segunda-feira, 8 de maio de 2006

Como começou o Mundo Novo (a visão de alguns cretinos lusojornalisticamente adoptados e dificilmente desmentiveis...)

1- Advogado chinês revela mapa que descredibiliza Descobertas João Céu e Silva A tese de que os chineses foram os primeiros grandes descobridores do mundo entre os anos de 1405 e 1433 - destronando a importância das descobertas marítimas de Vasco da Gama, Colombo, Fernão de Magalhães, entre outros navegadores - regressou esta segunda-feira ao debate científico e... à especulação. Tudo porque uma cópia do mapa original (de 1418) que se dizia existir, e que demonstrava as viagens do almirante chinês Zheng He em torno dos cinco continentes, foi apresentada em Pequim no princípio desta semana. Quem fez esta prova foi um advogado chinês, Liu Gang, que afirma ter uma reprodução do referido mapa datada do ano de 1763. Na sessão em que apresentou à imprensa uma imagem da cópia, na capital chinesa, o advogado contou a história do achado comprou o documento a um comerciante de Xangai, em 2001, por um valor inferior a 500 dólares. O advogado é um dos mais reputados especialistas em direito comercial do seu país e colecionador de mapas e pinturas. Liu Gang revelou ter tido noção da importância do mapa que comprara, mas duvidou da sua autenticidade, tendo, por isso, pedido a opinião de cinco coleccionadores conhecidos, que consideraram que o bambu onde fora desenhado e a pigmentação das tintas confirmavam ter sido desenhado há pelo menos um século. O advogado questionou especialistas em história da Antiga China, mas nenhum se pronunciou de forma clara sobre a autencidade. O advogado Liu Gang revelou ainda que só teve uma noção exacta do que tinha adquirido quando, no ano passado, leu o controverso livro de um ex-marinheiro da Royal Navy intitulado 1421, o Ano em que a China Descobriu o Mundo. Gavin Menzies defendia no seu volume que a armada de Zheng He tinha chegado à América, contornado a África e visitado a Europa - designadamente as ilhas dos Açores -, antecipando em várias décadas as descobertas dos portugueses e espanhóis. Afirmava que estes só as tinham feito por serem conhecedores do mapa feito pelos cartógrafos do almirante chinês. O mapa é revelado no site de Menzies (www.1421.tv) como a prova irrefutável para a sua tese, tendo sido já validado por cinco académicos conhecedores de mapas desta época, enquanto, simultaneamente, surge uma vaga de críticas por parte de historiadores e especialistas de todo o mundo quanto à honestidade desta prova histórica. Refira-se que Menzies esteve em Portugal para apresentar o seu livro e foi amplamente contestado. Ontem, questionado pelo DN, o professor catedrático do ISCSP António Marques Bessa disse ser "necessário verificar a autenticidade e ser investigado para poder ser aceite".
