segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Um clima de guerra civil

Sábado, no Expresso, Henrique Monteiro recordou como o país esteve perto de uma «guerra civil» há 40 anos.
No fim-de-semana, anterior, dois colunistas tão diferentes como António Guerreiro e Sousa Tavares lamentavam o «clima de guerra civil» que se instalou desde que António Costa anunciou a tentativa de tomada do poder pela «esquerda unida». 
A CGTP, que não consta ser parte do acordo tri-partido liderado pelo PS, «marcou uma concentração em S. Bento para o dia da votação de governo» que lembra a «muralha de aço» contra os governos provisórios que lhes desagradavam e contra a Assembleia Constituinte de 1975-1976. 

Perante o que se prepara, a maioria dos opinadores continua às voltas com os preceitos constitucionais e as tradições eleitorais do regime, fazendo de conta que não está em curso uma convulsão política cujo final é imprevisível.
A inabilidade dos agentes visados pela convulsão – o Presidente da República e a coligação PSD+CDS – foi enorme. Quando se aperceberam do que estava em jogo, já era tarde.

O processo devia ter sido conduzido de forma muito mais rápida, mais aberta e publicitada, não permitindo que os interlocutores continuem a esconder o que se está a passar. 
Cavaco Silva, que nunca interiorizou o facto de ser o ódio de estimação da «esquerda», devia ter reunido todos os partidos eleitos mal se conheceram os resultados provisórios e, logo que o PS mostrou a intenção de transgredir a norma de «quem ganha, governa», podia e devia ter convocado o Conselho de Estado e tornar públicas as opiniões dos conselheiros. Nessa altura, as fissuras do PS teriam ficado à vista de todos, a começar pelo presidente dos Açores, assim como a versão do Tribunal Constitucional, até agora desconhecida. 
O Presidente da Republica que sempre teve fama de institucionalista revelou-se, sobretudo, um formalista e um crente no «segredo». Agora, arrisca-se a ficar sem soluções e sem o respaldo antecipado que a maioria dos conselheiros de Estado lhe teria dado, possivelmente o próprio Marcelo que agora pretende sacudir a água do capote…
Ter-se-iam ganho semanas e evitado ditar exclusivas contra quem quer que seja!

Neste clima político, nenhuma solução é boa. Se o PR entregar o poder ao PS e aos seus pouco credíveis aliados, facilmente se imagina o preço que a grande maioria da população irá pagar. Se não entregar, confiando provisoriamente o governo a um «grupo de sábios» que tome conta da situação até à eleição do próximo presidente da República, não é difícil imaginar a violência da reacção dos rejeitados, mas as perdas para o país seriam porventura menores e menos duradoras. (resumo do artigo de Opinião de Manuel Vilaverde Cabral no Observador)