segunda-feira, 21 de abril de 2025

O Preconceito Classista e alegadamente Intelectual no Cenário Político Português

No actual cenário político, o antifascismo, que outrora dominava as discussões como principal factor de demonização, tem dado lugar a um novo protagonista: o preconceito. 
Ora o preconceito não se limita apenas às divisões de classes, mas infiltra-se nas esferas intelectuais, perpetuando estereótipos e alimentando divisões.
A figura de André Ventura, líder do partido CHEGA, exemplifica perfeitamente esta dinâmica. Nascido e criado em Mem Martins, Ventura é frequentemente alvo de críticas que vão além de suas posições políticas. As críticas dirigem-se à sua origem humilde, à falta de etiqueta, ao modo de se expressar e até mesmo às suas preferências de vestuário. Tais comentários revelam um preconceito classista latente, onde os atributos pessoais e a origem são utilizados para desqualificar o indivíduo e, por extensão, os seus apoiantes.
Este preconceito classista é alimentado pelo que se vê, ouve e lê em diversos meios de comunicação, onde Ventura é frequentemente caricaturado como um "suburbano sem maneiras", um "grosseiro" que "grita e gesticula na TV". Estas descrições, embora possam conter elementos de verdade, são frequentemente carregadas de um viés que visa desqualificar não apenas o político, mas também os seus eleitores.
Os eleitores do CHEGA são igualmente vítimas deste preconceito. Descritos como "pobres e analfabetos", "ressentidos e ressabiados", são frequentemente retratados como membros de uma subclasse, cujas conversas e preocupações são reduzidas a "desabafos de taberna" e "conversas de taxistas e cabeleireiros". Esta visão condescendente e redutora ignora a diversidade de motivos que podem levar um indivíduo a apoiar determinado partido e perpetua a ideia de que apenas as elites possuem a capacidade de fazer escolhas políticas conscientes e informadas.
O preconceito intelectual é igualmente pernicioso. Os membros do CHEGA são frequentemente descritos como "grunhos" desprovidos de ideias ou programas políticos coesos. Esta visão não apenas desqualifica o partido, mas também minimiza as preocupações legítimas de seus eleitores. Ao reduzir o partido a um "ajuntamento de deploráveis", mais necessitados de "tratamento do que consideração política", ignora-se a complexidade do fenômeno político e as razões profundas que levam ao surgimento e crescimento de movimentos populistas.
A demonização, no entanto, tanto pode ser uma desgraça quanto uma força para o CHEGA. Num cenário onde as elites políticas e intelectuais são vistas como cada vez mais distantes e desconectadas das preocupações reais da população, o ressentimento das classes populares pode ser canalizado no apoio a partidos que se apresentam como alternativas ao status quo. Assim, o preconceito que visa desqualificar pode, paradoxalmente, ser um factor de mobilização e fortalecimento.
Neste contexto, é fundamental que o debate político se eleve acima dos preconceitos e estereótipos. A desqualificação baseada em origem social ou nível educacional não apenas empobrece o debate, mas também alimenta divisões que são prejudiciais à coesão social e ao funcionamento da democracia. É necessário reconhecer a diversidade de opiniões e as razões legítimas que levam os indivíduos a apoiar diferentes movimentos, promovendo um diálogo mais inclusivo e respeitoso.