2- Macau assinala sexta-feira o VI centenário das viagens marítimas do almirante chinês Zheng He, realizadas entre 1405 e 1433, com uma exposição no Museu Marítimo intitulada "Quando a China Dominava os Mares". Zheng He, de origem muçulmana, serviu no século XV o príncipe Zhu Di que se tornou imperador e mais tarde lhe concedeu o comando de uma das maiores armadas do mundo conhecida como a Armada Imperial Ming. Zheng He chefiou uma armada de mais de 300 navios e 3.000 marinheiros que entre Julho de 1405 e 1433 cruzou o Mar do Sul da China e o Oceano Índico, explorando os países do Sudeste Asiático, India, Médio Oriente e a costa oriental de África. Os três navios de Cristovão Colombo (Nina, Pinta e Santa Maria) com os quais chegou a América, e a caravela São Gabriel com que Vasco da Gama chegou à Índia, cabiam dentro de um dos navios da armada de Zhen He que tinha 122 metros de comprimento e 52 de largura. Historiadores admitem a possibilidade de alguns dos barcos da armada de Zheng He terem chegado a costa americana. O escritor britânico Gavin Menzies garante no seu livro "1421- O Ano em que a China descobriu o mundo" que os descobrimentos portugueses, cerca de um século depois das viagens de Zheng He, foram baseadas em cartas marítimas das suas expedições. As viagens da armada chinesa eram não só destinadas à diplomacia da China, mas também serviram para o comércio e para obter informações geográficas, astrológicas, botânicas, zoológicas e etnográficas dos países visitados. No final do século XV o imperador chinês decidiu suspender as viagens devido aos custos exorbitantes e por considerar que a China não tinha nada a aprender com os países estrangeiros. O almirante chinês Zheng He morreu durante o regresso da sua última viagem à costa Oriental de África, em 1433, e que o levaria ainda a Meca, tendo sido sepultado no mar. A exposição de Macau, que se prolongará por quatro meses, apresenta réplicas das embarcações antigas chinesas da dinastia Ming e as viagens de Zheng He ao Oceano Atlântico. A exposição traz a público ainda uma colecção única de modelos dos barcos chineses da época, construídos ao longo dos últimos três anos por modelistas do Museu Marítimo seguindo planos concebidos por especialistas, com base no levantamento de dados arqueológicos e registos históricos. A exposição de Macau decorre numa altura em que se realizam manifestações semelhantes em toda a República Popular da China e em especial em Nanjing local donde em 11 de Julho de 1405 partiu a primeira das sete viagens efectuadas pela armada de Zhen He. Agência LUSA
... Isto por causa Disto!!!!
1421 - O ANO EM QUE A CHINA DESCOBRIU O MUNDO Gavin Menzies (autor)Editor: Dom QuixoteAno de Publicação: 2004Peso: 450 grFormato: 240 X 160 X 27Encadernação: MOLEISBN: 972202471XPreço: 27,75€ (aprox.)
Foi a China que descobriu o mundo e fê-lo em 1421. Um investigador britânico não tem dúvidas e garante-o em livro. Gavin Menzies promete “revolucionar” o conhecimento histório da Expansão Marítima europeia O investigador britânico Gavin Menzies defende, num livro a sair esta semana, que os chineses antecederam os europeus na descoberta de novos mundos, prometendo "revolucionar" o conhecimento histórico relativamente à Expansão Marítima europeia dos séculos XV e XVI.No livro, intitulado "1421 - O ano em que a China descobriu o mundo", Gavin Menzies, nesse ano, "a maior frota do mundo partiu da China", dobrou o Cabo da Boa Esperança, atravessou o Atlântico e dirigiu as suas explorações à Antárctica, Árctico, América do Norte e Sul, atravessando o Oceano Pacífico até à Austrália. Segundo a tese deste oficial na reserva da Real Armada britânica, os chineses "resolveram os problemas de cálculo de latitude e longitude e fizeram mapas da terra e dos céus com rigor" antes dos europeus. Neste livro que chega a Portugal com a chancela das Publicações Dom Quixote o autor defende que a China Medieval era "uma civilização instruída e sofisticada". "Os seus conhecimentos sobre o mundo à sua volta - prossegue - estavam nessa época tão à frente dos nossos que tiveram de passar