domingo, 15 de setembro de 2024

Francisco Lucas Pires

 



Nenhuma outra figura foi intelectualmente tão relevante para a afirmação da direita liberal em Portugal como Francisco Lucas Pires. 
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Forjado numa família que reunia formação clássica e espírito de liberdade, tornou-se um constitucionalista inovador, um jurista criativo, um político de dimensão intelectual rara à escala nacional e europeia – e, acima de tudo, um cidadão inconformado com o destino de Portugal.
(O Príncipe da Democracia de Nuno Gonçalo Poças)

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

deixar-se ir e ficar...

Z. Zagalo dizia, a respeito da carreira do sogro do conde d’Abranhos, que o desembargador Amado «deixou-se ir e chegou». É, talvez, a expressão que tudo define. Eça de Queirós não era um sociólogo, terá sido mesmo, de certa forma, injustamente olhado como um retratista de época, que o foi menos do que um observador atento de certos tipos de cidadão português que têm percorrido épocas, regimes, sociedades, modas. «Deixar-se ir e chegar» é a frase definidora de uma certa, e naturalmente generalizada, categoria de elite portuguesa, como quem alcança sem esforço e sem glória, sem saudade e sem registo, embalada por uma conjuntura imutável toda ela feita de gente que se deixa ir e lá vai chegando, em socorro e amparo dos demais imbecis espíritos de Corte, naturalmente extractivos, vulgarmente solidários com a estupidez dos congéneres.
Recordei-me, por estes dias, e a propósito já nem me lembro bem de quê, do saudoso Artur Baptista da Silva, um burlão a quem alguma comunicação social deu – por alturas, evidentemente, do Governo de Passos Coelho – o palco necessário para ensaiar uma narrativa, em benefício de uma agenda política vastamente apreciada na imprensa nacional. O desgraçado aldrabão seria depressa descoberto e não houve, porque nem tudo é tão mau assim, hipótese de o salvar, não sem antes ter direito a largos minutos televisivos, crónicas laudatórias das suas teses, e mesmo a fornecer uma entrevista para uma secção de um jornal (chamada, acertadamente, ‘Vida Inteligente’), a tempo salva de saltar para as bancas e para a eternidade das hemerotecas – tudo possível na medida em que o charlatão, mais vítima que culpado, teve apenas o mérito de embasbacar a cretinice que lhe deu então voz e relevância.  
Baptista da Silva não terá percebido, sabe-se lá por que razões, que não precisava de mentir, invocando ocupações profissionais e condições académicas falsas, para se elevar ao patamar da importância pública portuguesa. Exemplos de casos de sucesso, em tonalidades semelhantes às do burlão, sobejam, sem a necessidade da burla descarada, e até já com selos académicos verdadeiros que lhe podiam ter sido oferecidos a troco da difusão da agenda política certa e apreciada. Artur tinha as ideias certas para vingar. Faltou-lhe, talvez, a astúcia necessária. Ter-lhe-ia bastado ser franco, afirmar solenemente e a quem de direito a sua falta de pergaminhos, impôr-se aos almoços certos, sorrir muito, irradiar o seu charme de asno, enfim, existir, pastando, deixar-se ir e, por fim, chegar.
Artur não resistiu à fantochada que o próprio não impôs a ninguém, mas que lhe foi proporcionada. Sobreviveram-lhe os proporcionadores, num país onde tudo se tolera com esporádicos esperneares cívicos, como um boi que, estando impregnado de moscas, sacode, de quando em vez, a cauda para espantar uma ou outra.
Parece haver, em quase tudo, uma certa indisponibilidade para o levantamento da moral colectiva. Talvez mais por falta dessa mesma moral, o que é uma fatalidade; mas, por outro lado, por uma certa e melancólica apatia burguesa que nos afasta de outros patamares de actuação, o que é uma fortuna: afinal, a melancolia é o que nos salva da desgraça revolucionária. Mas entre a revolução e a inércia subsiste, intocável, um oceano de oportunidades. Julgo que lhe chamam reformismo. E que me parece já impossível de alcançar. É que, neste regresso de férias e princípios de Outono, enquanto os Baptistas da Silva homologados e os deputados da Nação, boa parte ainda sem biblioteca, discutem o Orçamento do Estado, os desenhos políticos do futuro, os «cenários», em análises infinitas, todas estas coisas me parecem inúteis e irrelevantes, sem conteúdo histórico ou pertinência intelectual, não se vislumbrando em toda esta cacofonia uma ideia, uma filosofia, um futuro. A melancolia e a apatia começam a parecer-me melhor refúgio, confesso. Pelo menos neste sítio onde tudo corre sem sobressaltos e todos parecem desejar, somente, deixar-se ir e chegar. O leitor perdoará.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Lei da Rolha

MARCELO DE TELEGRAM
O que impressiona já não é a lei da rolha, mas sim a desfaçatez política de quem apregoa que a lei é igual parta todos. Obviamente, não é, sobretudo para quem tem eventualmente algo a esconder.

