigo deixar de reflectir no destino dos kufiya e keffiyeh espalhados pelos pescoços desta Europa. [...]
Mas, algures na China estas mudanças estão a ser acompanhadas com atenção. Por causa do merchandising. E não só." (Helena Matos)
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“Sim, caso o fim da guerra em Gaza se torne de facto num acordo de paz, para onde irá tanto keffiyeh que agora anda espalhado pelos pescoços desta Europa?
Talvez o keffiyeh ainda faça parte do guarda-roupa de Inverno mas arrisca-se a acabar encafuado naquele canto do armário onde já está a bandeira com o arco-íris.

Ainda se lembram quando não conseguíamos sair à rua sem sermos submersos no arco-íris? Camisolas, canecas, chapéus de chuva, bolos, gelados, peluches, sapatos, pijamas, cortinados e cortinas, molduras, cartazes, cadernos, pastas, lápis e borrachas e sei lá que mais cobriram-se com o arco-íris. Até que o excesso de activismo matou o arco-íris. O arco-íris deixou de ser aquela sucessão do vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta, símbolo de alegria, para se tornar num símbolo da luta LGBT+++ e depois também do feminismo interseccional que segundo o google é “uma corrente feminista que analisa como diferentes formas de opressão, como raça, classe, orientação sexual, religião e deficiência, se cruzam e se combinam com o género para criar experiências únicas e múltiplas de discriminação para mulheres” e muitas outras lutas cujo detalhe parece o índice dos livros barrocos sobre anjos e milagres. Aliás a luta tem-se fraccionado tanto que a bandeira não só ganhou outras cores — preto e castanho — como até triângulos e círculos… Deve haver um observatório no ISCTE que explique isto com mais detalhe, quiçá até seja matéria de doutoramentos, mas eu não tenho nem tempo nem paciência para tal exercício.
Seja como for, com tanto acrescento na bandeira tenho a forte esperança de que dentro de alguns anos o nosso festivo arco-íris esteja de volta porque este é um caso em que os lutadores acabarão a lutar entre si, ou seja a esfarrapar a bandeira. Mas por agora, e numa espantosa ironia do destino, a bandeira que já foi do arco-íris deve ir conviver com o kufiya ou keffiyeh palestiniano no mesmo armário donde talvez esteja para sair a boina à Che ou a t-shirt com o rosto de Ernesto Guevara estampado. 
Porquê?
Em primeiro lugar porque o activismo e a moda estão cada vez mais ligados (qualquer alusão nesta fase a Sofia Aparício é desnecessária). Os activistas precisam de se identificar entre si e nada é mais transversal do que o vestuário.
Em segundo lugar, e é aí que entram a boina e a t-shirt do Che, a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Corina Machado veio enfatizar aquilo que é incontornável: a agonia dos regimes narco-comunistas da Venezuela, Cuba e Nicarágua.
O maior foco sobre estas ditaduras levará ao habitual frenesi dos activistas subsidiados que não tardarão a andar por aí com o Che estampado a gritar a versão latino-americana dos dislates que gritaram a propósito de Gaza.

sábado, 11 de outubro de 2025

Os “antifas” e os seus padrinhos: a subversão paga a pronto

Durante anos, as faixas negras e os slogans inflamados dos chamados “antifascistas” serviram para disfarçar um projecto político que tem muito pouco de “anti-fascista” e quase tudo de autoritário. São grupos de intimidação e violência de rua, especializados em transformar o espaço público em palco de agressão e ameaça. Mas — e este é o ponto crucial — as suas pedras não vêm sozinhas. Vêm acompanhadas de fluxos financeiros e de protecção política.
É aí que reside a verdadeira força deste movimento: não nos militantes de rua, mas na teia de financiamento e influência internacional que lhes dá cobertura e meios.
O verniz “libertário” e a realidade autoritária
Os “antifas” auto-apresentam-se como guardiães da liberdade, mas, na prática, agem contra ela. Não são democratas radicais — são radicais contra a democracia. Chamam “fascista” a todo o adversário político, legitimando assim agressões físicas e simbólicas, bloqueios, ameaças e campanhas de cancelamento.
A sua táctica política é conhecida: agredir em nome da “liberdade” para destruir a liberdade dos outros.

O combate desloca-se da rua para os cofres
A Administração norte-americana decidiu dar um passo mais largo e mais eficaz: atacar as linhas de financiamento. Foi durante a presidência de Donald Trump que a classificação dos grupos “Antifa” como ameaça terrorista foi formalizada, acompanhada de instruções às agências federais para identificar financiadores e canais de apoio logístico¹.
O objectivo é claro: secar as fontes de financiamento que transformam pequenos grupos de arruaceiros em exércitos organizados.

Quem financia e quem é financiado
As investigações — públicas e congressuais — apontam para uma constelação de fundações e redes de doação que alimentam infra-estruturas activistas de largo alcance: Arabella Funding Network, The Tides Funding Network, Neville Roy Singham, Johann Georg “Hansjörg” Wyss, entre outros².
Estes financiadores não entregam malas de dinheiro directamente aos capuzes negros — financiam estruturas intermédias, “think tanks”, ONGs, redes mediáticas e jurídicas que depois fornecem meios, logística e protecção a movimentos de acção directa.

O caso Soros: a Hidra de mil tentáculos
Nenhum nome se tornou mais emblemático neste contexto do que o de George Soros e da sua fundação Open Society Foundations. A influência global desta rede é amplamente documentada. Em 2017, a plataforma DC Leaks divulgou mais de 2.500 ficheiros que expunham estratégias e contactos da Open Society em toda a Europa³.
Nesses documentos constavam nomes de parlamentares, dirigentes políticos e mediáticos considerados “alinhados” com a agenda da fundação — incluindo várias figuras portuguesas, sobretudo ligadas ao PS, ao Bloco de Esquerda e ao Livre⁴.
Não surpreende, assim, que boa parte da narrativa mediática sobre os “antifas” tenda a ser conivente, minimizadora ou simplesmente silenciosa.