três, quatro e em alguns casos cinco séculos antes que o saber dos europeus se pudesse comparar ao dos chineses medievais". Segundo Menzies, o Infante D. Henrique "seguiu as rotas de outros em direcção ao Novo Mundo", facto a que não foram alheias as viagens do seu irmão, D. Pedro, o príncipe das Sete Partidas, que adquiriu em Veneza mapas onde estavam assinaladas as ilhas das Antilhas e outras terras. Defende o investigador que navegadores como Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, Fernando Magalhães e James Cook realizaram, depois dos chineses, as mesmas viagens e reclamaram as terras descobertas, mas "sabiam que estavam apenas a seguir as pisadas de outros porque, quando partiram para as suas próprias viagens em direcção ao “desconhecido”, levaram consigo cópias dos mapas chineses". Segundo afirma, no início de 1421 quatro esquadras partiram sob as ordens do Imperador Zhu Di em busca das novas terras. Os barcos regressaram em 1423 mas, "após uma reviravolta abrupta" na política chinesa, foi ordenada a destruição de "qualquer coisa que estivesse ligada" a esta expansão marítima e a "China virou-se para si própria". Apesar desta destruição, Gavin Menzies alega ter descoberto "um pequeno conjunto de documentos chineses e indicações de navegação que tinham escapado à destruição dos registos e também relatos na primeira pessoa". Outra base de análise foi a carta de Pizzigano datada de 1424, na qual surgem já referenciadas as Antilhas e outros mapas dos séculos XV e XVI "que mostravam partes do mundo que eram então desconhecidas", afirma. O autor refere ainda como elemento da investigação, as viagens que fez pelo mundo "na peugada das viagens dos Chineses". "Pesquisei em arquivos, museus e bibliotecas, visitei antigos monumentos, castelos, palácios e os principais portos de finais da Idade Média, explorei promotórios rochosos, recifes de corais, praias solitárias e ilhas remotas", afirma. Uma investigação de 15 anos que levanta uma hipótese polémica e, como ele próprio afirma, "simultaneamente surpreendente e assustadora". A expansão dos chineses foi "uma série das mais incríveis viagens da história da humanidade, mas que tinha sido completamente apagada da memória dos homens", conclui.
... vale a pena ler isto:
“Tese de Gavin Menzies não tem rigor científico e histórico” O ex-Chefe do Estado Maior da Armada Portuguesa, Nuno Vieira Matias acha que a tese de Gavin Menzies “ carece totalmente de rigor científico ou histórico na estruturação das suas conclusões visto que as conjecturas em que se baseia estão erradas” VITÓRIO CARDOSO Gavin Menzies, oficial britânico na reserva e antigo comandante de submarinos, defende em “1421”, uma tese revolucionária sobre as viagens marítimas no século 16, tese que tem sido alvo de interesse em Macau. O JTM foi ouvir o Almirante Nuno Vieira Matias, ex-Chefe do Estado Maior da Armada Portuguesa e membro da Academia da Marinha Portuguesa, com um notável currículo nacional e internacional. Oficial da Armada Portuguesa desde o início dos anos 60, altura que serviu na Guerra do Ultramar, primeiro em Angola e depois de 1968 a 1970 na Província Ultramarina da Guiné, a comandar o Destacamento de Fuzileiros Especiais 13. Assumiu posteriormente funções como director do Laboratório de Explosivos da Marinha, comandou a Força de Fuzileiros do Continente, a Fragata Comandante João Belo e já em 1995, em acumulação, os cargos, nacional e NATO, respectivamente de Comandante Naval e de ‘Commander-in-Chief Iberian Atlantic Area’. O actual docente do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa foi empossado Chefe do Estado Maior da Armada em 1997, sendo também responsável máximo pela preparação e organização das estruturas dos quadros da Polícia Marítima e Capitania dos Portos de Macau para a transição do Território para a soberania da República Popular da China. JTM-Que conclusões técnicas e histórico-científicas é que se podem tirar desta obra de Gavin Menzies? Nuno Vieira Martins- O autor já foi confrontado aqui em Portugal numa conferência no Instituto do Oriente com alguns dos erros