sábado, 1 de outubro de 2022

o dia em que acabou a Primeira Republica...

Uma camioneta fantasma batalhava a cidade de Lisboa, naquela que viria a ser uma noite verdadeiramente sangrenta. Numa longa lista de nomes a abater, adivinhava-se o fim da República e escancarava-se a porta para a ditadura militar de 1926.
Em 19 de Outubro de 1921 Lisboa acordou com tiros de mais uma revolução. As tropas da Guarda Nacional Republicana (GNR) começaram cedo a ocupar pontos estratégicos da capital e, na Rotunda, instalaram artilharia pesada e obuses. Concentraram-se aqui 7000 homens.
Após apresentar demissão do seu cargo e de esta ser aceite, Granjo voltou a Lisboa da parte da tarde. Já a cidade estava no poder dos revoltosos e acabou por se refugiar na casa de Cunha Leal, seu amigo e vizinho, Ministro das Finanças.
A que ficou conhecida como camioneta fantasma iniciou a sua tarefa nessa noite sangrenta, começando por transportar António Granjo e Cunha Leal para o Arsenal, junto ao Terreiro do Paço.
Conhecido na história apenas por conduzir a camioneta fantasma, o Dente de Ouro fazia questão de lembrar o papel desdenhoso de José Carlos da Maia, aos que lhe acompanhavam na caixa da camioneta fantasma, instigando o ódio. Carlos da Maia é alvejado. As tropas aplaudem mais este feito da noite sangrenta.
Seriam ainda assassinados o motorista Carlos Gentil, por ter criticado a onda de mortes, e o capitão-de-fragata Carlos Freitas da Silva, aparentemente em substituição do seu antigo chefe, Ricardo Pais Gomes, que estaria em Viseu na noite fatídica.

A camioneta fantasma tinha ainda no trajecto cumprir o atentado contra o aclamado pai da República, António Machado Santos. Interrompidos no caminho por uma avaria na camioneta fantasma, foi fuzilado no Largo do Intendente.
Os revolucionários deixaram ainda às portas da morte o coronel de Cavalaria Carlos Botelho de Vasconcelos.        
Apesar de todo o caos provocado na cidade, cumpria-se o quotidiano na capital, uma vez que esta já era a 25ª revolta da República. Assim, era possível ver as lojas abertas, os elétricos a circular, e os bombeiros, Cruz Vermelha e hospitais, que se tinham organizado para responder às urgências, acabaram por não ser necessários.