segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Tempo não explica tudo...

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) já fez uma primeira análise ao que se passou a 15 de outubro que potenciou tantos e tão grandes incêndios em Portugal Continental, mas ainda há várias dúvidas pendentes e uma primeira conclusão é que o tempo daquele dia não consegue explicar tudo.
Paulo Pinto, da Divisão de Previsão Meteorológica, Vigilância e Serviços Espaciais do IPMA, conta que já trabalha com radares meteorológicos há cerca de 25 anos e nunca viu imagens como aquelas que lhe apareceram no computador a 15 de outubro.
Recordando que os radares só detetam nuvens de fumo mesmo muito grandes, explica que já perceberam que ao início da tarde os radares, num espaço muito curto de duas horas, entre as 13h30 e 15h30, deram sinais do surgimento de uma dezena dessas plumas com origem em incêndios, algo claramente fora do comum e antes do furacão Ophelia se aproximar de Portugal Continental.
Outra incógnita que continua em aberto passa pela razão que levou duas dessas grandes nuvens de fumo a mais do que duplicarem de repente de tamanho na zona de Vouzela, de 4 ou 5 quilómetros de altura para 10 ou mesmo 12 quilómetros, a uma altitude onde andam os aviões comerciais em velocidade de cruzeiro.
Paulo Pinto explica que estas alturas são claramente anormais para uma pluma de fumo, tendo-se repetido, por exemplo, também, na nuvem de Pedrógão Grande a 17 de junho, ainda não se tendo percebido o que motivou a intensificação tão forte do fumo naquela zona e àquela hora.

No entanto, das análises de algumas horas que já fez às imagens de radar o meteorologista explica que não encontraram sinais de qualquer downburst como o que aconteceu em Pedrógão, apesar de ser possível que tenha acontecido um outro fenómeno raro com origem no fogo: um pirocumulonimbo, sendo já certo que aconteceu um pirocúmulo em consequência da intensificação do incêndio.
Paulo Pinto admite que o muito calor daquele dia a meio do outono, a seca, os terrenos extremamente secos, a secura da massa de ar e até o vento do furacão Ophelia que andava próximo da costa portuguesa ajudam a explicar o que aconteceu a 15 de outubro, mas não explicam tudo.
"Foi uma situação muito invulgar a proliferação de tantos incêndios com tantas plumas tão grandes numa área de 200 a 300 quilómetros de Sul para Norte", sendo que as condições meteorológicas, já analisadas, explicam apenas parte daquilo que aconteceu.
Recorde-se que há uma semana o parlamento anunciou que a Comissão Técnica Independente que investigou o incêndio de Pedrógão Grande também vai avaliar o que se passou nos incêndios florestais de outubro, um trabalho que começa a ser feito em janeiro.
Nos incêndios mais de 30 grandes incêndios que começaram a 15 de outubro e se prolongaram até dia 16 arderam cerca de 200 mil hectares, quase tanto como em todo o resto de um ano que já estava a ser muito mau.