grosseiros que tem e propôs-se na altura corrigir alguns dos aspectos. No entanto parece-me que se tudo for corrigido, o livro deixa de existir porque foi baseado numa efabulação em torno de uma ideia construída pelo autor, que tentou depois arranjar justificações para a sua ideia. Isto é, em vez de partir dos factos para chegar a uma conclusão, o autor efabula, inventa mesmo ou avalia de forma completamente errada e muitas vezes ignorante sobre determinadas coisas para servirem a tese que ele próprio enuncia à partida. Ainda como outro ponto prévio, devo dizer que tenho uma enorme admiração pela maritimidade da China, por aquilo que marinheiros, almirantes e cientistas chineses fizeram e no contributo que deram para o desenvolvimento da ciência náutica no mundo, na sua época. No entanto considero que é um mau serviço e desprestigiar aquilo que os chineses fizeram, o estar a “construir” obras desta natureza. O verdadeiro valor dos marinheiros chineses não precisa disto, porque têm mérito por si próprio. - Objectivamente... -Sobre a questão das viagens que são objecto do livro, das esquadras, daqueles navios grandes de 150 metros por 50 metros, como se sabe os juncos só podiam navegar de ventos de feição, começa logo por poder concluir-se que o autor não entrou em linha de conta com o facto de a monção no Índico ter ventos em sentido contrário aos que poderiam ter levados esses navios da China até África. Isto é, navio que navega à popa não pode navegar com ventos contrários e na época que é indicada no livro, esses navios não podiam nunca ter utilizado a monção do Índico, portanto há aqui logo à partida um erro que diria de 180 graus. Por outro lado, o autor considerou normal a passagem pelo Cabo da Boa Esperança sem quaisquer dificuldades, apesar da mesma se ter dado no inverno no hemisfério austral. Citando as conclusões do comandante Malhão Pereira, navios daquele tamanho, que teriam concerteza uma governabilidade muito difícil face à enorme boca - que não conheço nenhum navio hoje que tenha uma relação de comprimento-boca de um para três - a ideia de passar em altura do temporal o Cabo da Boa Esperança com aquela facilidade, é absolutamente inverosímil. Por outro lado o senhor Menzies admite como possível - já na zona da América - uma tirada entre o Rio Orenoco, na Venezuela actual, para a costa do actual Brasil, de modo a navegar para sul, quando é sabido que tal é inviável devido às condições meteorológicas e hidrográficas da área. Logo, só aqui encontram-se três teses que eram impossíveis: a Monção do Índico, que soprava em ventos contrários aos da rota sugerida, passar o Cabo da Boa Esperança no Inverno com aquela facilidade e por outro lado, na costa da zona do Rio Orenoco ir até à costa do Brasil, quando não era possível por condições meteorológicas e hidrográficas. -E também dados só conhecidos pelos Portugueses... - Outro dos factores que não permitia a qualquer outra potência ou civilização dominar a arte de marear no Atlântico, foi a descoberta pela Escola Portuguesa dos Descobrimentos do mapa dos ventos - através dos tempos e da observação e exploração dos mares nas costas portuguesas e africanas por parte dos marinheiros lusos - ou do mapa da circulação dos ventos em torno dos anticiclones dos Hemisférios no Atlântico Norte - com um dos centros no Arquipélago dos Açores - e outro no Atlântico Sul (VER MAPA). Sendo que as viagens para o Oriente eram geralmente efectuadas a partir de Março, seguindo-se uma rota que fazia um desvio e quase “roçava” o Brasil, fazendo-se depois a passagem pelo Cabo da Boa Esperança, já na viagem de regresso, as naus teriam obrigatoriamente de contornar o Arquipélago dos Açores e entrar a Norte, na barra de Lisboa. Uma manobra naval considerada difícil, pelo Almirante, até pela própria experiência de comando de uma fragata na entrada da barra de Lisboa, onde lembra que existe um canal bastante estreito na foz do Tejo entre a costa lisboeta e o Bugio. -Mas há mais questões!?! -Sim, pois o autor admite que para obter a latitude no Hemisfério Sul é necessário localizar - isto é um