O alcance europeu
A influência destas redes não ficou confinada aos Estados Unidos. A penetração nas instituições europeias é profunda e antiga. No Reino Unido, em França, na Alemanha e nos próprios corredores da União Europeia, o activismo “progressista” de alta gama criou infra-estruturas permanentes de financiamento, advocacia e comunicação que alimentam movimentos e campanhas de rua, com forte alinhamento ideológico.
As redes de financiamento global não só alimentam grupos de intimidação política, como criam mecanismos de auto-protecção: equipas jurídicas, redes mediáticas e sistemas de influência institucional que escudam os grupos de rua de qualquer responsabilização efectiva.
E aqui está a questão política essencial: sem cortar as cabeças da Hidra, de nada servirá quebrar algumas pedras nas ruas.

…seguir o dinheiro
Os “antifas” não são um fenómeno espontâneo: são a ponta visível de uma teia global de financiamento, activismo e cobertura mediática. Combatê-los nas ruas é necessário, mas insuficiente. Para vencer esta batalha, é preciso seguir o dinheiro, expor os padrinhos e responsabilizar os beneficiários. 
  Notas
1 - Declarações e memorandos de segurança da Administração Trump sobre a classificação de Antifa como ameaça doméstica (2020–2025).
2- Registos públicos e investigações do Congresso norte-americano sobre financiamento político de grupos activistas (Arabella, Tides, Singham, Wyss).
3- DC Leaks (2017): ficheiros internos da Open Society, tornados públicos em https://tinyurl.com/bdf9pr9u.
4- Relatórios de imprensa e bases de dados públicas sobre beneficiários da Open Society na Europa, incluindo Rui Tavares (Livre) e deputados do PS e BE.
5- Audições no Congresso e memorandos do Departamento de Segurança Interna sobre instrumentos legais e financeiros para combater financiamento a movimentos de violência política (2025).

Uma perspectiva antecipada



o CHEGA. Ganhador porque aumentará a sua votação face a 2021. Porque poderá conquistar câmaras — Sintra seria uma bomba política. E, acima de tudo, porque o mau desempenho da AD reforçará a tese de Ventura: a direita só governa com ele.
Mas há riscos. Se os resultados forem fracos comparados com as legislativas, o líder do Chega — que estará de corpo e cartaz colado a todos os candidatos — pagará a fatura nas presidenciais que se avizinham.

A Iniciativa Liberal tenta passar entre os pingos da chuva, amparada em coligações com a AD. Mas isso não prova nada. O verdadeiro teste é onde concorre sozinha — e aí tudo indica que está em estado terminal.

O Bloco, se não conseguir um resultado expressivo em Lisboa, entra em coma político. Já a CDU, por não ter embarcado na união antifascista de circunstância, pode sair reforçada: manteve coerência, identidade e foco local. Merece os votos que conquistar.

O Livre parece ter desaprendido a lição: cresceu à custa do declínio do Bloco, mas agora dá-lhe a mão em várias autarquias. Erro crasso. Se o BE recuperar às custas dessa aliança, o Livre assina o seu próprio fim. E será um fim patético.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Da Informação à Manipulação – Em 13 de Julho a Crítica de Miguel Mattos Chaves ao Estado da Imprensa em Portugal

A análise de Miguel Mattos Chaves é contundente: os principais órgãos de comunicação social em Portugal deixaram de cumprir a sua função de informar para se tornarem extensões ideológicas dos partidos da social-democracia e da esquerda socialista. Segundo o autor, em vez de cumprirem o papel de relatar os factos com isenção e dar espaço às várias correntes de opinião, passaram a ser empresas de comunicação com agendas políticas bem definidas e alinhadas.

Chaves afirma que, ao contrário do que acontece em democracias maduras como o Reino Unido, os Estados Unidos ou a França — onde os jornais assumem abertamente o seu posicionamento político —, em Portugal, os media fingem ser neutros e independentes, mas manipulam activamente a opinião pública. Este "teatro da isenção", diz ele, transforma os meios de comunicação em instrumentos de formatação ideológica.

Para Mattos Chaves, não estamos perante uma verdadeira democracia enquanto o pluralismo de ideias for excluído do espaço mediático. Em vez de informar, os media manipulam, ridicularizando ou silenciando as vozes da direita. Esta realidade distorcida, alerta o autor, deve ser corrigida pelos cidadãos — não com indignações vagas, mas com um gesto claro nas urnas: o voto.

Miguel Mattos Chaves denuncia que Portugal vive hoje num simulacro de democracia mediática. A alternativa está nas mãos do povo: continuar a embarcar na manipulação ou votar por uma mudança real.

Bota PS fora!


 

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

A zuca endoidou!

Como Deputada, não produziu nada e beneficiou do erário publico de 13 anos de salários + extras + benefícios e/ou isenções e ainda é paga para criar pela TV a habitual divisão horizontal -esquerda vs direita - quando a verdadeira divisão é vertical.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

lembrar os Mandatos de Captura em Branco...

Foi num igual, com data de 7 de Outubro de 1974, que acrescentaram o meu nome.

para a História da nossa vergonha!

Kfir Bibas tinha nove meses quando a 7 de Outubro de 2023 foi levado pelo Hamas do kibutz Nir Oz onde vivia com a sua família. As imagens da sua mãe, Shiri Bibas, aterrorizada e tentando proteger no seu colo os filhos, o bebé Kfir e Ariel de 4 anos, ficaram como um símbolo da barbárie vivida naquele dia.

