segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

a “oportunidade perdida”...

Temos um jornalismo de pensamento único,
agora Rio quer um PSD igual ao PS.
pergunta-se:
para que serve a política e jornalismo se todos pensarem igual?
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Henrique Raposo, no Expresso, relembrou-me "a oportunidade perdida” :
“Foi  em Ofir, no Grupo de Ofir, que esteve a chave para um centro direita contra as esquerdas mas também contra os crescentes nacionalismos, marialvismos, trumpismos e anti europeísmos”.
mas
sabe-se lá porquê os portugueses acreditaram num PSD igual a um PS com Cavaco Silva. Primeiro minoritário, depois vieram-nos duas maiorias absolutas donde
saimos para o PS porque os portugueses acreditaram num PS igual a um PSD com António Guterres, depois
voltamos... (é preciso continuar?).
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Quando me perguntam pela reforma do estado, a minha resposta começa sempre no Grupo de Ofir e no CDS de Lucas Pires (1983-85). Está lá tudo. As reformas que andamos a discutir em 2018 já estavam inscritas num documento pensado entre 1983 e 1985. Sim, o livro No Caminho da Sociedade Aberta, a compilação dos trabalhos de Ofir, é o grande guião da reforma do Estado. Por outras palavras, a direita perdeu 30 anos. Aliás, o país perdeu 30 anos. Estamos atrasados 30 anos no debate sobre estado social. A troika não aterrou no Terreiro do Paço por acaso. 
Mas então quais eram as políticas propostas pelos jovens turcos de Ofir? Na educação defendiam a autonomia das escolas e criticavam o modelo do estado monopolista. O estado deve ser a garantia do acesso à educação e não o prestador universal; o apoio deve ser "dado às famílias e educandos - não directamente às escolas", porque a liberdade de escolha dos pais deve ser a pedra angular da educação. Interessa, portanto, distinguir entre estado prestador e o estado garantia: o Estado tem de garantir à criança o acesso à escola, mas isso não significa que tenha de produzir essa oferta escolar. Na saúde, um jovem Bagão Félix seguia caminhos semelhantes. A base do sistema, dizia Bagão, deve ser a liberdade de escolha do paciente e não a oferta do estado, pois o centro moral da sociedade é a família e não o burocrata. Em consequência, o seguro de saúde deve ser obrigatório, com o estado a servir de garantia a quem não tenha posses para pagar o seguro. É este o princípio da famosa Obamacare.

Em resumo, o estado não tem de ser o médico e o educador geral da sociedade. Além de absurdamente cara, a concepção centralizada e monopolista (aquela que temos) é perigosa do ponto de vista da liberdade: o nosso actual estado tem demasiado poder e influência, limitando as opções dos indivíduos, das famílias, das instituições privadas e comunitárias. Neste sentido, a nossa grande reforma deve passar por uma viagem até à ideia original e conservadora (Bismarck) do estado social: o seguro individual ou familiar, o apoio directo às famílias e não a construção de burocracias paternalistas que depois forçam as famílias a colocar os filhos na escola x e os velhos no hospital y. O centro da nossa vida colectiva deve estar na sociedade, nas famílias, e não no estado. O estado existe para servir as famílias e não o inverso. Sim, não me apareçam só com folhas de cálculo. Antes de ser financeira, esta é uma questão moral. (in “Bagão Félix e Lucas Pires repensaram o Estado há 30 anos” por Henrique Raposo)