erro de natureza astronómica, que me parece grosseiro, como um antigo oficial da marinha inglesa que faz esta consideração - uma estrela colocando-se debaixo dela, quando o que se pretende é obter a declinação da estrela para calcular a latitude. Essa declinação pode-se calcular mesmo no Hemisfério Norte em sítios onde a estrela seja visível. A estrela neste caso, a Canopus, é visível de qualquer ponto do Sul da China, portanto não era preciso, o almirante chinês ter navegado até 40 ou 50 de Latitude Sul, para se meter debaixo da Canopus para poder determinar a sua posição, pois até se podia fazer no Sul da China, em terra. O oficial britânico com tais afirmações, mostrou ser pouco conhecedor da sua própria história, o que em nada dignifica a memória histórica britânica, uma vez que escamoteou o feito de John Harrison, o inglês responsável pela invenção e construção do primeiro relógio marítimo de alta precisão que permitiria determinar a longitude durante viagens de longa distância. O senhor Menzies adapta as cartas da época às suas conveniências, tentando intencionalmente enganar o leitor, descrevendo ainda viagens imaginárias, de duração inadequada para o caminho percorrido, isto é, quantificando a distância e o tempo que teriam logicamente parado em determinados sítios, conforme a descrição, para chegar à conclusão sobre uma velocidade média o que é inaceitável para navios daquele tipo. -Em mais detalhe... - O autor admite que o rigor da carta de Piri Reis se deve às observações chinesas, quando a costa leste da América do Sul foi percorrida quando ainda não se sabia determinar a latitude, visto não se ter ainda localizado a Canopus. Além disso apenas a armada de Hong Bao localizou a Canopus, pelo que a armada de Zhou Man que percorreu posteriormente todo o Pacífico, bordejando a costa oeste da América do Sul, não estava habilitada a determinar latitudes no hemisfério Sul. O oficial britânico diz que os navios de Yang Quing determinaram longitudes por eclipse total da Lua, quando durante a navegação desta frota no Índico, o único eclipse não foi visível na área, e isto são dados científicos que podem ser confirmados. Além disso parece muito estranho que só uma armada, que até largou da China antes das outras, estivesse habilitada a determinar longitudes. Parece-me que o segredo só se justificaria se estas últimas armadas pertencessem a potências diferentes, mas como explicar que num mesmo país uma esquadra sabia e outras não sabiam. E por fim, o senhor Menzies deturpou pelo menos uma transcrição, tentando convencer por este meio o leitor da veracidade do seu ponto de vista. Por aqui, e concluí, como o Comandante Malhão Pereira, que este livro não merece credibilidade no aspecto náutico, visto que as conjecturas em que se baseia estão erradas. -Qual foi a primeira reacção desta polémica no seio da Academia de Marinha? -As pessoas conhecedoras da história náutica e que se dedicam à investigação da história marítima consideraram que o livro é um engano de natureza comercial, para quem o compra. Diz-se muitas vezes que há produtos que se colocam no mercado e as pessoas o compram pelo rótulo e depois o conteúdo pode ser totalmente enganoso ou venenoso. Neste caso em termos de rigor histórico é um livro venenoso. -Poderá ter sido esta obra criada com objectivos de manipulação política? -Não tenho dados para que se possa dar uma resposta objectiva, mas estou em crer que o estilo é facilmente desmontável em termos técnicos e científicos e portanto eu diria que é um delírio poético do autor. Basta aliás compará-lo com um livro de grande credibilidade “The Discoverers”, do professor Daniel Boorstin que foi director da Biblioteca do Congresso Norte-Americano, em que ele descreve a descoberta dos mares com grande rigor e em que considera inclusivamente que a história se divide em duas grandes partes, “Antes de Vasco da Gama e Depois de Vasco da Gama”, e onde salienta que foram “Os Portugueses, os Inventores da Descoberta Organizada” Daniel Boorstin, falecido hà cerca de um ano, esse sim, escreveu um livro de grande rigor