 O destino da família Bibas, a possibilidade de a fazer regressar ou simplesmente saber onde estava foi notícia por várias vezes ao longo de meses. O seu nome chegou a constar de listas dos reféns a libertar, mas os Bibas também foram dados como mortos. Entretanto chegaram novas imagens que mostravam o que parecia ser a transferência de Shiri e de Ariel e Kfir das mãos do Hamas para as de um outro grupo terrorista

As imagens da sua mãe, Shiri Bibas, aterrorizada e tentando proteger no seu colo os filhos,

https://www.instagram.com/israelinla/reel/C7RrmIpsSfY/

Shiri Bibas e os filhos, Ariel e Kfir, estão na lista de reféns a serem libertados neste cessar-fogo. Também lá consta o seu marido Yarden Bibas de quem se sabe que foi ferido no 7 de Outubro e levado para Gaza onde, segundo o testemunho duma refém já libertada, terá estado prisioneiro nos túneis. Mas não se sabe quando Shiri e Yarden, e os filhos, Ariel e Kfir, serão libertados nem se estão vivos ou mortos. Sabe-se apenas que o seu nome consta da lista.


 Enquanto escrevo o Hamas continua a não indicar os nomes das três reféns que está previsto serem libertados daqui a horas, prolongando ainda mais a tortura das famílias. As razões para isto devem-se muito provavelmente à dificuldade do Hamas em conseguir cumprir aquilo que os seus negociadores acordaram. Há reféns, como os Bibas, que foram “trespassados” para outros grupos, alguns passaram de casas de famílias para os túneis ou para outras casas de família… Deixar de ter essa “mercadoria” obriga a acertos de poder.

 Obviamente a meio do dia de hoje este texto estará desactualizado no que respeita a este cessar-fogo propriamente dito. Noutros assuntos pode dizer-se que, pelo contrário, não só estará actual todo o dia como que alguns dos nomes que nele surgem têm até fortes probabilidades de estar presentes no nosso futuro. E aqui chegamos a um dos objectivos do Hamas do 7 de Outubro e da sua opção por fazer reféns: conseguir moedas de troca.

 Por vezes falavam connosco sobre Gilad Shalit” — recordou uma refém libertada em Novembro de 2023 Chen Goldstein-Almog, a propósitos das conversas que os homens do Hamas tinham com ela e com os outros reféns. Shalit é um soldado israelita que foi raptado em 2006. Para conseguir a sua libertação, o que só aconteceu em 2011, Israel libertou mais de mil prisioneiros palestinianos Entre esses mais de mil prisioneiros palestinianos estava Yahya Sinwar, o homem que viria a liderar o Hamas e desencadear o ataque do 7 de Outubro em 2023.

 A pergunta que agora se faz é: qual dos homens que Israel se comprometeu a libertar neste cessar-fogo será o próximo Sinwar? Será ele Nassim Zaatari, o responsável pelo ataque a um autocarro em Jerusalém que matou 23 pessoas? Wael Qassem autor do ataque, em 2002, à Universidade Hebraica em Jerusalém? Mahmoud Attallah Tabet Mardawi condenado por atentados que causaram a morte de 20 israelitas e ferimentos a 150?…

 Desta vez e ao contrário do que aconteceu em 2011 ninguém, desde os militares às famílias de reféns, diz acreditar que estes homens uma vez regressados a Gaza, abandonem as armas mas como afirma uma familiar da jovem refém Agam Berger “É um mau acordo para Israel mas é a nossa última esperança”.

 Agam era soldado na base militar de Nahal Oz donde os terroristas levaram várias jovens para Gaza. O video onde Agam e outras soldados surgiam amarradas e feridas  no meio de homens do Hamas que entre outras coisas afirmavam que as iam deixar grávidas, reforça a convicção dos seus familiares de que não há muito mais tempo para negociar.

https://www.instagram.com/israelinla/reel/C7RrmIpsSfY/

 Mas pode um mau acordo para Israel ser bom para os israelitas? Talvez. Só o tempo o dirá.

Donde não se esperam mudanças nem dúvidas é no ocidente que odeia o ocidente e que vê em Israel o símbolo desse ocidente que execram. O 7 de Outubro e tudo o que lhe sucedeu levou ao paradoxo de enquanto a rua árabe se mostra silenciosa, as ruas de Madrid, Roma, Londres, Paris enchem-se com bandeiras e lenços da Palestina.

 Por hoje, esperar é o que nos resta.

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Ventura regressa a casa...


Com agenda cheia, em 5 concelhos diferentes, o líder do Chega voltou a casa, onde encontrou quem o conhece desde pequeno, e envolveu-se num bate-bocas com uma cigana em Chelas (contratada para o efeito?)...

em tempo de pazes com Leão

 Em 1169, aquando do cerco de Badajoz, D. Afonso Henriques, então com 60 anos, sofreu uma grave lesão numa perna da qual nunca recuperou e foi aprisionado pelo exercito do Rei de Leão. .

Ficou lastimado o valeroso Rei Dom Afonso Henriques, quando se viu em estado tão alheio de sua grandeza, pois sobre tantas vitórias e triunfos passados, descaindo ao presente daquele alto ponto da prosperidade que até então o acompanhara, estava não só preso, mas sua vida posta em grande perigo. El-Rei Dom Fernando não pode negar a compaixão devida a espectáculo tão triste, antes como Príncipe dotado de prudência e humanidade não só usou temperadamente da vitória, mas tratou a El-Rei Dom Afonso com grande cortesia e regalo, e não menor cuidado de sua saúde do que pudera ter o Infante Dom Sancho, filho do próprio Rei Dom Afonso. E porque o quebrantamento da perna d'El Rei pedia remédio com brevidade, o fez aplicar logo; e com a mesma diligência se foi continuando todo o tempo que El-Rei esteve em suas terras, a primeira das quais diz que foi Zamora e depois Ávila, donde cobrada alguma melhoria e firmados os contractos das pazes se tornou para seu Reino.
(in Veritatis "Frei António Brandão in «Terceira parte da Monarquia Lusitana: Que contém a História de Portugal desde o Conde Dom Henrique, até todo o reinado d'El-Rei Dom Afonso Henriques», 1632.")

