De
repente, até a imprensa
espanhola deu por que a península não acaba em Badajoz e que para além
da raia há um curioso país governado por parcerias de pais e filhos, e de
maridos e mulheres, como uma empresa familiar. É de facto extraordinário. Mas o "primeiro-ministro", muito descansado, matou logo a questão: “não
era novidade”.
[...]
mas é de facto “novidade”, e não podemos procurar a sua razão de ser nas
tradições de neopotismo da sociedade portuguesa, porque essas tradições
nunca antes geraram tal acumulação de parentes próximos num governo.
.
Não
devemos por isso diluir e confundir os actuais parentescos
governativos no meio
de outros casos de ligações familiares. Se esta endogamia tem algum
significado, não é a de um resquício do passado ou de uma ocorrência normal,
mas, pelo contrário, a de um fenómeno novo e único, que sugere o encerramento
de um regime, incapaz de se renovar, e o esgotamento político de um grupo que
domina o país há vinte anos, e que já só parece encontrar confiança dentro dos
círculos familiares mais próximos.
.
Sim,
há aqui novidade – e talvez sinal do fim de uma época. (in “Há
novidade, sim, Dr. António Costa” por Rui Ramos)