Uma coisa é Donald Trump, outra é Marcelo Rebelo de Sousa. 
É assim que a esquerda fandanga continua a gritaria sobre o controlo das redes sociais.Que o diga o Marcelo Rebelo de Sousa que ficou a salvo do escrutínio, segundo despacho do milionário presidente da Assembleia da República:

domingo, 8 de setembro de 2024

Milhares de pessoas terão sido assassinadas a tiro, catana, queimadas vivas…

O 7 de Setembro de 1974 em Moçambique tem muito de perturbante. Mas o facto de sabermos tão pouco sobre o que ali aconteceu nessa data também.                                                                                               

Milhares de pessoas terão sido assassinadas a tiro, catana, queimadas vivas… Talvez tenham sido três mil. Talvez mais. Talvez menos. Dificilmente sairemos do domínio das estimativas porque nunca houve a preocupação de saber o seu número ou as circunstâncias da sua morte. Eram brancas, negras, asiáticas, mestiças. 
Em Portugal, nos jornais, nas rádios e na televisão nunca houve dúvidas: tratou-se de uma “aventura colonial da última hora” por parte da “miuçalha branca” que ensombrou o “momento de júbilo”.

Comecemos pelo “momento de júbilo”? Estamos em Setembro de 1974. 

Ou seja, o que em Moçambique temiam, quer as minorias branca e oriental, quer os simpatizantes e dirigentes negros de vários partidos e movimentos nacionalistas, estava consumado: os moçambicanos, a quem menos de três meses antes Almeida Santos, ministro da Coordenação Interterritorial garantira um referendo para decidirem o futuro daquele território, iriam passar a viver numa república popular dirigida pela Frelimo. Como o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, declarara a 6 de Setembro ao chegar a Lusaka para firmar os acordos com a Frelimo: “a delegação portuguesa estava na Zâmbia para entregar o poder à Frelimo.” De facto era isso que estava a acontecer. É portanto este “o momento de júbilo”. E é aqui que começa a “última aventura colonial” protagonizada pela “miuçalha branca”.

A 7 de Setembro, o Rádio Club de Lourenço Marques é ocupado e passa a designar-se Rádio Moçambique Livre. Os ocupantes declaram-se contra o que definem como entrega de Moçambique à Frelimo. Entre os ocupantes do Rádio Club estão também líderes nacionalistas negros como Joana Simeão, Paulo Gumane e Uria Simango. Apelam à intervenção de Spínola, com quem alguns, na qualidade de membros da FICO (Frente Integracionista de Continuidade Ocidental), se tinham encontrado tempos antes no Buçaco. Aí, garantem, o Presidente da República ter-lhes-ia dito “Façam vocês qualquer coisa que mostre a vontade da Província, para eu vos apoiar.” Eles fizeram “qualquer coisa”. Mas em Setembro de 1974, com o Acordo de Lusaka já firmado, com Spínola cada vez mais fragilizado e obcecado com o futuro de Angola, era tarde demais para que o apoio do ainda presidente da República se pudesse fazer sentir. Os revoltos resistem até 10 de Setembro. Entretanto a violência explodira: violações, gente decepada, queimados vivos, linchados e vários desaparecidos.

Os acontecimentos do 7 de Setembro de 1974, a violência que os acompanhou e a vaga de repressão que lhe sucedeu marcam um antes e um depois: até ao final de Agosto de 1974, tinham deixado Moçambique 5 mil portugueses. Mas só nas últimas semanas de Setembro e primeiros dias de Outubro saem de Moçambique oito mil portugueses para a África do Sul. Em Lisboa começam a cair pedidos de transferência para a “metrópole” de professores, carteiros, funcionários dos caminhos-de-ferro, da aeronáutica, dos bancos. Em Dezembro, segundo revela Vítor Crespo, Alto-Comissário de Moçambique, em Lourenço Marques sobrava apenas um ginecologista e já nenhum ortopedista.

Simultaneamente a repressão cresce no território administrado por Portugal. O Alto-Comissário Vítor Crespo institui que questionar a representatividade da Frelimo é um crime contra a descolonização e um sinal de racismo. Militares e agentes de segurança portugueses desempenham um papel activo na detenção, interrogatório e entrega à Frelimo daqueles que se lhe opõem, nomeadamente de dissidentes da Frelimo e nacionalistas negros que participaram na revolta do 7 de Setembro. Por grotesca ironia a revolta em que os jornais só viam brancos não só teve a participação de dirigentes negros como estes pagaram com a vida o seu protagonismo nestes acontecimentos: Joana Simeão, Paulo Gumane e Uria Simango, além doutros dissidentes da Frelimo, seriam internados em campos de reeducação daquele movimento e queimados vivos mais tarde.. (No caso de Uria Simango a sua própria mulher, Celina, foi também morta.)

