segunda-feira, 22 de maio de 2017

Súplica ao Senhor dos Aflitos

São dias fastos. O défice abaixo de 1,4%! E a baixar... O crescimento a 2,4%! E a subir... O Presidente Marcelo já fala de 3,2%... A sorrir... O desemprego a 10%! A diminuir... O consumo privado a subir. Muito pouco, mas a subir... A poupança a subir. Pouco, mas para cima. O investimento a dar sinais. Poucos, mas bons... Os fundos europeus a chegar. Muitos e a aumentar... O turismo a subir. Muitíssimo... As exportações a subir. Sempre... Só a dívida não mexe...
[...]
Vivemos aquele momento estranho que vem descrito nas teorias dos jogos. O PS quer ganhar e dispensar os dois outros. Os dois outros querem mostrar que são indispensáveis, mas desejam impedir que o PS ganhe com maioria absoluta. Se o PS ganhar, os dois outros podem ir para a rua. Ou ficar cortesmente lá, sem uso nem força. Ninguém sabe, nem PS nem os dois outros, quem bate com a porta, quem deve sair a correr ou ser corrido. Quem fica com as culpas e quem ganha. Quem ganha a perder ou perde a ganhar. Mas até 2020 alguém vai perder... Esperemos que não sejam os portugueses.
[...]

Esta é uma prece ao Senhor dos Aflitos. Uma súplica para que os nossos dirigentes políticos não estraguem tudo outra vez, para que não abram desalmadamente os cofres, para que não voltem a meter ao bolso, para que não gastem o que não têm, para que não construam túneis e viadutos, para que não desperdicem como novos-ricos, para que não façam mais parcerias ruinosas em que os privados ficam com os lucros e o público com o prejuízo, para que não autorizem swaps, para que não voltem a recrutar dezenas de milhares de funcionários públicos, para que não aumentem salários acima do razoável, para que não voltem a bater nos pobres, para que não dêem aos ricos o que eles não precisam, para que não continuem a pensar que se pode viver eternamente com dívidas, para que parem de pensar que os credores têm a obrigação de socorrer os devedores, para que dêem espaço e liberdade aos empresários e para que não voltem a viver como se não tivessem filhos. ( in “Suplica ao Senhor dos Aflitos” por António Barreto )