terça-feira, 5 de setembro de 2017

uma Lisboa “lindinha”

... em Agosto tive de passar por Lisboa. Fiquei estarrecida, circulava-se mal e a custo, apesar do mês, tradicionalmente bondoso com os automobilistas. Num relance, percebi duas coisas.
Uma: Lisboa ficará intransitável muito rapidamente. O presidente da Câmara, sem engenho ou disposição para disciplinar as entradas e saídas de carro da capital, e certamente ignorando a galopante compra de carros, preferiu uma luta pessoal, obstinada e quase irracional contra o automóvel. Manda a seriedade que se lembre que nenhuma grande cidade venceu ainda a luta contra o tráfego. Mas estreitar vias, acabar com inúmeras outras, fazer praças, pracetas, ciclovias desertas, relvadinhos, banquinhos onde poucos lisboetas se sentam… serve para quê?
Para uma Lisboa “lindinha” , que encha o olho mas “impercorrível”? Em breve quase não se circulará e nem vale a pena evocar o regresso às aulas, o inverno, a chuva, as cheias, basta só falar do que (já) está. 
Que me lembre, o presidente da Câmara nem consultou os seus munícipes na guerra que iria declarar contra o automóvel, nem lhes deu nada em troca. Sou grande utilizadora do metropolitano mas, circulando ele apenas para meia dúzia de sítios, semi cumpre a sua função; os autocarros? São demasiado incertos e estão demasiado velhos para que se possa confiar neles com a responsabilidade de cumprir horários. Resta o táxi, que não é obviamente uma forma de vida.
E, assim sendo, a segunda coisa que percebi é que não vai haver solução. Novas linhas de metro? Daqui a quanto tempo? Mais e mais lestos autocarros? Para quando?

(in “Chatices” por Maria João Avillez )