Mas a imprensa portuguesa em 1974 não tem dúvidas: no 7 de Setembro está-se perante uma “revolta dos colonos brancos”, uma “aventura colonial da última hora” protagonizada por “rebeldes brancos”, “miuçalha branca”, “grupúsculos”, “reaccionários”, “ultra reaccionários”, “racistas”, “colonialistas” … que ensombraram o “momento de júbilo” representado pela assinatura do Acordo de Lusaka.

Meio século depois o que surpreende não é que o 7 de Setembro de 74 em Moçambique tenha sido relatado assim mas sim a certeza de que hoje voltaria ser relatado assim. Porque, tal como aconteceu a propósito do 7 de Setembro de 74, não se trata tanto da imposição duma visão dos factos e do seu silenciamento mas sobretudo do poder de instituir o medo de perguntar. Do medo de ser rotulado. Do medo de passar para o lado dos controversos, que é meio caminho andado para passar a conservador e de conservador a reaccionário e de reaccionário a outra coisa qualquer já sem retorno social possível.

Por quanto tempo mais vamos ter de esperar para que se perca o medo de desmontar as efabulações sobre a escravatura como pecado do homem ocidental e branco que se tornaram uma espécie de mantra obrigatório?…

até quando o activismo vai impor o medo de perguntar?
Meio século depois quantos crimes foram necessários para chamar ditador a Maduro?
Ou o que vai ser necessário para que deixe de ser visto como um risco denunciar a ideologia de género nas escolas?
E por quanto tempo mais vamos ter de esperar para que se perca o medo de desmontar as efabulações sobre a escravatura como pecado do homem ocidental e branco que se tornaram uma espécie de mantra obrigatório?…


sábado, 7 de setembro de 2024

o apoio aos jovens, do ensino obrigatório ao superior segundo Costa!

O regresso de Costa, em Évora, revelou um primeiro-ministro parado no tempo, fazendo um discurso político como se estivesse no século XX, em que os canais de distribuição informação eram limitados e muitas vezes facilmente manipuláveis.
Os truques com os anúncios e a manipulação dos números já não convencem os cidadãos, designadamente os jovens – que não emigraram! –, pelo menos aqueles mais lúcidos e informados que não engolem as promessas variadas, aliás, algumas das quais reveladoras de uma enorme falta de imaginação. (RuiCostaPinto )

[para memória futura]
As novas medidas de apoio e a que jovens se destina o plano socialista para impedir a fuga das novas gerações serão
Estudar em Portugal, trabalhar em Portugal e viajar em Portugal para "conhecer a diversidade e beleza do país"?
O presidente do conselho de ministros anunciou, no encontro do Partido Socialista, que o Governo vai aprovar um conjunto de medidas de apoia aos jovens, a começar pelos estudantes do ensino obrigatório ao superior e até aos primeiros anos de trabalho, em Portugal.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

conquista de Mascate no Reino de Ormuz

Neste dia [5 de Setembro], ano de 1507, desembarcou Afonso de Albuquerque no porto de Mascate do Reino de Ormuz, e venceu a resistência que lhe fizeram mais de quatro mil inimigos, que muito bem guarneciam e defendiam a sua Baía e a si mesmos com fortes tranqueiras e bastante artilharia. Mas o nosso valeroso e intrépido Albuquerque, dividindo a sua pouca gente em três terços, intentou e conseguiu o seu desembarque e desbaratou e pôs em fugida, depois de uma brava e porfiada peleja de mais de quatro horas, aos inimigos, desalojando-os da praia e do lugar que entrou e senhoreou por oito dias, dando descanso aos nossos Portugueses e enriquecendo-os com o despojo da terra, a que depois mandou por fogo e à sua famosa Mesquita. Custou-lhe esta vitória a morte de seis Portugueses. Com os mais se fez à vela em dezasseis do mesmo mês para Soar, povoação da mesma costa e do mesmo Rei de Ormuz, e mais defensável por ter uma boa Fortaleza; mas como primeiro lhe tivesse chegado notícia do valor dos nossos Portugueses, se rendeu pacificamente e fez tributários a El-Rei de Portugal. Continuou o nosso Albuquerque a mesma conquista e foi demandar a Vila de Corfação, terra mais forte e regular, e última do domínio de Ormuz na Costa da Arábia, e não obstante estar muito bem provida de gente e artilharia, foi tal o medo que conceberam com a nossa chegada, que a desamparando a terra, foi entrada pelos nossos, saqueada e queimada.
(Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.)

domingo, 1 de setembro de 2024