É tempo de dar músculo real às autarquias..

(assim "pensa" a Inteligência Artificial)
Incêndios: 
centralismo caro, prevenção pobre.
Gastamos fortunas em meios de combate cada vez mais incapazes de travar fogos que se tornaram quase incombustíveis ao bom senso. Ao mesmo tempo, adiamos — ano após ano — as medidas de prevenção estrutural e a devolução de competências reais às autarquias, únicas entidades com proximidade, legitimidade e memória do território. Em 2025, a factura fala por si: Portugal já ultrapassou os 222 mil hectares ardidos — a maior percentagem de território queimado na UE — e isto depois de, em poucos dias, terem sido devorados mais de 60 mil hectares. SIC Notícias+1RTP
Um diagnóstico sem eufemismos
Quando um autarca experiente como Pedro Santana Lopes fala em “falência do Estado” na organização e no comando, apontando a durabilidade e descoordenação como traços desta época de fogos, a crítica não é um mero soundbite: é a confirmação de um modelo centralista que dispersa responsabilidades e dilui a execução. Now Canal
Não é de hoje que Santana Lopes defende responsabilização e meios ao nível municipal — incluindo obrigar proprietários a limpar e prevenir —, uma linha de coerência com mais de uma década. E no terreno, como autarca, tem estado a acompanhar limpezas e prevenção em freguesias do concelho. O problema é que o quadro legal continua a transferir “tarefas”, mas nem sempre competências plenas e recursos estáveis. Jornal de Notícias Central Press
O labirinto legal: muita norma, pouca autonomia
Sim, existe hoje o SGIFR (Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais), há PMDFCI (Planos Municipais de Defesa da Floresta) e uma teia de regras sobre gestão de combustível, faixas, queimadas e autorizações. Mas a coordenação estratégica continua demasiado verticalizada (ICNF/AGIF), enquanto os municípios, que conhecem os proprietários e as servidões, ficam com a ponta da execução e com orçamentos oscilantes. Resultado: planeia-se no topo; apaga-se em baixo; previne-se pouco. Diário da RepúblicaI
Mesmo no domínio da protecção civil municipal — onde o Estado anunciou descentralização — a realidade no terreno é desigual: falta gente qualificada, equipas permanentes, mecanização e dinheiro plurianual. Transferências sem musculatura financeira tornam-se, na prática, mandatos impossíveis. Diário da República PGD Lisboa
O que fazer: oito decisões com dono e relógio
1 Cheque-Prevenção Municipal: financiamento per capita florestal (€/hectare de área de risco) directo às câmaras, plurianual, protegido de cativações, para equipas próprias de gestão de combustível, aceiros, mosaicos e caminhos florestais. Prioridade ao perímetro dos aglomerados e às interfaces urbano-rural. ICNF
Mosaicos obrigatórios, com comando local: tornar vinculativa a execução de mosaicos de gestão de combustível à volta de aldeias e infra-estruturas críticas, com ICNF a coordenar a rede primária e municípios a dominarem a rede secundária e a última milha. ICNF+1
Terras sem dono, risco com dono: processo simplificado para intervenção municipal em parcelas abandonadas ou sem proprietário identificado, com recuperação de custos via taxa de risco sobre o prédio (e leilão subsequente se houver reincidência). Este é um dossiê jurídico adiado que agrava todos os fogos. Ordem dos Advogados
Autorizações de queimada com critério e fiscalização: manter a regra de autorização municipal/freguesia, mas com janelas meteorológicas padronizadas e equipas de vigilância local dedicadas na época crítica. Falha? Coima efectiva e suspensão de autorizações nessa campanha. Agroportal
Brigadas municipais permanentes (12 meses): menos “sazonalidade de Verão”, mais equipa todo-o-ano para limpeza, arborização resistente, gestão de linhas de água e manutenção de rede viária florestal. O PRR e fundos climáticos devem privilegiar capex/opex local em vez de gadgets de combate. Diário Imobiliário
Seguros e energia: prémios e tarifas pró-prevenção: prémios de seguro rural bonificados para freguesias que cumpram 90% do PMDFCI; penalização nas faltas. Nos territórios de alto risco, uma fracção das receitas energéticas (produção eólica/hídrica local) afecta a um Fundo Municipal de Prevenção. ICNF
Comando único local na primeira hora: clarificar por lei que, na fase inicial, o Comandante Operacional Municipal lidera a resposta em solo municipal, com passagens de comando cronometradas conforme níveis de gravidade — e com dever de informação para o presidente de câmara. Diário da República
Transparência radical: painéis públicos diários por concelho com execução do PMDFCI (km de faixas limpas, hectares tratados, contra-fogo autorizado), causas apuradas e sanções aplicadas. Se o país soube, a meio de Agosto, que já ardia “como não se via” desde 2017, também pode saber quem cumpriu e quem falhou em cada concelho. SIC Notícias
Conclusão
Não há milagre aéreo que substitua gestão do combustível no chão. Enquanto o Estado continuar a centralizar o planeamento e a derivar a execução para quem tem menos meios, repetiremos o ritual: sirenes, heróis exaustos, balanços e promessas. O país precisa de autarquias com comando, carteira e lei — e de um Governo que lhes entregue, sem medo, as chaves da prevenção. Como alertou Santana Lopes, o que está em causa já não é apenas o combate aos fogos: é a capacidade do Estado de responder ao mínimo que os cidadãos têm direito. Com donos e com relógio. Now Canal

