sábado, 5 de julho de 2008

200 anos após...

A 4 de Julho chega a Alpedrinha a proclamação de Junot aos portugueses: Que delírio é o vosso? Que a população, por “unânime e espontânea resolução”, “prontamente” reduziu “a mil bocados”, decidida a quebrar o jugo do ocupante.
Quando acabado de chegar de Atalaia do Campo, Loison, o “maneta”, se apercebe da insurreição, destaca uma parte da força, sob o comando do major Mellier, para acometer a importante vila, então sede de concelho.
Os populares, “ainda em pequeno número e mal armados”, ousam disputar-lhe a entrada, “animados principalmente pelo cura da terra”.Também aqui a resistência será breve.
A primeira vez que os franceses invadiram Alpedrinha foi a 5 de Julho de 1808, “Das seis para as sete da tarde”, precisa António José Salvado Mota, na sua Monografia D”Alpedrinha, mas mais três ou quatro vezes atacaram a vila, espalhando por ela a destruição iluminada pelo clarão dos incêndios.
Por toda a vila irromperam intermináveis colunas de franceses, matando, roubando, incendiando.
Dezenas de casas foram incendiadas depois de roubadas e saqueadas; igrejas e capelas foram profanadas, como é o caso da capela de Santa Maria Madalena e da Igreja da Misericórdia; as mulheres foram violadas; crianças e velhos foram assassinados; o hospital foi saqueado e de lá levaram roupas e outros bens precisos dos doentes.
Entre os 33 mortos – outras fontes apontam 31 e até 19 – conta-se o próprio capitão-mor, “que, em uniforme, comandava este ajuntamento”.
Alpedrinha experimentou a cólera do “Maneta”, cuja tropa “insultou os templos”, arrombou o sacrário da igreja matriz, se entregou a um “saque geral”, seguido de incêndios e da destruição de várias casas.
A um arrancaram-lhe os olhos, cortaram o nariz e “os órgãos da geração”. A um outro – o boticário – levaram-no para o campo e queimaram-no vivo, “à vista da paisagem fugitiva, que de alguns montes vizinhos ouvia ainda os seus lamentos”, refere Salvado Mota.