técnico, histórico e científico e portanto isto que estamos a tratar não merece muito trabalho de avaliação. De resto, numa conferência em Portugal em que Gavin Menzies participou, o senhor prontificou-se numa outra edição a rectificar alguns aspectos, mas não é uma questão de detalhe que transformará estas rectificações numa obra credível. -Em Março, a Xinhua relatou o que chamou de lançamento do “primeiro livro sobre as relações luso-chinesas, por um historiador chinês, em Pequim”, referindo que um diplomata português afirmou que até então, “nunca antes os historiadores portugueses ou chineses centraram as suas atenções nas relações Luso-Chinesas” e que “o livro da autoria de um especialista chinês irá preencher as lacunas neste campo de investigação e ajudar-nos-á a melhor compreender e promover as relações bilaterais”. Como comenta? - Acho que o excelente relacionamento que houve entre os portugueses e os chineses traduzido pela convivência de quase 500 anos em Macau, merece respeito e ser tratado com consideração e diria como quase que um facto único na história. Além do mais, acho que Portugal e a China só têm a ganhar com o incremento do seu relacionamento em todas as áreas da cooperação possível. Noto que a China tem essa visão ao usar Macau como elemento preponderante no relacionamento com os Países de Língua Portuguesa, que foi uma decisão chinesa, da mesma maneira como Portugal vê a China como parceiro muito importante no seu comércio. Vê-se a porta aberta que Portugal tem sido para a China, com a quantidade de chineses que vêm fazer a sua vida em Portugal em várias áreas de actividade. Portanto há aqui um relacionamento construtivo que tem raízes históricas e que tem um presente que está a andar, logo não vejo que interesse possa existir, seja de quem for, em denegrir este excelente relacionamento. -Como vê uma possível cooperação triangular no sector da indústria naval entre Portugal, a China através de Macau e Timor-Leste, dado que este último país tem uma considerável e estratégica zona marítima e uma jovem estrutura naval e da Marinha? - Timor é um país ainda em fase incipiente, com uma vasta área marítima e tem uma zona marítima muito rica, com petróleo. Precisará de certeza de controlo, e poderá haver uma certa triangulação. Mas julgo que seriam importantes algumas parcerias entre Portugal e a China, na área das indústrias navais, uma vez que Portugal poderá usufruir com a sua situação geográfica e tecnologia evoluída e a China tem uma grande capacidade industrial e de grande poder de mão de obra, e portanto diria que há aqui “sinergias” a serem aproveitadas e com interesse para ambas as partes. - Que cooperação militar naval é que Portugal fez durante o período em que o Almirante Vieira Matias foi Chefe do Estado Maior da Armada? - Tive o prazer de receber aqui em Lisboa, quando estava em funções, o Chefe da Marinha da República Popular da China, que nos visitou e trocámos impressões sobre ideias e projectos. O senhor Almirante chinês veio inclusivé ao Ocidente visitar apenas quatro países: além de Portugal, visitou os Estados Unidos da América, a Inglaterra e um outro país de que não me lembro. O outro aspecto importante parece-me que foi o cuidado que a Marinha Portuguesa pôs na preparação das pessoas que Macau achou que deviam ficar à frente dos assuntos marítimos, nomeadamente na Capitania dos Portos, na Polícia Marítima, nas actividades marítimas, na formação, na Escola, no Museu Marítimo. Tenho a noção de que as actividades marítimas de Macau foram bastante bem cuidadas de forma a que a sua entrega à China fosse feita com toda a dignidade e com pessoas adequadamente preparadas e segundo um modelo organizativo que foi muito feliz. Lembro ainda a cooperação com a China, em termos da hidrografia, no levantamento que se fez do Rio das Pérolas, pelo que devo reconhecer que tivémos sempre uma excelente colaboração, de resto como foi apanágio da nossa presença durante quase 500 anos. Neste momento desconheço a evolução da cooperação uma vez que estou desligado do serviço há quatro anos. JTM, 26 de Abril de 2006