Notas e referências essenciais
1 2025, ano negro: 222.210 ha ardidos até 20 de Agosto; Portugal com a maior percentagem de território ardido na UE. SIC NotíciasRTP
2 “Falência do Estado”: declaração de Pedro Santana Lopes (18 de Agosto, NOW). Now Canal
3 Quadro legal: SGIFR (DL 82/2021) e PMDFCI (ICNF); descentralização de protecção civil municipal (DL 44/2019). Diário da República
4 Queimadas e autorizações: enquadramento prático com autorização municipal/freguesia. Agroportal

domingo, 5 de outubro de 2025

Sondagem, Freguesias, Lisboa, Intrapolls

Estimativa de resultados com as percentagens esperadas para Lisboa.
Os resultados são fruto de uma extrapolação avançada que leva em conta diversos resultados históricos na cidade.
A percentagem de Lisboa é baseada no modelo Híbrido.
O estudo resultante nas percentagens do município não é uma sondagem, já que a amostra não é representativa do universo de eleitores portugueses, sendo esta constituída apenas por participantes voluntários, a amostra foi tratada e ajustada em função das caraterísticas sociodemográficas e de intenção de voto reportadas, foi também mesclada com outras componentes como análise Ai, tendências históricas e tendências das sondagens autárquicas publicadas na imprensa). 05/10/2025 (Intrapolls)

esteve vereadora em Lisboa!

 xenofoba? 

Porque tão anti portuguesa só pode ser xenófoba!

Mizé


 

O Reconhecimento do "Estado de Submissão”

Helena Matos tem razão: há um novo Estado reconhecido entre nós — o
Estado de Submissão.
Submissão perante o activismo militante, perante o jornalismo que o amplifica, e perante a cobardia política que o legitima.
Alexandra Leitão encarna o primeiro tipo dessa submissão: o socialista bem-intencionado que acredita poder dialogar com a extrema-esquerda, convencido de que, por partilhar algumas causas, será poupado à violência dos seus métodos. O episódio no MUDE (Museu do Design), com a candidata impedida de sair por manifestantes pró-Palestina — precisamente os que o PS alimentou com o seu discurso sobre o “genocídio” — é o retrato exacto da criatura devorada pelo seu próprio monstro.
Carlos Moedas encarna o segundo tipo: o da direita domesticada, que sobrevive repetindo as palavras da esquerda. Quando cercado por manifestantes, não defendeu a ordem pública, nem o direito ao debate democrático; preferiu dizer que “há realmente um problema enorme no Médio Oriente” e que “queremos a paz e uma solução de dois Estados”.
Não é uma piada: é a abdicação completa da responsabilidade política. Ayuso veio a Lisboa para nada.

Enquanto isso, os “activistas” vão trocando de causa conforme a moda. Um dia o planeta vai acabar, no outro há “genocídio em Gaza”; sempre com o mesmo método: a histeria moral, a urgência apocalíptica, o desprezo pelas regras. São os novos puritanos da esquerda radical — e, tal como os velhos, acreditam ter uma licença divina para impor a sua virtude.
O problema é que essa licença está a ser reconhecida pelos próprios que deviam contê-los.
A esquerda teme ofender os seus “companheiros de rua”.
A direita teme parecer “insensível”.
O jornalismo, preso entre ambos, ou se cala, ou se ajoelha.
Daí a segunda tragédia: a do manifestante electrocutado na estação do Rossio. Quando se percebeu que a culpa não era da polícia, o caso deixou de ter importância. Se fosse um agente a tocar-lhe, haveria manchetes e debates. Assim, foi silêncio.
A vida humana vale menos do que a narrativa conveniente.
O Estado de Submissão tem fronteiras bem definidas: são as do medo de dizer o óbvio.
E o óbvio é isto:
— Não há genocídio em Gaza.
— O planeta não vai acabar amanhã.
— A violência não é uma forma legítima de protesto.
— E a democracia morre quando os seus dirigentes confundem respeito com rendição.
Portugal, infelizmente, já reconheceu este novo Estado.
Chama-se "submissão" — e tem sede na consciência moral de quem devia mandar.

Os Templários em Portugal

 

Ó É PS

Surpreendido, atónito, de olhos arregalados, atordoado ou perplexo são apenas algumas das descrições que se aproximam da estupefação que sinto por dentro e por fora. Não consigo evitar corar quando vejo o governo a agarrar-se a qualquer coisa — seja  a pseudoencuesta de Iván Redondo, ao aborto ou a Gaza — para varrer o elefante na sala para debaixo de um capacho de 50x50.
Hoje, não vou diferenciar entre as exclusivas de María Peral, Javier Corbacho o Jorge Calabrés e as informações provenientes dos vários Ministérios Públicos, tribunais ou unidades policiais. Vou simplesmente enumerar a informação (não as manchetes) numa ordem específica, para que possa vislumbrar o fio condutor ou a mão que embala o berço, que também são sinónimos, mas significam coisas muito diferentes.
- O relatório elaborado pela Controladoria do Estado para o Ministério Público Europeu constata  graves irregularidades na adjudicação de contratos ao empresário Carlos Barrarés. Assim, descreve os contratos como "injustos", "ilegais" e "arbitrários". Além disso, segundo o auditor, a avaliação de "acordos" não especificados "representa uma falsificação da avaliação técnica, que beneficiou alguns concorrentes e prejudicou outros".
- As empresas de Barrabés foram adjudicatárias de três contratos pela Red.es — entidade ligada ao ministério de Óscar López — por um valor total de € 10.974.317, sem IVA.
- E para concluir esta secção. Verifica-se que, nos relatórios que avaliaram os aspetos técnicos das diferentes propostas para estes contratos, a Red.es não só subavaliou algumas propostas para as descartar, como também utilizou como  referência a proposta da joint venture Barrabés, elogiando repetidamente sua "excelência".
Depois dos negócios dos amigos de Begoña Gómez, vamos um passo mais além. Agora, afeta os negócios da mulher do reitor.
- A troca de e-mails entre Cristina Álvarez e Juan Carlos Doadrio, um dos antigos vice-reitores da Universidade Complutense, prova que o assistente de Begoña Gómez administrou as finanças da cátedra que a esposa de Pedro Sánchez codirigiu até 2024. . Basta olhar para um desses e-mails de fevereiro de 2022, no qual ela deixa claro que "Queremos algo que, acima de tudo, estabeleça [que], em caso de lucros, a A Mindway deve doar 10% para a cátedra do TSC".
- Com este tipo de e-mails, 121 para ser mais específico, Cristina Álvarez contactou ou interagiu com até 16 empresas para que para colaborasse ou pagasse a cadeira de Begoña Gómez.
- Para cúmulo, o assistente chegou a redigir o e-mail que a UCM deveria enviar à Google apenas 10 dias após o anúncio. Begoña Gómez tinha-se ligado a Miguel Escassi, Diretor de Relações Institucionais e Políticas Públicas da empresa, que no passado tinha sido um dos colaboradores mais próximos de Nadia Calviño durante o seu mandato como Ministra da Economia de Pedro Sánchez.  Nesse e-mail, eles exigiram € 40.000 da empresa de tecnologia. Ela acabou contribuindo com € 110.000.
É claro que os negócios dos amigos de Begoña e os negócios da própria mulher de Sánchez só podem ser compreendidos a partir de uma posição de vantagem. E, veja bem, não sou eu que o digo, é o juiz. Peinado afirma que "sem sua ligação com o presidente", Begoña Gómez "dificilmente" teria cometido os supostos "crimes". 
Em suma, temos um juiz que aponta a posição inevitável de Sánchez em relação à sua mulher e a sua indesculpável ligação com os negócios dela e dos seus amigos. E temos o Tribunal Provincial de Madrid, que fez o mesmo numa decisão em Junho passado, ao referir-se a "uma estrutura de poder institucionalizada" em Moncloa.
Resumen de la primera parte, porque la UCO nos dejó una sorpresa el viernes. Y aquí sí que voy sólo con titulares que no quiero extenderme más:
- Koldo recibía billetes de 500 euros a los que llamaba "chistorras" y le daba dinero a Ábalos cuando pedía "folios"
- Ábalos pagó al menos 95.000€ de origen desconocido a su familia, a sus 'novias' Jésica y Andrea y a su fundación
Resumen de la segunda parte:
Sinceramente, penso que é mil milhões de vezes mais importante que o Hamas tenha aceitado o plano de paz de Trump,  do que que os restantes reféns possam regressar a Israel com as suas famílias e que milhares de palestinianos inocentes não sofram mais as consequências de uma guerra desigual. Esta é uma notícia esperançosa, que fará o sol brilhar um pouco mais forte amanhã, mas o cheiro a decomposição que emana de Moncloa e de praticamente tudo o que está à volta de Moncloa ultimamente só tem uma saída. E precisamos que ele saia o mais rapidamente possível.
(Mário Diaz. Diretor Adjunto de El Español)

sábado, 4 de outubro de 2025

O Mesmo Ódio com Novos Nomes

Do Hamas ao Bloco de Esquerda — como o anti-sionismo e o islamismo radical recuperam o velho anti-semitismo europeu.

O retorno do velho ódio
O anti-semitismo, que a Europa julgava enterrado sob as cinzas de Auschwitz, regressou à rua e à linguagem pública com surpreendente naturalidade.
Hoje manifesta-se sob outras formas e novas bandeiras.
Chama-se “anti-sionismo”, veste camisolas de causas humanitárias, ostenta bandeiras palestinianas e cita slogans progressistas. Mas é o mesmo impulso de sempre: odiar o judeu — agora colectivamente identificado com Israel.
Em manifestações europeias e até no Parlamento português, vozes que se dizem defensoras dos “oprimidos” repetem, palavra por palavra, o léxico de exclusão que outrora animou os propagandistas de Hitler: “genocídio”, “criminosos”, “colonizadores”, “vermes do deserto”.
Nada mudou excepto a gramática.
O anti-semitismo como ideologia totalitária
Desde o fim do século XIX que o anti-semitismo ultrapassa a religião e se converte em ideologia.
O nacional-socialismo construiu-o como teoria política, apresentando o “judeu” como causa de todos os males: o banqueiro internacional e o bolchevique revolucionário, paradoxalmente acusados de conspiração conjunta.
A Alemanha de Hitler viu nascer a ideia de que a salvação do mundo exigia a destruição física de um povo.
A essa “redenção pela purificação” chamou-se solução final.
Este mesmo mecanismo mental — a necessidade de eliminar o “inimigo absoluto” — é comum às ideologias totalitárias.
O Hamas e boa parte da extrema-esquerda europeia apenas trocaram o cenário: já não é Berlim, é Gaza; já não é o capitalismo, é o sionismo; já não é o judeu individual, é o Estado judeu.
O Hamas e a herança nazi-islâmica 
O Hamas nasceu em 1987 como braço palestiniano da Irmandade Muçulmana. A sua Carta Fundadora de 1988 é um documento histórico de ódio racial e teológico. 
Cita abertamente os Protocolos dos Sábios de Sião — a falsificação russa que Goebbels transformara em “prova” da conspiração judaica mundial — e acusa os judeus de controlarem os bancos, os meios de comunicação e a ONU.

Não é coincidência.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, colaborou com Hitler, recrutou muçulmanos para as SS e transmitiu propaganda anti-judaica em árabe.
O mito da “judeo-maçonaria mundial” encontrou eco no Islão político e sobreviveu até ao Hamas. 
A meta é a mesma: aniquilar o judeu, destruir Israel, purificar a sociedade pela violência redentora. 
O anti-sionismo de esquerda: da revolta colonial à moral invertida 
Depois de 1945, a Europa teve de disfarçar o seu anti-semitismo. 
Mas a derrota militar de 1967 — quando Israel venceu três exércitos árabes em seis dias — transformou o antigo “David” em “Golias” e permitiu à nova esquerda adoptar o velho ódio sob uma nova bandeira. 
A linguagem marxista substituiu o racismo biológico por um racismo moral: Israel seria o “colonizador”, o “imperialista branco”, o “apartheid do Médio Oriente”. 
Aos poucos, o anti-sionismo tornou-se a única forma de anti-semitismo socialmente aceite.

Em Portugal, o Bloco de Esquerda ecoa esse discurso com zelo militante, descrevendo Israel como Estado “criminoso”, silenciando o terrorismo do Hamas e abstendo-se de condenar os seus ataques deliberados contra civis.
Tal como o nacional-socialismo confundia “política” com “pureza”, a extrema-esquerda confunde “solidariedade” com ódio moralmente autorizado.
O mecanismo psicológico
Há três constantes que atravessam o nazismo, o jihadismo e o radicalismo de esquerda: Desumanização — o adversário é reduzido a categoria, não a pessoa.
Demonização — o adversário deixa de ser errado: é o Mal em si.
Purificação — a violência torna-se legítima, até redentora.
Este triplo impulso conduz sempre ao mesmo destino: campos, massacres ou atentados.
As palavras “do rio ao mar” são apenas a nova tradução de “Juden raus”.
Um novo totalitarismo moral
O Holocausto começou com palavras.
Hoje, as palavras regressaram — com outra melodia e outros porta-vozes.
O Hamas dispara rockets, e a extrema-esquerda europeia fornece-lhe a justificação moral.
As bandeiras vermelhas e verdes substituíram as suásticas; o argumento é o mesmo: o mundo só será puro quando o judeu desaparecer.

A história repete-se sempre que os verdadeiros democratas se calam.
E, uma vez mais, calamo-nos diante do mesmo ódio — apenas com novos nomes.
O mesmo ódio, as mesmas desculpas, o mesmo perigo — só mudou a bandeira.

Há que devolver à discussão pública algo que há décadas vinha sendo abafado

A existência de “um Sistema”, transversal às várias fases da nossa história contemporânea — O Sistema da Primeira República, o Sistema do Estado Novo e o Sistema actual, herdeiro directo do PREC e do anti-PREC, consolidado depois do 25 de Novembro, quando o poder político foi entregue ao Centrão (PS-PSD) e o poder cultural e mediático à esquerda antifascista.

Jaime Nogueira Pinto lança hoje no Observador um dos raros exercícios de lucidez histórica e política que expõe, com serenidade e rigor, a continuidade subterrânea de um Sistema que sobreviveu a todas as “rupturas” aparentes do século XX português.
Da Primeira República ao Estado Novo, e deste ao regime actual, o autor mostra como o poder político e cultural se adaptou, reciclou e protegeu, sempre à margem do verdadeiro soberano: o povo.

Incómodo porque denuncia a ilusão da alternância democráticao eterno revezar entre PS e PSD — como mera gestão interna do mesmo Sistema, que herdou do PREC e do anti-PREC a sua engenharia de controlo e domesticação social: instituições capturadas, comunicação social alinhada, elites auto-reprodutivas e um discurso moralista que legitima tudo o que vem “da esquerda antifascista”.

Ao recordar o Sistema da Primeira República, feito de manipulação eleitoral e arrogância intelectual; o Sistema do Estado Novo, feito de autoridade e desenvolvimento controlado; e o Sistema actual, feito de propaganda “democrática” e censura moral disfarçada de pluralismo, o texto faz algo notável: liga as três fases num mesmo fio histórico, mostrando que os donos do poder sempre mudaram de nome, mas raramente de natureza.

É precisamente esse fio que explica o fenómeno político contemporâneo: o despertar de uma maioria popular cansada, que já não aceita o monopólio moral da esquerda nem a falsa moderação do Centrão.
Não é a “extrema-direita” que ameaça o regime; é o povo, finalmente a reclamar o direito de existir politicamente fora do Sistema.

Uma analise histórica, corajosa e intelectualmente honesta, que desmonta o mito da “nova democracia” e prova que em Portugal, o regime mudou de forma, mas o Sistema permaneceu.
Mas a pergunta final continua a ecoar:
Onde está o povo?




Onde é que está o povo?

Os regimes políticos criam um sistema e enquistam-se nele. Um sistema que, não sendo contrário às instituições, permite manipulá-las e gerar um estado de coisas capaz de garantir que os donos do poder permaneçam no poder.
O Sistema da Primeira República
Em Portugal, na Primeira República, os “democráticos” do Partido Republicano Português ganhavam quase sempre as eleições. Para isso tinham criado leis eleitorais que davam vantagem às grandes cidades (Lisboa e Porto) sobre o campo. Tinham também tirado o voto aos analfabetos (dos cerca de um milhão de eleitores dos finais da Monarquia passou-se aos cerca de 350.000 da República) e não o deram às mulheres (que diziam vulneráveis à manipulação do clero). E tinham milícias e braços mais ou menos armados – a Formiga Branca e os Carbonários – que “orientavam” ou até “corrigiam”, oportunamente, o voto popular.
O Sistema do Estado Novo
Uma das razões do triunfo da Ditadura Militar, em 28 de Maio de 1926 (faz para o ano um século), foi a falta de verdade e a arrogância com que Afonso Costa manipulou o sistema, a partir de uma ideia de superioridade moral e intelectual da esquerda republicana e livre pensadora (logo, boa) sobre a direita monárquica, católica e reaccionária (logo, má).
O Estado Novo, construído a partir dos confrontos de correntes na Ditadura Militar, foi o resultado do pensamento e da obra de Salazar, que se soube impôr aos militares e negociar com o Exército um pacto de regime, criando um modelo híbrido de nacionalismo conservador e autoritário. Nos anos 30, com a Europa dividida entre as monarquias constitucionais e liberais inglesa e nórdicas, as para-ditaduras da Europa Oriental, o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão, o autoritarismo do Estado Novo aparecia como um regime “normal” e, em certa medida, até centrista, entre a esquerda republicana e conservadora e os radicais fascistizantes.
O sistema adaptou-se a seguir à Guerra, quando Portugal e Espanha ficaram como únicos regimes autoritários de direita numa Europa de democracias liberais e ditaduras comunistas. E a geopolítica da Guerra Fria, com os americanos a priorizarem a luta anticomunista, levou a que os regimes peninsulares fossem vistos por Washington como “males menores” perante os riscos do triunfo de uma oposição onde os comunistas eram dominantes. Por isso Portugal foi membro fundador da NATO, e a Espanha, a partir dos anos 50, aliada dos Estados Unidos.
O sistema funcionou com eleições que o governo também ia ganhando sempre (embora, ao contrário do Partido Republicano Português, a União Nacional não pretendesse ser democrática) e foi durando apesar da falta de liberdades políticas. Porquê? Primeiro, porque subsistia a memória das fraudes dos democráticos e da instabilidade e violência permanentes da Primeira República; e depois, pelos melhoramentos trazidos pelas grandes obras públicas, coisa rara entre 1890 e 1930, pela diplomacia de guerra de Salazar e pelos anos da segunda industrialização que trouxeram, sobretudo a partir das décadas de 50 e 60, desenvolvimento económico. O regime conseguiu ainda aproveitar a importância que os comunistas tinham na “oposição democrática” para, à semelhança do que fizera com os aliados da NATO, aparecer como única alternativa ao comunismo.
Em 1958, a eleição presidencial com Humberto Delgado mostrou, pela primeira vez, uma oposição com algum significado. E em 1961 foi o início da guerra de África, que acabaria com o Império pela dissidência dos capitães do MFA, mas que, no início, permitiu uma certa renovação, também pela solidariedade ultramarina da oposição democrática no apoio à política de Salazar.
A Esquerda, o Centrão e este sistema
O actual sistema vive da memória trabalhada e repisada dos malefícios e malfeitorias do regime anterior, e de ter procedido à homogeneização institucional com a Europa democrática. É o resultado dos 18 meses do PREC e anti-PREC que, depois do 25 de Novembro, deram o poder ao Centrão – PS-PSD –, deixando o poder cultural e mediático à “esquerda antifascista”.
O sistema é isto e esteve mais ou menos fechado até há poucos anos, porque os partidos à direita do Partido Socialista e os seus líderes nunca tiveram a inteligência e a coragem de defender, em democracia, valores nacional-conservadores que soassem remotamente aos que o Estado Novo defendera autoritariamente.
Foi o cansaço popular perante o atavismo, as insuficiências e incapacidades do sistema que forçou a abertura. E também o espírito do tempo, o movimento nacional-conservador e nacional popular que, na Euro-América, contesta uma velha ordem enquistada, alheada e ineficaz.
Assim, o sucesso do CHEGA não é fruto de uma misteriosa conspiração “cripto-nazi-fascista de extrema-direita”; é antes a consequência de uma notória surdez ao “povo” dos “donos do sistema” e dos seus arautos mediáticos.
E é já quase irreversível a contestação que o dito sistema tem procurado travar com uma barragem de argumentos e pretextos cada vez mais patéticos. A começar pela táctica da amálgama ideológica, em que tudo o que é mau, tudo o que não é correcto, tudo o que não é conveniente é de “extrema-direita”. “Fascista”, por exemplo, tornou-se um insulto avulso que pode ser arremessado com convicto à vontade contra alguém que seja “ultra-liberal” em economia. Ora quem tenha um mínimo de conhecimento de História, sabe que o fascismo, que se queria uma terceira via entre o capitalismo e o socialismo, nunca foi liberal, nem em política, nem em economia… mas o conhecimento histórico, político e ideológico há muito que abandonou estas paragens. Também o anti-semitismo e o racismo não foram características de raiz do fascismo mussoliniano; vieram marginalmente com a aliança e a progressiva dependência da Alemanha de Hitler. O nacional-socialismo hitleriano, esse sim, foi um nacionalismo etnocêntrico que, pela sua ideologia de racismo biológico, praticou grandes atrocidades. Como, de resto, as praticou o comunismo. Mas essas não existem ou é como se nunca tivessem existido porque a Esquerda, por um fenómeno mágico, continua a ser julgada pelas “boas intenções” do Manifesto Comunista e não pelos regimes concentracionários que criou – na Rússia de 1917 a 1991, na China maoísta, no Camboja de Pol Pot e noutros “paraísos terrestres”.
É este o sistema que a Esquerda criou e que soube perpetuar no regime aqui instaurado em 25 de Abril de 1974 e realinhado a 25 de Novembro; um regime ocupado por um Centrão “rigorosamente ao centro” em política, mas bem à esquerda em ideias e mecanismos culturais e mediáticos.
Onde é que está o povo?
Por isso há a abominação da Direita, sempre associada ao “fascismo de Salazar-Caetano”, à PIDE, ao Tarrafal, ao colonialismo, à contra-revolução, ao miguelismo, à inquisição, ao obscurantismo.
Dá-se, porém, que hoje a “extrema-direita” não vem da mais que enterrada Alemanha de Hitler, nem de conspirações militares, golpes palacianos, ou conluios da alta burguesia e da alta finança com a reacção ultramontana. Vem da ainda pior América de Trump, da inqualificável Itália de Meloni, da abjecta Hungria de Orbán – que, infelizmente, parece que provêm do voto do povo, fruto da sua escolha em eleições livres e justas. E vêm apesar de toda a máquina de propaganda do sistema e dos seus dependentes.
Um sistema que já começa a mostrar sinais de incapacidade para cumprir a sua proverbial função: gerar um estado de coisas capaz de garantir que os donos do poder permaneçam no poder. (Jaime nogueira Pinto)